Majjhima Nikaya 65
Bhaddali Sutta
Para Bhaddali
Somente para distribuição gratuita.
Este trabalho pode ser impresso para distribuição gratuita.
Este trabalho pode ser re-formatado e distribuído para uso em computadores e redes de computadores
contanto que nenhum custo seja cobrado pela distribuição ou uso.
De outra forma todos os direitos estão reservados.
1. Assim
ouvi. Em certa ocasião o Abençoado estava em Savatthi no Bosque de Jeta, no
Parque de Anathapindika. Lá ele se dirigiu aos bhikkhus: “Bhikkhus.” –
“Venerável senhor,” eles responderam. O Abençoado disse o seguinte:
2. “Bhikkhus, eu me alimento uma vez por dia. Fazendo isso, eu fico
livre de enfermidades e aflições, desfruto de boa saúde, energia e permaneço
com conforto. [1] Venham, bhikkhus,
alimentem-se apenas uma vez ao dia. Fazendo isso, vocês ficarão livres de
enfermidades e aflições, desfrutarão de boa saúde, energia e permanecerão com
conforto.”
3. Quando
isso foi dito o venerável Bhaddali disse para o Abençoado: “Venerável senhor,
eu não concordo em comer uma vez ao dia; pois se assim o fizesse, eu teria
preocupações e ansiedades.” [2] “Então, Bhaddali,
coma uma parte lá onde você for convidado e traga a outra parte com você.
Comendo dessa forma, você se manterá.”
“Venerável
senhor, eu tampouco concordo em comer dessa forma; pois se assim o fizesse, eu
também teria preocupações e ansiedades.” [3]
4. Então, quando esse preceito de treinamento foi comunicado pelo
Abençoado, [4] o venerável Bhaddali declarou
em público na Sangha dos bhikkhus, a sua discordância em comprometer-se com o
treinamento. Então, o venerável Bhaddali não se apresentou ao Abençoado durante
todo o período de três meses do retiro das chuvas, por ele não ter cumprido com
o treinamento contido na Revelação do Mestre.
5. Agora,
naquela ocasião um grande número de bhikkhus estavam empenhados em fazer um
manto para o Abençoado, pensando: “Com este manto terminado, ao final dos três
meses das chuvas, o Abençoado irá sair perambulando.”
6. Então o
venerável Bhaddali foi até aqueles bhikkhus e eles se cumprimentaram, quando a
conversa amigável e cortês havia terminado, ele sentou a um lado. Tendo feito
isso, eles lhe disseram: “Amigo Bhaddali, este manto está sendo feito para o
Abençoado. Com este manto terminado, ao final dos três meses das chuvas, o
Abençoado irá sair perambulando. Por favor, amigo Bhaddali, pense com cuidado
na sua declaração. Não permita que isso se torne mais difícil para você mais
tarde.”
7. “Sim,
amigos,” ele respondeu, e foi até o Abençoado, e depois de homenageá-lo sentou
a um lado e disse: “Venerável senhor, uma transgressão me subjugou, no sentido
de agir como um tolo, confuso e desatinado, quando um preceito de treinamento
estava sendo comunicado pelo Abençoado, eu declarei em público, na Sangha dos
bhikkhus, minha discordância em comprometer-me com o treinamento. Venerável
senhor, que o Abençoado possa perdoar minha transgressão como tal, visando a
contenção no futuro.”
8. “Com
certeza, Bhaddali, você foi subjugado por uma transgressão, no sentido de agir
como um tolo, confuso e desatinado, quando um preceito do treinamento estava
sendo comunicado por mim, você declarou em público, na Sangha dos bhikkhus, a
sua discordância em comprometer-se com o treinamento.
9.
“Bhaddali, esta circunstância não foi reconhecida por você: ‘O Abençoado está
residindo em Savatthi, o Abençoado irá me conhecer desta forma: “O bhikkhu de
nome Bhaddali é um que não se compromete com o treinamento que está contido na
Revelação do Mestre”.’ Essa circunstância não foi reconhecida por você.
“Novamente,
esta circunstância não foi reconhecida por você: ‘Muitos bhikkhus residem em
Savatthi durante o período das chuvas, e eles também irão me conhecer desta
forma: “O bhikkhu de nome Bhaddali é um que não se compromete com o treinamento
contido na Revelação do Mestre”.’ Essa circunstância não foi reconhecida por
você.
“Novamente,
esta circunstância não foi reconhecida por você: ‘Muitas bhikkhunis residem em
Savatthi durante o período das chuvas, e elas também irão me conhecer desta forma:
“O bhikkhu de nome Bhaddali é um que não se compromete com o treinamento
contido na Revelação do Mestre”.’ Essa circunstância não foi reconhecida por
você.
“Novamente,
esta circunstância não foi reconhecida por você: ‘Muitos discípulos leigos homens
e mulheres residem em Savatthi, e eles também irão me conhecer desta forma: “O
bhikkhu de nome Bhaddali é um que não se compromete com o treinamento contido
na Revelação do Mestre”.’ Essa circunstância não foi reconhecida por você.
“Novamente,
esta circunstância não foi reconhecida por você: ‘Muitos contemplativos e
brâmanes de outras seitas residem em Savatthi durante o período das chuvas, e
eles também irão me conhecer desta forma: “O bhikkhu de nome Bhaddali é um que
não se compromete com o treinamento contido na Revelação do Mestre”.’ Essa
circunstância não foi reconhecida por você.
10.
“Venerável senhor, uma transgressão me subjugou, no sentido de agir como um
tolo, confuso e desatinado; quando um preceito do treinamento estava sendo
comunicado pelo Abençoado, eu declarei em público, na Sangha dos bhikkhus,
minha discordância em comprometer-me com o treinamento. Venerável senhor, que
o Abençoado possa perdoar minha transgressão como tal, visando a contenção no
futuro.”
“Com
certeza, Bhaddali, você foi subjugado por uma transgressão, no sentido de agir
como um tolo, confuso e desatinado, quando um preceito do treinamento estava
sendo comunicado por mim, você declarou em público, na Sangha dos bhikkhus, sua
discordância em comprometer-se com o treinamento.
11. “O que
você pensa, Bhaddali? Suponha que um bhikkhu fosse alguém libertado de ambos os modos,
[5] e eu lhe dissesse: ‘Venha,
bhikkhu, deite para que o seu corpo sirva como uma prancha para que eu possa atravessar a lama.’ Ele deitaria
na lama, [6] ou ele faria alguma outra coisa, ou ele diria ‘Não’?”
“Ele deitaria, venerável senhor.”
“O que você
pensa, Bhaddali? Suponha que um bhikkhu fosse libertado através da sabedoria … que toca com o corpo … com entendimento realizado … libertado pela fé … discípulo do Dhamma
… discípulo pela fé, eu lhe dissesse: ‘Venha, bhikkhu, deite para que o seu corpo sirva como uma prancha
para que eu possa atravessar a lama.’ Ele deitaria na lama, ou ele faria alguma outra
coisa, ou ele diria ‘Não’?”
“Ele deitaria, venerável senhor.”
12. “O que
você pensa, Bhaddali? Naquela ocasião você mostrou ser libertado através da sabedoria
… que toca com o corpo … com entendimento realizado … libertado pela fé …
discípulo do Dhamma … discípulo pela fé?”
“Não,
venerável senhor.”
“Bhaddali,
naquela ocasião você foi um transgressor vazio, oco?”
13. “Sim, venerável senhor. Venerável senhor, uma transgressão me
subjugou, no sentido de agir como um tolo, confuso e desatinado, quando um preceito
do treinamento estava sendo comunicado pelo Abençoado, eu declarei em público,
na Sangha dos bhikkhus, minha discordância em comprometer-me com o treinamento.
Venerável senhor, que o Abençoado possa perdoar minha transgressão como tal,
visando a contenção no futuro.”
“Com
certeza, Bhaddali, você foi subjugado por uma transgressão, no sentido de agir
como um tolo, confuso e desatinado, quando um preceito do treinamento estava
sendo comunicado por mim, você declarou em público, na Sangha dos bhikkhus, sua
discordância em comprometer-se com o treinamento. Mas visto que você vê a sua
transgressão como tal e pede desculpas em consonância com o Dhamma, nós o
desculpamos; pois amadurece na Disciplina dos Nobres aquele que, vendo a sua
própria transgressão, pede desculpas em consonância com o Dhamma e assume a
responsabilidade pela contenção no futuro.
14. “Aqui,
Bhaddali, um bhikkhu não realiza o treinamento contido na Revelação do Mestre.
Ele pensa o seguinte: ‘E se eu fosse para um local isolado: na floresta,
à sombra de uma árvore, uma montanha, uma ravina, uma caverna em uma encosta,
um cemitério, um matagal, um espaço aberto, uma cabana vazia - talvez eu possa alcançar um estado supra-humano,
uma distinção em conhecimento e visão digna dos nobres.’ Ele vai para um desses
locais isolados. Enquanto ele vive assim isolado, o Mestre o censura, os seus sábios
companheiros na vida santa que o investigaram o censuram, devas o
censuram e ele censura a si mesmo. Sendo censurado dessa forma pelo Mestre,
pelos sábios companheiros na vida santa, pelos devas e por si mesmo, ele não
alcança nenhum estado supra-humano, nenhuma distinção em conhecimento e visão
digna dos nobres. Por que isso? Porque assim é com aquele que não realiza o
treinamento contido na Revelação do Mestre.
15. “Aqui,
Bhaddali, um bhikkhu realiza o treinamento contido na Revelação do Mestre. Ele
pensa o seguinte: ‘E se eu fosse para um local isolado: na floresta, à
sombra de uma árvore, uma montanha, uma ravina, uma caverna em uma encosta, um
cemitério, um matagal, um espaço aberto, uma cabana vazia - talvez eu possa alcançar um estado supra-humano,
uma distinção em conhecimento e visão digna dos nobres.’ Ele vai para um desses
locais isolados. Enquanto ele vive assim isolado, o Mestre não o censura, os
seus sábios companheiros na vida santa que o investigaram não o censuram,
devas não o censuram e ele não censura a si mesmo. Não sendo censurado dessa
forma pelo Mestre, pelos sábios companheiros na vida santa, pelos devas e por
si mesmo, ele alcança um estado supra-humano, uma distinção em conhecimento e
visão digna dos nobres.
16.
“Um bhikkhu afastado dos prazeres sensuais, afastado das qualidades não hábeis, entra e permanece no primeiro jhana,
que é caracterizado pelo pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e felicidade nascidos do afastamento. Por que isso?
Porque assim é com aquele que realiza o treinamento contido na Revelação do
Mestre.
17.
“Abandonando o pensamento aplicado e sustentado, ele entra e permanece no segundo
jhana ... Abandonando o êxtase ... ele entra e permanece no terceiro jhana
... Com o completo desaparecimento da felicidade ... ele entra e permanece no
quarto jhana ... Por que isso? Porque assim é com aquele que realiza o
treinamento contido na Revelação do Mestre.
18.
"Com a sua mente dessa forma concentrada, purificada, luminosa, pura,
imaculada, livre de defeitos, flexível, maleável, estável e atingindo a imperturbabilidade, ele a dirige
para o conhecimento da recordação de vidas passadas ... (igual ao MN 51, verso 24) ... Assim ele se recorda das suas
muitas vidas passadas nos seus modos e detalhes. Por que isso? Porque assim é
com aquele que realiza o treinamento contido na Revelação do Mestre.
19.
"Com a sua mente dessa forma concentrada, purificada...atingindo a
imperturbabilidade, ele a dirige para o conhecimento do falecimento e
reaparecimento dos seres ... (igual ao MN 51, verso 25)
... Dessa forma - por meio do olho divino, que é purificado e sobrepuja o
humano - ele vê seres falecendo e
renascendo, inferiores e superiores, bonitos e feios, e ele compreende como os
seres continuam de acordo com as suas ações. Por que isso? Porque assim é com
aquele que realiza o treinamento contido na Revelação do Mestre.
20.
"Com a sua mente dessa forma concentrada, purificada ... atingindo a
imperturbabilidade, ele a dirige para o conhecimento do fim das impurezas
mentais. Ele compreende como na verdade é que: ‘Isto é sofrimento’... (igual ao
MN 51, verso 26) ... Ele compreende como na verdade
é que: ‘este é o caminho que conduz à cessação das impurezas.’
21. “Ao
conhecer e ver, a sua mente está livre da impureza do desejo sensual, da
impureza de ser/existir, da impureza da ignorância. Quando ela está libertada
surge o conhecimento, ‘Libertada.’ Ele compreende que ‘O nascimento foi
destruído, a vida santa foi vivida, o que devia ser feito foi feito, não há
mais vir a ser em nenhum estado.’ Por que isso? Porque assim é com aquele que
realiza o treinamento contido na Revelação do Mestre.”
22. Em
vista disso o venerável Bhaddali perguntou: “Venerável senhor, qual é a causa,
qual é a razão, o porque, deles agirem contra algum bhikkhu reprovando-o repetidamente?
Qual é a causa, qual é a razão, o porque, deles não agirem contra algum bhikkhu
reprovando-o repetidamente?”
23. “Aqui,
Bhaddali, um bhikkhu é um transgressor constante que comete muitas
transgressões. Ao ser corrigido pelos bhikkhus, ele prevarica, desvia a
conversa, demonstra perturbação, raiva e amargor; ele não procede da forma
correta, ele não obedece, ele não se absolve, ele não diz: ‘Que eu possa agir
de tal forma a satisfazer a Sangha.’ Os bhikkhus que estão tratando deste
assunto, pensam: ‘Seria bom se os veneráveis examinassem este bhikkhu de tal
forma que este assunto contra ele não seja resolvido com rapidez.’ E os
bhikkhus examinam aquele bhikkhu de tal forma que o assunto contra ele não seja
resolvido com rapidez.
24. “Mas
aqui, um bhikkhu é um transgressor constante que comete muitas transgressões.
Ao ser corrigido pelos bhikkhus, ele não prevarica, não desvia a conversa, não
demonstra perturbação, raiva e amargor; ele procede da forma correta, ele
obedece, ele se absolve, ele diz: ‘Que eu possa agir de tal forma a satisfazer
a Sangha.’ Os bhikkhus que estão tratando deste assunto, pensam: ‘Seria bom se
os veneráveis examinassem este bhikkhu de tal forma que este assunto contra ele
seja resolvido com rapidez.’ E os bhikkhus examinam aquele bhikkhu de tal forma
que o assunto contra ele seja resolvido com rapidez.
25. “Aqui,
um bhikkhu é um transgressor ocasional que não comete muitas transgressões. Ao
ser corrigido pelos bhikkhus, ele prevarica ... (igual ao verso 23) E os
bhikkhus examinam aquele bhikkhu de tal forma que o assunto contra ele não seja
resolvido com rapidez.
26. “Mas
aqui, um bhikkhu é um transgressor ocasional que não comete muitas
transgressões. Ao ser corrigido pelos bhikkhus, ele não prevarica ... (igual ao
verso 24) ... E os bhikkhus examinam aquele bhikkhu de tal forma que o assunto
contra ele seja resolvido com rapidez.
27. “Aqui,
um bhikkhu progride com um tanto de fé e devoção.[7] Neste
caso os bhikkhus consideram o seguinte: ‘Amigos, este bhikkhu progride com um
tanto de fé e devoção. Que ele não perca esse tanto de fé e devoção, que poderá
ocorrer se agirmos contra ele reprovando-o repetidamente.’ Suponham que um
homem tenha apenas um olho; então os seus amigos e companheiros, seus pares e
parentes, protegeriam o seu olho pensando: ‘Que ele não perca seu único olho.’
Da mesma forma, um bhikkhu progride com um tanto de fé e devoção ... ‘Que ele não
perca esse tanto de fé e devoção, que poderá ocorrer se agirmos contra ele
reprovando-o repetidamente.’
28. “Essa é
a causa, essa é a razão, o porque, deles agirem contra algum bhikkhu
reprovando-o repetidamente. Essa é a causa, essa é a razão, o porque, deles não
agirem contra algum bhikkhu reprovando-o repetidamente.”
29. “Venerável
senhor, qual é a causa, qual é a razão, porque antes havia menos regras de
treinamento e mais bhikkhus realizavam o conhecimento supremo? Qual é a causa,
qual é a razão, porque há mais regras
de treinamento agora e menos bhikkhus realizam o conhecimento supremo?”
30. “Assim
é como é, Bhaddali. Quando os seres estão deteriorando e o verdadeiro Dhamma
está desaparecendo, então existem mais regras de treinamento e menos bhikkhus
realizam o conhecimento supremo. O Mestre não comunica uma regra de treinamento
para os discípulos até que certas coisas que são a base para as impurezas se
tornem manifestas na Sangha; [8] mas quando
certas coisas que são a base para as impurezas se manifestam aqui na Sangha,
então o Mestre comunica a regra de treinamento para os discípulos de maneira
que eles evitem essas coisas que são a base para as impurezas.
31. “Essas
coisas que são base para as impurezas não se tornam manifestas na Sangha até
que a Sangha tenha alcançado a grandeza; mas quando a Sangha tiver alcançado a
grandeza, então essas coisas que são a base para as impurezas se manifestarão
na Sangha, e então o Mestre comunica a regra de treinamento para os discípulos
de forma que eles evitem essas coisas que são a base para as impurezas. Essas
coisas que são a base para as impurezas não se tornam manifestas na Sangha até
que a Sangha tenha alcançado o ápice do ganho mundano … o ápice da fama … o
ápice do grande aprendizado … o ápice da reputação por muito tempo; mas quando
a Sangha tiver alcançado o ápice da reputação por muito tempo, então essas
coisas que são a base para as impurezas se manifestarão na Sangha, e então o
Mestre comunica a regra de treinamento para os discípulos de forma que eles
evitem essas coisas que são a base para as impurezas.
32. “Haviam
poucos bhikkhus, Bhadali, quando eu ensinei o Dhamma através do símile do potro
puro-sangue. Você se lembra disso, Bhaddali?”
“Não,
venerável senhor.”
“A que você
atribui isso?”
“Venerável
senhor, há muito tempo sou um daqueles que não completou o treinamento contido
na Revelação do Mestre.”
“Essa não é
a única causa ou única razão. Pois ao abranger a sua mente com a minha mente,
há muito tempo eu o conheço assim: ‘Quando estou ensinando o Dhamma, este homem
tolo não dá importância, não dá atenção, não se engaja com toda a mente, não
ouve o Dhamma com ouvidos ávidos.’ Mesmo assim, Bhaddali, eu lhe ensinarei o
Dhamma através do símile do potro puro-sangue. Ouça e preste muita atenção
àquilo que eu vou dizer.”
“Sim, venerável
senhor,” o venerável Bhaddali respondeu. O Abençoado disse o seguinte:
33. “Bhaddali, suponha que um treinador habilidoso de cavalos obtenha um
fino potro puro-sangue. Ele primeiro faz com que o potro se acostume a usar o
cabresto. Enquanto ele estiver sendo acostumado a usar o cabresto, porque ele
está fazendo algo que nunca fez antes, ele se contorcerá, ficará atormentado e
vacilará, mas através da repetição constante e da prática gradual, ele se
pacifica naquela ação.
“Quando o
potro tiver se pacificado naquela ação, o treinador de cavalos progredirá
fazendo com que ele se acostume aos arreios. Enquanto ele estiver sendo
acostumado aos arreios, porque ele está fazendo algo que nunca fez antes, ele
se contorcerá, ficará atormentado e vacilará, mas através da repetição
constante e da prática gradual, ele se pacifica naquela ação.
“Quando o
potro tiver se pacificado naquela ação, o treinador de cavalos progredirá
fazendo com que ele se comporte mantendo o passo, marchando em círculos,
empinando, galopando, acelerando, com as qualidades reais, com a herança real,
com a mais alta velocidade, com a maior agilidade, com a mais elevada
docilidade. Enquanto ele estiver sendo acostumado aos arreios, porque ele está
fazendo algo que nunca fez antes, ele se contorcerá, ficará atormentado e
vacilará, mas através da repetição constante e da prática gradual, ele se
pacifica naquela ação.
“Quando o
potro tiver se pacificado nessas ações, o treinador de cavalos o recompensará
ainda mais com uma massagem e escovação. Quando um fino potro puro-sangue
possui esses dez elementos, ele é digno de um rei, de estar a serviço do rei e
considerado como um dos tesouros de um rei.
34. “Da mesma forma, Bhaddali, quando um bhikkhu possui dez qualidades,
ele é merecedor de dádivas, merecedor de hospitalidade, merecedor de oferendas,
merecedor de saudações com reverência, um campo inigualável de mérito para o
mundo. Quais são as dez? Aqui, Bhaddali, um bhikkhu possui o entendimento
correto daquele que está além do treinamento,[9] o
pensamento correto daquele que está além do treinamento, a linguagem correta
daquele que está além do treinamento, a ação correta daquele que está além do
treinamento, o modo de vida correto daquele que está além do treinamento, o
esforço correto daquele que está além do treinamento, a atenção plena correta
daquele que está além do treinamento, a concentração correta daquele que está
além do treinamento, o conhecimento correto daquele que está além do
treinamento e a libertação correta daquele que está além do treinamento.[10] Quando um bhikkhu possui essas dez
qualidades, ele é merecedor de dádivas, merecedor de hospitalidade, merecedor
de oferendas, merecedor de saudações com reverência, um campo inigualável de
mérito para o mundo.”
Isso foi o
que disse o Abençoado. O venerável Bhaddali ficou satisfeito e contente com as
palavras do Abençoado.
Notas:
[1] Isto se refere à prática do Buda de comer apenas uma única refeição
antes do meio dia. De acordo com o Patimokkha, os bhikkhus são proibidos de
comer do meio dia até o amanhecer do dia seguinte. Embora a prática de uma só
refeição seja recomendada, ela não é requerida. [Retorna]
[2] MA: Ele ficaria preocupado e ansioso com o fato de poder, ou não,
viver a vida santa por toda a sua vida. [Retorna]
[3] A sua ansiedade persistiria porque ele teria que terminar de comer o
restante da refeição antes do meio dia. [Retorna]
[4] Esta é a regra que proíbe comer fora do horário adequado. Veja
Vinaya Par 37jiv.35. [Retorna]
[5] Os sete termos usados
nesta seção representam a classificação dos indivíduos nobres em sete níveis.
Essa classificação é explicada no MN 70.14-21. [Retorna]
[6] MA aponta que o Buda nunca daria uma ordem dessas aos seus
discípulos, mas diz isso para enfatizar o comportamento recalcitrante de
Bhaddali em relação à prática de comer apenas antes do meio dia. [Retorna]
[7] MA: Ele se mantém através de um tanto de fé mundana e devoção mundana
em relação ao seu preceptor e mestre. Como os demais bhikkhus o auxiliam, ele
permanece na vida santa e poderá no final se tornar um grande bhikkhu com a
realização do conhecimento direto. [Retorna]
[8] Este trecho se refere ao princípio de que o Buda não define uma
regra de treinamento até que surja um caso que requeira a promulgação de uma
regra de treinamento apropriada. Veja Vinaya Par 1jiii.9-10. [Retorna]
[9] “Além do treinamento” (asekha) é um arahant. MA explica essas
dez qualidades como constituindo o fruto do estado de arahant. [Retorna]
[10] Conhecimento correto (samma ñana) é o conhecimento que
pertence ao fruto do estado de arahant, libertação correta (samma vimutti)
a libertação do arahant de todas as impurezas. [Retorna]
Revisado: 27 Fevereiro 2008
Copyright © 2000 - 2021, Acesso ao Insight - Michael Beisert: editor, Flavio Maia: designer.