Samyutta Nikaya IV.23
Godhika Sutta
Godhika
Somente para distribuição gratuita.
Este trabalho pode ser impresso para distribuição gratuita.
Este trabalho pode ser re-formatado e distribuído para uso em computadores e redes de computadores
contanto que nenhum custo seja cobrado pela distribuição ou uso.
De outra forma todos os direitos estão reservados.
Assim ouvi.
Em certa ocasião, o Abençoado estava em
Rajagaha, no Bambual, no Santuário dos Esquilos.
Agora,
naquela ocasião o venerável Godhika estava na Rocha Negra na encosta do
Isigili. Então, enquanto o venerável Godhika permanecia diligente, ardente e
decidido ele alcançou a libertação temporária da mente, mas decaiu daquela
libertação temporária da mente. [1] Uma
segunda vez, enquanto o venerável Godhika permanecia diligente, ardente e
decidido ele alcançou a libertação temporária da mente, mas decaiu daquela
libertação temporária da mente. Uma terceira vez ... uma quarta vez ... uma
quinta vez ... Uma sexta vez, enquanto o venerável Godhika permanecia
diligente, ardente e decidido ele alcançou a libertação temporária da mente,
mas decaiu daquela libertação temporária da mente. Uma sétima vez, enquanto o
venerável Godhika permanecia diligente, ardente e decidido ele alcançou a
libertação temporária da mente, mas decaiu daquela libertação temporária da
mente.
Então, o
venerável Godhika pensou: “Eu já decaí sete vezes dessa libertação temporária
da mente. Vou usar a faca.” [2]
Então, Mara, o Senhor do Mal, tomando conhecimento com a sua mente do
pensamento na mente do venerável Godhika, foi até o Abençoado e se dirigiu a
ele em versos: [3]
“Oh grande herói, eminente em sabedoria,
resplandecente em poder e glória!
Eu venero seus pés, Aquele com Visão,
que superou toda inimizade e medo.
“Oh grande herói que conquistou a morte,
o seu discípulo anseia pela morte.
Ele intenciona [se matar]:
impeça-o de fazer isso, Oh Luminoso!
“Como, Oh Abençoado, pode um seu discípulo -
que se delicia com o ensinamento,
um praticante buscando o ideal da mente -
tirar a própria vida, Oh Afamado?”
Agora,
naquela ocasião o venerável Godhika havia acabado de usar a faca. [4]
Então, o Abençoado, tendo compreendido, “Este é Mara, o Senhor
do Mal,” respondeu em forma de versos:
“Assim de fato é como os determinados agem:
eles não têm apego à vida.
Extirpando o desejo pela raiz,
Godhika realizou o parinibbana.”
Nessa ocasião,
o Abençoado se dirigiu aos bhikkhus: “Venham, bhikkhus, vamos até a Rocha Negra
na encosta do Isigili, onde Godhika usou a faca.”
“Sim,
venerável senhor”, aqueles bhikkhus responderam. Então, o Abençoado, juntamente
com um grande número de bhikkhus, foi até a Rocha Negra na encosta do Isigili.
O Abençoado viu à distância o venerável Godhika deitado na cama com os ombros
virados.
Agora,
naquela ocasião uma nuvem de fumaça, um redemoinho de trevas, estava se movendo
para o leste, depois para o oeste, para o norte, para o sul, para cima, para
baixo e para os quadrantes intermediários. Então, o Abençoado se dirigiu aos
bhikkhus: “Vocês vêm, bhikkhus, aquela nuvem de fumaça, um redemoinho de
trevas, movendo-se para o leste, depois para o oeste, para o norte, para o sul,
para cima, para baixo e para os quadrantes intermediários?"
“Sim,
venerável senhor.”
“Aquilo,
bhikkhus, é Mara, o Senhor do Mal, procurando pela consciência de Godhika,
perguntando a si mesmo: ‘Onde agora se estabeleceu a consciência de Godhika? No
entanto, bhikkhus, com a consciência não estabelecida, Godhika realizou o
parinibbana.” [5]
Nesse momento, Mara o Senhor do Mal, tomando um alaúde, foi até o
Abençoado e se dirigiu a ele em versos:
“Acima, abaixo e dos lados,
nos quatro quadrantes e no meio,
estive procurando mas não encontro
para onde Godhika foi.”
[O Abençoado:]
“Aquele homem determinado era decidido,
um meditador sempre se deliciando com a meditação,
dedicando-se dia e noite
sem apego nem sequer à vida.
“Com a conquista do exército da Morte,
não retornou para uma nova existência,
ao extirpar o desejo pela raiz,
Godhika realizou o parinibbana.”
Ele ficou tão triste pela decepção
que o alaúde caiu do seu braço.
Como resultado, aquele espírito desapontado
desapareceu no mesmo instante.
Notas:
[1] “Libertação temporária da mente” são as realizações meditativas
mundanas, isto é, os jhanas e as realizações imateriais,
assim chamadas porque nos momentos de absorção a mente está livre dos
obstáculos. Ele decaía dessa libertação por motivo de doença crônica que o
impedia de satisfazer todas as condições para a concentração. [Retorna]
[2] Um eufemismo para o suicídio. [Retorna]
[3] Mara pensou: “esse contemplativo deseja usar a faca. Isso indica que
ele está indiferente em relação ao corpo e à vida, e uma pessoa assim é capaz
de alcançar o estado de arahant. Se eu tentar proibí-lo ele não desistirá, mas
se o Mestre proibí-lo ele obedecerá.” Assim, dando a impressão de estar
preocupado com o destino do bhikkhu, Mara foi até o Abençoado. [Retorna]
[4] O bhikkhu cortou a veia jugular com a faca. Sensações dolorosas
surgiram. Ele as conteve, compreendeu as dores com insight, estabeleceu a
atenção plena, investigou o objeto da meditação e realizou o estado de arahant,
realizando o estado de arahant simultaneamente com o fim da vida. [Retorna]
[5] Mara buscava pela consciência de renascimento, (patisandhicitta),
mas Godhika faleceu com a consciência de renascimento não estabelecida. Mas
com isso não se deve entender que depois da morte a consciência dele sobreviveu
numa condição “não estabelecida”, pois muitos textos deixam claro que com o
falecimento do arahant a sua consciência também cessa (Veja por exemplo o SN XII.51). [Retorna]
Revisado: 5 Fevereiro 2005
Copyright © 2000 - 2021, Acesso ao Insight - Michael Beisert: editor, Flavio Maia: designer.