Samyutta Nikaya LI.11
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Em
Savatthi. “Bhikkhus, antes da minha iluminação, quando eu ainda era apenas um
Bodisatva não iluminado, o seguinte pensamento me ocorreu: ‘Qual é a causa e
condição para o desenvolvimento das bases do poder espiritual?’ Eu pensei:
‘Aqui um bhikkhu desenvolve a base do poder espiritual que possui concentração
devido ao desejo e às formações volitivas do esforço, pensando: “Assim o meu desejo
não estará nem demasiado frouxo e nem demasiado tenso; e ele não estará nem
contraído internamente e nem distraído externamente.” E ele permanece
percebendo depois e antes: “Como antes, assim depois; como depois, assim antes;
como abaixo, assim acima; como acima, assim abaixo; como o dia, assim a noite;
como a noite, assim o dia.” Assim, com uma mente aberta e não confinada, ele
desenvolve a mente imbuída de luminosidade. [1]
“’Ele desenvolve a base do poder espiritual que possui concentração
devido à energia e às formações volitivas do esforço, pensando: “Assim a minha
energia não estará nem demasiado frouxa e nem demasiado tensa; e ela não estará
nem contraída internamente e nem distraída externamente.” E ele permanece percebendo
depois e antes: “Como antes, assim depois; como depois, assim antes; como
abaixo, assim acima; como acima, assim abaixo; como o dia, assim a noite; como
a noite, assim o dia.” Assim, com uma mente aberta e não confinada, ele
desenvolve a mente imbuída de luminosidade.
“’Ele
desenvolve a base do poder espiritual que possui concentração devido à mente e
às formações volitivas do esforço, pensando: “Assim a minha mente não estará
nem demasiado frouxa e nem demasiado tensa; e ela não estará nem contraída
internamente e nem distraída externamente.” E ele permanece percebendo depois e
antes: “Como antes, assim depois; como depois, assim antes; como abaixo, assim
acima; como acima, assim abaixo; como o dia, assim a noite; como a noite, assim
o dia.” Assim, com uma mente aberta e não confinada, ele desenvolve a mente
imbuída de luminosidade.
“’Ele
desenvolve a base do poder espiritual que possui concentração devido à
investigação e às formações volitivas do esforço, pensando: “Assim a minha investigação
não estará nem demasiado frouxa e nem demasiado tensa; e ela não estará nem
contraída internamente e nem distraída externamente.” E ele permanece
percebendo depois e antes: “Como antes, assim depois; como depois, assim antes;
como abaixo, assim acima; como acima, assim abaixo; como o dia, assim a noite;
como a noite, assim o dia.” Assim, com uma mente aberta e não confinada, ele
desenvolve a mente imbuída de luminosidade.
“’Quando as
quatro bases do poder espiritual tiverem sido desenvolvidas e cultivadas desse
modo, um bhikkhu exerce os vários tipos de poderes supra-humanos: [2] tendo sido um, ele
se torna vários; tendo sido vários, ele se torna um; ele aparece e desaparece;
ele cruza sem nenhum problema uma parede, um cercado, uma montanha ou através
do espaço; ele mergulha e sai da terra como se fosse água; ele caminha sobre a
água sem afundar como se fosse terra; sentado de pernas cruzadas ele cruza o
espaço como se fosse um pássaro; com a sua mão ele toca e acaricia a lua e o
sol tão forte e poderoso; ele exerce poderes corporais até mesmo nos distantes
mundos de Brahma.
“’Quando as
quatro bases do poder espiritual tiverem sido desenvolvidas e cultivadas desse
modo, um bhikkhu, com o elemento do ouvido divino, que é purificado e
ultrapassa o humano, ouve tanto os sons divinos como os humanos e tanto aqueles
distantes como os próximos.
“’Quando as
quatro bases do poder espiritual tiverem sido desenvolvidas e cultivadas desse
modo, um bhikkhu compreende as mentes de outros seres, de outras pessoas,
abarcando-as com a sua própria mente. Ele compreende uma mente afetada pelo
desejo como afetada pelo desejo e uma mente não afetada pelo desejo como não
afetada pelo desejo; Ele compreende uma mente afetada pela raiva como afetada
pela raiva e uma mente não afetada pela raiva como não afetada pela raiva; Ele
compreende uma mente afetada pela delusão como afetada pela delusão e uma mente
não afetada pela delusão como não afetada pela delusão; Ele compreende uma
mente contraída como contraída e uma mente distraída como distraída; Ele
compreende uma mente transcendente como transcendente e uma mente não
transcendente como não transcendente; Ele compreende uma mente superável como
superável e uma mente não superável como não superável; Ele compreende uma
mente concentrada como concentrada e uma mente não concentrada como não
concentrada; Ele compreende uma mente libertada como libertada e uma mente não
libertada como não libertada.
“’Quando as
quatro bases do poder espiritual tiverem sido desenvolvidas e cultivadas desse
modo, um bhikkhu se recorda das suas muitas vidas passadas, isto é, um
nascimento, dois nascimentos, três nascimentos, quatro, cinco, dez, vinte,
trinta, quarenta, cinqüenta, cem, mil, cem mil, muitos ciclos cósmicos de
contração, muitos ciclos cósmicos de expansão, muitos ciclos cósmicos de
contração e expansão, ‘Lá eu tinha tal nome, pertencia a tal clã, tinha tal
aparência. Assim era o meu alimento, assim era a minha experiência de prazer e
dor, assim foi o fim da minha vida. Falecendo daquele estado, eu ressurgi ali.
Ali eu também tinha tal nome, pertencia a tal clã, tinha tal aparência. Assim
era o meu alimento, assim era a minha experiência de prazer e dor, assim foi o
fim da minha vida. Falecendo daquele estado, eu ressurgi aqui.’ Assim ele se
recorda das suas muitas vidas passadas nos seus modos e detalhes.
“’Quando as
quatro bases do poder espiritual tiverem sido desenvolvidas e cultivadas desse
modo, um bhikkhu, por meio do olho divino, que é purificado e ultrapassa o humano,
vê seres falecendo e renascendo, inferiores e superiores, bonitos e feios,
afortunados e desafortunados. Ele compreende como os seres prosseguem de acordo
com as suas ações desta forma: ‘Esses seres – dotados de má conduta com o
corpo, linguagem e mente, que insultam os nobres, com o entendimento incorreto
e realizando ações sob a influência do entendimento incorreto – com a
dissolução do corpo, após a morte, renasceram no plano de privação, num destino
ruim, nos planos inferiores, no inferno. Porém estes seres - dotados de boa
conduta com o corpo, linguagem e mente, que não insultam os nobres, com o
entendimento correto e realizando ações sob a influência do entendimento
correto – com a dissolução do corpo, após a morte, renasceram num bom destino, no
paraíso.’ Dessa forma - por meio do olho divino, que é purificado e ultrapassa o
humano, ele vê seres falecendo e renascendo, inferiores e superiores, bonitos e
feios, e ele compreende como os seres continuam de acordo com as suas ações..
“’Quando as
quatro bases do poder espiritual tiverem sido desenvolvidas e cultivadas desse
modo, um bhikkhu, compreendendo por si mesmo com o conhecimento direto, aqui e
agora, entra e permanece na libertação da mente e libertação pela sabedoria que
são imaculadas, com a destruição de todas as impurezas.”
Notas:
[1] Uma análise detalhada dos termos pode ser encontrada no SN LI.20. [Retorna]
[2] Este trecho mostra que o exercício dos poderes supra-humanos são fruto
dos quatro iddhipadas. [Retorna]
Revisado: 16 Abril 2005
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