Maha-suññata Sutta
Por
Ajaan Thanissaro
Somente para distribuição gratuita.
Este trabalho pode ser impresso para distribuição gratuita.
Este trabalho pode ser re-formatado e distribuído para uso em computadores e redes de computadores
contanto que nenhum custo seja cobrado pela distribuição ou uso.
De outra forma todos os direitos estão reservados.
O Maha-suññata Sutta (MN 122), oferece muitas lições valiosas com relação a aspectos práticos que cercam o empenho para desenvolver uma permanência meditativa de vacuidade, como mantê-la, e como conduzi-la até a sua conclusão com a iluminação. Alguns desses aspectos incluem a necessidade de isolamento como um ambiente favorável para a prática, os tipos de conversação e pensamentos que são benéficos e prejudiciais na prática, os perigos de ser distraído por visitas e a atitude apropriada que se deve ter em relação ao próprio mestre. No entanto, para uma explicação sobre a vacuidade em si, é necessário procurar em outros lugares no Cânone.
No Cânone encontramos a vacuidade abordada sob três perspectivas, tratando-a como (1) uma permanência meditativa, (2) como um atributo dos objetos e (3) como um tipo de libertação da mente. A primeira abordagem é obvio ser aquela com relevância mais imediata para a discussão neste sutta, mas na verdade todas as três abordagens desempenham o seu papel aqui.
A vacuidade como uma permanência meditativa é discutida em mais detalhes no MN 121. Em essência, se resume à habilidade de centrar a mente num modo particular de percepção, mantê-la assim e depois observar a ausência e presença de perturbações como parte daquele modo. O processo começa com percepções do ambiente externo – vilarejo, floresta, o elemento terra – e depois se move internamente para os quatro estados sem forma, a “concentração da mente sem sinais,” e por fim a libertação de todas as impurezas. Cada passo é comparado com o anterior para ver como a percepção mais refinada gera menos perturbações. Por exemplo, ao mover-se da percepção da floresta para a percepção da terra, o primeiro passo será estabelecer-se e “desfrutar” dessa percepção. Depois se observa que tipos de perturbações foram abandonadas ao mover-se da percepção da floresta para a percepção da terra – por exemplo, todos os pensamentos dos perigos da floresta se foram – e depois ver quais perturbações restam baseadas na última percepção. Então se abandona a percepção que causa essas perturbações e se move para um nível mais refinado de percepção. Esse processo é desenvolvido até chegar na “concentração da mente sem sinais.” Ao observar que mesmo esse nível refinado de concentração é fabricado, impermanente e sujeito à cessação, o meditador obtém completa libertação de todas as impurezas mentais e das perturbações que podem surgir com base nelas. Esse é o nível de vacuidade que é “supremo e insuperável,” e ao que parece é ao que o Buda está se referindo neste sutta quando ele diz que “entrar e permanecer no vazio interior não dando atenção a qualquer sinal.”
Observe que em cada passo ao longo do caminho desse processo, a vacuidade é a ausência de perturbações experimentadas num determinado estado mental. Isso significa que o estado mental deve ser percebido simplesmente como um exemplo da presença e ausência de sofrimento. Em outras palavras, a vacuidade com esse sentido se relaciona diretamente à segunda das três características – o sofrimento. O desenvolvimento dessa vacuidade está relacionado com as quatro nobres verdades, na medida em que se procura as causas do sofrimento e a tranqüilidade é empregada juntamente com o insight para abandonar essas causas na busca pelo completo fim do sofrimento.
O segundo significado da vacuidade, como um atributo dos objetos, é discutido de modo mais amplo no SN 35.85. Esse sutta descreve a vacuidade como significando a ausência de um eu, ou qualquer coisa que pertença a um eu, nas seis bases sensuais internas e externas. Qualquer noção de um eu que possa cercar esses objetos não faz parte inerente deles, e ao invés disso é simplesmente o resultado da própria inclinação pela “fabricação de um eu” e “fabricação do meu.” Vendo desse modo o artificialismo na “fabricação de um eu” e “fabricação do meu” ajuda a conduzir a um senso de desencantamento com essas “fabricações,” contribuindo assim no abandono por todo apego associado a elas.
Portanto a vacuidade com esse sentido está relacionada diretamente com a terceira das três características: não-eu. No entanto, do mesmo modo que as três características não estão radicalmente separadas uma das outras – tudo que é sofrimento é por essa razão não-eu – a aplicação prática desse sentido de vacuidade não é radicalmente distinta da primeira. Tal como indicado no SN 12.15, quando alguém não mais se apega a nenhuma idéia de “meu eu,” ele vê os fenômenos interna e externamente simplesmente como exemplos do sofrimento surgindo e desaparecendo. Praticar a meditação sob essa perspectiva – vendo cada estado de concentração como um exemplo de sofrimento surgindo e desaparecendo – é desenvolver a vacuidade como uma permanência meditativa.
O terceiro significado da vacuidade, como um tipo de libertação da mente, é uma aplicação da vacuidade com o seu segundo sentido. O MN 43 descreve esse estado de concentração da seguinte forma: “Neste caso um bhikkhu, dirigindo-se para a floresta ou para o pé de uma árvore ou uma cabana vazia, reflete da seguinte forma: ‘Isto é vazio de um eu ou daquilo que pertença a um eu.’” Adicionando que essa libertação da mente é diferente da libertação da mente que resulta quando alguém não dá atenção para nenhum sinal. Portanto esse estado de concentração não pode ser completamente igualado à vacuidade como permanência meditativa mencionada neste sutta. Além disso o MN 106 adiciona que aquele que com freqüência permaneça na libertação da mente através da vacuidade irá alcançar a esfera do nada – uma das realizações meditativas imateriais – ou está comprometido com a sabedoria que irá conduzi-lo até a iluminação. A primeira dessas duas alternativas é um outro modo através do qual a vacuidade como libertação da mente difere da vacuidade como permanência meditativa tal como definida no MN 121.
No entanto, visto que a definição de sabedoria é ver os fenômenos em termos das quatro nobres verdades, a segunda alternativa – estar comprometido com a sabedoria – aparentemente segue o mesmo padrão sugerido no SN 12.15 mencionado acima. Em outras palavras, à medida em que alguém não mais perceba os fenômenos em termos de um eu, ele tenderá a vê-los simplesmente como exemplos do sofrimento surgindo e desaparecendo. Portanto, novamente, este terceiro significado da vacuidade, da mesma forma que o segundo, no final das contas conduz na prática de volta ao primeiro. Tal como observado no MN 43, quando alguém realiza a iluminação, a libertação da mente sem sinais e a libertação da mente através da vacuidade diferem apenas no nome, mas não no significado.
Ao ler o sutta, poderá ser observado que os vários significados de vacuidade se encaixam melhor em alguns contextos que em outros. Apesar disso, é importante lembrar que ao longo da prática, todos os três significados estão relacionados e irão inevitavelmente desempenhar um papel na iluminação.
Revisado: 02 Abril 2011
Copyright © 2000 - 2021, Acesso ao Insight - Michael Beisert: editor, Flavio Maia: designer.