Majjhima Nikaya 122
Mahasuññata Sutta
O Grande Discurso sobre o Vazio
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1. Assim
ouvi. [1] Em certa ocasião o Abençoado estava
entre os Sakyas em Kapilavatthu, no Parque de Nigrodha.
2. Então, ao amanhecer, o Abençoado se vestiu e tomando a tigela e o
manto externo, foi para Kapilavatthu para esmolar alimentos. Depois de haver
esmolado em Kapilavatthu e de haver retornado, após a refeição ele foi passar o
resto do dia na moradia do Sakya Kalakhemaka. Agora, naquela ocasião havia
muitos lugares para descanso na moradia do Sakya Kalakhemaka. [2]
Quando o Abençoado viu aquilo, ele pensou: “Existem muitos
lugares para descanso preparados na moradia do Sakya Kalakhemaka. Muitos
bhikkhus vivem aqui?”
Agora,
naquela ocasião o venerável Ananda, junto com muitos outros bhikkhus, estava
ocupado fazendo mantos na casa do Sakya Ghata. Então ao anoitecer, o Abençoado
saiu do seu isolamento e foi até a casa do Sakya Ghata. Lá ele sentou num
assento que havia sido preparado e perguntou ao venerável Ananda:
“Ananda, existem
muitos lugares para descanso preparados na moradia do Sakya Kalakhemaka.
Muitos bhikkhus vivem lá?” [3]
“Venerável senhor, muitos lugares para descanso foram preparados na
moradia do Sakya Kalakhemaka. Muitos bhikkhus vivem lá. Agora é a época em que
devemos fazer os mantos, venerável senhor.” [4]
3. ‘Ananda, um bhikkhu não brilha pelo deleite com as companhias, ao
buscar o deleite com as companhias, pela dedicação ao deleite com as companhias;
pelo deleite com a sociedade, ao buscar o deleite com a sociedade, pela
dedicação ao deleite com a sociedade. Na verdade, Ananda, não é possível que um
bhikkhu que se deleite com as companhias, busque o deleite com as companhias,
seja dedicado ao deleite com as companhias; que se deleite com a sociedade,
busque o deleite com a sociedade, seja dedicado ao deleite com a sociedade,
possa alguma vez obter, de acordo com a sua vontade, sem problemas ou
dificuldades, a felicidade da renúncia, a felicidade do afastamento, a
felicidade da paz, a felicidade da iluminação. [5] Mas pode-se esperar que quando um bhikkhu vive só, afastado da
sociedade, ele irá obter de acordo com a sua vontade, sem problemas ou
dificuldades, a felicidade da renúncia, a felicidade do afastamento, a
felicidade da paz, a felicidade da iluminação.
4. “Na verdade, Ananda, não é possível que um bhikkhu que se deleite com
as companhias, busque o deleite com as companhias, seja dedicado ao deleite com
as companhias; que se deleite com a sociedade, busque o deleite com a sociedade, seja
dedicado ao deleite com a sociedade, possa alguma vez entrar e permanecer na
libertação da mente que é temporária e prazerosa ou na libertação da mente que
é perpétua e inabalável. [6] Mas pode-se
esperar que quando um bhikkhu vive só, afastado da sociedade, ele irá entrar e
permanecer na libertação da mente que é temporária e prazerosa ou na libertação
da mente que é perpétua e inabalável.
5. “Eu não
vejo nem mesmo um único tipo de forma, Ananda, de cuja mudança e alteração não surja a tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero
naquele que a cobice e que com ela se deleite.
6. “No entanto, Ananda, existe esse estado descoberto pelo Tathagata:
entrar e permanecer no vazio interior não dando atenção a qualquer sinal.[7] Se, estando o
Tathagata nesse estado, ele é visitado por bhikkhus ou bhikkhunis, por
discípulos leigos homens ou mulheres, por reis ou ministros de reis, por
sacerdotes de outras seitas ou seus discípulos, então com a mente propendendo
para o afastamento, tendendo e inclinando para o afastamento, recolhida,
deliciando-se com a renúncia e tendo aniquilado completamente as coisas que são
a base para as impurezas, o Tathagata sempre conversa com eles visando
dispensá-los.
7.
“Portanto, Ananda, se um bhikkhu desejasse: ‘Que eu entre e permaneça no vazio interior,’ ele deveria estabilizar a mente no seu interior,
acalmá-la, trazê-la para a unicidade e concentrá-la. E como ele estabiliza,
acalma, unifica e concentra a mente no seu interior?
8. “Aqui,
Ananda, um bhikkhu afastado dos prazeres sensuais, afastado das qualidades não
hábeis, entra e permanece no primeiro jhana ...
no segundo jhana ... no terceiro jhana ... no quarto jhana que possui nem felicidade nem sofrimento,
com a atenção plena e a equanimidade purificadas.
Assim é como um bhikkhu estabiliza, acalma, unifica e concentra a mente no seu
interior.
9. “Então
ele dá atenção ao vazio interior. [8] Enquanto
ele está dando atenção ao vazio interior, a sua mente não entra no vazio
interior ou adquire confiança, se estabiliza e se liberta. Sendo assim, ele
compreende desta forma: ‘Enquanto estou dando atenção ao vazio interior, minha
mente não entra no vazio interior ou adquire confiança, se estabiliza e se liberta.’ Dessa forma ele possui plena consciência daquilo.
“Ele dá
atenção ao vazio exterior ... Ele dá atenção ao vazio
interior e exterior ... Ele dá atenção à imperturbabilidade. [9]
Enquanto ele está dando atenção à imperturbabilidade, a sua
mente não entra na imperturbabilidade ou adquire confiança, se estabiliza e se liberta. Sendo assim, ele compreende desta forma: ‘Enquanto estou dando atenção
à imperturbabilidade, minha mente não entra na imperturbabilidade ou adquire
confiança, se estabiliza e se liberta.’ Dessa forma ele possui plena consciência
daquilo.
10. “Então,
aquele bhikkhu, deve estabilizar a mente no seu interior, acalmá-la, unificá-la
e concentrá-la no mesmo objeto de concentração de antes. [10]
Então ele dá atenção ao vazio interior. Enquanto ele está dando
atenção ao vazio interior, a sua mente entra no vazio interior e adquire
confiança, se estabiliza e se liberta. Sendo assim, ele compreende desta forma:
‘Enquanto estou dando atenção ao vazio interior, minha mente entra no vazio
interior e adquire confiança, se estabiliza e se liberta.’
Dessa forma ele possui plena consciência daquilo.
“Ele dá
atenção ao vazio exterior ... Ele dá atenção ao vazio
interior e exterior ... Ele dá atenção à imperturbabilidade. Enquanto ele está
dando atenção à imperturbabilidade, a sua mente entra na imperturbabilidade e
adquire confiança, se estabiliza e se liberta. Sendo assim, ele compreende desta
forma: ‘Enquanto estou dando atenção à imperturbabilidade, minha mente entra na
imperturbabilidade e adquire confiança, se estabiliza e se liberta.’ Dessa forma
ele possui plena consciência daquilo.
11. “Quando
um bhikkhu está assim, se a sua mente se inclinar para caminhar, ele caminha,
pensando: ‘Enquanto estou assim caminhando, nenhum estado prejudicial de cobiça
e tristeza irá me assaltar.’ Dessa forma ele possui
plena consciência daquilo. E quando um bhikkhu está assim, se a sua mente se
inclinar para ficar em pé, ele fica em pé ... se a sua mente se inclinar para
sentar, ele senta ... se a sua mente se inclinar para deitar, ele deita,
pensando: ‘Enquanto estou assim deitado, nenhum estado prejudicial de cobiça e
tristeza irá me assaltar.’ Dessa forma ele possui plena consciência daquilo.
12. “Quando
um bhikkhu está assim, se a sua mente se inclinar para conversar, ele decide:
‘Essa conversa é baixa, vulgar, grosseira, ignóbil, não traz benefício e não
conduz ao desencantamento, desapego, cessação, paz, conhecimento direto,
iluminação e Nibbana, isto é, conversa sobre reis, ladrões, ministros de
estado, exércitos, alarmes e batalhas; comida e bebida, roupas, mobília,
ornamentos e perfumes, parentes; veículos; vilarejos, vilas, cidades, o campo;
mulheres e heróis; as fofocas das ruas e do poço; contos dos mortos; contos da
diversidade (discussões filosóficas do passado e futuro), a criação do mundo e
do mar e falar sobre a existência ou não das coisas: desse tipo de conversa eu
não participo.’Dessa forma ele possui plena
consciência daquilo.
“Mas ele
decide: ‘Aquelas conversas que tratam da obliteração, que favorecem a
libertação da mente, que conduzem ao completo desencantamento, desapego,
cessação, paz, conhecimento direto, iluminação e Nibbana, isto é, conversas
sobre querer pouco, satisfação, afastamento, distância da sociedade, despertar
a energia, virtude, concentração, sabedoria, libertação, conhecimento e visão
da libertação: desse tipo de conversa eu participo.’
Dessa forma ele possui plena consciência daquilo.
13. “Quando
um bhikkhu está assim, se a sua mente se inclinar para pensar, ele decide:
‘Esses pensamentos são baixos, vulgares, grosseiros, ignóbeis, não trazem
benefício e não conduzem ao desencantamento, desapego, cessação, paz, conhecimento
direto, iluminação e Nibbana, isto é pensamentos de desejo
sensual, pensamentos de má vontade, pensamentos de crueldade: esse tipo
de pensamentos eu não penso.’ Dessa forma ele possui plena consciência daquilo.
“Mas ele
decide: ‘Aqueles pensamentos que são nobres e emancipadores e que conduzem
aquele que pratica de acordo com eles à completa destruição do sofrimento, isto
é, pensamentos de renúncia, pensamentos de não má vontade e pensamentos de não
crueldade: esse tipo de pensamentos eu penso.’ Dessa
forma ele possui plena consciência daquilo.
14.
“Ananda, existem esses cinco elementos do prazer sensual.[11] Quais são os cinco? Formas
percebidas pelo olho que são desejáveis, agradáveis e fáceis de serem gostadas,
conectadas com o desejo sensual e que provocam a cobiça. Sons percebidos pelo
ouvido ... Aromas percebidos pelo nariz ... Sabores percebidos pela língua ...
Tangíveis percebidos pelo corpo que são desejáveis, agradáveis e fáceis de
serem gostados, conectados com o desejo sensual e que provocam a cobiça. Esses
são os cinco elementos do prazer sensual.
15. “Aqui
um bhikkhu deve sempre examinar a sua própria mente da seguinte forma: ‘Existe
alguma excitação mental relativa a esses cinco elementos do prazer sensual que
surge em mim em alguma ocasião?’ Se, ao examinar a sua
mente, o bhikkhu compreende que: ‘A excitação mental relativa a esses cinco
elementos do prazer sensual surge em mim em certas ocasiões,’ então ele
compreende que: ‘O desejo e a cobiça por esses cinco elementos do prazer
sensual não foram abandonados por mim.’ Dessa forma ele possui plena
consciência daquilo. Mas se, ao examinar a sua mente, o bhikkhu compreende que:
‘Nenhuma excitação mental relativa a esses cinco elementos do prazer sensual surge
em mim em nenhuma ocasião,’ então ele compreende que: ‘O desejo e a cobiça por
esses cinco elementos do prazer sensual
foram abandonados por mim.’ Dessa forma ele possui plena consciência
daquilo.
16.
“Ananda, existem esses cinco agregados influenciados pelo apego, [12]
em relação aos quais um bhikkhu deve
permanecer contemplando a origem e a cessação da seguinte forma:
‘Assim é a forma material, essa é a sua origem, essa é a sua cessação; assim é
a sensação, essa é a sua origem, essa é a sua cessação; assim é a percepção,
essa é a sua origem, essa é a sua cessação; assim são as formações, essa é a
sua origem, essa é a sua cessação; assim é a consciência, essa é a sua
origem, essam é a sua cessação.’
17. “Ao
permanecer contemplando a origem e a cessação desses cinco agregados
influenciados pelo apego, a presunção ‘eu sou’, baseada nesses cinco agregados
influenciados pelo apego, é abandonada por ele. Quando isso ocorre, aquele
bhikkhu compreende que: ‘A presunção ‘eu sou’, baseada nesses cinco agregados
influenciados pelo apego, foi abandonada por mim.’
Dessa forma ele possui plena consciência daquilo.
18. “Esses estados possuem uma base totalmente benéfica; eles são
nobres, supramundanos e inacessíveis a Mara.
19. “O que
você pensa, Ananda? Qual o bem que um discípulo vê em
buscar a companhia do Mestre mesmo quando este lhe diz para ir embora?”
“Venerável
senhor, os ensinamentos têm o Abençoado como origem, como guia e como refúgio.
Seria bom se o Abençoado pudesse explicar o significado dessas palavras. Tendo
ouvido do Abençoado, os bhikkhus o recordarão.”
20.
“Ananda, um discípulo não deve procurar a companhia do Mestre para ouvir os
sumários, versos e análises. [A] Por que
isso? Por muito tempo, Ananda, você aprendeu os ensinamentos, lembrou-se deles,
recitou-os verbalmente, examinou-os com a mente, penetrando-os bem através do
entendimento. Mas um discurso que lide com a obliteração, que favoreça a
libertação da mente e que conduza ao completo desencantamento, desapego,
cessação, paz, conhecimento direto, iluminação e Nibbana, isto é, um discurso
sobre querer pouco, satisfação, afastamento, distância da sociedade, despertar
a energia, virtude, concentração, sabedoria, libertação, conhecimento e visão
da libertação: por conta desse tipo de discurso um discípulo deve buscar a
companhia do Mestre mesmo quando este lhe diga para ir embora.
21. “Sendo
assim, Ananda, a ruína de um mestre pode ocorrer, a ruína de um pupilo pode
ocorrer e a ruína daquele que vive a vida santa pode ocorrer.[13]
22. “E como ocorre a ruína de um mestre? Nesse caso um
certo mestre busca um local afastado onde ficar: na floresta, à sombra
de uma árvore, uma montanha, uma ravina, uma caverna em uma encosta, um
cemitério, um matagal, um espaço aberto, uma cabana vazia. Enquanto ele vive
assim afastado, brâmanes e chefes de família da cidade e do campo o visitam e
como resultado ele se desvia do seu caminho, se torna cheio de desejo, sucumbe
à cobiça e reverte à gratificação dos prazeres sensuais. Diz-se que esse mestre foi arruinado pela
ruína do próprio mestre. Ele foi abatido por estados ruins e prejudiciais que
contaminam, trazem a renovação de ser/existir, criam problemas, amadurecem no
sofrimento e conduzem ao futuro nascimento, envelhecimento e morte. Assim é
como ocorre a ruína de um mestre.
23. “E como
ocorre a ruína de um pupilo? Um pupilo daquele mestre, emulando o afastamento
do mestre, busca um local afastado onde ficar: na floresta
... uma cabana. Enquanto ele vive assim afastado, brâmanes e chefes de
família da cidade e do campo o visitam e como resultado ele se desvia do seu
caminho, se torna cheio de desejo, sucumbe à cobiça e reverte à gratificação
dos prazeres sensuais. Se diz que esse pupilo foi arruinado pela ruína do
próprio pupilo. Ele foi abatido por estados ruins e prejudiciais que
contaminam, trazem a renovação de ser/existir, criam problemas, amadurecem no
sofrimento e conduzem ao futuro nascimento, envelhecimento e morte. Assim é
como ocorre a ruína do pupiloo.
24. “E como
ocorre a ruína daquele que vive a vida santa? Nesse caso um Tathagata aparece
no mundo, um arahant, perfeitamente iluminado, consumado no verdadeiro
conhecimento e conduta, bem-aventurado, conhecedor dos mundos, um líder
insuperável de pessoas preparadas para serem treinadas, mestre de devas e
humanos, desperto, sublime. Ele busca um local afastado onde ficar: na floresta ... uma cabana. Enquanto ele vive assim afastado,
brâmanes e chefes de família da cidade e do campo o visitam, no entanto ele não
se desvia do seu caminho ou se torna cheio de desejo, nem sucumbe à cobiça ou
reverte à gratificação dos prazeres sensuais. Mas um discípulo desse mestre,
emulando o afastamento do mestre, busca um local afastado onde ficar: na
floresta ... uma cabana. Enquanto ele vive assim afastado, brâmanes e chefes de
família da cidade e do campo o visitam e como resultado ele se desvia do seu
caminho, se torna cheio de desejo, sucumbe à cobiça e à gratificação dos
prazeres sensuais. Se diz que esse que vive a vida santa foi arruinado pela
ruína daquele que vive a vida santa. Ele foi abatido por estados ruins e
prejudiciais que contaminam, trazem a renovação de ser/existir, criam problemas,
amadurecem no sofrimento e conduzem ao futuro nascimento, envelhecimento e
morte. Assim é como ocorre a ruína daquele que vive a vida santa. E nesse caso,
Ananda, a ruína daquele que vive a vida santa tem um resultado mais doloroso,
um resultado mais amargo do que a ruína do mestre ou a ruína do pupilo e pode
até conduzir à perdição. [14]
25. “Portanto, Ananda, comporte-se em relação a mim com amabilidade, não
com hostilidade. Isso o conduzirá à sua felicidade e bem-estar por muito tempo.
E como os discípulos se comportam em relação ao Mestre com hostilidade, não com
amabilidade? Nesse caso, Ananda, compassivo e buscando o seu bem-estar, o
Mestre ensina o Dhamma aos seus discípulos por compaixão: ‘Isto é para o seu
bem-estar. Isto é para a sua felicidade.’ Os seus
discípulos não querem ouvir ou dar-lhe ouvidos ou empenhar a mente em
compreendê-lo; eles erram e se afastam dos ensinamentos do Mestre. Dessa forma
os discípulos se comportam com hostilidade em relação ao Mestre, não com
amabilidade.
26. E como
os discípulos se comportam em relação ao Mestre com amabilidade, não com
hostilidade? Nesse caso, Ananda, compassivo e buscando o seu bem estar, o
Mestre ensina o Dhamma aos seus discípulos por compaixão: ‘Isto é para o seu
bem-estar. Isto é para a sua felicidade.’ Os seus
discípulos querem ouvir e lhe dão ouvidos e empenham a mente em compreendê-lo;
eles não erram e não se afastam dos ensinamentos do Mestre. Dessa forma os
discípulos se comportam com amabilidade em relação ao Mestre, não com
hostilidade. Portanto, Ananda, comporte-se em relação a mim com amabilidade,
não com hostilidade. Isso o conduzirá à sua felicidade e bem-estar por muito
tempo.
27. “Eu não
o tratarei como o oleiro trata a argila crua molhada. Repetidamente contendo-o,
eu falarei com você, Ananda. Repetidamente admoestando-o, eu falarei com você,
Ananda. Aqueles com o núcleo sólido agüentam o teste.” [15]
Isso foi o que disse o Abençoado. Os bhikkhus
ficaram satisfeitos e contentes com as palavras do Abençoado.
Notas:
Veja o comentário de Ajaan Thanissaro.
[1] Este sutta com o comentário completo foi publicado em uma tradução
feita pelo Bhikkhu Ñanamoli intitulado The
Greater Discourse on Voidness. [Retorna]
[2] MA: Esta era uma moradia construída no Parque de Nigrodha pelo
Sakya Kalakhemaka. Camas, cadeiras, colchões e esteiras haviam sido preparadas e estavam tão juntas que o local mais parecia um clube de bhikkhus. [Retorna]
[3] MA explica que esta era uma mera questão retórica, visto que os
Budas podem saber qualquer coisa que queiram saber. O Buda perguntou isto com o
pensamento na mente: “Tão logo esses bhikkhus formem uma sociedade e se
deleitem com a sociedade, eles irão agir de forma inadequada. Eu irei expor o
Discurso Longo sobre o Vazio que será como uma regra de treinamento (proibindo
o deleite em sociedade).” [Retorna]
[4] MA: o ven. Ananda tencionava dizer: “Esses bhikkhus estão vivendo
assim, não porque eles apenas se deliciem em estar ocupados, mas porque estão
fazendo mantos.” [Retorna]
[5] Veja o MN 66.21. [Retorna]
[6] A primeira é a libertação através dos jhanas e as realizações
imateriais e a última, a realização através dos caminhos e frutos
supramundanos. Veja também o MN 29.6. [Retorna]
[7] MA: O Buda neste trecho afasta a crítica sobre o fato de que
enquanto ele impõe aos seus discípulos viverem em solidão, ele mesmo está com freqüência
em companhia de um grande grupo. “Vazio” neste caso é o fruto da realização do
vazio; veja o MN 121 – nota 1. [Retorna]
[8] MA explica o vazio interior como aquele conectado com os próprios
cinco agregados, vazio exterior como aquele conectado com os agregados dos
outros. O vazio mencionado neste caso tem que ser a libertação temporária da
mente alcançada através da contemplação do não-eu com o insight, conforme
explicado no MN 43.33. Quando o insight do não-eu é
trazido até o nível do caminho supramundano, resulta em fruição, experimentando
Nibbana através do seu aspecto vazio. [Retorna]
[9] MA: Ele dá atenção a uma realização meditativa imaterial
imperturbável. [Retorna]
[10] MA: Isto se refere ao jhana que foi usado como base para o insight.
Se, após emergir desse jhana básico, a sua mente ainda não entrar no vazio
através da contemplação com insight dos seus próprios agregados ou dos
agregados dos outros, e ele também não puder alcançar a realização imaterial
imperturbável, ele deve retornar para o mesmo jhana básico desenvolvido no
início e ocupar-se novamente com ele. [Retorna]
[11] De acordo com MA, até este ponto o Buda mostrou o treinamento para
a realização dos dois primeiros caminhos, aquele de ‘entrar na correnteza’ e
‘retornar uma vez.’ Agora no trecho a seguir (versos
14-15) ele irá indicar o insight necessário para realizar o fruto de ‘não
retornar’, que culmina com o abandono do desejo sensual. [Retorna]
[12] Este trecho (versos 16-17) indica o insight necessário para
realizar o caminho do arahant, que culmina com o abandono da presunção “eu
sou.” [Retorna]
[A] Ouvir os sumários, versos e análises - sutta geyya veyyakaranassa sotum. Análises tratam das explicações
detalhadas de enunciados sumários ou complexos, e das respostas a perguntas,
veja o DN 33.1.11(28). Alguns estudiosos
contemporâneos argumentam que esta classificação em três grupos seria o modo como
o Cânone teria sido organizado num princípio. O comentário do Buda também
justifica a interpretação de que o estudo dos ensinamentos Budistas como um fim
em si mesmo não é suficiente e que a prática deve ser enfatizada, particularmente
tomando em conta que o interlocutor é Ananda que era conhecido por sua habilidade
nos estudos. Veja o MN 32.4.[Retorna]
[13] Acariyupaddava,
antevasupaddava, brahmacariyaupaddava. Upaddava também pode
ser interpretado como desastre, calamidade. MA explica que o Buda menciona este
trecho para mostrar o perigo da solidão quando o propósito correto da vida
solitária não é satisfeito. O “mestre” é um mestre de fora da doutrina do Buda.
[Retorna]
[14] MA: A
vida santa fora da doutrina do Buda produz pequeno benefício, portanto alguém
que decair dela perderá apenas uma realização mundana; ele não irá sofrer
muito, como alguém que caia do lombo de uma mula, ele apenas se sujará. Mas a vida santa de acordo com a doutrina do Buda
produz um grande benefício – os caminhos supramundanos, os seus frutos e
Nibbana. Portanto, alguém que decair dela irá sofrer muito, como alguém que
caia do lombo de um elefante. [Retorna]
[15] O contraste neste
símile é entre a forma como o oleiro trata a argila crua molhada e a forma como
ele trata os potes cozidos produzidos com a argila. MA parafraseia: “Depois de
aconselhá-lo uma vez, eu não ficarei em silêncio; eu o aconselharei e o
instruirei com admoestações repetidas. Como o oleiro que testa os potes
cozidos, coloca de lado os que estão rachados, fendidos ou com falhas e
conserva apenas aqueles que passam no teste, assim eu o aconselharei e o
instruirei, testando-o repetidas vezes. Aqueles, entre vocês, que são sólidos, que vêm alcançando os caminhos e frutos, passarão
no teste.” MA adiciona que as qualidades virtuosas mundanas também são parte do
critério de solidez. [Retorna]
Revisado: 4 Dezembro 2010
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