Samyutta Nikaya I.1
Ogha-tarana Sutta
Cruzando a Torrente
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Assim ouvi. [1] Em certa ocasião o
Abençoado estava em Savathi no Bosque de Jeta, no Parque de Anathapindika.
Então, quando a noite estava bem avançada, uma certa devata com belíssima
aparência que iluminou todo o Bosque de Jeta, se aproximou do Abençoado. Ao se
aproximar ela homenageou o Abençoado e ficando em pé a um lado a devata disse:
“Como, estimado senhor, você cruzou a torrente?” [2]
“Eu cruzei a
torrente sem me impulsionar para frente, sem ficar parado no mesmo lugar.” [3]
“Mas como,
estimado senhor, sem se impulsionar para frente, sem ficar parado no mesmo
lugar, você cruzou a torrente ?"
"Quando eu me
impulsionava para frente eu era arrastado. Quando eu ficava no mesmo lugar eu
afundava. Assim eu cruzei a torrente sem me impulsionar para frente e sem ficar
parado no mesmo lugar."
[A devata:]
Por fim eu vejo
um brâmane completamente saciado,
que sem se impulsionar para frente
sem ficar parado no mesmo lugar,
superou os apegos ao mundo.
Isso foi o que a devata
disse. O Mestre aprovou. Então aquela devata pensando, "O Mestre me
aprovou," homenageou o Abençoado, e mantendo-o à sua direita, desapareceu.
Notas:
[1] Cada um dos
quatro Nikayas tem início com um sutta de profundo significado. Embora este
primeiro sutta do Samyutta Nikaya seja bastante curto, o seu conteúdo é muito
rico. Em resposta à devata o Buda indica o caminho do meio como a chave para
alcançar a libertação. Essa resposta toca na essência do Dhamma que é evitar
todos os extremos no que diz respeito a idéias, atitudes e conduta. [Retorna]
[2] Marisa, “estimado
senhor,” é o termo que em geral as devatas empregam para se dirigir ao Buda,
bem como aos bhikkhus eminentes e aos membros da sua comunidade. A palavra
“torrente”, (ogha), é usada com um sentido metafórico, mas aqui, de
acordo com o comentário, ela tem uma conotação técnica para designar um
conjunto de quatro “torrentes” doutrinárias, assim chamadas “porque mantêm os
seres submersos no ciclo de existências e não permitem que eles se elevem aos
estados superiores e até a Nibbana.” As quatro torrentes são: (1) a torrente da
sensualidade – desejo e cobiça pelos cinco elementos do prazer sensual, (formas
agradáveis, sons agradáveis, etc.); (2) a torrente do ser/existir – desejo e
cobiça pela existência nos planos materiais e imateriais e apego a jhana; (3) a
torrente das idéias – os 62 tipos de idéias descritas no Brahmajala
Sutta (DN 1); (4) a torrente da ignorância – desconhecimento das quatro
nobres verdades. [Retorna]
[3] De acordo com Spk,
o Buda respondeu intencionalmente com um paradoxo porque a devata estava tomada
pela presunção, e sem abandonar essa presunção ela não seria capaz de entender
o ensinamento. Desse modo, a intenção do Buda foi confundí-la e assim diminuir
o seu orgulho. O paradoxo é que normalmente se cruza uma massa de água parando
nos lugares em que há um apoio e impulsionando para frente nos lugares que
devem ser atravessados. Spk explica que “não parar” significa não ficar
imobilizado devido às contaminações, o significado é de “não afundar” ou “não
se estabelecer” por causa do apego. A consciêcia condicionada pelo desejo é
“estabelecida” e quando o desejo é removido ela se torna “não estabelecida, sem
suporte.” “Impulsionar para frente” pode ser interpretado como fazer um grande
esforço, estar sujeito a uma grande tensão, e uma mente tensa não é capaz de
alcançar a concentração. [Retorna]
Revisado: 2 Setembro 2006
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