O que é o Budismo Theravada ?
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O texto que segue é um breve resumo sobre o que é o Budismo Theravada. Os links na página podem servir como pontos de entrada para o restante do site.
Para conhecer um pouco mais da história do Theravada veja Budismo Theravada: Uma Cronologia Histórica.
Conteúdo:
Theravada ( Pali: thera "anciãos"
+ vada "palavra, doutrina" ), a "Doutrina dos
Anciãos", é o nome da escola de Budismo que tem suas escrituras no Cânone
em Pali ou Tipitaka, que os acadêmicos em geral aceitam
como sendo o registro mais antigo dos ensinamentos do Buda.
No livro Essence of the Heart Sutra o Dalai Lama menciona que:
‘It is very important to understand that the core teachings of the Theravada tradition embodied in the Pali scriptures
are the foundation of the Buddha’s teachings.’ (Em resumo os ensinamentos do Theravada contêm os ensinamentos fundamentais do Buda).
B. Alan Wallace, num artigo da Revista Mandala em Outubro de 2010, diz que "Apesar das muitas diferenças importantes entre as escolas Theravada, Mahayana e Vajrayana, os Budistas tradicionais de todas as escolas reconhecem que os suttas em Pali são o registro incontestado dos ensinamentos do Buda" (Despite the many important differences among Theravada, Mahayana, and Vajrayana schools of Buddhism, traditional Buddhists of all schools recognize the Pali suttas as being the most uncontested records of the Buddhas teachings).
Por muitos séculos,
o Theravada tem sido a religião predominante no Sri Lanka, Myanmar, (antiga Birmânia), e
Tailândia; atualmente o número de Budistas Theravada em todo o mundo excede 100
milhões de pessoas. Em décadas recentes o Theravada começou a fincar suas
raízes no Ocidente – principalmente na Europa e nos Estados Unidos.
O Budismo Theravada é
identificado através de muitos nomes. O próprio Buda chamava a religião que ele
criou de dhamma-vinaya, "a doutrina e a disciplina," referindo-se aos dois aspectos fundamentais
do sistema de treinamento ético e espiritual que ele ensinava. Devido à sua
histórica predominância no sul e sudeste da Ásia ( Sri Lanka, Birmânia, Tailândia, Laos, Cambodja), o
Theravada também é identificado como o "Budismo do Sul" em contraste
com o " Budismo do Norte" que migrou da Índia para o Norte em direção
à China, Tibete, Japão e Coréia. O Theravada também é freqüentemente
identificado com "Hinayana" ( o “Veículo Menor/Inferior”), em
contraste com o "Mahayana" ( o "Veículo Maior/Superior"),
que em geral é o sinônimo para o Budismo Tibetano, Zen, Ch’an e outras
expressões do Budismo no Norte da Ásia. O uso do termo pejorativo
"Hinayana" tem sua origem nos primeiros
cismas que ocorreram na comunidade monástica e que acabaram resultando no
surgimento do que mais tarde se converteria no Mahayana. Muitos acadêmicos
utilizam a denominação Hinayana despojada de qualquer intenção pejorativa.
O idioma dos textos
canônicos do Theravada é o Pali, um idioma próximo ao Prakrit, que
provavelmente era falado na região central da Índia durante o período do Buda.
A maioria dos discursos proferidos pelo Buda foram memorizados pelo Ven.
Ananda, o primo do Buda e seu assistente pessoal. Pouco depois da morte do Buda
( aprox. -544 EC), um grupo de 500 monges arahant – incluindo Ananda – se
reuniu para recitar todos os discursos que eles haviam ouvido durante os 45
anos de ensinamento do Buda. Cada discurso (sutta) que foi registrado
tem início com a observação evam me suttam - "Assim ouvi".
Esses ensinamentos foram transmitidos dentro da comunidade monástica seguindo
uma tradição oral firmemente estabelecida. Em aproximadamente -100 EC a Tipitaka
foi compilada por escrito pela primeira vez no Sri Lanka por monges escribas.
É claro que jamais será possível
provar que o Cânone em Pali contém as palavras tais como foram ditas pelo Buda
histórico. No entanto, a sabedoria contida no Cânone tem servido ao longo de
séculos como um guia indispensável para milhões de discípulos na sua busca da
Iluminação.
Muitos estudantes do
Theravada descobriram que aprender o idioma Pali – mesmo que seja um pouco aqui
ou ali – aprofunda em muito o entendimento dos ensinamentos e do caminho da
prática.
Um sumário dos ensinamentos do Buda
O que segue é um breve
sumário dos ensinamentos chave do Budismo Theravada. Muito foi deixado de lado,
porém esse resumo deve ser o suficiente para que você inicie a sua exploração.
Pouco após a sua Iluminação, o Buda
( "O Iluminado") proferiu o seu primeiro
discurso definindo a estrutura básica sobre a qual se baseariam todos os
seus ensinamentos seguintes. Essa estrutura básica são as Quatro Nobres Verdades,
quatro princípios fundamentais da natureza (Dhamma) que emergiram da avaliação
honesta e profunda que o Buda fez da condição humana e que servem para definir
toda a abrangência da prática Budista. Essas verdades não são afirmações de fé.
São na verdade categorias nas quais podemos enquadrar nossa experiência de tal
forma a criar condições para a Iluminação:
Para cada uma dessas Nobres
Verdades o Buda identificou uma tarefa específica que o praticante deve
realizar: a primeira Nobre Verdade deve ser compreendida; a segunda deve
ser abandonada; a terceira deve ser realizada; a quarta deve ser desenvolvida.
A realização completa da terceira Nobre Verdade abre o caminho para a
penetração de Nibbana (Sânscrito: Nirvana), a liberdade transcendente que é o objetivo máximo dos
ensinamentos do Buda.
A última das Nobre Verdades – O Nobre Caminho Óctuplo – contém a prescrição de como aliviar nossa insatisfação e alcançar a eventual libertação, de uma vez por todas, desse ciclo de vida e morte (samsara) doloroso e desgastante ao qual – pela própria ignorância (avijja) das Quatro Nobres Verdades – estamos presos por tempos incontáveis. O Nobre Caminho Óctuplo oferece um guia prático e completo para o desenvolvimento mental de qualidades e habilidades benéficas que devem ser cultivadas se o praticante desejar alcançar o objetivo final, a liberdade e felicidade supremas, Nibbana.
Na prática o Buda ensinou
o Nobre Caminho Óctuplo aos seus discípulos de acordo com um sistema de
treinamento gradual, iniciando com o desenvolvimento de sila ou
virtude (linguagem correta, ação correta e modo de vida correto, que na
prática estão resumidos nos cinco
preceitos), seguido pelo desenvolvimento de samadhi ou concentração
(esforço correto, atenção plena correta e concentração correta),
culminando com o pleno desenvolvimento de pañña ou sabedoria ( entendimento correto e pensamento correto). A
prática de generosidade (dana) serve como um apoio
para cada passo ao longo do caminho já que atua como um auxiliar na corrosão da
tendência habitual ao desejo e
também porque pode trazer grandes ensinamentos sobre as causas e resultados das
ações de cada pessoa (kamma).
O progresso ao longo do caminho
não segue uma trajetória linear simples. Em vez disso, o desenvolvimento de
cada aspecto do Nobre Caminho Óctuplo encoraja o refinamento e fortalecimento
dos demais, levando o praticante adiante em uma espiral ascendente de
maturidade espiritual que culmina na Iluminação.
Vendo por um outro ângulo,
a longa jornada no caminho para a Iluminação tem início a sério com os
primeiros sinais de alguma movimentação na questão do entendimento correto, os
primeiros lampejos de sabedoria através dos quais a pessoa reconhece tanto a
validade da Primeira Nobre
Verdade e a inevitabilidade da lei do kamma (sânscrito karma),
a lei universal de causa e efeito. A partir do momento que a pessoa se dá conta
de que más ações inevitavelmente trazem maus resultados e que boas ações trazem
bons resultados, o desejo, de viver uma vida moralmente correta e íntegra, de
adotar seriamente a prática de sila,
cresce. A confiança criada a partir desse entendimento preliminar
leva o praticante a ter ainda mais fé nos ensinamentos. O praticante se torna
um "Budista" a partir do momento em que expressa uma determinação
interior de "tomar o refúgio" na Jóia Tríplice: o Buda (tanto
o Buda histórico como o potencial de cada um de alcançar a Iluminação), o Dhamma (tanto os ensinamentos do Buda
histórico e a verdade última que eles revelam), e a Sangha (tanto a comunidade monástica
que protegeu os ensinamentos e os colocou em prática desde os tempos do Buda
como todos aqueles que alcançaram algum grau de Iluminação). Tendo fincado
firmemente os pés no solo através da tomada do refúgio e, com o auxílio de um bom amigo (kalyanamitta)
para ajudar a indicar o caminho, a pessoa estará pronta para trilhar o caminho,
confiante de que estará seguindo as pegadas deixadas pelo próprio Buda.
Algumas vezes o Budismo é
ingenuamente criticado como uma religião ou filosofia negativa ou pessimista.
Apesar de tudo (esse é o argumento utilizado) a vida não é somente miséria e
desapontamento: ela oferece muitos tipos de alegria e felicidade. Porque então
existe essa obsessão pessimista no Budismo com a falta de satisfação e o
sofrimento?
O Buda baseou os seus
ensinamentos em uma franca avaliação da nossa situação como seres humanos:
existe insatisfação e sofrimento no mundo. Ninguém pode contestar esse fato. Se
os ensinamentos do Buda parassem por aí, os seus ensinamentos poderiam de fato
ser considerados pessimistas e a vida totalmente sem esperança. Porém, como um
médico que prescreve o remédio para uma enfermidade, o Buda oferece a esperança
(a Terceira Nobre Verdade)
e a cura (a Quarta). Os
ensinamentos do Buda portanto permitem ter um alto grau de otimismo em um mundo
complexo, confuso e difícil. Um professor contemporâneo resumiu bem:
"Budismo é a busca da felicidade levada a sério".
O Buda alegava que a
Iluminação que ele redescobriu está acessível a qualquer um que esteja disposto
a fazer o esforço e comprometer-se a seguir o Nobre Caminho Óctuplo até o fim.
Cabe a cada um de nós colocar essa afirmação à prova.
O Theravada vem para o Ocidente
Até o final do século 19 os ensinamentos do
Theravada eram pouco conhecidos fora do Sul e Sudeste da Ásia onde eles
floresceram durante quase 2.500 anos. No século 20 no entanto o Ocidente
começou a tomar contato com o singular legado espiritual do Theravada e os ensinamentos da
Iluminação. Em décadas mais recentes
esse interesse aumentou significativamente, tendo a Sangha monástica das diferentes escolas
dentro do Theravada estabelecido dezenas de monastérios na Europa e na América
do Norte. Além disso um crescente número de centros de meditação leigos, que
operam independentemente da Sangha, têm surgido para atender as demandas de
leigos - Budistas ou não - que buscam aprender sobre aspectos selecionados dos
ensinamentos do Buda, em particular a meditação
vipassana.
A chegada do século 21 apresenta
tanto oportunidades como perigos para o Theravada no Ocidente: os ensinamentos
do Buda serão estudados pacientemente e colocados em prática, de forma que
possam fincar raízes no Ocidente e beneficiar as futuras gerações ? O clima
popular que prevalece hoje de "abertura" e intercâmbio entre as
diferentes tradições religiosas conduzirá ao surgimento de uma nova e sólida
forma de prática Budista típica desta era moderna ou, simplesmente levará à
diluição e confusão desses ensinamentos preciosos? São questões em aberto que
somente o tempo poderá responder.
Felizmente, o Buda nos
deixou algumas diretrizes muito simples e claras para nos auxiliar a encontrar
o caminho nesse labirinto de ensinamentos supostamente Budistas que estão
disponíveis atualmente. Sempre que você questionar a autenticidade de algum
ensinamento em particular, preste atenção ao conselho que o Buda deu à sua
madrasta:
"Gotami,
as qualidades que você provavelmente conhece, 'Essas qualidades conduzem à
cobiça, não ao desapego; a estar agrilhoada, não a estar livre dos grilhões; ao
acúmulo, não à renúncia; ao engrandecimento pessoal, não à modéstia; à
insatisfação, não à satisfação; ao
enredamento, não ao isolamento; à preguiça, não a estimular a energia; a ser um
incômodo, não a não ser um incômodo': Você deve definitivamente entender, 'Isto não é o Dhamma, isto não é o Vinaya, essas não são as instruções do
Mestre.'
"Quanto
às qualidades que você provavelmente conhece, 'Essas qualidades conduzem ao
desapego, não à cobiça; a estar livre dos grilhões, não a estar agrilhoada; à
renúncia, não ao acúmulo; à modéstia, não ao engrandecimento pessoal; à
satisfação, não à insatisfação; ao
isolamento, não ao enredamento; a estimular a energia, não à preguiça; a não
ser um incômodo, não a ser um incômodo: Você deve definitivamente entender, 'Isto é o Dhamma, isto é o Vinaya, essas são as instruções do Mestre.'"
AN VIII.53
É claro que o verdadeiro
teste desses ensinamentos é se eles produzem no fundo do seu próprio coração,
os resultados prometidos. O Buda nos colocou um desafio; cabe a cada um de nós
individualmente colocar esse desafio à prova.
Revisado: 11 Junho 2011
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