Digha Nikaya 27
Agañña Sutta
O Conhecimento da Gênese
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1. Em certa
ocasião o Abençoado estava em Savatthi, no palácio da mãe de Migara, no Parque
do Oriente.[1] Naquela ocasião Vasettha e Bharadvaja
estavam vivendo com os bhikkhus na expectativa de se tornarem bhikkhus. Ao
anoitecer o Abençoado saiu do seu retiro e estava caminhando para cá e
para lá ao ar livre.
2. Vasettha
notou aquilo e disse para Bharadvaja: ‘Amigo Bharadvaja, o Abençoado saiu e
está caminhando para cá e para lá. Vamos até ele. Podemos ter a boa fortuna de
ouvir um discurso do Dhamma do próprio Abençoado.’ - ‘Sim, de fato,’ disse
Bharadvaja, e assim eles foram até o Abençoado, o cumprimentaram e passaram a
caminhar junto com ele.
3. Então o
Abençoado disse para Vasettha: ‘Vasettha, vocês dois nasceram e foram educados
como Brâmanes e vocês deixaram a vida em família dos Brâmanes pela vida santa.
Os Brâmanes não os insultam e ofendem?’ - ‘De fato, Senhor, os Brâmanes nos insultam
e ofendem. Eles não reprimem o usual desbordo de censuras.’ - ‘Bem, Vasettha, que
tipo de censuras eles lançam?’ - ‘Senhor, o que os Brâmanes dizem é o seguinte:
“A casta dos Brâmanes [2] é a casta superior,
outras castas são inferiores; a casta dos Brâmanes tem a tez clara, as outras
castas têm a tez escura; os Brâmanes são purificados, os não Brâmanes não são,
os Brâmanes são os verdadeiros filhos de Brahma,[3] nascidos da boca dele, nascidos de Brahma, criados por Brahma,
herdeiros de Brahma. E você, você desertou da classe mais elevada e foi para a
classe inferior de contemplativos carecas insignificantes, serviçais, com a tez escura,
nascidos dos pés de Brahma! Não é correto, não é apropriado que você se misture
com esse tipo de gente!” Assim é como os Brâmanes nos censuram, Senhor.’
4. ‘Então,
Vasettha, ao dizer isso os Brâmanes se esquecem da tradição ancestral deles.
Porque podemos ver as mulheres Brâmanes, as esposas dos Brâmanes, que menstruam
e engravidam, têm bebês e os amamentam. E no entanto esses Brâmanes nascidos de
um útero dizem terem nascido da boca de Brahma … Esses Brâmanes deturpam Brahma,
dizem mentiras e obtêm muito demérito.
5.
‘Existem, Vasettha, estas quatro castas: os Khattiyas, os Brâmanes, os
comerciantes e os artesãos. E algumas vezes um Khattiya tira uma vida, toma
algo que não foi dado, comete um ato sexual ilícito, diz mentiras, se entrega à
linguagem maliciosa, linguagem grosseira ou frívola, é cobiçoso, possui má vontade ou
tem entendimento incorreto. Assim, como tais coisas não são virtuosas e assim são
consideradas, passíveis de crítica e assim são consideradas, a serem evitadas
e assim são consideradas, não apropriadas
para um nobre e assim são consideradas, escuras com um resultado sombrio [4] e criticadas pelos sábios, elas são algumas vezes
encontradas entre os Khattiyas, e o mesmo se aplica aos Brâmanes, comerciantes
e artesãos.
6. ‘Algumas
vezes também um Khattiya evita tirar uma vida ... não é cobiçoso, não possui má vontade ou
não tem entendimento incorreto. Assim, como tais coisas são virtuosas e
assim são consideradas, não são passíveis de crítica e assim são consideradas, a serem
seguidas e assim são consideradas, apropriadas para um nobre e assim são consideradas,
claras com um resultado luminoso e não criticadas pelos sábios, elas são algumas
vezes encontradas entre os Khattiyas, e o mesmo se aplica aos Brâmanes,
comerciantes e artesãos.
7. ‘Agora,
como ambas as qualidades, escuras e claras, que são criticadas e não criticadas
pelos sábios, estão espalhadas indiscriminadamente entre as quatro castas, um
sábio não reconhece a reivindicação de que a casta dos Brâmanes seja a
superior. Por que isso? Porque, Vasettha, qualquer um, dentre as quatro castas,
que se torne um bhikkhu, um arahant com as impurezas destruidas, que viveu a
vida santa, fez o que devia ser feito, depôs o fardo, alcançou o verdadeiro
objetivo, destruiu os grilhões da existência e está completamente libertado
através do conhecimento supremo – é proclamado como superior em virtude do
Dhamma e não do não-Dhamma.
O Dhamma é a melhor coisa para as pessoas
nesta vida bem como na próxima.
8. ‘Esta
ilustração irá aclarar como o Dhamma é a melhor coisa neste mundo e no próximo.
O Rei Pasenadi de Kosala sabe que: “O contemplativo Gotama do vizinho clã dos
Sakyas seguiu a vida santa.” Agora os Sakyas são vassalos do Rei de Kosala.
Eles lhe oferecem os seus serviços com humildade e o saúdam, eles se levantam
e homenageiam-no, servindo-o da forma apropriada. E, da mesma forma como os
Sakyas oferecem os seus serviços com humildade …, assim também o Rei oferece o
seu serviço com humildade para o Tathagata, pensando, “Se o contemplativo
Gotama é bem nascido, eu sou mal nascido; se o contemplativo Gotama é forte, eu
sou fraco; se o contemplativo Gotama tem a aparência agradável, eu sou
desagradável; se o contemplativo Gotama é influente, eu tenho pouca
influência.” Agora, é por honrar o Dhamma, considerar muito o Dhamma, estimar o
Dhamma, homenagear o Dhamma com reverência que o Rei Pasenadi oferece os seus serviços
com humildade ao Tathagata, servindo-o da forma apropriada:
O Dhamma é a melhor coisa para as pessoas
nesta vida bem como na próxima.
9.
‘Vasettha, todos vocês, embora com nascimentos, nomes, clãs e famílias distintas,
que deixaram a vida em família para seguir a vida santa, se perguntados quem
são, deveriam responder: “Nós somos contemplativos, discípulos do Sakya.” [5] Aquele cuja confiança no Tathagata está
assentada, enraizada, estabelecida, sólida, que é inabalável por nenhum
contemplativo ou Brâmane, ou deva, ou mara, ou Brahma, ou qualquer um no
mundo, pode verdadeiramente afirmar: “Eu
sou um verdadeiro filho do Abençoado, nascido da boca dele, nascido do Dhamma,
criado pelo Dhamma, um herdeiro do Dhamma.” Por que isso? Porque, Vasettha, isso
designa o Tathagata: “O Corpo do Dhamma",[6] isto
é, “O Corpo de Brahma,”[7] ou “Tornar-se
Dhamma”, isto é, “Tornar-se Brahma.” [8]
10. ‘Haverá um tempo, Vasettha, quando, cedo ou tarde, após um longo
período, este mundo irá se contrair. Numa época de contração, os seres nascem
principalmente no mundo de Abhassara. E lá eles permanecem, feitos de
mentalidade, alimentados pelo êxtase, luminosos, movendo-se através do espaço,
gloriosos – e assim eles permanecem por um longo tempo. Mas cedo ou tarde,
depois de um longo período, o mundo começa novamente a se expandir. Numa época
de expansão, os seres do mundo de Abhassara, tendo lá falecido, renascem
principalmente neste mundo. Aqui eles permanecem, feitos de mentalidade,
alimentados pelo êxtase, luminosos, movendo-se através do espaço, gloriosos [9] – e assim eles permanecem por um longo tempo.
11. ‘Neste
período, Vasettha, há apenas uma massa d’água e uma escuridão completa, uma
escuridão cega. Nem o sol, nem a lua aparecem, nenhuma constelação aparece, a
noite e o dia não se distinguem, nem meses e nem quinzenas, nem anos ou estações
do ano, e nem macho, nem fêmea, os seres são considerados apenas como seres. [10] E cedo ou tarde, após um longo tempo, um
terra saborosa [11] se espalha sobre as
águas onde aqueles seres estavam. Parecida com a pele que se forma sobre o
leite quente quando este esfria. Com cor, aroma e sabor. Da cor da manteiga e
muito doce, igual ao mel selvagem puro.
12. Então
algum ser possuído de caráter cobiçoso diz: “Eu pergunto, o que poderá ser isso?” e
ele prova a terra saborosa com o seu dedo. Ao fazer isso, ele é tomado pelo
sabor, e o desejo surge nele. Então outros seres, tomando o exemplo deste ser,
também provam dela com os seus dedos. Eles também são tomados pelo sabor, e o
desejo surge neles. Assim eles agarram aquela matéria com as mãos, partindo-a
em pedaços para poder comê-la. E o resultado foi que a luminosidade que eles
possuíam desaparece. E como resultado do desaparecimento da luminosidade deles,
surgiram a lua e o sol, distinguiram-se a noite e o dia, surgiram meses e
quinzenas e o ano com as suas estações. Até esse ponto o mundo voltou a se
expandir.
13. ‘E
aqueles seres continuaram por um bom tempo se banqueteando com aquela terra
saborosa, alimentando-se dela, sendo nutridos por ela. E enquanto faziam isso,
os seus corpos se tornaram mais
grosseiros, [12] e uma diferença na
aparência se desenvolveu entre eles. Alguns seres ficaram com boa aparência,
outros feios. E aqueles com boa aparência desprezavam os outros dizendo: “Nós
temos melhor aparência que eles.” E porque eles se tornaram arrogantes e
presunçosos devido à sua aparência, a terra saborosa desapareceu. Com isso eles
se reuniram e lamentaram, exclamando: “Ah! Aquele sabor! Ah! Aquele sabor!” E
assim quando hoje em dia as pessoas dizem : “Ah! Aquele sabor!” quando obtêm
algo agradável, elas estão repetindo um dito antigo sem se dar conta disso.
14. ‘E
então, quando a terra saborosa havia desaparecido, um fungo [13]
surgiu, sob a forma de um cogumelo. Com cor, aroma e sabor
agradáveis. Da cor da manteiga e muito doce, igual ao mel selvagem puro. E
aqueles seres passaram a se alimentar do fungo. E isso continuou por um
bom tempo. E ao continuar se alimentando
do fungo os seus corpos ficaram ainda mais grosseiros e as diferenças nas
aparências se tornaram ainda mais marcadas. E aqueles com boa aparência
desprezavam os outros … E porque eles se tornaram arrogantes e presunçosos
devido à sua aparência, o fungo doce desapareceu. Em seguida surgiram
trepadeiras, crescendo como o bambu … e elas também eram muito doces, igual ao
mel selvagem puro.
15. ‘E
aqueles seres passaram a se alimentar daquelas trepadeiras. E ao fazer isso, os
seus corpos ficaram ainda mais grosseiros e a diferença nas aparências se
tornaram ainda mais marcadas … E eles se tornaram ainda mais arrogantes e assim
as trepadeiras também desapareceram. Devido a isso eles se reuniram e
lamentaram, exclamando: “Ai de nós, as nossas trepadeiras se foram! O que
perdemos!” E assim quando hoje em dia as pessoas ao serem perguntadas porque
estão preocupadas, respondem” “Ah! O que perdemos!” elas estão repetindo um
dito antigo sem se dar conta disso.
16. ‘E
depois que as trepadeiras haviam desaparecido, o arroz surgiu no campo aberto,
[14] livre de pó e das cascas, perfumado e
limpo. E aquilo que eles colhiam para a janta amadurecia novamente na manhã
seguinte e aquilo que eles colhiam para o café da manhã amadurecia novamente à
noite, sem qualquer indício de cultivo. Todos aqueles seres passaram a se
alimentar daquele arroz e isso continuou por um bom tempo. E ao fazer isso, os
seus corpos ficaram ainda mais grosseiros e a diferença nas aparências se
tornaram ainda mais marcadas. E as fêmeas desenvolveram os órgãos sexuais
femininos [15] e os machos desenvolveram
órgãos sexuais masculinos. E as mulheres se tornaram excessivamente preocupadas
com os homens e os homens com as mulheres. Devido a essa preocupação excessiva
mútua, a paixão foi desperta e os seus corpos arderam com o desejo. E mais
tarde, devido a essa queimação, eles se entregaram à atividade sexual. [16] Mas aqueles que os viam lhes arremessavam
terra, cinzas e estrume de vaca, exclamando: “Morra, animal imundo! Como pode
um ser fazer esse tipo de coisa ao outro!” Como hoje, em alguns distritos,
quando uma nora é expulsa, algumas pessoas lhe arremessam terra, algumas cinzas
e algumas estrume de vaca, sem se dar conta que estão repetindo um costume
antigo. Aquilo que era considerado comportamento ruim naqueles dias, hoje é
considerado bom comportamento.
17. ‘E
aqueles seres que naqueles tempos se entregavam ao sexo não tinham permissão
para entrar no vilarejo ou cidade por um
ou dois meses. Por conseguinte, aqueles que se entregavam a esse tipo de
prática imoral por longos períodos começaram a construir habitações para se
gratificarem sob um abrigo. [17]
‘Agora,
ocorreu a um daqueles seres que tinha a propensão pela preguiça: “Bem, porque
devo me preocupar em colher o arroz ao anoitecer para o jantar e pela manhã
para o café da manhã? Porque não colho tudo de uma vez para ambas as
refeições?” E assim ele fez. Então um outro se aproximou dele dizendo: “Venha,
vamos colher arroz.” - “Não é necessário, meu amigo, eu já colhi arroz suficiente
para ambas as refeições.” Então o outro seguindo o exemplo do primeiro, colheu
de cada vez arroz suficiente para dois dias, dizendo: “Isso deve ser o
suficiente.” Então um outro veio dizendo para o segundo: “Venha, vamos colher
arroz.” - “Não é necessário, meu amigo, eu já colhi arroz suficiente para dois
dias” (o mesmo para 4, depois 8 dias). No entanto, quando esses seres passaram
a armazenar o arroz e viver disso, o pó e as cascas começaram a envolver o
arroz e onde o arroz era colhido ele não mais crescia, e era possível notar
onde havia ocorrido a colheita, e o arroz passou a crescer em pencas isoladas.
18. ‘E
então aqueles seres se reuniram lamentando: “Entre nós predominam os hábitos ruins
e prejudiciais: inicialmente nós éramos feitos de mentalidade, alimentados
pelo êxtase … (todos os eventos repetidos até o último, sendo cada nova mudança
atribuída aos ‘hábitos ruins e prejudiciais’) … e o arroz passou a crescer em
pencas isoladas. Então, agora vamos dividir o arroz em áreas delimitadas.” E
assim eles fizeram.
19. ‘Então,
Vasettha, um ser com a natureza cobiçosa, enquanto tomava conta do seu pedaço
de terra, tomou um outro lote que não lhe havia sido dado e desfrutou dos frutos
desse lote. Devido a isso ele foi agarrado e lhe disseram: “Você fez uma coisa
maldosa, apoderando-se de um lote de uma outra pessoa! Jamais faça isso outra
vez!” - “Eu não farei,” ele respondeu, mas ele fez a mesma coisa uma segunda e
uma terceira vez. E novamente ele foi agarrado e criticado e alguns o golpearam
com os punhos, alguns com pedras e outros com paus. E dessa forma, Vasettha, o
tomar aquilo que não foi dado, censura, mentira e punição, tiveram a sua
origem.
20. ‘Então
aqueles seres se reuniram e lamentaram o surgimento daquelas coisas ruins entre
eles: tomar aquilo que não foi dado, censura, mentira e punição. E eles
pensaram: “E se nós nomeássemos alguém que mostrasse raiva quando a raiva
fosse devida, censurasse aqueles que devessem ser censurados e banisse aqueles
que merecessem ser banidos! E como recompensa nós lhe déssemos uma parcela do
arroz.” Assim eles se aproximaram daquele que entre eles possuía os mais finos
atributos, o mais admirável, mais agradável e capaz, pedindo que fizesse aquilo
por eles em retribuição por uma parcela de arroz, e ele aceitou.
21. “A
escolha do Povo” é o significado de Maha-Sammata, que foi o primeiro título
introduzido. “Senhor dos Campos” é o significado de Khattiya, o segundo título.
E “Ele satisfaz a todos com o Dhamma” é o significado de Raja, o terceiro
título a ser introduzido. Esta, então, Vasettha é a origem da classe dos
Khattiyas, de acordo com os títulos ancestrais que lhes foram conferidos. Eles
se originaram dentre estes mesmos seres, tal como nós, sem diferenças e de
acordo com o Dhamma, não de outra forma.
O Dhamma é a melhor coisa para as pessoas
nesta vida bem como na próxima.
22. ‘Então alguns daqueles seres pensaram: “Coisas ruins surgiram entre
os seres, tal como tomar aquilo que não foi dado, censura, mentira, punição e
banimento. Devemos colocar de lado essas coisas ruins e prejudiciais.” E assim
eles fizeram. “Eles colocaram de lado as coisas ruins e prejudiciais” que é o
significado de Brâmane e que foi o primeiro
título introduzido para essas pessoas. Eles construíram cabanas de palha nas
florestas e nelas meditavam. Com o fogo extinto e o pilão colocado de lado,
esmolando alimentos para a refeição da noite e da manhã, eles se dirigiam aos
vilarejos e cidades, depois retornando para as suas cabanas de palha para
meditar. As pessoas viam isso e notavam como eles meditavam. “Eles Meditam” [18] é o significado de Jhayaka, [19] que
foi o segundo título introduzido.
23. ‘No
entanto, como alguns daqueles seres não eram capazes de meditar em cabanas de
palha, eles se estabeleceram próximo dos
vilarejos e cidades e compilavam livros. [20] As
pessoas os viam fazendo isso e não meditando. “Agora, esses não Meditam” é o
significado de Ajjhayaka, [21] que foi o
terceiro título introduzido. Naquela época, esta era considerada como uma
designação inferior mas agora é a mais elevada. Esta, então, Vasettha, é a
origem da classe dos Brâmanes de acordo com os títulos ancestrais que lhes
foram conferidos. Eles se originaram dentre estes mesmos seres, tal como nós,
sem diferenças e de acordo com o Dhamma, não de outra forma.
O Dhamma é a melhor coisa para as pessoas
nesta vida bem como na próxima.
24. ‘E
então, Vasettha, alguns dos seres, tendo se dividido em pares, [22]
adotaram várias profissões e esse “Vários” [23]
é o significado de Vessa, que passou a ser o título dessas
pessoas. Esta, então, é a origem da classe dos Vessas de acordo com os títulos
ancestrais que lhes foram conferidos. Eles se originaram dentre estes mesmos
seres…
25. ‘E
então, Vasettha, aqueles seres que restaram se dedicaram à caça. “Aqueles que
vivem da caça são a base ” e esse é o significado de Sudda, que passou a ser o
título dessas pessoas. Esta, então é a origem da classe dos Suddas [24] de acordo com os títulos ancestrais que
lhes foram conferidos. Eles se originaram dentre estes mesmos seres…
26. ‘E
então, Vasettha, ocorreu que um dos Khattiya, insatisfeito com o seu próprio
Dhamma, deixou a vida em família pela vida santa, pensando: “Eu me tornarei um
contemplativo.” E um Brâmane fez o mesmo e um Vessa fez o mesmo e assim também um Sudda. E assim surgiram
quatro classes de contemplativos. Eles
se originaram dentre aqueles mesmos seres, tal como eles, sem diferenças e de
acordo com o Dhamma, não de outra forma.
O Dhamma é a melhor coisa para as pessoas
nesta vida bem como na próxima.
27. ‘E,
Vasettha, um Khattiya que tiver conduzido a vida de modo inábil com o corpo,
linguagem e mente e que possua entendimento incorreto, irá, como conseqüência
desse entendimento incorreto e das suas ações, na dissolução do corpo depois da
morte, renascer num estado de privação, num destino infeliz, nos reinos
inferiores, até mesmo no inferno.
O mesmo ocorrerá para um Brâmane, um Vessa ou um Sudda.
28. ‘Da
mesma forma, um Khattiya que tiver conduzido a vida de modo hábil com o corpo,
linguagem e mente e que possua entendimento correto, irá, como conseqüência
desse entendimento correto e das suas ações, na dissolução do corpo depois da
morte, renascer num destino feliz, no paraíso.
O mesmo ocorrerá para um Brâmane, um Vessa ou um Sudda.
29. ‘E um
Khattiya que tiver realizado ações de ambos os tipos com o corpo, linguagem e
mente e cujo entendimento seja mesclado, irá, como conseqüência desse
entendimento mesclado e das suas ações, na dissolução do corpo depois da
morte, experimentar ambos, prazer e dor.
O mesmo experimentará um Brâmane, um Vessa ou um Sudda.
30. ‘E um
Khattiya que tiver autocontrole do corpo, linguagem e mente e que tenha desenvolvido
os sete fatores da iluminação, irá realizar o parinibbana nesta mesma vida. O mesmo ocorrerá para um Brâmane, um Vessa ou
um Sudda.
31. ‘E,
Vasettha, qualquer um, dentre as quatro castas, que como bhikkhu se torne um
arahant com as impurezas destruídas, que viveu a vida santa, fez o que devia
ser feito, depôs o fardo, alcançou o verdadeiro objetivo, destruiu os grilhões
da existência e está completamente liberto através do conhecimento supremo,
será proclamado como superior entre todos os demais de acordo com o Dhamma, não
de outra forma.
O Dhamma é a melhor coisa para as pessoas
nesta vida bem como na próxima.
32.
‘Vasettha, foi o Brahma Sanankumara quem disse estes versos:
“Os khattiya são os melhores dentre as pessoas
para aqueles cujo padrão é o clã,
mas aquele com a conduta e o conhecimento consumados
é o melhor dentre devas e humanos.”
Esse verso
foi declamado da forma correta, não incorreta; dito com correção, não
incorreção; conectado com o que é benéfico, não desconectado. Eu também digo,
Vasettha:
“Os khattiya são os melhores dentre as pessoas
para aqueles cujo padrão é o clã,
mas aquele com a conduta e o conhecimento consumados
é o melhor dentre devas e humanos.”
Isso foi o
que disse o Abençoado. Vasettha and Bharadvaja ficaram satisfeitos e contentes
com as palavras do Abençoado.
Notas:
[1] Este sutta é de certa forma análogo ao DN 26,
trazendo um relato das ‘origens’ ligeiramente distinto e incluindo uma crítica
severa às pretensões dos Brâmanes. Este sutta pode ser chamado de o equivalente
Budista ao livro do Gênese levando-se em conta que neste sutta não existe a
figura de um Deus Criador e embora o verso 10 traga a indicação de um começo,
não se trata de um começo absoluto mas um dos contínuos recomeços no samsara
como parte do ciclo contínuo cujo início não pode ser determinado. [Retorna]
[2] Conforme DN 3.1.14 e também MN 84 e MN 93 [Retorna].
[3] Eles são os sacerdotes de Brahma.[Retorna]
[5] Sakyaputta: ‘Filhos do Sakya.’[Retorna]
[6] Dhamma-kaya: um termo que, como Dharmakaya, estava destinado
a desempenhar um grande papel no Budismo Mahayana. [Retorna]
[7] Nesta caso Brahma quer dizer ‘o mais elevado’ sendo empregado porque
o Buda está falando com Brâmanes. [Retorna]
[8] O Tathagata, ao alcançar a iluminação através do seu próprio
esforço, se tornou ‘o mais elevado.’ [Retorna]
[9] Embora nascidos no mundo humano, eles ainda são devas, não seres humanos. [Retorna]
[10] Como os devas que são assexuados. [Retorna]
[11] Rasa-pathavi: Observe que todos os vários tipos de alimento
mencionados são vegetarianos. [Retorna]
[12] Visto que esses seres, embora gloriosos, não são iluminados, eles
sucumbem ao desejo, (tanha), e assim, pouco a pouco perdem as suas
qualidades celestiais. [Retorna].
[13] Bhumi-pappataka: o significado exato é desconhecido. [Retorna]
[14] DA: Nas terras onde não havia floresta. [Retorna]
[15] Como foi observado acima estes seres eram antes assexuados. DA diz
‘aqueles que haviam sido mulheres numa vida anterior’ desenvolveram os órgãos sexuais femininos. [Retorna]
[16] Até este ponto eles ‘nasciam espontaneamente’. [Retorna]
[17] As habitações foram construídas não tanto como esconderijo, mas,
muito mais como abrigo. [Retorna]
[18] Jhayanti: da mesma raiz que jhana. [Retorna]
[19] ‘Meditador.’ [Retorna]
[20] DA diz compilando e ensinado
os Vedas. [Retorna]
[21] Ajjhayaka: ‘recitador” é adhy-ayaka, mas também pode
ser interpretado como a-jhayaka ‘não meditador’. [Retorna]
[22] ‘Adotando a prática sexual’ (methuna-dhamma), dessa forma
sugerindo que os outros eram celibatários. [Retorna]
[23] Vissa: ‘vários,’ então, vessa ‘comerciante.’
[Retorna]
[24] ‘Trabalhadores.’ [Retorna]
Revisado: 28 Março 2008
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