O Dhamma como Kamma Habilidoso

Por

Ajaan Sucitto

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Existe um texto muito engraçado no Majjhima Nikaya chamado Kukuravatika Sutta ou O Contemplativo Nu com Deveres de Cão (MN-57). No tempo do Buda, a assim chamada cena espiritual estava cheia de gente que fazia práticas ascéticas extremas. Este texto fala de um asceta que gosta de praticar como se ele fosse um cachorro. Ele anda nas quatro patas, movendo-se com relutância ao passar por poças d’agua e tendo por hábito comer comida jogada no chão. E ele tem um amigo asceta que gosta de praticar como se ele fosse um boi. Ele fica em pé e se deita sobre palha. Ambos vinham fazendo essas práticas ascéticas por muitos anos.

Eles encontram o Buda e o asceta com obrigações de cachorro pergunta algo como, “Qual o resultado da minha prática como um asceta com obrigações de cachorro? Eu queimei muito do meu kamma (ação) ruim? E o Buda diz “Não me pergunte isso. Isso acontece três vezes até que o Buda finalmente diz, “OK, você me perguntou três vezes. Depois de me perguntar três vezes, eu não posso me recusar, assim eu vou lhe dizer. Como você vem praticando como um cachorro, vem desenvolvendo completamente a mente de um cachorro e sem interrupção, seu destino é renascer ou como um cachorro se você tiver feito isso bem ou renascer no inferno se você tiver feito algo errado.” Talvez o Buda estivesse mostrando aqui o seu senso de humor, mas ele diz que ao invés de fazer todas essas tolices e pensar que você está extinguindo kamma, existe uma maneira muito melhor de fazer isso.

Quatro Tipos de kamma

Neste ponto, o Buda entra numa breve exposição sobre os quatro tipos de kamma. O primeiro deles é chamado de ‘ação escura com resultado sombrio’, que quer dizer, ação negativa produzindo resultados negativos. Aqui uma pessoa tira a vida, abusa de seres humanos, toma embriagantes e assim por diante. Os resultados dessas ações são sombrios e negativos – a pessoa é herdeira das suas ações. Parece apropriado chamar de “sombrio” ao invés de mau, por que se refere mais à qualidade de uma sensação. A pessoa sente a mente escura quando faz essas coisas e isso leva a sensações mais sombrias ainda no futuro.

A linguagem do sutta pode parecer desnecessariamente confusa aqui, mas ele diz, “a pessoa gera uma formação corporal aflitiva.” O que isso quer dizer é que em qualquer ação você está criando um sankhara, uma intenção, uma volição ou formação mental. Pode parecer como um rápido bip – você teve um pensamento prejudicial que imediatamente se foi – mas na verdade é muito mais do que isso.

Essas formações mentais vão se somando com o tempo e criam uma tendência kammica, um tipo de trilha habitual por onde a mente da pessoa corre. Isso vai determinar o tipo de pessoa que você se tornará. Se você continuar fazendo a mesma coisa repetidamente, nesse caso você estará criando uma tendência ou uma rota kammica. Cada vez que você entrar nessa trilha, você estará gerando uma formação aflitiva, um sankhara aflitivo.

Esse kamma, então, volta para você porque você criou um canal através de uma ação corporal para certas ações que levam a certos resultados. A mesma coisa acontece com ações expressadas através da linguagem e com as ações da mente. Se você pensar de certas maneiras, você encorajará certas emoções e daí ficará programado dentro de certos hábitos e tendências, como inveja, ressentimento ou coisas dessa natureza.

O segundo tipo de kamma é chamado de “ação clara com resultado luminoso.” Aqui a pessoa gera um sankhara corporal não aflitivo através de uma ação hábil, abstendo-se de tirar uma vida, através da generosidade, sendo inofensivo, criando um sankhara verbal ou mental não aflitivo. Isso leva a um destino ou resultado luminoso no sentido de que coisas benéficas resultarão de ações benéficas.

O terceiro kamma é aquele que é misto. Há um pouco de confusão aqui: um pouco de escuro e um pouco de claro. Talvez você estivesse correndo para fazer um favor para alguém, mas chutou o cachorro que estava no seu caminho – um pouco de bom e algo de mau.

O último tipo de kamma não é nem uma ação escura, nem uma clara, com um resultado nem sombrio e nem luminoso, e essa é a idéia que o Buda está apresentando ao asceta com obrigações de cachorro. Esse é o tipo de ação que leva à destruição da ação, por que é a ação assumida com uma atitude de desapego, desprendimento e sem paixão. Quando a pessoa abandona a volição de agir para obter determinados resultados kammicos, não existe uma rota habitual, não há um programa a ser seguido, não há um vir a ser, não há a construção de um eu.

As ações que levam a mais kamma procedem de uma experiência inerente ao “eu,” um ser, uma identidade. E essas ações produzem resultados num outro eu, uma outra identidade. A ação que leva ao fim da ação não procede de uma noção de “eu” e não faz nascer a noção de “eu.” Essa é a ação do insight. É esse movimento do insight que permite que você saia do programa, saia do condicionamento, saia do hábito de ver as coisas sob o prisma do eu. Esse é o movimento do Dhamma.

Nesse movimento, não existe o “eu.” Não é o “eu” que está se concentrando, por exemplo, durante a meditação. Ao invés, a concentração vem por que é dependente da condição causal da ausência de esforço e da sensação prazerosa; a sensação prazerosa depende das condições causais da sensação de satisfação e de felicidade e de um estado mental livre de ansiedade. Assim, não é o “eu” que está conseguindo isso; o “eu” não está produzindo um resultado. São só certas causas e condições que enchem e inundam o sistema, e elas geram outras causas e condições. O processo do Dhamma envolve uma cadeia trans-pessoal de condições. Não é o “eu” fazendo isso. Pode muito bem haver um sentido de “eu estou fazendo isso,” reivindicando a posse do que está acontecendo, mas é uma situação diferente.

Assim, o Dhamma que leva ao fim do kamma não é o “eu” se livrando do “meu” kamma, por que a intenção e a ação de se livrar do kamma já seria um kamma. Vamos dizer que existe algum negativismo no “eu,” então eu penso, “eu tenho de me livrar dos meus maus hábitos.” Não vai acontecer. Pode ser um bom ponto de partida, mas não vai acontecer, porque daí seria o “eu” tentando fazê-lo. E o que acaba acontecendo é que ficamos com uma atitude negativa em relação a nós mesmos que temos de “parar de ser desse ou daquele jeito.” Isso não nos leva a lugar nenhum.

Uma abordagem mais eficiente inclui ficar próximo do benéfico, ficar receptivo àquilo que é benéfico, deixar o benéfico inchar e progredir. Esse é o processo do Dhamma, que tem dois aspectos: calma, (samatha), e insight, (vipassana). Acalmar a mente e o corpo faz surgir um sentimento bom. É um sentimento bom não só porque a gente se sente bem, mas porque faz a mente ficar expansiva, firme, inteligente e intuitiva. E aí nasce o insight que investiga as causas e condições e compreende a natureza do que está acontecendo. A partir desses dois trabalhando juntos, o processo de libertação acontece. Quando a pessoa entende, “Bem, isso não é necessário, é muito doloroso,” ela pára de fazer o que vinha fazendo. Isso é o abandono da ação.

A cessação do kamma, da ação habitual e reação depende de uma base hábil. Nós trabalhamos em duas frentes. Uma é o estabelecimento dos programas, das condições, dos sankharas que manterão um sentido relativo de “eu” em contato com o que é saudável e em bom lugar. Que pode ser talvez 80% da nossa prática, e é uma prática extensa, não só baseada em meditação. Dessa base nós podemos começar a investigar como tudo isso pode ser abandonado, como o sentido do “eu” que é tão frequentemente gerado pode ser compreendido e até mesmo abandonado.

Calma

O primeiro aspecto desse processo do Dhamma, o aspecto calma, é talvez o mais fácil de se explicar. Trazer à mente as dez perfeições, (paramis), é uma das coisas mais fáceis que podemos fazer para acessar a calma: generosidade, (dana), em relação ao corpo, à linguagem e à mente; virtude, (sila), ou estar atento ao comportamento do corpo, linguagem e mente; renúncia, (nekkhamma), estar mais receptivo às necessidades do que aos desejos do corpo, linguagem e mente; sabedoria, (pañña) ou discernimento; energia, (viriya) ou persistência; paciência, (khanti); verdade ou honestidade, (sacca); determinação, (adhitthana) ou resolução; amor bondade, (metta); equanimidade, (upekkha). Essas são as maneiras pelas quais o benéfico pode ser classificado ou dividido em dez partes. Isso significa que ao longo de um dia você tem algo para manter em mente: “ Eu posso ser mais paciente, eu posso desenvolver essa qualidade; isso eu posso fazer. Nós fazemos um pouquinho de cada vez. É algo para estarmos atentos e nos lembrarmos. E no fim do dia, por exemplo, quando você for fazer a sua meditação, você vai perceber onde o benéfico se encontra, é com isso que nós deveríamos idealmente começar a nossa prática no processo causal do Dhamma.

Direcionando para o Insight

O obstáculo principal para o insight é a profunda ignorância, onde estão enraizados todos os tipos de emoções contaminadas, entendimentos incorretos e ações habituais. O segundo sutta do Majjhima Nikhaya, (Sabbasava Sutta), define uma grande quantidade de estratégias para a remoção das impurezas, (asava). Você resolve uma boa parte do problema removendo o fluxo – colocando um bloco aqui, um obstáculo ali – para que elas não fluam livremente e aí você terá menos reparos para fazer. O Buda apresenta sete modos para lidar com as impurezas dos estados prejudiciais da mente nesse discurso, e eles oferecem um modo acessível para mudarmos da calma para o insight.

1. Ver. A primeira abordagem é chamada ver, e diz respeito ao conhecimento da atenção com sabedoria, (yoniso manasikara). Trata-se de um sankhara, uma formação mental, e se refere à habilidade de definição da mente, a mente pensante ou a mente que concebe. Não se trata da mente que sente, mas da mente que define “O que é isso? Qual é o modo hábil de olhar para isso?” Ela determina para o que dar atenção e no que ela não deve colocar a atenção. Existe uma larga e variada extensão aqui. Se você der muita atenção para onde o desejo, a raiva e a delusão surgem, ela é chamada de atenção sem sabedoria. Se você der atenção para onde elas diminuem, ela é chamada de atenção com sabedoria, essa abordagem é habilidosa.

Deste modo, você pode examinar como você assiste televisão. O que você assiste? Quanto você assiste? Quão bom é isso? Isso pode ser considerado habilidoso? É útil? Quando não é apropriado? Não se trata de crítica, mas sim de uma maneira de conhecer a sua própria mente, de conhecer o que está se passando com você: para aquilo que você olha, para o que você dá ouvidos e no que você presta atenção.

O Buda fala em detalhe sobre isso. Se você fica atento a “Eu era? O que eu era? O que serei? Tendo sido, o que serei? Não sou? O que sou eu? Como sou?” e assim por diante, esse tipo de atenção a essas idéias é alimento para as impurezas do vir a ser. “Tornar-se” é aquilo que sempre forma uma identidade. Então, se você fica dizendo “Quem, quem, quem,” você está estimulando essa tendência de vir a ser ou de ser alguém. Você reforçará a tendência de criar ações claras e escuras que levam a resultados luminosos e sombrios..

Portanto, vários tipos de entendimento podem surgir: “Eu tenho um eu. Eu não tenho um eu. Meu Grande Eu percebe o meu pequeno eu. Meu não-eu percebe o meu eu,” e assim por diante. Isso é chamado de um emaranhado de idéias e nós podemos continuar infinitamente e ficar realmente presos nisso tudo. É uma viagem e tanto que as vezes pode até ser interessante. Mas que não conduz ao insight. Ao invés disso, você pode ver a sua experiência em termos menos pessoais, assim como “Onde está o stress, onde está o sofrimento agora? De onde ele se origina? Onde é que ele termina? O que faz com que ele termine?” Isso é atenção com sabedoria.

2. Autocontrole. Autocontrole envolve a guarda ou a contenção dos sentidos. Isso significa que temos alguma responsabilidade pelos nossos olhos, nossos ouvidos e nossos outros sentidos. Não vá simplesmente deixando qualquer coisa agarrar seus olhos ou ouvidos. Quando você está fazendo compras, creio que isso pode ser de grande ajuda porque tudo está ali para agarrar o seu dinheiro, e quando chega em casa, você pensa, “Para que comprei isso? ” Nós precisamos olhar para aquilo que nos dá apoio e não para coisas que vão reforçar o desejo, por exemplo. Quando você está atento à proteção dos sentidos, as impurezas não ficam tão livres de restrição.

3. Uso. Um monge pode refletir apropriadamente nos quatro requisitos da vida monástica, mas mesmo se você não for um monge é uma boa coisa refletir sobre isso. Esses quatro requisitos são coisas que você necessita: roupa, comida, abrigo e medicamentos. Se você está obtendo essas coisas, você pode usá-las sem ficar obsessionado por elas. Na vida leiga existem provavelmente alguns outros requisitos. Um carro é provavelmente um requisito; salários são um requisito, apólices de seguro podem ser um requisito. Mas exatamente quanto e de que padrão você realmente necessita?

Pode-se ver que as necessidades tendem a se estabilizar enquanto que os desejos não. Os desejos só crescem. E há muito encorajamento para estimular mais desejos chamando-os de necessidades. Eles são na verdade só desejos, parecidos com aquele pozinho brilhante das fadas. Se você tiver uma indicação clara do que você necessita e do porque você necessita, então, o que você tiver atenderá as suas necessidades. Isso ajuda a interromper o fluxo das impurezas para as formas, onde você se idêntica com o seu carro, com a sua casa ou com o seu salário.

4. Paciência. A próxima estratégia é tolerar: persistência paciente ou a habilidade para suportar sensações dolorosas. Isso é algo que devemos desenvolver. Sensações dolorosas inevitavelmente aparecerão para nós, e é uma boa prática aprender a suportá-las, desenvolver a capacidade de tolerar, já que há tanto para ser traballhado e melhorado.

Alguém estava dizendo ontem que à medida que você envelhece, mais e mais sensações desagradáveis vão surgindo. Talvez você não possa fazer nada a respeito; é algo que você tem de suportar sem ficar deprimido com isso.

Não permita que uma sensação física se transforme numa emoção: essa é a razão da tolerância. Não significa que temos de ser super-corajosos, mas sim pragmáticos. Você não quer que ela entre no seu corpo, que atinja o seu coração e que assuma o controle. Conheço gente que sofreu dores crônicas fortíssimas por um longo período de tempo. Eles se tornaram extremamente serenos e contentes porque eles não permitiram que as suas mentes começassem a reclamar e a lutar; eles compreenderam que fazendo isso só faria piorar. Se você reforçar a abordagem “Bem, assim é; não entre nessa,” a mente finalmente aprenderá a não ter toda uma reação mental aos desconfortos inevitáveis que todos nós temos de enfrentar.

5. Evitar. Evitar coisas perigosas é uma prática útil. O texto fornece vários exemplos: um touro selvagem, caminhos irregulares e espinhosos, uma cobra, um precipício, um penhasco, uma fossa, um esgoto. E assim prossegue falando sobre o envolvimento com maus amigos. Do mesmo modo como você evitaria um buraco com lixo, evite as pessoas que tendem a arrastá-lo para situações não habilidosas. Como criaturas que vivem em grupos, tendemos para a associação com os outros. Isso é natural, mas exige um pouco de atenção e flexibilidade para aprendermos com quem devemos nos associar. Como o Buda disse, se você não puder encontrar amigos apropriados é melhor ficar sozinho.

6. Remover. Algumas vezes, alguma coisa é tão insalubre que tem de ser removida ou mesmo destruída. Esse pode ser um tópico difícil, discutido em detalhe no Vitakka-santhana Sutta, (MN 20), que lida com como você abandona, elimina e aniquila pensamentos inábeis. Não significa necessariamente o uso de um martelo de quebrar pedras. Existem vários modos e graduações variadas – do sutil ao repleto de insights indo até o paciente – para não permitir que os estados negativos passageiros da mente assumam o controle e passem a ser uma constante. Se isso acontecer, esses estados negativos criarão programas tais que o seu hábito de pensar repetidamente de certas maneiras criará um canal pelo qual o seu pensamento se moverá. Você poderá estar agindo de certos modos e nem sequer estar ciente de que um canal está sendo criado.

Um exemplo comum disso é a fofoca. Por que o nosso hábito de conviver em sociedade é muito forte, nós nos juntamos com outras pessoas e falamos, você sabe, sobre essa ou sobre aquela pessoa. “Como ela é” e “Você soube da última?” E isso pode se tornar muito inábil. É melhor ter um programa mental de acordo com o qual nós não fazemos isso. Se alguma coisa precisar realmente ser dita ou se a sua opinião for pedida, você responde, mas você não vai falar mal de outras pessoas só por puro prazer, só para fazer um contato social. Algumas vezes a fofoca contém nuances de abuso psicológico, portanto, é algo que não devemos fazer.

7. Desenvolvimento. Desenvolvimento é um tópico à parte, mas que pode ser entendido aqui como o cultivo gradual dos sete fatores da iluminação. O desenvolvimento da atenção plena, (sati), leva ao interesse na investigação dos fenômenos, (dhamma vicaya); que promove a energia, (viriya); que leva à sensação de prazer e felicidade, (piti); que estabelece a tranqüilidade, (pasaddhi); que se manifesta como concentração, (samadhi); e que culmina na equanimidade, (upekkha). O cultivo e o desenvolvimento de cada uma dessas qualidades leva naturalmente à seguinte, e o desenrolar natural do processo acontece.

Esse é, portanto, o processo do insight. Ele começa quando estabelecemos ou permitimos que qualidades hábeis cresçam e se desenvolvam através do movimento em direção ao benéfico e da criação de uma base de bem estar e equilíbrio. As dez perfeições, (paramis), usadas como kamma hábil, estabelecem as condições causais para isso. E aí, através do cultivo da renúncia, nós gradualmente abandonamos o projeto de vir a ser do “eu” que cria as ações e experiencia os seus resultados. Tudo isso talvez dê a você uma noção da extensão do treinamento do Dhamma. Ele é o que possibilita a libertação. Todo esse treinamento é kamma benéfico que leva ao fim do kamma.

 

 

Revisado: 25 Outubro 2008

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