Majjhima Nikaya 112
Chabbisodhana Sutta
A Purificação Sêxtupla
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1. Assim
ouvi. Em certa ocasião o Abençoado estava em Savatthi no Bosque de Jeta, no
Parque de Anathapindika. Lá ele se dirigiu aos monges desta forma: “Bhikkhus” –
“Venerável Senhor,” eles responderam. O Abençoado disse o seguinte:
2. “Aqui,
bhikkhus, um bhikkhu faz uma declaração baseada no conhecimento supremo da
seguinte forma: ‘Eu compreendo: O nascimento foi destruído, a vida santa foi
vivida, o que deveria ser feito foi feito, não há mais vir a ser a nenhum
estado.’
3. “As
palavras desse bhikkhu não devem nem ser aprovadas nem ser reprovadas. Sem
aprovar nem reprovar, uma pergunta deve ser feita assim: ‘Amigo, existem quatro
tipos de expressões proclamadas corretamente pelo Abençoado que sabe e vê,
um arahant, perfeitamente iluminado. Quais quatro? Relatar o visto tal qual é
visto; relatar o ouvido tal qual é ouvido; relatar o sentido tal qual é
sentido; relatar o conscientizado tal qual é conscientizado. [1] Esses, amigos são os quatro tipos de expressões proclamadas
corretamente pelo Abençoado que sabe e vê, um arahant, perfeitamente iluminado.
Como um venerável sabe, como é que ele vê, em relação a esses quatro tipos de
expressões, de modo que através do desapego a sua mente esteja libertada das
impurezas?’
4.
“Bhikkhus, quando um bhikkhu destruiu as impurezas, viveu a vida santa, fez o
que devia ser feito, depôs o fardo, alcançou o verdadeiro objetivo, destruiu os
grilhões da existência e está completamente libertado através do conhecimento
supremo, esta é a natureza da sua resposta:
“’Amigos,
em relação ao visto eu permaneço sem atração, sem repulsa, independente,
desapegado, livre, dissociado, com a mente livre de impedimentos. [2]
Em relação ao ouvido ... Em relação ao sentido ... Em relação ao
conscientizado eu permaneço sem atração, sem repulsa, independente, desapegado,
livre, dissociado, com a mente livre de impedimentos.
“’É por
saber assim, ver assim, em relação a esses quatro tipos de expressões, que
através do desapego a minha mente está libertada das impurezas.’
5. “Dizendo
‘muito bem,’ ele pode ficar contente e satisfeito com as palavras daquele
bhikkhu. Com isso, uma outra questão deve ser formulada assim:
“’Amigo, há
esses cinco agregados influenciados pelo apego, proclamados corretamente pelo
Abençoado que sabe e vê, um arahant, perfeitamente iluminado. Quais cinco? Estes
são o agregado da forma material influenciado pelo apego, o agregado da
sensação influenciado pelo apego, o agregado da percepção influenciado pelo
apego, o agregado das formações influenciado pelo apego e o agregado da
consciência influenciado pelo apego. Esses, amigo, são os cinco agregados
influenciados pelo apego, proclamados corretamente pelo Abençoado que sabe e
vê, um arahant, perfeitamente iluminado. Como um venerável sabe, como é que ele vê,
em relação a esses cinco agregados influenciados pelo apego, de modo que
através do desapego a sua mente esteja libertada das impurezas?’
6.
“Bhikkhus, quando um bhikkhu destruiu as impurezas ... e está completamente
libertado através do conhecimento supremo, esta é a natureza da sua resposta:
“’Amigos,
tendo sabido que a forma material é débil, desaparece e não proporciona
conforto, com a destruição, desaparecimento, cessação, renúncia e abandono da
atração e apego em relação à forma material, dos pontos de vistas, adesões e
tendências subjacentes em relação à forma material, [3] eu compreendi que a minha mente está libertada.
“’Amigos,
tendo sabido que a sensação ... “’Amigos, tendo sabido que a percepção ...
“’Amigos, tendo sabido que as formações ... “’Amigos, tendo sabido que a
consciência é débil, desaparece e não proporciona conforto, com a destruição,
desaparecimento, cessação, renúncia e abandono da atração e apego em relação à
consciência; dos pontos de vistas, adesões e tendências subjacentes em relação
à consciência, eu compreendi que a minha mente está libertada.
“’É por
saber assim, ver assim, em relação a esses cinco agregados influenciados pelo
apego, que através do desapego a minha mente está libertada das impurezas.’
7. “Dizendo
‘muito bem,’ ele pode ficar contente e satisfeito com as palavras daquele
bhikkhu. Com isso, uma outra questão deve ser formulada assim:
“’Amigo, há
esses seis elementos proclamados corretamente pelo Abençoado que sabe e vê,
um arahant, perfeitamente iluminado. Quais seis? Estes são o elemento terra, o
elemento água, o elemento fogo, o elemento ar, o elemento espaço e o elemento
consciência. Esses, amigos, são os seis elementos proclamados corretamente pelo
Abençoado que sabe e vê, um arahant, perfeitamente iluminado. Como um venerável sabe,
como é que ele vê, em relação a esses seis elementos, de modo que através do
desapego a sua mente esteja libertada das impurezas?’
8.
“Bhikkhus, quando um bhikkhu destruiu as impurezas ... e está completamente libertado
através do conhecimento supremo, esta é a natureza da sua resposta:
“’Amigos,
eu tratei o elemento terra como não-eu, sem um eu baseado no elemento terra. [4] E com a destruição, desaparecimento, cessação,
renúncia e abandono da atração e apego baseados no elemento terra; dos pontos
de vistas, adesões e tendências subjacentes baseados no elemento terra, eu compreendi que a minha mente está
libertada.
“’Amigos,
eu tratei o elemento água ... o elemento fogo ... o elemento ar ... o elemento
espaço ... o elemento consciência como não-eu, sem um eu baseado no elemento
consciência. E com a destruição, desaparecimento, cessação, renúncia e abandono
da atração e apego baseados no elemento consciência; dos pontos de vistas,
adesões e tendências subjacentes baseadas no elemento consciência, eu compreendi que a minha mente está
libertada.
“’É por
saber assim, ver assim, em relação a esses seis elementos, que através do
desapego a minha mente está libertada das impurezas.’
9. “Dizendo
‘muito bem,’ ele pode ficar contente e satisfeito com as palavras daquele
bhikkhu. Com isso, uma outra questão deve ser formulada assim:
“Mas,
amigo, há essas seis bases internas e externas proclamadas corretamente pelo
Abençoado que sabe e vê, um arahant, perfeitamente iluminado. Quais seis? Estas são
o olho e as formas, o ouvido e os sons, o nariz e os aromas, a língua e os
sabores, o corpo e os tangíveis, e a mente e os objetos mentais. Essas, amigos,
são as seis bases internas e externas proclamadas corretamente pelo Abençoado
que sabe e vê, um arahant, perfeitamente iluminado. Como um venerável sabe, como é
que ele vê, em relação a essas seis bases internas e externas, de modo que
através do desapego a sua mente esteja libertada das impurezas?’
10. “Bhikkhus,
quando um bhikkhu destruiu as impurezas ... e está completamente libertado
através do conhecimento supremo, esta é a natureza da sua resposta:
“’Amigos,
com a destruição, desaparecimento, cessação, renúncia e abandono da paixão,
desejo, afeição, sede, cobiça, ambição e dos pontos de vistas, adesões e
tendências subjacentes em relação ao olho, formas, consciência no olho e coisas
que podem ser conscientizadas pela consciência no olho, eu
compreendi que a minha mente está libertada.[5]
“’Com a destruição, desaparecimento, cessação, renúncia e abandono da
paixão, desejo, afeição, sede, cobiça, ambição e dos pontos de vistas, adesões
e tendências subjacentes, em relação ao ouvido, sons, consciência no ouvido e
coisas que podem ser conscientizadas pela consciência no ouvido
... em relação ao nariz, aromas, consciência no nariz e coisas que podem ser
conscientizadas pela consciência no nariz .... em relação à
língua, sabores, consciência na língua e coisas que podem ser conscientizadas pela na língua ... em relação ao corpo, tangíveis,
consciência no corpo e coisas que podem ser conscientizadas pela no corpo ... em relação à mente, objetos mentais, consciência na
mente e coisas que podem ser conscientizadas pela consciência na
mente, eu compreendi que a minha mente está libertada.
“’É por
saber assim, ver assim, em relação a essas seis bases internas e externas, que
através do desapego a minha mente está libertada das impurezas.’
11.
“Dizendo ‘muito bem,’ ele pode ficar contente e satisfeito com as palavras
daquele bhikkhu. Com isso, uma outra questão deve ser formulada assim:
“’Mas,
amigo, como o venerável sabe, como é que ele vê, de modo que em relação a este
corpo com a sua consciência e todos os sinais externos, a fabricação de um eu,
a fabricação do meu e a tendência subjacente à presunção foram nele
completamente erradicadas?’ [6]
12. “Bhikkhus, quando um bhikkhu destruiu as impurezas ... e está
completamente libertado através do conhecimento supremo, esta é a natureza da
sua resposta:
“’Amigos,
antes quando eu vivia a vida em família eu era ignorante. Então, o Tathagata ou
um discípulo dele me ensinou o Dhamma. Ao ouvir o Dhamma eu adquiri fé no
Tathagata, possuindo aquela fé, eu considerei o seguinte: “A vida em família é
confinada, um caminho empoeirado. A vida santa é como o ar livre. Não é fácil
viver em casa e praticar a vida santa completamente perfeita, totalmente pura,
como uma concha polida. E se eu raspasse o meu cabelo e barba, vestisse os
mantos de cor ocre e seguisse a vida santa?” Mais tarde, abandonando uma
fortuna grande ou pequena, deixando o meu círculo de parentes, grande ou
pequeno, eu raspei o meu cabelo e barba, vesti o manto de cor ocre e segui a
vida santa.
13-17.
“’Tendo seguido a vida santa e de posse do treinamento e estilo de vida de um
bhikkhu ... (igual ao MN 51.14-19) ... purifiquei a mente
da dúvida.
18. “’Tendo
assim abandonado esses cinco obstáculos, imperfeições da mente que enfraquecem
a sabedoria, afastado dos prazeres sensuais, afastado das qualidades
não hábeis, entrei e permaneci no primeiro jhana, que é caracterizado pelo
pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e prazer nascidos do
afastamento. Abandonando o pensamento aplicado e sustentado, entrei e permaneci
no segundo jhana ... Abandonando o êxtase ... entrei e permaneci no
terceiro jhana ... Com o completo desaparecimento da felicidade ... entrei e
permaneci no quarto jhana, que possui nem felicidade nem sofrimento, com a atenção plena e a equanimidade purificadas.
19. “’Com a
minha mente, dessa forma concentrada, purificada, luminosa, pura, imaculada,
livre de defeitos, flexível, maleável, estável e atingindo a
imperturbabilidade, eu a dirigi para o conhecimento do fim das impurezas
mentais. [7] Eu compreendi como na verdade é que:
“Isto é sofrimento” ... “Esta é a origem do sofrimento” ... “Esta é a cessação
do sofrimento” ... “Este é o caminho que conduz à cessação do sofrimento.” Eu
compreendi como na verdade é que: “Estas são as impurezas” ... “Esta é a origem
das impurezas” ... “Esta é a cessação das impurezas” ... “Este é o caminho que
conduz à cessação das impurezas.”
20. “’Ao
conhecer e ver, a minha mente estava livre da impureza do desejo sensual, da
impureza de ser/existir, da impureza da ignorância. Quando ela estava libertada
surgiu o conhecimento, ‘Libertada.’ Eu compreendi que ‘O nascimento foi
destruído, a vida santa foi vivida, o que deveria ser feito foi feito, não há
mais vir a ser a nenhum estado.’
“’É por
saber assim, ver assim, amigos, que em relação a este corpo com a sua
consciência e todos os sinais externos, a fabricação de um eu, a fabricação do
meu e a tendência subjacente à presunção foram em mim completamente
erradicadas.’
21. “Dizendo
‘muito bem,’ ele pode ficar contente e satisfeito com as palavras daquele
bhikkhu. Tendo feito isso, ele deveria dizer: ‘É um ganho para nós, amigo, é um
grande ganho para nós, amigo, que temos um tal companheiro na vida santa como o
venerável.’” [8]
Isso foi o que disse o Abençoado. Os bhikkhus ficaram satisfeitos e
contentes com as palavras do Abençoado.
Notas:
[1] Veja o MN 1 – nota
17. [Retorna]
[2] Igual ao MN 111.4,
mas aqui estes termos têm a intenção de expressar a completa erradicação das
contaminações através do caminho de arahant. [Retorna]
[3] MA: Todos esses termos significam o desejo
e as idéias e opiniões. [Retorna]
[4] MA: A primeira frase nega a consideração
do elemento terra como um eu, a segunda nega a consideração dos fatores
materiais e mentais, além do elemento terra, como um eu. O mesmo método se
aplica aos demais elementos. [Retorna]
[5] O texto parece ser redundante ao mencionar
ambas, as formas, (rupa), e as coisas que podem ser conscientizadas pela no olho, (cakkhuviññana-viññatabba dhamma).
MA menciona duas opiniões sugeridas para solucionar este problema. Uma
argumenta que “formas” se refere a coisas visíveis que de fato são percebidas,
“coisas que podem ser percebidas...” aqueles objetos visíveis que cessam sem
serem percebidos. A segunda diz que o primeiro termo significa todas as formas
sem distinção, o último termo os três agregados mentais que funcionam em
associação com a consciência no olho. [Retorna]
[6] MA explica a “fabricação de um eu”, (ahankara),
como presunção e “fabricação do meu”, (mamankara), como desejo. “Todos
os sinais externos”, (nimitta), são os objetos externos. [Retorna]
[7] MA: A recordação das vidas passadas e o
conhecimento do falecimento e renascimento dos seres (em geral incluídos neste
tipo de exposição) estão omitidos porque a pergunta original no verso 11 dizia
respeito ao estado de arahant e não às realizações mundanas. [Retorna]
[8] MA diz que este sutta também é chamado Ekavissajjita Sutta, (O Discurso com a Resposta
Única). MA vê dificuldades em justificar o “sêxtupla” mencionado no título
original, visto que apenas cinco perguntas e respostas estão refletidas no discurso.
MA sugere dividir o último item em dois – o próprio corpo com a sua consciência
e o corpo e consciência dos outros – e também menciona uma outra opinião que
diz que os quatro alimentos deveriam ser incluídos como sexta
pergunta/resposta. Nenhuma dessas sugestões, no entanto, é convincente e parece
ser provável que uma seção do discurso tenha sido perdida. [Retorna]
Revisado: 9 Setembro 2014
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