9. Papavagga
O Mal
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Apresse em praticar o bem |
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Se alguém praticar algum mal |
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Se alguém praticar algum bem |
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Enquanto o mal não amadurece |
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Enquanto o bem não amadurece |
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Não subestime o mal pensando: |
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Não subestime o bem pensando: |
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Tal como um rico comerciante com pequena caravana |
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Se na mão não há ferida |
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Aquele que é rude com os puros, |
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Alguns nascem no ventre, |
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Nem no céu, nem no meio do oceano, |
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Nem no céu, nem no meio do oceano, |
Notas:
[Nota 1 - Verso 116] Abhittharetha kalyane (apresse em praticar o bem): dedique-se à prática de ações benéficas sem qualquer perda de tempo. A prática do caminho espiritual foi chamada pelo Buda de patisogatami, ir contra a torrente do mundo. A tendência normal da mente é ser arrastada por emoções e praticar ações inábeis. Se alguém não se esforça em ir contra essa torrente, essa pessoa praticará ações inábeis e seguirá pelo caminho incorreto. [Retorna]
[Nota 2 - Verso 117] Papa (mal): ações inábeis ou prejudiciais, akusala. Prejudiciais são aquelas volições karmicas, as consciências e os outros fatores mentais concomitantes a elas associadas, que são acompanhadas pela cobiça (lobha), ou aversão (dosa), ou apenas delusão (moha); e todos esses fenômenos são causas para resultados karmicos desfavoráveis e contêm as sementes de destinos e renascimentos infelizes.
Akusala-sadharana-cetasika (fatores mentais associados com todas as ações prejudiciais): são quatro: (1) não ter vergonha de cometer transgressões (akirika); (2) não temer cometer transgressões (anottapa); (3) inquietação (uddhacca); (4) delusão (moha). Veja mais no Glossário sobre a vergonha e temor em cometer transgressões, hiri-ottapa .
Mula (raiz): também chamadas de hetu, são aquelas condições que pela sua presença na mente determinam a qualidade moral - benéfica (kusala) ou prejudicial (akusala) – de uma volição ou intenção (cetana) e a consciência (citta) e os fatores mentais (cetasika) associados a esta, em outras palavras, a qualidade do kamma. Há seis raízes, três kammicamente benéficas e três kammicamente prejudiciais, a saber, respectivamente, cobiça, aversão e delusão (lobha, dosa, moha) e não-cobiça, não-aversão e não-delusão (alobha, adosa, amoha).
Cobiça surge através da atenção sem sabedoria a um objeto atraente, a aversão surge através da atenção sem sabedoria a um objeto repulsivo. Assim, a cobiça (lobha ou raga) engloba todos os graus de atração em direção a um objeto, desde o traço mais sutil de um pensamento de desejo até as formas mais grosseiras de egoísmo, enquanto que a aversão (dosa) engloba todos os graus de aversão, desde o traço mais sutil de má-vontade até os mais altos picos de ódio e ira. Essas ações prejudiciais (papa) - matar, roubar, conduta sexual imprópria, linguagem mentirosa, linguagem maliciosa, linguagem grosseira, linguagem frívola, cobiça, má-vontade e entendimento incorreto - estas coisas ocorrem devido à cobiça, aversão ou delusão.
Encantado com a luxúria (cobiça), enfurecido com o ódio, cego pela delusão, dominado completamente, com a mente agrilhoada, o homem almeja sua própria ruína, a ruína dos outros, a ruína de ambos, e ele experimenta o sofrimento mental e a tristeza. E ele segue maus caminhos em suas ações, palavras e pensamentos, e ele realmente não entende o que é benéfico para ele mesmo, o que é benéfico para os outros, nem o que é benéfico para ambos. Essas coisas o tornam cego e ignorante, obstruem sua sabedoria, são dolorosas, e não o conduzem à paz. [Retorna]
[Nota 3 - Verso 118] Puñña (bem): ações meritórias. Kusala é outro termo para designar tais tipos de ações. Veja no glossário a definição de puñña e kusala. [Retorna]
[Nota 4 - Versos 119 e 120] Esses dois versos foram ditos pelo Buda no decorrer de um evento em que o tesoureiro Anathapindika estava presente. Anathapindika, um milionário, era o principal discípulo leigo e patrocinador do Buda. Seu nome, Anathapindika, significa "alimentador dos desamparados". Seu nome original era Sudatta. Devido à sua generosidade ímpar ele recebeu o novo nome. Sua terra natal era Savatthi.
Atha papo papa ni passati (o malfeitor verá maus resultados): uma pessoa má pode levar uma vida próspera como resultado de suas ações benéficas passadas. Ela irá experienciar a felicidade devido ao potencial das suas ações benéficas passadas superarem as ações prejudiciais do presente - uma aparente injustiça que muitas vezes prevalece neste mundo. Quando, numa ocasião, de acordo com a inevitável lei de kamma, suas ações prejudiciais frutificarem, então ela verá os resultados dolorosos de sua maldade. Veja mais sobre kamma no guia de estudo sobre kamma
Atha bhadro bhadra ni passati (o benfeitor verá bons resultados): uma pessoa virtuosa, como muitas vezes acontece, pode se deparar com adversidades, devido ao potencial de suas ações prejudiciais passadas superarem suas ações benéficas do presente. Ela somente se convence da eficácia de suas ações benéficas do presente quando, no momento oportuno, elas frutificarem, trazendo felicidade abundante. O fato de que às vezes os maus são prósperos e os virtuosos são desafortunados, é em si, uma forte evidência que apoia a crença na lei kamma e renascimento. [Retorna]
[Nota 5 - Verso 122] Mavamaññetha (não subestime): a intenção deste verso é enfatizar que as ações benéficas, por mais insignificantes que possam parecer, não devem ser subestimadas. Uma vez que esse tipo de ação gera resultados em termos de felicidade, até mesmo uma pequena quantidade de bem pode ser útil. [Retorna]
[Nota 6 - Verso 123] Appasattho (com pequena caravana): a expressão "sattha" denota um grupo de comerciantes. Eles viajam de um lugar para o outro comercializando suas mercadorias. Às vezes, eles viajam em caravanas formidáveis. Nos tempos antigos, tais caravanas eram compostas de carroças e carruagens tracionadas por bois. Uma vez que eles tinham de percorrer uma variedade de regiões, algumas vezes eles eram atacados por bandidos. Para enfrentar esses ataques, os comerciantes viajavam em grandes grupos, capazes de dissipar um ataque de bandidos. Na época do Buda essas caravanas de carroças eram uma característica marcante na economia. Nesse verso é enfatizado um hábito destes comerciantes extremamente ricos. Se eles fossem muito ricos, mas a caravana fosse pequena (appasattho), eles evitariam os "caminhos perigosos" (bhayam maggam). Caminhos perigosos eram aqueles conhecidos por serem habitados por bandidos.
Papani (mal): ações prejudiciais com o corpo, linguagem e pensamento. Elas estão enraizadas na cobiça (lobha), aversão (dosa) e delusão (moha). Esses são atos emocionais que trazem infelicidade tanto para si mesmo como para os outros. O mal é tão perigoso e evidente como bandidos e venenos. [Retorna]
[Nota 7 - Verso 124] Visam (veneno): Se um homem que não tem feridas em sua mão toca em veneno, este não o afetará. Da mesma forma, o mal não vai afetar alguém que não pratica ações prejudiciais.
No comentário desse verso conta-se a história de uma discípula leiga que tinha alcançado o primeiro estágio de iluminação (sotapanna) e era casada com um caçador. Depois do Buda relatar a história dela aos monges eles lhe perguntaram: "Venerável, a esposa do caçador, que é uma sotapanna, não é também culpada por matar seres vivos, já que ela pega coisas como redes, arcos e flechas para o seu marido quando ele vai caçar?" E o Buda responde: "Monges, os sotapannas não matam, nem desejam que os outros morram. A esposa do caçador estava somente obedecendo a seu marido ao pegar coisas para ele. Assim como uma mão sem feridas não é afetada pelo veneno, assim também, como ela não tem nenhuma intenção de praticar o mal ela não está praticando nenhum mal". Veja o guia de estudo sobre sotapanna. [Retorna]
[Nota 8 - Verso 125] Ananganassa (livre das impurezas): alguém desprovido de impurezas (anganas). Anganas são impurezas que surgem de raga (paixão), dosa (aversão) e moha (delusão). Estas são descritas como anganas (literalmente, espaços abertos, playgrounds), porque o mal surge a partir delas sem inibição. Às vezes o termo "mácula" também é usado com referência aos anganas. Etimologicamente, anganas também significa a capacidade de depravar uma pessoa contaminada por máculas. Em alguns contextos, anganas significa sujeira. Um indivíduo que é desprovido de impurezas é referido como anangana. [Retorna]
[Nota 9 - Verso 126] Sagga (paraíso): nos comentários tradicionais, sagga é definido como se segue: rupadihi pañca kama gunehi sutthu aggoti - saggo. Que significa: o lugar onde os prazeres dos cinco sentidos aparecem com a maior intensidade possível. Aqueles que vivem nos paraísos são chamados de devas.
Gabbham eke uppajjanti (nascem no ventre): de acordo com o Budismo existem quatro tipos de geração, a saber: geração em um ovo (andaja), geração em um ventre (jalabuja), geração na umidade (samsedaja), geração espontânea (opapatika). Veja mais no MN12.
Nirayam pa pakammino (malvados no inferno): niraya = ni + aya = desprovido de felicidade. Existem quatro tipos de nirayas - ou seja, os estados de privação (apaya), o reino animal (tiracchanayoni), o reino dos petas (petayoni), e o reino dos demônios-asuras (asurayoni). Nenhum desses estados é eterno. De acordo com seus kammas prejudiciais os seres podem renascer nesses mundos de existência miseráveis. Depois de morrerem nesses mundos eles podem renascer em mundos mais felizes de acordo com seus kammas benéficos passados.
Parinibbanti anasava (aqueles sem impurezas: Nibbana): os arahants, após a morte, não renascem, mas sim realizam o parinibbana. Veja no glossário a definição de parinibbana. [Retorna]
[Nota 10 - Verso 127] Na vijjati so jagatippadeso (não se conhece nenhum lugar no mundo): a implicação aqui é que não há nenhum lugar, quer seja na terra, no mar, ou no céu, onde um malfeitor possa escapar das consequências de suas ações prejudiciais. O verso menciona alguns dos lugares que poderiam ser considerados seguros: antalikkhe (espaço ou céu); samuddamajjhe (no meio do mar); pabbatanam vivaram (caverna numa montanha). [Retorna]
[Nota 11 - Verso 128] Nappasahetha maccu (não ser subjugado pela morte): a implicação desse verso é que não há nenhum lugar no mundo onde a morte não possa alcançar uma pessoa. Em termos positivos, onde quer que se vá, não há escapatória da morte.
Revisado: 12 Janeiro 2013
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