Sutta Nipata IV.15
Attadanda Sutta
O Treinamento
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“A
violência gera ameaça e medo: [1] veja as
pessoas brigando. Eu relatarei como eu mesmo experimentei a consternação.
“Vendo as
pessoas se debatendo como peixes numa poça d'água, competindo uma contra as
outras, fui tomado pelo medo. O mundo é todo inseguro, todas as direções estão
em comoção; desejando uma permanência para mim mesmo não encontrei nenhuma
desabitada. [2] Quando vi que a competição era
a única saída, a aversão aumentou em mim; mas então eu vi uma flecha,[3] difícil de ser vista, plantada no coração.
Lancinado por ela, alguém corre em todas as direções, mas tendo removido a
flecha ele não corre nem afunda. [4]
“Aqui seguem as regras de treinamento:
“Quaisquer
grilhões mundanos, não se deixem aprisionar por eles! Desencantem-se dos
prazeres sensuais e pratiquem para realizar Nibbana!
“Um sábio
deve ser veraz, não arrogante, não fraudulento, nem dado a difamar os outros, e
deve estar desprovido de raiva. Ele deve remover a cobiça e a avareza; ele deve
conquistar o torpor, o cansaço e a preguiça e não se entregar à negligência.
Quem está empenhado por Nibbana não deve ser arrogante. Ele não deve decair
para a mentira e nem ser seduzido pelos objetos dos sentidos. Ele deve
compreender completamente a (natureza da) presunção e abster-se da
impulsividade. Ele não deve se deliciar com aquilo que já passou, nem preferir
aquilo que é novo, [5] nem se entristecer pelo
que está desaparecendo, nem cobiçar o atrativo.
“A cobiça,
eu digo, é uma grande torrente; é um redemoinho que suga para baixo, uma fome
constante, buscando algo para agarrar, continuamente em movimento; [6] difícil de cruzar é o pântano do desejo
sensual. Um sábio não se desvia da verdade, um brâmane [7] permanece sobre terra firme; renunciando a tudo, ele é deveras
chamado ‘acalmado’.
“Tendo de fato
experimentado e compreendido o Dhamma ele alcançou o conhecimento supremo e
está independente. [8] Ele se comporta
corretamente no mundo e aqui não inveja ninguém. Ele abandonou os prazeres
sensuais, um apego difícil de ser transcendido no mundo, não se entristece nem
tem nenhum anseio, cruzou a torrente e está libertado.
“Murche o
passado, [9] que não haja nada no futuro. [10] Se ele não agarrar a nada no presente
estará em paz. Aquele que, com relação a todo este complexo de
mentalidade-materialidade (nome e forma) não tem a noção de ‘meu,’ e que não se angustia por
aquilo que não existe, deveras não incorre perda no mundo. Para ele não existe o
pensamento ‘isso é meu’ ou ‘isso é de outrem’ com relação a nada; sem encontrar
nada que possua, e compreendendo, ‘nada é meu,’ ele não se angustia.
“Não ser
insensível, não ser cobiçoso, em paz e impassível com as vicissitudes – esse é
o resultado benéfico que proclamo quando perguntado sobre aquele que não
vacila. Para aquele que não deseja, que compreende, não há geração (de novo
kamma). Abstendo-se de iniciar (novo kamma) ele vê segurança em todos os lados.
Um sábio não fala em termos de ser igual, inferior ou superior. Calmo e sem
egoísmo ele nem agarra tampouco rejeita.”
Notas:
[1] Attadanda bhayam jatam: “Violência” (attadanda, com o
sentido literal de “agarrar um pau” ou “armas”) inclui todos os tipos de
conduta imprópria nos pensamentos, palavras e ações. Bhaya é um estado subjetivo
da mente, “temor,” ou a condição objetiva de “temeroso,” perigo, miséria, que
são as conseqüências ruins da conduta imprópria, nesta vida e nas existências
futuras. Veja o AN X.176. [Retorna]
[2] Inabitada pelo envelhecimento e morte, etc. [Retorna]
[3] A flecha da cobiça, raiva, delusão e entendimento incorreto. [Retorna]
[4] “Ele não corre” para qualquer um dos destinos do renascimento; “ele
não afunda” nas quatro torrentes da sensualidade, idéias, ser/existir e
ignorância. Veja o SN
I.1, SN XLV.171. [Retorna]
[5] “Passou” e “novo” significam os agregados passados e presentes. [Retorna]
[6] Essas quatro frases são todas
sinônimos para o desejo ou cobiça chamados “a grande torrente” [Retorna]
[7] Neste caso “Brâmane” é empregado para identificar aquele que alcançou
a completa libertação. [Retorna]
[8] Independente do desejo e
idéias. [Retorna]
[9] “Murchar” (visodehi)
o kamma passado que ainda não frutificou, isto é, torná-lo incapaz de produzir frutos.
[Retorna]
[10] Não realizando ações geradoras de kamma. [Retorna]
Revisado: 13 Maio 2006
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