Digha Nikaya 18
Janavasabha Sutta
Janavasabha - Brahma Discursa para os Devas
Somente para distribuição gratuita.
Este trabalho pode ser impresso para distribuição gratuita.
Este trabalho pode ser re-formatado e distribuído para uso em computadores e redes de computadores
contanto que nenhum custo seja cobrado pela distribuição ou uso.
De outra forma todos os direitos estão reservados.
1. Assim
ouvi. Em certa ocasião, o Abençoado estava em Nadika na Casa de Tijolos.[1] Naquela ocasião, o Abençoado estava explicando
o renascimento de vários discípulos que haviam falecido em distintas regiões:
Kasi e Kosala, Vajjia e Malla, Ceti e Vamsa, Kuru e Pancala, Maccha e Surasena,
dizendo: “Este aqui renasceu ali, aquele renasceu lá.” Mais de cinqüenta
discípulos de Nadika, tendo destruído os cinco primeiros grilhões, reapareceram
espontaneamente [nas moradas puras] e lá irão realizar o parinibbana sem nunca mais retornar daquele
mundo; mais de noventa discípulos, tendo destruído três grilhões e com a atenuação da cobiça, raiva e delusão,
são aqueles que retornam uma vez, que
retornarão a este mundo uma vez mais e então darão um fim ao sofrimento, e mais
de quinhentos discípulos, tendo destruído três grilhões, entraram na
correnteza, não mais destinados aos mundos inferiores, com o destino fixo, eles
têm a iluminação como destino.
2. Esse
relato chegou aos ouvidos dos discípulos em Nadika e eles ficaram alegres,
satisfeitos e contentes com as palavras do Abençoado.
3. E o
Venerável Ananda ouviu acerca do relato do Abençoado e da alegria dos Nadikas.
4. Ele
pensou: “Há também os discípulos desde muito tempo de Magadha que morreram e
desapareceram. Alguém pensaria que Anga e Magadha não tinham nenhum discípulo
que tivesse morrido. No entanto, eles também eram devotos do Buda, do Dhamma e
da Sangha, e eles praticavam a virtude com perfeição. O Abençoado não declarou
o destino deles. Seria bom ter uma declaração nesse sentido: isso faria com que
a multidão tivesse fé e assim alcançasse um bom renascimento.”
“Agora, o
Rei Seniya Bimbisara de Magadha era um monarca justo que governava de acordo
com a lei, amigo de Brâmanes, chefes de família, habitantes das cidades e do
campo, de modo que a sua fama havia se espalhado por todos os cantos: ‘Aquele
monarca justo que nos trouxe tanta felicidade está morto. [2]
A vida era fácil para nós que vivíamos sob o seu domínio justo.[3] E ele era um devoto do Buda, do Dhamma e da
Sangha e praticava a virtude com perfeição.’ Assim as pessoas diziam: ‘O Rei
Bimbisara, que elogiava o Abençoado até o dia da sua morte, morreu!’ O
Abençoado não declarou o destino dele e seria bom ter uma declaração ... Além
disso, foi em Magadha que o Abençoado realizou a perfeita iluminação. Visto que
o Abençoado realizou a perfeita iluminação em Magadha, porque ele não declara o
destino daqueles que lá morreram? Pois se o Abençoado não fizer uma declaração
dessas, isso irá causar muita infelicidade ao povo de Magadha. Em sendo esse o
caso, porque o Abençoado não faz uma declaração dessas?”
5. E depois
de assim refletir em solidão, em benefício dos discípulos de Magadha, o
Venerável Ananda levantou ao amanhecer e foi até o Abençoado e depois de
cumprimentá-lo sentou a um lado e disse: “Venerável Senhor, eu ouvi o que foi
declarado com relação aos habitantes de Nadika.” (igual aos versos 1-2)
6. “Eles
eram todos devotos do Buda, do Dhamma e da Sangha e praticavam a virtude com
perfeição. O Abençoado não declarou o destino deles ... (igual ao verso 4)
porque o Abençoado não faz uma declaração dessas?” Então, tendo assim falado em
benefício dos discípulos de Magadha, ele levantou do seu assento e depois de
homenagear o Abençoado, mantendo-o à sua direita, partiu.
7. Assim
que Ananda partiu, o Abençoado tomando a tigela e o manto externo, foi para Nadika
para esmolar alimentos. Depois de haver esmolado em Nadika e de haver
retornado, após a refeição ele foi para a Casa de Tijolos. Depois de lavar os
pés e entrar na casa, considerando e refletindo a respeito da questão dos
discípulos de Magadha, ele sentou num assento que havia sido preparado,
dizendo: “Eu saberei o destino e fortuna futura deles, quem quer que seja.” E
assim ele soube o destino e fortuna de cada um deles. Então ao anoitecer,
emergindo do seu isolamento, o Abençoado saiu da Casa de Tijolos e sentou num
assento que havia sido preparado na sombra da casa.
8. Então o
venerável Ananda foi até o Abençoado e depois de cumprimentá-lo sentou a um
lado e disse: “Venerável Senhor, a complexão do Abençoado está pura e
brilhante, revelando a mente tranqüila do Abençoado. O Abençoado ficou
satisfeito com a sua permanência hoje?”
9. “Ananda, depois que você falou comigo sobre os discípulos de Magadha,
eu tomei a tigela e o manto externo e fui para Nadika para esmolar alimentos.
Depois ... fui para a Casa de Tijolos e considerei a questão dos discípulos de
Magadha ... E soube o destino e fortuna de cada um deles. Então um yakkha[4] que ali passava exclamou: ‘Eu sou Janavasabha,
venerável senhor! Eu sou Janavasabha, Abençoado!’ Ananda, você conhece alguém
que anteriormente nasceu com o nome Janavasabha?” - “Eu devo admitir, venerável
senhor, que nunca ouvi esse nome; e no entanto ao ouvir o nome ‘Janavasabha’ [5] meus cabelos ficaram em pé, e eu pensei: ‘Aquele
cujo nome é Janavasabha não pode ser um yakkha com um nível tão baixo!’”
10.
“Ananda, imediatamente depois de ter ouvido aquela voz, o yakkha apareceu na
minha frente como uma visão nobre e exclamou pela segunda vez: ‘Eu sou
Bimbisara, venerável senhor! Eu sou Bimbisara, Abençoado! Agora, pela sétima
vez renasci na comitiva do Rei Vessavana. Tendo falecido como um rei dos
humanos, agora renasci entre seres não humanos.
Sete estados aqui e sete estados lá, catorze nascimentos,
essas são as vidas das quais posso me recordar.
Durante
muito tempo, venerável senhor, compreendi estar livre dos mundos inferiores, e agora surge em mim o desejo de tornar-me um
daqueles que retorna uma vez.’ Eu disse: ‘É surpreendente, é admirável que o
venerável yakkha Janavasabha diga isso. Com base em que você sabe dessa
realização específica tão elevada?’” [6]
11. “’Não é de outra forma, venerável senhor, não é de outra forma, Abençoado,
que através dos seus ensinamentos! Desde o momento em que obtive comprovada
convicção, a partir de então, venerável senhor, durante muito tempo compreendi
estar livre dos mundos inferiores, e agora surge em mim o desejo de tornar-me
um daqueles que retorna uma vez. Então, venerável senhor, tendo sido enviado
pelo Rei Vessavana para tratar de negócios com o Rei Virulhaka, eu vi o
Abençoado entrar na Casa de Tijolos e sentar-se considerando a questão dos
discípulos de Magadha ... E visto que eu havia acabado de ouvir o Rei Vessavana
anunciar para a sua assembléia ... o destino daqueles discípulos, não é
surpresa que eu tenha pensado: ‘Eu irei ver o Abençoado e relatar isso para
ele.’ E essas, venerável senhor, são as duas razões [7] pelas quais eu vim ver o Abençoado.” (Janavasabha continua:)
12. “’Venerável senhor, no passado, há muito tempo, no uposatha do
décimo quinto dia, no final da estação das chuvas,[8] na noite de lua cheia, todos os devas do Trinta e Três estavam
reunidos no Salão Sudhamma – uma grande congregação de seres divinos e os
Quatro Grandes Reis dos quatro quadrantes também lá estavam. Ali estava o
Grande Rei Dhatarattha [9] do leste liderando
os seus discípulos, voltado para o oeste; o Grande Rei Virulhaka do sul ...
voltado para o norte; o Grande Rei Viruipakkha do oeste ... voltado para o
leste; e o Grande Rei Vessavana do norte ... voltado para o sul.
“’Nessas
ocasiões, essa era a ordem na qual eles sentavam e depois deles vinham os
nossos assentos. E aqueles devas que, tendo vivido a vida santa sob o
Abençoado, haviam recentemente renascido no Paraíso do Trinta e Três,
eclipsavam os outros devas em luminosidade e glória. E por essa razão os devas
do Trinta e Três ficavam satisfeitos, felizes, cheios de prazer e alegria,
dizendo: “A hoste dos devas está crescendo, a hoste dos asuras está
diminuindo!” [10]
13. “’Então, venerável senhor, Sakka, o senhor dos devas, vendo a
satisfação dos devas do Trinta e Três, recitou estes versos com alegria:
“Os devas do Trinta e Três se alegram, o seu líder também,
elogiando o Tathagata e a verdade do Dhamma,
vendo devas recém chegados, luminosos e gloriosos
que viveram a vida santa, agora bem renascidos.
Eclipsando todos os demais em fama e esplendor,
os discípulos distinguidos do Sábio poderoso.
Vendo isso, os devas do Trinta e Três se alegram, o seu líder também,
elogiando o Tathagata e a verdade do Dhamma.”
Em vista
disso, os devas do Trinta e Três se alegraram ainda mais dizendo: “A hoste dos
devas está crescendo, a hoste dos asuras está diminuindo!”
14. “’E
então, eles consultaram e deliberaram juntos sobre o assunto pelo qual eles
haviam se reunido no salão Sudhamma, e os Quatro Grandes Reis os aconselharam e
alertaram, permanecendo imóveis nos seus assentos.
Os Reis, instruíram, registrando as palavras ditas,
permanecendo calmos, serenos, nos seus assentos.
15. “’E então, venerável senhor, uma luminosidade gloriosa surgiu do
norte e o esplendor visto era mais intenso que o brilho dos devas. E Sakka
disse para os devas do Trinta e Três: “Senhores, quando esses sinais são
vistos, quando essa luz aparece e surge um brilho, então Brahma irá aparecer. [11] Pois esses sinais são os presságios da
aparição de Brahma.”
Quando esses sinais são vistos, Brahma logo aparecerá:
esse é o sinal de Brahma, luminosidade ampla e grandiosa.
16.
“’Então, os devas do Trinta e Três sentaram nos seus lugares dizendo: “Vamos ver
o que sai dessa luminosidade e depois de descobrir isso, iremos ao seu
encontro.” Os Quatro Grandes Reis, sentando nos seus assentos disseram o mesmo.
Assim, todos estavam de acordo.
17. “’Venerável senhor, sempre que o Brahma Sanankumara aparece para os
devas do Trinta e Três, ele aparece assumindo uma forma mais grosseira, porque
a sua aparência natural não pode ser percebida pelos olhos deles. Quando ele
aparece para os devas do Trinta e Três, ele supera todos os devas em
luminosidade e glória, como uma figura feita de ouro supera o brilho de uma
figura humana. E, venerável senhor, quando o Brahma Sanankumara aparece para os
devas do Trinta e Três, nenhum deles o cumprimenta ou se levanta, ou lhe
oferece um assento. Eles ficam todos sentados com as mãos postas, pernas
cruzadas, pensando que ele irá sentar na almofada daquele deva do qual ele
deseja algo. E aquele em cuja almofada ele senta fica excitado e contente como
se fosse um rei Khattiya ungido que estivesse assumindo o governo.
18. “’Então, venerável senhor, o Brahma Sanankumara, depois de assumir
uma forma mais grosseira, apareceu para os devas do Trinta e Três com a forma
do jovem Pancasikha. [12] Levitando, ele
apareceu flutuando no ar com as pernas cruzadas, da mesma forma que um homem
forte poderia sentar-se sobre uma almofada no chão. E vendo o contentamento dos
devas do Trinta e Três, ele recitou estes versos com alegria:
“Os devas do Trinta e Três se alegram, o seu líder também,
elogiando o Tathagata e a verdade do Dhamma,
vendo devas recém-chegados, luminosos e gloriosos
que viveram a vida santa, agora bem renascidos.
Eclipsando todos os demais em fama e esplendor,
os discípulos distinguidos do Sábio poderoso.
Vendo isso, os devas do Trinta e Três se alegram, o seu líder também,
elogiando o Tathagata, e a verdade do Dhamma.”
19. “’Agora, com relação ao discurso do Brahma Sanankumara e quanto ao
seu jeito de falar, a sua voz tem oito qualidades: ela é clara, inteligível,
melodiosa, audível, envolvente, eufônica, profunda e sonora. E ao se dirigir
com essa voz à assembléia, o som não ia além desta. Quem quer que tenha uma voz
como essa, diz-se, tem a voz de Brahma.
20. “’E o
Brahma Sanankumara, multiplicando a sua forma por trinta e três, sentou com as
pernas cruzadas nas almofadas de cada um dos devas do Trinta e Três e disse: ‘O
que pensam os senhores do Trinta e Três? Dado que o Abençoado, por compaixão
pelo mundo e em benefício e felicidade de muitos, agiu pelo bem-estar de devas
e humanos e aqueles, quem quer que seja, que tomaram refúgio no Buda, no Dhamma
e na Sangha e que observaram os preceitos de virtude, com a morte e a
dissolução do corpo renasceram na companhia dos devas do Parinimmita-Vasavatti
ou dos devas do Nimmanaratti, ou dos devas do Tusita, ou dos devas do Yama, ou
na comitiva do Trinta e Três, ou dos Quatro Grandes Reis – ou no mínimo na
companhia dos gandhabbas. [13]
21. “’Isso foi o que o Brahma Sanankumara disse. E cada um dos devas ao
qual ele se dirigia pensava: “Ele está sentado na minha almofada, ele está
falando apenas comigo.”
Todas as formas assumidas falam com uma única voz,
e depois de falar, todas silenciam ao mesmo tempo.
E assim os devas do Trinta e Três, o seu líder também,
cada um pensa: “Ele fala apenas comigo.”
22.
“’Então, o Brahma Sanankumara assumiu uma única forma, sentou-se na almofada de
Sakka e disse: “O que pensam os senhores do Trinta e Três? Esse venerável, o
Buda, um arahant, perfeitamente iluminado, conheceu e viu as quatro bases para o poder
espiritual e como desenvolvê-las, aperfeiçoá-las e praticá-las. [14]
Quais quatro? Neste caso, um bhikkhu desenvolve a base do poder
espiritual que possui concentração devido ao desejo e às formações volitivas do
esforço ... devido à energia ... devido à mente ... devido à investigação e às
formações volitivas do esforço. Essas são as quatro bases para o poder
espiritual ... E todos os contemplativos e Brâmanes que no passado realizaram
esses poderes, todos eles os desenvolveram e cultivaram dessas quatro formas, e
o mesmo se aplica a todos que no futuro ou que no presente realizam esses
poderes. Os senhores do Trinta e Três vêem em mim esses poderes?” - “Sim,
Brahma.” - “Muito bem, eu também desenvolvi e pratiquei dessas quatro formas.”
23. “’Isso
foi o que o Brahma Sanankumara disse. Ele prosseguiu: “O que pensam os senhores
do Trinta e Três? Há três passagens para a bem-aventurança proclamada pelo
Abençoado que sabe e vê. Quais são elas? Em primeiro lugar, alguém permanece associado
aos prazeres sensuais, sujeito a condições inábeis. Em algum momento ele ouve o
nobre Dhamma, ele dá ouvidos e pratica conforme indicado. Fazendo isso ele
passa a viver dissociado daqueles prazeres sensuais e condições inábeis. Como
resultado dessa dissociação, a felicidade surge, [15] e ainda mais, a alegria. [16] Como
o prazer pode trazer o gozo, com a felicidade ele experimenta a alegria.
24. “Em segundo
lugar, alguém não tranquilizou as formações corporais, verbais e mentais. Em
algum momento ele ouve o nobre Dhamma, ... e as suas formações corporais,
verbais e mentais são tranquilizadas. E como resultado dessa tranqüilização a
felicidade surge, e ainda mais, a alegria ...
25. “Em terceiro lugar, alguém realmente não sabe o que é correto e o
que é incorreto, o que é censurável e o que não é, o que deve ser praticado e o
que não deve, o que é vulgar e o que é nobre, o que tem qualidade inferior, superior
ou mista. Em algum momento ele ouve o nobre Dhamma, ele dá ouvidos e pratica
conforme indicado. Como resultado, ele passa a saber na realidade, o que é
correto e o que é incorreto, o que é censurável e o que não é, o que deve ser
praticado e o que não deve, o que é vulgar e o que é nobre, o que tem qualidade
inferior, superior ou mista. Naquele que assim sabe e vê, a ignorância
desaparece e surge o conhecimento. Com o desaparecimento da ignorância e o
surgimento do conhecimento, a felicidade surge, e ainda mais, a alegria. Como o
prazer pode trazer o gozo, com a felicidade ele experimenta a alegria. Essas
são as três passagens para a bem-aventurança proclamada pelo Abençoado que sabe
e vê.”
26. “’Isso
foi o que o Brahma Sanankumara disse. Ele prosseguiu: “O que pensam os senhores
do Trinta e Três? Que tão bem o Abençoado que sabe e vê enunciou os quatro
fundamentos da atenção plena [17] para
realizar aquilo que é benéfico! Quais são os fundamentos? Aqui, um bhikkhu
permanece contemplando o corpo como um corpo, ardente, plenamente consciente e
com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. Permanecendo
assim contemplando o corpo como um corpo, ele se torna perfeitamente
concentrado e perfeitamente tranqüilo. Estando assim perfeitamente concentrado e perfeitamente tranqüilo
ele obtém o conhecimento e visão do corpo como um corpo externamente. Ele
permanece contemplando as sensações como sensações ... contemplando a mente
como mente ... contemplando os objetos mentais como objetos mentais, ardente,
plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o
desprazer pelo mundo. Permanecendo assim contemplando os objetos mentais como
objetos mentais, ele se torna perfeitamente concentrado e perfeitamente tranqüilo. Estando
assim perfeitamente concentrado e perfeitamente tranqüilo ele obtém o conhecimento e visão
dos objetos mentais como objetos mentais externamente. Esses são os quatro
fundamentos da atenção plena enunciados pelo Abençoado que sabe e vê, para
realizar aquilo que é benéfico.”
27. “’Isso foi o que o Brahma Sanankumara disse. Ele prosseguiu: “O que
pensam os senhores do Trinta e Três? Que tão bem o Abençoado que sabe e vê
enunciou os sete suportes da concentração, para o desenvolvimento da perfeita
concentração e a perfeição da concentração! Quais são eles? Eles são o
entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo
de vida correto, esforço correto e atenção plena correta. A unificação da mente
equipada com esses sete fatores é chamada de nobre concentração correta com os
seus suportes e seus requisitos.[18] Do
entendimento correto surge o pensamento correto, do pensamento correto surge a
linguagem correta, da linguagem correta surge a ação correta, da ação correta
surge o modo de vida correto, do modo de vida correto surge o esforço correto,
do esforço correto surge a atenção plena correta, da atenção plena correta
surge a concentração correta, da concentração correta surge o conhecimento
correto, [19] do conhecimento correto surge
a libertação correta. [20] Se alguém deveras
declarasse: ‘O Dhamma é bem proclamado pelo Abençoado, visível no aqui e agora,
com efeito imediato, que convida ao exame, que conduz para adiante, para ser
experimentado pelos sábios por eles mesmos’, dizendo: ‘Abertas estão as portas
para o Imortal!’, [21] ele estaria falando
de acordo com a verdade suprema. Pois de fato, senhores, o Dhamma é bem
proclamado pelo Abençoado, visível no aqui e agora, com efeito imediato, que
convida ao exame, que conduz para adiante, para ser experimentado pelos sábios
por eles mesmos, e, também, as portas para o Imortal estão abertas!”
“Aqueles
que possuem convicção comprovada no Buda, Dhamma e Sangha e que possuem as
virtudes apreciadas pelos nobres, esses seres que aqui renasceram por conta do
seu treinamento no Dhamma, totalizando mais de dois mil e quatrocentos
discípulos de Magadha que faleceram, com o abandono dos três primeiros grilhões,
eles entraram na correnteza, não mais destinados aos mundos inferiores, com o
destino fixo, eles têm a iluminação como destino, e de fato, aqui também há
aqueles que irão retornar apenas mais uma vez.
Mas desse outro grupo que de fato
tem ainda maior mérito, a minha mente
não é capaz de avaliá-los de nenhum modo,
por temor de dizer uma inverdade. [22]
28. “’Isso foi o que o Brahma Sanankumara disse. E com relação a isso o
Grande Rei Vessavana refletiu: “É maravilhoso, é admirável, que um Mestre tão
glorioso tenha surgido, que exista uma proclamação tão gloriosa do Dhamma e que
esses caminhos gloriosos para o sublime tenham sido revelados!” Então, o Brahma
Sanankumara, percebendo com a sua mente o pensamento na mente do Rei Vessavana
disse o seguinte: O que você pensa, Rei Vessavana? No passado houve um Mestre
tão glorioso e com tal proclamação, com caminhos como esses revelados, e
no futuro também haverá.””
29. Isso
foi o que o Brahma Sanankumara disse para os devas do Trinta e Três. E o Grande
Rei Vessavana, tendo ouvido aquilo pessoalmente, relatou aos seus discípulos. E
o yakkha Janavasabha, tendo ouvido aquilo pessoalmente, relatou ao Abençoado. E
o Abençoado tendo ouvido pessoalmente, e também sabendo através dos seus poderes
supra-humanos, relatou para o Venerável Ananda, que, então, relatou aos monges
e monjas, aos discípulos leigos e às discípulas leigas.
E assim a
vida santa cresceu e prosperou e se espalhou amplamente ao ser proclamada para
a humanidade.
Notas:
[1] Veja o DN 16.2.5.
[Retorna]
[2] Morto, é claro, pelo seu filho Ajatasattu.[Retorna]
[3] Esta parece ser uma crítica velada a
Ajatasattu.[Retorna]
[4]Os yakkhas em geral são considerados
criaturas desagradáveis como os demônios ou ogros. Na verdade, eles são
ambivalentes. Esse aspecto é explicado pelo Rei Vessavana, no DN 32.2. Mas veja também o DN
23.23. [Retorna]
[5] Literalmente, ‘Touro, (isto é, herói), do
povo.’ [Retorna]
[6] "Estar livre dos mundos inferiores" significa que ele entrou na correnteza, os sete
renascimentos indicam o número máximo de nascimentos para aquele que entrou na
correnteza. Por conseguinte, surgiu nele o desejo de realizar o estágio
seguinte. Mas porque o Buda deveria estar tão surpreso por ele conhecer aquela
‘realização específica’? [Retorna]
[7] As duas razões são: (1) o fato de que
Vessavana havia falado sobre esse tema, (2) que ele tinha conhecimento de que o
Buda, (cuja mente ele era capaz de ler!), estava ponderando o mesmo assunto.
Isso também confirma a afirmação do Buda em vários suttas (ex. DN
14.1.15), que ele
sabia certas coisas de duas maneiras, através do seu próprio conhecimento e por
que os devas lhe haviam contado. [Retorna]
[8] Vassa: o período de três meses de
retiro durante a estação das chuvas. [Retorna]
[9] Para um relato completo sobre este Rei e
sobre os demais ‘Grandes Reis’, (que governam os paraísos inferiores,
imediatamente acima do mundo humano), veja o DN 32. [Retorna]
[10] Os devas e os asuras estão em constante
conflito. É natural que os devas se alegrem com o renascimento dos discípulos
do Buda no seu meio. [Retorna]
[11] Veja o DN 11.80.[Retorna]
[12] Veja o DN 21.2 (e DN 19.1). DA diz que Brahma adotou esta forma porque todos
os devas amavam Pancasikha.[Retorna]
[13] Músicos celestiais. Como criados dos devas
do mundo dos Quatro Grandes Reis, eles são o nível mais baixo de seres nos mundos
paradisíacos. Deve ser observado que o gandhabba mencionado no MN 38 tem um significado distinto. [Retorna]
[14] Definidas no DN 26.28. Veja também o Iddhipada-samyutta.[Retorna]
[15] Sukha: felicidade ou uma sensação
mental prazerosa, como um dos fatores do primeiro jhana. [Retorna]
[16] Somanassa: alegria. O oposto de domanassa,
tristeza, angústia. [Retorna]
[17] Veja o DN 22 e MN 10. [Retorna]
[18] Uma formulação rara dos fatores do Nobre
Caminho Óctuplo. Veja o DN 33.2.3 e o MN 117. [Retorna]
[19] Samma-ñanam.[Retorna]
[20] Samma-vimutti.
Estes dois passos adicionais pertencem ao caminho supramundano (veja o MN 117). [Retorna]
[21] Veja o DN 14.3.7.[Retorna]
[22] Esse grupo são aqueles que não retornam, que estão num plano
tão acima do Brahma Sanankumara que ele é incapaz de avaliá-los. [Retorna]
Revisado: 25 Março 2008
Copyright © 2000 - 2021, Acesso ao Insight - Michael Beisert: editor, Flavio Maia: designer.