Um Verbo para Nibbana
Por
Ajaan Thanissaro
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Na época do
Buda, nirvana (nibbana em Pali) tinha o seu próprio verbo: nibbuti.
Que significava “extinguir” como uma chama. Porque se pensava que o fogo estava
num estado de aprisionamento enquanto ardia – apegado e aprisionado ao
combustível do qual se alimentava – a sua extinção então era vista como o
desapego ou desatamento. Extinguir era o mesmo que tornar-se desatado. Algumas vezes um outro
verbo era usado – parinibbuti – “pari”
significando total ou completo, para indicar que a pessoa desatada, ao
contrário do fogo desatado, nunca mais seria aprisionada.
Agora que
nirvana foi incorporado ao nosso vocabulário, seria bom se tivesse o seu
próprio verbo para também transmitir a noção de “estar desatado.” Em geral dizemos
que uma pessoa “alcança” nirvana ou “entra em” nirvana, sugerindo que nirvana
seria um lugar para onde podemos ir. Mas, sem dúvida nenhuma, nirvana não é um
lugar. Nirvana só é realizado quando a mente pára de se definir em relação a um
lugar: aqui ou ali, ou entre os dois.
Isto pode
parecer um problema de um neologista – que benefício um ou dois verbos
traria para a nossa prática? Mas a idéia
de que nirvana é um lugar já criou muita confusão no passado e pode facilmente
criar mal-entendidos agora. Houve uma época em que alguns filósofos na Índia
argumentaram que se nirvana é um lugar e samsara outro, então ao entrar em
nirvana você ficaria preso: o seu âmbito de movimentação seria limitado, pois
você não poderia retornar para o samsara. Então, para solucionar esse problema
eles inventaram aquilo que pensavam ser um novo tipo de nirvana: um nirvana não
estabelecido, no qual uma pessoa poderia estar em ambos os lugares - nirvana e
samsara - ao mesmo tempo .
No entanto,
esses filósofos não entenderam dois pontos importantes acerca dos ensinamentos
do Buda. Primeiro, nem samsara e nem nirvana são um lugar. Samsara é um
processo de criação de lugares e até mesmo de mundos completos, (isso é chamado
de ser/existir ou devir) e depois perambular neles, (isso é
chamado nascimento). Nirvana é o fim desse processo. Podemos encontrar
uma forma de estar em dois lugares ao mesmo tempo, mas não podemos alimentar um
processo e vivenciar o seu fim ao mesmo tempo. Ou estamos alimentando samsara
ou não. Se sentirmos a necessidade de trafegar livremente em ambos, samsara e
nirvana, então estaremos simplesmente engajados em mais samsar-ização,
mantendo-nos aprisionados.
Segundo,
desde os primórdios, nirvana era realizado através da consciência não
estabelecida - aquela que não vem, não vai, tampouco permanece no mesmo lugar.
Não é possível que algo não estabelecido fique de algum modo preso a qualquer
coisa, pois essa consciência não só é não localizada como também indefinida.
A noção de
um ideal religioso que esteja além do espaço e das definições não é exclusiva
aos ensinamentos Budistas, mas as questões de localização e definição, aos
olhos do Buda, tinham um significado psicológico específico. E é por isso que é
importante entender a não localização de nirvana.
Como todos
os fenômenos estão enraizados no desejo, a consciência se localiza através da
cobiça. A cobiça é o que cria o “ali” onde a consciência pode pousar ou se
estabelecer, quer esse “ali” seja uma forma, sensação, percepção, formação
mental ou algum tipo de consciência mesmo. Uma vez que a consciência se
estabeleça em qualquer um desses agregados, ela se apega e depois prolifera,
alimentando-se de tudo ao seu redor e criando todo o tipo de confusão. Onde
quer que o apego se estabeleça, ali haverá a definição de um ser. Nesse ponto é
criada a identidade, e ao fazer isso uma limitação é estabelecida. Mesmo se o
“ali” for uma noção da consciência infinita se estabelecendo, envolvendo ou
permeando todo o restante, ainda assim há limitação, pois o “estabelecer”, e
assim por diante, são aspectos de lugar. Onde quer que haja espaço, não
importando o quão sutil, a cobiça encontra-se latente, buscando mais alimento
para comer.
No entanto,
se a cobiça puder ser removida, não haverá mais “ali”. Um sutta ilustra isso
com um símile: um raio de sol entrando pela janela do lado leste de uma casa e
pousando na parede do lado oeste. Se a parede do lado oeste, o solo e os
lençóis freáticos contidos no solo fossem todos removidos, o raio de sol não
teria onde pousar. Do mesmo modo, se a cobiça pela forma, etc., pudesse ser
removida, a consciência não teria “onde” pousar e assim se tornaria não
estabelecida. Isso não significa que a consciência seria aniquilada, mas que,
como com o raio de sol, ela simplesmente não teria localidade. Sem localidade, ela não mais seria definida.
É por isso
que se diz que a consciência de nirvana é “sem superfície”, (anidassanam),
pois ela não pousa. Como o agregado da consciência abrange apenas a consciência
que é próxima ou distante, passada, presente ou futura, isto é, em conexão com
o tempo e espaço, a consciência sem superfície não está incluída nos agregados.
Ela não é eterna porque a eternidade é uma função do tempo. E como sem
localidade também significa indefinida, o Buda insistiu em que uma pessoa
iluminada, ao contrário de uma pessoa comum, não pode ser localizada ou
definida de nenhum modo em relação aos agregados nesta vida; após a morte,
ele/ela não pode ser descrito como existindo, não existindo, nenhum dos dois,
ou ambos, porque as descrições só se aplicam a coisas que podem ser definidas.
O passo
essencial na direção dessa realização sem localidade e indefinida é reduzir as
proliferações da consciência. Em primeiro lugar, contemplar as desvantagens de
manter a consciência aprisionada ao processo de comilança. Essa contemplação
gera a urgência para os passos seguintes: trazer a mente para a unicidade da
concentração, refinando-a gradualmente e aí decliná-la até zero. As
desvantagens da comilança são descritas de modo mais claro no SN
XII.63, A Carne de
um Filho. O processo da refinação gradual da unicidade está provavelmente
melhor descrito no MN 121, O Pequeno Discurso sobre o Vazio, enquanto que
o declínio até zero está melhor descrito no discurso para Malunkyaputta (SN
XXXV.95): “Aqui,
Malunkyaputta, com relação às coisas vistas, ouvidas, sentidas e
conscientizadas por você: no visto haverá apenas o visto; no ouvido haverá
apenas o ouvido; no sentido haverá apenas o sentido; no conscientizado haverá
apenas o conscientizado. Quando, Malunkyaputta, com relação às coisas vistas,
ouvidas, sentidas e conscientizadas por você, no visto houver apenas o visto, no
ouvido houver apenas o ouvido, no sentido houver apenas o sentido, no
conscientizado houver apenas o conscientizado, então, Malunkyaputta, você não
estará ‘com aquilo.’ Quando, Malunkyaputta, você não estiver ‘com aquilo,’ então você
não estará ‘naquilo.’ Quando, Malunkyaputta, você não estiver ‘naquilo,’ então você não
estará aqui, nem além e tampouco entre os dois. Isso em si mesmo é o fim do sofrimento.”
Quando não
há aqui ou além, ou entre os dois, é óbvio que não podemos empregar, ainda que
como uma metáfora, o verbo “entrar” ou “alcançar” para descrever essa
realização. Talvez devêssemos fazer da própria palavra nirvana um verbo:
“Quando não há você em conexão com aqueles, você nirvana.” Assim, podemos
indicar que o desatamento é uma ação distinta de todas as demais e evitar
qualquer noção equivocada de ficar “preso” na completa libertação.
Leituras
Complementares
“Todos os seres dependem de
alimento.” [Khp 4]
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Sentado a um lado o Venerável Radha disse para o Abençoado: “Venerável senhor, dizem,‘um ser, um
ser.’ De que modo, venerável senhor, alguém é chamado um ser?”
“Alguém está grudado, Radha, grudado com firmeza, ao desejo, cobiça,
deleite e paixão pela forma; assim alguém é chamado um ser. Alguém está
grudado, grudado com firmeza, ao desejo, cobiça, deleite e paixão pela sensação
... pela percepção ... pelas formações ... pela consciência, assim alguém é
chamado um ser. [SN XXIII.2]
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“Se alguém permanecer obcecado com a forma, senhor, é com base nisso que
ele será medido. Se alguém é medido com base em algo, então, com base nisso ele
será avaliado.
“Se alguém permanecer obcecado com a sensação...
“Se alguém permanecer obcecado com a percepção...
“Se alguém permanecer obcecado com as formações volitivas...
“Se alguém permanecer obcecado
com a consciência, senhor, é com base nisso que ele será medido. Se alguém é
medido com base em algo, então, com base nisso ele será avaliado.
“Mas, se alguém não permanecer obcecado com a forma, senhor, ele não
será medido com base nisso. Não sendo medido com base em algo, então, ele não
será avaliado com base nisso.
“Se alguém não permanecer obcecado com a sensação...
“Se alguém não permanecer obcecado com a percepção...
“Se alguém não permanecer obcecado com as formações volitivas...
“Se alguém não permanecer obcecado com a consciência, senhor, ele não
será medido com base nisso. Não sendo medido com base em algo, então ele não
será avaliado com base nisso. [SN XXII.36]
__________________________
“Quem está apegado não está libertado; quem não está apegado está
libertado. A consciência, bhikkhus, enquanto se mantém, poderá ser mantida
apegada à forma, suportada pela forma, fundamentada na forma e com um pouco de
prazer, ela poderá exibir crescimento, incremento e expansão. Ou a consciência,
enquanto se mantém poderá ser mantida [apegada à sensação ... apegada à
percepção] apegada às formações volitivas, suportada pelas formações volitivas, fundamentada nas
formações volitivas e com um pouco de prazer, ela poderá exibir crescimento, incremento e
expansão.
“Bhikkhus, embora alguém possa dizer: ‘Separado da forma, separado da sensação,
separado da percepção, separado das formações volitivas, eu declararei a vinda e ida da
consciência, o seu falecimento e renascimento, o seu crescimento, incremento e
expansão’ – isso seria impossível.
“Bhikkhus, se um bhikkhu abandona a cobiça pelo elemento forma...
“Bhikkhus, se um bhikkhu abandona a cobiça pelo elemento sensação...
“Bhikkhus, se um bhikkhu abandona a cobiça pelo elemento percepção...
“Bhikkhus, se um bhikkhu abandona a cobiça pelo elemento formações volitivas...
“Bhikkhus, se um bhikkhu abandona a cobiça pelo elemento consciência,
então devido ao abandono da cobiça o suporte é eliminado e não existe base para
o estabelecimento da consciência.
“Quando esta consciência não se estabelece, não cresce, não gera, ela se
liberta. Estando libertada, ela fica estável; estando estável, ela fica
satisfeita; estando satisfeita, ela não se agita. Sem agitação, ele realiza
Nibbana. Ele compreende que ‘O nascimento foi destruído, a vida santa foi
vivida, o que deveria ser feito foi feito, não há mais vir a ser a nenhum
estado.’” [SN XXII.53]
__________________________
“Bhikkhus, aquilo que alguém intenciona, aquilo que alguém planeja e
pela qual alguém tenha preferência: isto se torna uma base para a manutenção
da consciência. Quando há uma base, haverá um suporte para o estabelecimento da
consciência. Quando a consciência se estabelece e cresce, há a produção de uma
renovada existência futura. Quando há a produção de uma renovada existência
futura, o futuro nascimento e morte, lamentação, dor, angústia e desespero
surgem. Essa é a origem de toda essa massa de sofrimento.
“Se, bhikkhus, alguém não intenciona, alguém não planeja, mas ainda tem
preferência por algo, isto se torna uma base para a manutenção da consciência. Quando
há uma base, haverá um suporte para o estabelecimento da consciência ... Essa é a origem de toda essa massa de
sofrimento.
“Mas, bhikkhus, quando alguém não intenciona, alguém não planeja e não
não tem preferência por algo, nenhuma base existe para a manutenção da consciência. Quando
não há uma base, não haverá suporte para o estabelecimento da consciência.
Quando a consciência não se estabelece e não cresce, não há a produção de uma
renovada existência futura. Quando não há a produção de uma renovada existência
futura, o futuro nascimento e morte, lamentação, dor, angústia e desespero
cessam. Essa é a cessação de toda essa massa de sofrimento. [SN XII.38]
__________________________
"Existem esses quatro tipos de alimentos para a manutenção dos
seres que já nasceram e para o sustento daqueles que estão em busca de um
nascimento. Quais quatro? O alimento comida, grosseira ou sutil, o contato como
o segundo, a volição mental como o terceiro e a consciência como o quarto.
Esses são os quatro tipos de alimentos para a manutenção dos seres que já
nasceram e para o sustento daqueles que estão buscando o nascimento.
“Quando existe cobiça, prazer e desejo pelo alimento comida, a
consciência ali se estabelece e expande. Quando a consciência se estabelece e
expande, a mentalidade-materialidade (nome e forma) é acendida. Quando a
mentalidade-materialidade (nome e forma) é acendida, ocorre o crescimento das formações volitivas.
Quando ocorre o crescimento das formações volitivas, ocorre a produção de um renovado
ser/existir no futuro, há um futuro nascimento, envelhecimento e morte,
juntamente, eu lhes digo, com tristeza, angústia e desespero.
“Quando existe cobiça, prazer e desejo pelo alimento contato...
“Quando existe cobiça, prazer e desejo pelo alimento volição mental...
“Quando existe cobiça, prazer e desejo pelo alimento consciência, a
consciência ali se estabelece e expande. Quando a consciência se estabelece e
expande, a mentalidade-materialidade (nome e forma) é acendida. Quando a
mentalidade-materialidade (nome e forma) é acendida, ocorre o crescimento das formações volitivas.
Quando ocorre o crescimento das formações volitivas, ocorre a produção de um renovado
ser/existir no futuro, há um futuro nascimento, envelhecimento e morte,
juntamente, eu lhes digo, com tristeza, angústia e desespero.
“Como quando existe pigmento, laca, corante auricolor, índigo, carmesim
– um pintor pintaria o retrato de uma mulher ou de um homem, completo em todas
as suas partes, em um painel ou parede bem polida, ou num pedaço de tela; da
mesma forma, quando existe cobiça, prazer e desejo pelo alimento comida ...
contato ... volição mental ... consciência, a consciência ali se estabelece e
expande. Quando a consciência se estabelece e expande, a
mentalidade-materialidade (nome e forma) é acendida. Quando a mentalidade-materialidade (nome e forma) é
acendida, ocorre o crescimento das formações volitivas. Quando ocorre o
crescimento das formações volitivas, ocorre a produção de um renovado
ser/existir no futuro, há um futuro nascimento, envelhecimento e morte,
juntamente, eu lhes digo, com tristeza, angústia e desespero.
“Quando não existe cobiça, prazer e desejo pelo alimento comida, então a
consciência ali não se estabelece ou expande. Quando a consciência não se
estabelece ou expande, a mentalidade-materialidade (nome e forma) não é acendida. Quando a
mentalidade-materialidade (nome e forma) não é acendida, não ocorre o crescimento das
formações volitivas. Quando não ocorre o crescimento das formações volitivas, não ocorre a produção
de um renovado ser/existir no futuro. Quando não ocorre a produção de um
renovado ser/existir no futuro, não há um futuro nascimento, envelhecimento e
morte. Assim, eu lhes digo, não há tristeza, angústia e desespero.
“Quando não existe cobiça, prazer e desejo pelo alimento contato...
“Quando não existe cobiça, prazer e desejo pelo alimento volição
mental...
“Quando não existe cobiça, prazer e desejo pelo alimento consciência,
então a consciência ali não se estabelece ou expande. Quando a consciência não
se estabelece ou expande, a mentalidade-materialidade (nome e forma) não é acendida. Quando a
mentalidade-materialidade (nome e forma) não é acendida, não ocorre o crescimento das
formações volitivas. Quando não ocorre o crescimento das formações volitivas,
não ocorre a produção de um renovado ser/existir no futuro. Quando não ocorre a
produção de um renovado ser/existir no futuro, não há um futuro nascimento, envelhecimento
e morte. Assim, eu lhes digo, não há tristeza, angústia e desespero.
“Como se houvesse uma casa coberta por um telhado, ou um salão coberto
por um telhado com janelas na face norte, sul ou no leste. Quando o sol
nascesse e um raio entrasse pela janela onde ele pousaria?”
“Na parede do lado oeste, senhor.”
“E se não houvesse uma parede do lado oeste, onde pousaria?”
“No solo, senhor.”
“E se não houvesse solo, onde pousaria?”
“Na água, senhor.”
“E se não houvesse água, onde pousaria?”
“Não pousaria, senhor.”
“Da mesma forma, quando não existe cobiça, prazer e desejo pelo alimento
comida ... contato ... volição mental ... consciência, então a consciência ali
não se estabelece ou expande. Quando a consciência não se estabelece ou
expande, a mentalidade-materialidade (nome e forma) não é acendida. Quando a
mentalidade-materialidade (nome e forma) não é acendida, não ocorre o crescimento das
formações volitivas. Quando não ocorre o crescimento das formações volitivas, não ocorre a produção
de um renovado ser/existir no futuro. Quando não ocorre a produção de um
renovado ser/existir no futuro, não há um futuro nascimento, envelhecimento e
morte. Assim, eu lhes digo, não há tristeza, angústia e desespero. [SN XII.64]
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“Ele não forma nenhuma condição ou gera vontade com o propósito de
ser/existir ou não ser/existir. Já que ele não forma nenhuma condição ou gera
vontade com o propósito de ser/existir ou não ser/existir, ele não se apega a
nada neste mundo. Não se apegando, ele não fica agitado. Sem estar agitado, ele
realiza Nibbana. Ele compreende que ‘O nascimento foi destruído, a vida santa
foi vivida, o que deveria ser feito foi feito, não há mais vir a ser a nenhum
estado.'
"Se ele sente uma sensação de prazer, ele compreende: ‘É
impermanente; não há que agarrá-la; não existe prazer nela’. Se ele sente uma
sensação de dor, ele compreende: ‘É impermanente; não há que agarrá-la; não
existe prazer nela’. Se ele sente uma sensação nem de prazer nem de dor, ele
compreende: ‘É impermanente; não há que agarrá-la; não existe prazer nela’.[MN 140.22]
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“Irmãs, suponham que um hábil
açougueiro ou o seu aprendiz matasse uma vaca e a descarnasse com uma faca
afiada de açougueiro. Sem danificar a massa interna de carne e sem danificar o
couro externo, ele cortaria, separaria e trincharia os tendões internos, nervos
e ligamentos com a faca afiada de açougueiro. Então, depois de cortar, separar
e trinchar tudo isso, ele removeria o couro externo e cobriria novamente a vaca
com aquele mesmo couro. Ele falaria corretamente se dissesse: ‘Esta vaca está
unida a este couro da mesma forma que antes’?
“Não, venerável senhor. Por que isso? Porque se aquele hábil açougueiro
ou o seu aprendiz matasse uma vaca ... e cortasse, separasse e trinchasse tudo
aquilo, muito embora ele cubra a vaca novamente com aquele mesmo couro e diga:
‘Esta vaca está unida a este couro da mesma forma que antes,’ aquela vaca está
desunida daquele couro.”
“Irmãs, eu citei este símile para transmitir uma idéia. A idéia é a
seguinte: ‘A massa interna de carne’ é um termo para as seis bases internas. ‘O
couro externo’ é um termo para as seis bases externas. ‘Os tendões internos,
nervos e ligamentos’ é um termo para o prazer e a cobiça. ‘A faca afiada do
açougueiro’ é um termo para a nobre sabedoria – a nobre sabedoria que corta,
separa e trincha as contaminações internas, os grilhões e laços. [MN 146]
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Agora, naquela ocasião uma nuvem de fumaça, um redemoinho de trevas,
estava se movendo para o leste, depois para o oeste, para o norte, para o sul,
para cima, para baixo e para os quadrantes intermediários. Então, o Abençoado
se dirigiu aos bhikkhus: “Vocês vêm, bhikkhus, aquela nuvem de fumaça, um
redemoinho de trevas, movendo-se para o leste, depois para o oeste, para o
norte, para o sul, para cima, para baixo e para os quadrantes
intermediários?"
“Sim, venerável senhor.”
“Aquilo, bhikkhus, é Mara, o Senhor do Mal, procurando pela consciência de Godhika, perguntando a si mesmo: ‘Onde agora se estabeleceu a consciência de Godhika? No entanto, bhikkhus, com a consciência não estabelecida, Godhika realizou o parinibbana.”[SN IV.23]
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Upasiva:
Aquele que chegou ao fim: ele é aniquilado, ou permanece eternamente intacto? Por favor, sábio, explique isso para mim pois esse fenômeno é do seu conhecimento.
O Buda:
Não há nada através do qual se possa medir aquele que chegou ao fim. Aquilo através do qual alguém poderia defini-lo - não se aplica no caso dele. Quando todos os fenômenos são eliminados, todos os meios de definição também são eliminados. [Snp V.6]
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“O que você pensa, Anuradha, a forma é permanente ou impermanente?
“Impermanente, senhor.
"E aquilo que é impermanente é sofrimento ou felicidade?
“Sofrimento, senhor.
“E é adequado considerar o que é impermanente, sofrimento, sujeito a
mudanças como: ‘Isso é meu. Isso sou eu. Isso é o meu eu’?
“Não, senhor.
“...A sensação é permanente ou impermanente?
“Impermanente, senhor.
“...A percepção é permanente ou impermanente?
“Impermanente, senhor.
“...As formações volitivas são permanentes ou impermanentes?
“Impermanentes, senhor.
“O que você pensa, Anuradha, a consciência é permanente ou impermanente?
“Impermanente, senhor.
“E aquilo que é impermanente é sofrimento ou felicidade?
“Sofrimento, senhor.
“E é adequado considerar o que é impermanente, sofrimento, sujeito a
mudanças como: 'Isso é meu. Isso sou eu. Isso é o meu eu’?
“Não, senhor.
“O que você pensa, você considera a forma como sendo o Tathagata?
“Não, senhor.
“Você considera a sensação como sendo o Tathagata
“Não, senhor.
“Você considera a percepção como sendo o Tathagata
“Não, senhor.
“Você considera as formações volitivas como sendo o Tathagata
“Não, senhor.
“Você considera a consciência como sendo o Tathagata
“Não, senhor.
“O que você pensa, você considera que o Tathagata está na forma? ...
Separado da forma? ... Na sensação? ... Separado da sensação? ... Na percepção?
... Separado da percepção? ... Nas formações volitivas? ... Separado das formações volitivas? ...
Na consciência? ... Separado da consciência?"
“Não, senhor.
“O que você pensa, você considera que o Tathagata é o conjunto da
forma-sensação-percepção-formações volitivas-consciência?
“Não, senhor.
“Você considera que o Tathagata não tem forma, não tem sensação, não tem
percepção, não tem formações volitivas, não tem consciência?
“Não, senhor.
“Mas, Anuradha, quando você não consegue entender o Tathagata como real e
presente nesta mesma vida, é apropriado que você declare, ‘Amigos, o Tathagata
– o homem supremo, o homem superlativo, que realizou a realização superlativa –
ao ser descrito, é descrito de uma maneira distinta dessas quatro: o Tathagata
existe após a morte; não existe após a morte; ambos, existe e não existe após a
morte; nem existe, nem não existe após a morte.’?”
“Não, senhor.”
“Muito bem, Anuradha. Tanto antes, como agora, eu declaro somente o
sofrimento e a cessação do sofrimento.” [SN
XXII.86]
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“Quando a mente de um bhikkhu está libertada dessa forma, Mestre Gotama,
onde ele renasce [após a morte]?”
“O termo ‘renasce’ não se aplica, Vaccha.”
“Então ele não renasce, Mestre Gotama?”
“ O termo ‘não renasce’ não se aplica, Vaccha.”
“ Então, ambos, ele renasce e não renasce, Mestre Gotama?”
“O termo ‘ambos, renasce e não renasce’ não se aplica, Vaccha.”
“Então ele nem renasce nem não renasce, Mestre Gotama?”
“O termo ‘nem renasce nem não renasce’ não se aplica, Vaccha.”
“Quando o Mestre Gotama é
perguntado essas quatro questões; ele responde: ‘O termo “renasce” não se
aplica, Vaccha; o termo “não renasce não se aplica, Vaccha; o termo “ambos,
renasce e não renasce” não se aplica, Vaccha; o termo “nem renasce nem não
renasce” não se aplica, Vaccha.’ Agora fiquei atordoado, Mestre Gotama, agora
fiquei confuso, e o tanto de confiança, que eu havia obtido através da conversa
anterior com o Mestre Gotama, agora desapareceu.”
“É normal que isso o deixe
atordoado, Vaccha, normal que isso o deixe confuso. Pois este Dhamma, Vaccha, é
profundo, difícil de ser visto e difícil de ser compreendido, pacífico e
sublime, não pode ser alcançado através do mero raciocínio, sutil, para ser
experimentado pelos sábios. É difícil que você o entenda possuindo uma outra
idéia, aceitando um outro ensinamento, aprovando um outro ensinamento,
dedicando-se a um outro treinamento e seguindo um outro mestre. Portanto, em
retribuição, eu o questionarei acerca
disso, Vaccha. Responda como quiser.
“O que você pensa, Vaccha?
Suponha que um fogo estivesse queimando à sua frente. Você saberia que:
‘Este fogo está queimando na minha frente’?”
“Eu saberia, Mestre Gotama.”
“Se alguém lhe perguntasse, Vaccha: ‘Esse fogo à sua frente queima na
dependência do que?’ – tendo sido assim perguntado, o que você responderia?”
“Sendo assim perguntado, Mestre Gotama, eu responderia: ‘Este fogo na
minha frente queima na dependência de capim e gravetos.”
“Se esse fogo à sua frente se extinguisse, você saberia que: ‘Este fogo
na minha frente se extinguiu’?”
“Eu saberia, Mestre Gotama.”
“Se alguém lhe perguntasse, Vaccha: ‘Quando esse fogo à sua frente foi
extinto, para qual direção ele se foi: para o leste, para o oeste, para o
norte, ou para o sul?’ – tendo sido perguntado dessa forma, o que você
responderia?’
“Isso não se aplica, Mestre Gotama. O fogo queimou na dependência do seu
combustível, capim e gravetos. Quando ele foi consumido, se não há mais
combustível, não tendo combustível, ele é extinto.”
“Assim também, Vaccha, o
Tathagata abandonou aquela forma material pela qual alguém, descrevendo o
Tathagata, o descreveria; ele cortou-a pela raiz, fez como com um tronco de palmeira,
eliminando-a de tal forma que não estará mais sujeita a um futuro surgimento. O
Tathagata está libertado de pensar em termos da forma material, Vaccha, ele é
profundo, imensurável, difícil de ver e difícil de compreender em profundidade tal como o
oceano. O termo ‘renasce’ não se aplica, o termo ‘não renasce’ não se aplica, o
termo ‘ambos, renasce nem não renasce’ não se aplica, o termo ‘nem renasce, nem não renasce’ não se aplica.
O Tathagata abandonou aquela sensação pela qual alguém, descrevendo o
Tathagata, o descreveria ... abandonou aquela percepção pela qual alguém,
descrevendo o Tathagata, o descreveria ... abandonou aquelas formações pela qual
alguém, descrevendo o Tathagata, o descreveria ... abandonou aquela consciência
pela qual alguém, descrevendo o Tathagata o descreveria; ele cortou-a pela
raiz, fez como com um tronco de palmeira, eliminando-a de tal forma que não
estará mais sujeita a um futuro surgimento. O Tathagata está liberto de pensar
em termos da consciência, Vaccha; ele é profundo, imensurável, difícil de ser
examinado em profundidade, tal como o oceano. O termo ‘renasce’ não se aplica,
o termo ‘não renasce’ não se aplica, o termo ‘ambos, renasce nem não renasce’
não se aplica, o termo ‘nem renasce, nem
não renasce’ não se aplica.” [MN 72]
__________________________
“’A consciência desprovida de
atributos,
Ilimitada,
E toda luminosa:
que não participa da solidez da terra, que não participa da liquidez da
água ... que não participa da totalidade do todo.’ [MN
49]
__________________________
“Na consciência desprovida de atributos, ilimitada e toda luminosa.
Nisso a terra, água, fogo e ar,
Grande e pequeno, fino e grosseiro, puro e impuro – não encontram apoio.
Nisso a mentalidade-materialidade (nome e forma) cessa sem deixar vestígios.
Com a cessação [do agregado] da consciência, tudo isso cessa.” [DN 11]
Revisado: 31 Outubro 2008
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