Digha Nikaya 28
Sampasadaniya Sutta
Serena Convicção
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1. Assim
ouvi. Em certa ocasião, o Abençoado estava em Nalanda, no manguezal de
Pavarika. Então, o Venerável Sariputta foi até o Abençoado e depois de cumprimentá-lo
sentou a um lado e disse: [1] “Venerável
senhor, eu tenho tamanha confiança no Abençoado que acredito que não existe ou
nunca existirá no presente um outro contemplativo ou brâmane com mais
conhecimento do que o Abençoado com respeito à iluminação.”
“Sublime de fato é essa sua afirmação bramada, Sariputta, você rugiu o definitivo e categórico rugido do leão: ‘Venerável senhor, eu tenho tamanha confiança no Abençoado que acredito que não existe ou nunca existirá no presente um outro contemplativo ou brâmane com mais conhecimento do que o Abençoado com respeito à iluminação.’ Você agora, Sariputta, compreendeu com a sua mente as mentes de todos os Arahants, os Perfeitamente Iluminados, que surgiram no passado e assim compreendeu: ‘Esses Abençoados tinham tal virtude ou tais qualidades, ou tal sabedoria, ou tal permanência, ou tal libertação’?”
“Não, venerável senhor.”
“Então, Sariputta, você compreendeu com a sua mente as mentes de todos os Arahants, os Perfeitamente Iluminados, que surgirão no futuro e assim compreendeu: ‘Esses Abençoados terão tal virtude ou tais qualidades, ou tal sabedoria, ou tal permanência, ou tal libertação’?”
“Não, venerável senhor.”
“Então, Sariputta, você compreendeu com a sua mente a minha própria mente – eu sendo no momento o Arahant, o Perfeitamente Iluminado - e assim compreendeu: ‘O Abençoado tem tal virtude ou tais qualidades, ou tal sabedoria, ou tal permanência, ou tal libertação’?”
“Não, venerável senhor.”
“Sariputta, se você
não tem o conhecimento compreendendo as mentes dos Arahants, os Perfeitamente
Iluminados do passado, do futuro e do presente, porque você faz essa sublime
afirmação bramada e ruge o definitivo e categórico rugido do leão: ‘Venerável
senhor, eu tenho tamanha confiança no Abençoado que acredito que não existe ou
nunca existirá no presente um outro contemplativo ou brâmane com mais
conhecimento do que o Abençoado com respeito à iluminação.’?”
2. “Eu não tenho, venerável senhor, o conhecimento compreendendo as mentes dos Arahants, os Perfeitamente Iluminados do passado, do futuro e do presente, mas ainda assim compreendi isso através da inferência do Dhamma. Suponha, venerável senhor, que um rei tivesse uma cidade fronteiriça com sólidas muralhas, proteções e abóbadas e com um único portão. O guardião ali postado seria sábio, competente e inteligente; alguém que não permite a entrada de desconhecidos e admite a entrada dos conhecidos. Enquanto ele patrulha, seguindo o caminho que circunda a cidade, ele não vê uma fissura ou abertura nas muralhas, grande o suficiente mesmo para permitir que um gato passe. Ele poderia pensar: ‘Quaisquer criaturas com bom tamanho que entrem ou saiam desta cidade, todas entram e saem através deste portão.’
Do mesmo modo, venerável senhor, eu compreendi isso através da
inferência do Dhamma: Todos os Arahants, Perfeitamente Iluminados, que surgiram
no passado, todos esses Abençoados primeiro abandonaram os cinco obstáculos,
corrupções da mente, enfraquecedores da sabedoria; e depois, com as suas mentes
bem estabelecidas nos quatro fundamentos da atenção plena, eles desenvolveram
corretamente os sete fatores da iluminação; e dessa forma eles despertaram para
a insuperável perfeita iluminação. E, venerável senhor, todos os Arahants,
Perfeitamente Iluminados, que irão surgir no futuro, todos esses Abençoados
primeiro irão abandonar os cinco obstáculos, corrupções da mente e
enfraquecedores da sabedoria; e depois, com as suas mentes bem estabelecidas
nos quatro fundamentos da atenção plena, eles irão desenvolver corretamente os
sete fatores da iluminação; e dessa forma eles irão despertar para a
insuperável perfeita iluminação. E, venerável senhor, o Abençoado, que é no
presente o Arahant, o Perfeitamente Iluminado, primeiro abandonou os cinco
obstáculos, corrupções da mente, enfraquecedores da sabedoria; e depois, com a
sua mente bem estabelecida nos quatro fundamentos da atenção plena, desenvolveu corretamente os sete fatores da
iluminação; e dessa forma despertou para a insuperável perfeita iluminação."
“Então, em
certa ocasião fui até o Abençoado para ouvir o Dhamma. E o Abençoado me ensinou
o Dhamma de forma excelente e perfeita, contrastando o escuro com o claro. Ao
fazer isso, eu realizei o insight daquele Dhamma e entre várias coisas eu
estabeleci uma em particular, que foi a serena convicção no Mestre, [2] que o Abençoado é um Buda perfeitamente
iluminado, que o Dhamma é bem proclamado pelo Abençoado e que a Sangha dos
bhikkhus pratica o bom caminho.
3. “Também,
venerável senhor, insuperável é o modo como o Abençoado ensina o Dhamma com
relação aos fatores hábeis, isto é: os quatro fundamentos da atenção plena, os
quatro esforços corretos, as quatro bases para o poder, as cinco faculdades, os
cinco poderes, os sete fatores da iluminação, o nobre caminho óctuplo. Através
destes um bhikkhu, com a eliminação das impurezas mentais, pode permanecer num
estado livre de impurezas com a libertação da mente e a libertação através da
sabedoria, tendo conhecido e manifestado isso para si mesmo no aqui e agora.
Esse é o ensinamento insuperável com relação aos fatores hábeis. Isso o
Abençoado compreende completamente e além disso não há nada mais para ser
compreendido; e com relação à compreensão desses fatores hábeis, não há nenhum
outro contemplativo ou Brâmane mais eminente ou iluminado que o Abençoado.
4- “Também,
insuperável é o modo como o Abençoado ensina o Dhamma com relação à elucidação
das bases dos sentidos: há as seis bases dos sentidos internas e externas: olho e
formas, ouvido e sons, nariz e aromas, língua e sabores, corpo e tangíveis,
mente e objetos mentais. Esse é o
ensinamento insuperável com relação à elucidação das bases dos sentidos ...
5. “Também, insuperável é o modo como o Abençoado ensina o Dhamma com
relação às formas de renascimento, de quatro modos: alguém se estabelece no
ventre materno sem saber, permanece sem saber e sai sem saber. Esse é o
primeiro modo. Ou, alguém e se estabelece no ventre materno com saber,
permanece sem saber e sai sem saber. Esse é o segundo modo. Ou, alguém se estabelece
no ventre materno com saber, permanece com saber e sai sem saber. Esse é o
terceiro modo. Ou, alguém se estabelece no ventre materno com saber, permanece
com saber e sai com saber. Esse é o quarto modo. Esse é o ensinamento
insuperável com relação às formas de renascimento, de quatro modos ...
6. “Também,
insuperável é o modo como o Abençoado ensina o Dhamma com relação à telepatia,
de quatro modos. [3] Através de um sinal
visível ele diz: ‘Isso é o que você está pensando, assim é a sua mente, o seu
pensamento é assim.’ E o tanto que ele declarar, assim é, não de outra forma.
Esse é o primeiro modo. Ou, ele não diz através de um sinal visível mas ouvindo
um som feito por humanos, não humanos, ou devas ... Esse é o segundo modo. Ou
ele diz não através de um som, mas aplicando a mente e se ocupando com algo
transmitido pelo som ... Esse é o terceiro modo. Ou ele diz, não com base em
algum desses modos, mas ao alcançar um estado de concentração mental sem o
pensamento aplicado e sustentado, adivinhando os pensamentos na mente ele diz:
À medida que a força mental de fulano for dirigida para algo, os seus
pensamentos se voltarão para isso.’ E o
tanto que ele declarar, assim é, não de outra forma. Esse é o quarto modo. Esse
é o ensinamento insuperável com relação à telepatia, de quatro modos ...
7. “Também,
insuperável é o modo como o Abençoado ensina o Dhamma com relação à realização
da visão, [4] de quatro modos. Aqui, um
contemplativo ou Brâmane através do ardor, esforço, devoção, diligência e
atenção correta, alcança tal concentração da mente que ele examina esse mesmo
corpo para cima a partir da sola dos pés, e para baixo a partir do topo da
cabeça, limitado pela pele e repleto de muitos tipos de impurezas repelentes, portanto:
‘Neste corpo existem cabelos, pêlos do corpo, unhas, dentes, pele, carne,
tendões, ossos, tutano, rins, coração, fígado, diafragma, baço, pulmões,
intestino grosso, intestino delgado, conteúdo do estômago, fezes, bílis,
fleuma, pus, sangue, suor, gordura, lágrimas, saliva, muco, líquido sinovial, e
urina.’ (igual ao DN 22.10) Essa é a primeira
realização da visão. Novamente, tendo feito isso e ainda mais, ele examina os
ossos cobertos pela pele, músculos e sangue. Essa é a segunda realização.
Novamente, tendo feito isso e ainda mais, ele compreende o contínuo da
consciência estabelecido neste mundo e no seguinte. [5] Essa é a terceira realização. Novamente, tendo feito isso e ainda
mais, ele compreende o contínuo da consciência que não é estabelecido neste
mundo e tampouco no seguinte. [6] Essa é a
quarta realização. Esse é o ensinamento insuperável com relação à realização da
visão, de quatro modos.
8. “Também, insuperável é o modo como o Abençoado ensina o Dhamma com
relação aos diferentes tipos de pessoas. [7] Há
esses sete tipos: uma pessoa libertada de ambos os modos, libertada através da
sabedoria, que toca com o corpo, com entendimento realizado, libertada pela fé,
discípulo do Dhamma, discípulo pela fé. [8] Esse
é o ensinamento insuperável com relação aos diferentes tipos de pessoas ...
9. “Também,
insuperável é o modo como o Abençoado ensina o Dhamma com relação à prática. Há
esses sete fatores da iluminação: atenção plena, investigação dos fenômenos,
energia, êxtase, tranqüilidade, concentração, equanimidade. Esse é o
ensinamento insuperável com relação à prática...
10. “Também, insuperável é o modo como o Abençoado ensina o Dhamma com
relação aos tipos de prática, [9] que são
quatro: prática dolorosa com lento conhecimento direto, prática dolorosa com rápido
conhecimento direto, prática prazerosa com lento conhecimento direto, prática prazerosa
com rápido conhecimento direto. No caso da prática dolorosa com lento conhecimento direto, o progresso é pobre
devido a ambos, a dor e a lentidão. No caso da prática dolorosa com rápido
conhecimento direto o progresso é pobre devido à dor. No caso da prática prazerosa com
lento conhecimento direto, o progresso é pobre devido à lentidão. No caso da prática
prazerosa com rápido conhecimento direto o progresso é excelente devido a ambos, o prazer
e a rapidez de compreensão. Esse é o ensinamento insuperável com relação aos
tipos de prática ...
11.
“Também, insuperável é o modo como o Abençoado ensina o Dhamma com relação à
conduta adequada com a linguagem: como alguém deve evitar não somente todo o tipo
de linguagem que envolva a mentira, mas também a linguagem que traz discórdia
ou caracterizada pelo desdém triunfante, e ele deve empregar palavras sábias,
palavras apreciadas, no momento adequado. Esse é o ensinamento insuperável com
relação à conduta adequada com a linguagem ...
12.
“Também, insuperável é o modo como o Abençoado ensina o Dhamma com relação à
conduta virtuosa apropriada. Alguém deve ser honesto e sincero, sem empregar a
fraude, mexericos, insinuações ou humilhações, sem visar a busca constante de
mais ganhos, mas com as portas dos sentidos protegidas, moderado, pacificador,
que se dedica à atenção plena, diligente, energético, um meditador, com a
linguagem adequada, com o comportamento perfeito, decidido e sensível, que não
vive em busca de prazeres sensuais, mas atento e prudente. Esse é o ensinamento
insuperável com relação à conduta virtuosa apropriada ...
13.
“Também, insuperável é o modo como o Abençoado ensina o Dhamma com relação aos
modos como as instruções são recebidas, que são de quatro tipos: O Abençoado
sabe, observando através da sua própria atenção com sabedoria: [10]
‘Este aqui, seguindo as instruções, com a completa destruição
de três grilhões irá entrar na correnteza, não mais destinado aos mundos
inferiores, com o destino fixo, ele tem a iluminação como destino’; ‘aquele
ali, seguindo as instruções, com a completa destruição de três grilhões e com a
atenuação da cobiça, raiva e delusão, se tornará um daqueles que retorna uma
vez, e tendo retornado uma vez mais a este mundo, dará um fim ao sofrimento’;
‘aquele outro, seguindo as instruções, com a completa destruição dos cinco
primeiros grilhões, irá renascer espontaneamente nas Moradas Puras e lá irá
realizar o parinibbana sem nunca mais retornar daquele mundo’; ‘aquele,
seguindo as instruções, com a completa destruição das impurezas, permanecerá
num estado livre de impurezas com a libertação da mente e a libertação através da
sabedoria, tendo conhecido e manifestado isso para si mesmo no aqui e agora.’
Esse é o ensinamento insuperável com relação aos modos como as instruções são
recebidas ...
14.
“Também, insuperável é o modo como o Abençoado ensina o Dhamma com relação à
compreensão da libertação dos outros. O Abençoado sabe, observando através da
sua própria atenção com sabedoria: ‘Este aqui, com a completa destruição de
três grilhões irá entrar na correnteza ...’ depois, com a atenuação da cobiça,
raiva e delusão, se tornará um daqueles que retorna uma vez ...; com a completa
destruição dos cinco primeiros grilhões, irá renascer espontaneamente ...; com
a completa destruição das impurezas, permanecerá num estado livre de impurezas
com a libertação da mente e a libertação através da sabedoria ...’
15.
“Também, insuperável é o modo como o Abençoado ensina o Dhamma com relação à
doutrina da eternidade. [11] Há três teorias
desse tipo: (1) Aqui, um contemplativo ou brâmane, através do ardor, esforço
... , se recorda das vidas passadas ... até várias centenas de milhares de
nascimentos ... (igual ao DN 1.1.31) Assim, ele se
recorda das suas muitas vidas passadas nos seus modos e detalhes. E ele diz:
‘Eu conheço o passado, se o universo estava se expandindo ou contraindo, [12] mas eu não conheço o futuro, se haverá
expansão ou contração. O eu e o mundo são eternos, estéreis como o pico de uma
montanha, plantados firmes como um pilar. Esses seres correm em círculos,
transitam, falecem e renascem, mas assim permanecem eternamente.’ (2)
Novamente, um contemplativo ou brâmane
se recorda das existências passadas ... (igual a (1), mas “até vinte
ciclos ...”). (3) Novamente, um
contemplativo ou brâmane se recorda das
existências passadas ... (igual a (1), mas “até dez, vinte, trinta, quarenta
ciclos ...”). Esse é o ensinamento insuperável com relação à doutrina da
eternidade ...
16.
“Também, insuperável é o modo como o Abençoado ensina o Dhamma com relação às
vidas passadas. Aqui, um contemplativo
ou brâmane ... se recorda das suas muitas vidas passadas, isto é, um
nascimento, dois nascimentos, três nascimentos, quatro, cinco, dez, vinte,
trinta, quarenta, cinqüenta, cem, mil, cem mil, muitos ciclos cósmicos de
contração, muitos ciclos cósmicos de expansão, muitos ciclos cósmicos de
contração e expansão: ‘Lá eu tinha tal nome, pertencia a tal clã, tinha tal
aparência. Assim era o meu alimento, assim era a minha experiência de prazer e
dor, assim foi o fim da minha vida. Falecendo daquele estado, eu ressurgi ali.
Ali eu também tinha tal nome, pertencia a tal clã, tinha tal aparência. Assim
era o meu alimento, assim era a minha experiência de prazer e dor, assim foi o
fim da minha vida. Falecendo daquele estado, eu ressurgi aqui.’ Assim ele se
recorda das suas muitas vidas passadas nos seus modos e detalhes. Há devas cujo
tempo de vida é incalculável, no entanto qualquer existência que eles tenham
experimentado antes, quer seja no reino da matéria sutil ou no reino imaterial,
quer seja consciente, inconsciente ou nem consciente, nem inconsciente, eles se
recordam dos detalhes dessas vidas passadas. Esse é o ensinamento insuperável
com relação às vidas passadas ...
17.
“Também, insuperável é o modo como o Abençoado ensina o Dhamma com relação ao
conhecimento da morte e renascimento dos seres. Aqui, um contemplativo ou
brâmane ... alcança uma tal concentração da mente que por meio do olho divino,
que é purificado e sobrepuja o humano, ele vê seres falecendo e renascendo,
inferiores e superiores, bonitos e feios, afortunados e desafortunados. Ele
compreende como os seres prosseguem de acordo com as suas ações desta forma:
‘Esses seres – dotados de má conduta com o corpo, linguagem e mente, que insultam os nobres, com o entendimento incorreto e realizando
ações sob a influência do entendimento incorreto – com a dissolução do corpo,
após a morte, renasceram no plano de privação, um destino ruim, os planos
inferiores, no inferno. Porém estes seres - dotados de boa conduta com o corpo,
linguagem e mente, que não insultam os
nobres, com o entendimento correto e realizando ações sob a
influência do entendimento correto – com a dissolução do corpo, após a morte,
renasceram num destino feliz, no paraíso.’ Dessa forma - por meio do olho
divino, que é purificado e sobrepuja o humano, ele vê seres falecendo e
renascendo, inferiores e superiores, bonitos e feios, afortunados e
desafortunados, e ele compreende como os seres prosseguem de acordo com as suas
ações ... Esse é o ensinamento insuperável com relação ao conhecimento da morte
e renascimento dos seres ...
18.
“Também, insuperável é o modo como o Abençoado ensina o Dhamma com relação aos
poderes supra-humanos. Estes são de dois tipos. Há o tipo que está atado às
contaminações e ao apego, que é chamado de “não-nobre”, e há o tipo que está
livre das contaminações e do apego, que é chamado de “nobre.” O que é o poder
supra-humano “não-nobre”? Neste caso um contemplativo ou Brâmane exerce os
vários tipos de poderes supra-humanos: tendo sido um, ele se torna vários;
tendo sido vários, ele se torna um; ele aparece e desaparece; ele cruza sem
nenhum problema uma parede, um cercado, uma montanha ou através do espaço; ele
mergulha e sai da terra como se fosse água; ele caminha sobre a água sem
afundar como se fosse terra; sentado de pernas cruzadas ele cruza o espaço como
se fosse um pássaro; com a sua mão ele toca e acaricia a lua e o sol, tão forte
e poderosos; ele exerce poderes corporais até mesmo nos distantes mundos de
Brahma. Esse é o poder supra-humano “não nobre”. E qual é o poder supra-humano
nobre? Neste caso, se um bhikkhu desejar:
'Que eu permaneça percebendo o não-repulsivo no repulsivo,' ele
permanece percebendo o não- repulsivo no repulsivo. Se ele desejar: 'Que eu
permaneça percebendo o repulsivo no não- repulsivo,' ele permanece percebendo o
repulsivo no não-repulsivo. Se ele desejar: 'Que eu permaneça percebendo o
não-repulsivo no repulsivo e no não-repulsivo,' ele permanece percebendo o
não-repulsivo no repulsivo e no não-repulsivo. Se ele desejar: 'Que eu
permaneça percebendo o repulsivo no não-repulsivo e no repulsivo,' ele
permanece percebendo o repulsivo no não- repulsivo e no repulsivo. Se ele
desejar: 'Que eu , evitando ambos, o repulsivo e o não-repulsivo, permaneça com
equanimidade, com atenção plena e plena consciência,' ele permanece equânime,
com atenção plena e plena consciência. Esse é o poder supra-humano “nobre”, que
está livre das contaminações e do apego. Esse é o ensinamento insuperável com
relação aos poderes supra-humanos. Isso o Abençoado compreende completamente e
além disso não há nada mais para ser compreendido; e com relação à compreensão
desses fatores hábeis, não há nenhum outro contemplativo ou Brâmane mais
eminente ou iluminado que o Abençoado.
19. “Tudo
aquilo, venerável senhor, que é possível ser alcançado pelo membro de um clã
dotado de convicção, através do esforço e determinação, através do esforço
humano, empenho humano e resistência humana, [13] isso foi alcançado pelo Abençoado. Pois o Abençoado não se entrega
aos prazeres sensuais, que são baixos, vulgares, grosseiros, ignóbeis, para os
mundanos e não para os nobres, e que não trazem benefício; nem à mortificação,
que é dolorosa, ignóbil e que não traz benefício.O Abençoado é capaz, aqui e
agora, [14] de desfrutar a insuperável
bem-aventurança dos quatro jhanas.
“Venerável
senhor, se eu fosse perguntado: ‘Muito bem, amigo Sariputta, houve no passado
algum contemplativo ou Brâmane mais louvado em relação à iluminação do que o
Abençoado?’ Eu devo dizer: ‘Não.’ Se perguntado: ‘Haverá alguém assim no
futuro?’ Eu devo dizer: ‘Não.’ Se perguntado: ‘Há alguém assim no presente?’ Eu
devo dizer: ‘Não.’ Novamente, se eu fosse perguntado: ‘Houve no passado alguém
assim igual em iluminação ao Abençoado?’ Eu devo dizer: ‘Sim.’ Se perguntado:
‘Haverá alguém assim no futuro?’ Eu devo dizer: ‘Sim.’ Mas se eu for
perguntado: ‘Há alguém assim igual em iluminação ao Abençoado no presente?’ Eu
devo dizer: ‘Não.’ E se eu então fosse perguntado: ‘Venerável Sariputta, porque
você atribui esse reconhecimento mais elevado a um e não ao outro?’ Eu devo
dizer: ‘Eu ouvi dos lábios do próprio Abençoado: “Houve no passado e haverá no
futuro, Budas perfeitamente iluminados iguais a mim com relação à iluminação.”
Eu também ouvi dos lábios do próprio Abençoado que não é possível, não pode
acontecer que dois Budas perfeitamente iluminados, possam surgir ao mesmo tempo
em um mundo - não existe essa possibilidade.’
“Venerável
senhor, se eu respondesse dessa forma a essas questões, eu estaria falando
aquilo que foi dito pelo Abençoado sem
deturpá-lo com algo contrário aos fatos? Eu estaria explicando de acordo
com o Dhamma de tal modo que nada que possa dar margem à censura possa de forma
legítima ser deduzido da minha declaração?”
“Com certeza,
Sariputta, se você respondesse dessa forma você não estaria me deturpando, você
estaria explicando de acordo com o Dhamma sem dar margem à censura.”
20. Em
vista disso o Venerável Udayi disse para o Abençoado: “É maravilhoso, venerável
senhor, é admirável quão contente o Abençoado está, quão satisfeito e contido
quando favorecido com tal poder e
influência, ele não se exibe! Se os errantes de outras seitas fossem capazes de
discernir neles mesmos só uma dessas qualidades, eles a proclamariam com um
estandarte! É maravilhoso ... ele não se exibe!”
“Muito bem,
então, Udayi, observe: assim é. Se os errantes de outras seitas fossem capazes
de discernir neles mesmos só uma dessas qualidades, eles a proclamariam com um
estandarte. Mas o Tathagata está contente ... ele não se exibe!”
21. Então,
o Abençoado disse para Sariputta: “Sariputta, você deve repetir com freqüência
esta explicação do Dhamma para os bhikkhus e as bhikkhunis, para os discípulos leigos
e as discípulas leigas. Assim, algumas pessoas tolas que têm dúvidas ou incertezas
em relação ao Tathagata, ao ouvirem esta explicação do Dhamma, a dúvida e a
incerteza delas em relação ao Tathagata serão abandonadas.”
Assim foi
como o Venerável Sariputta proclamou a sua convicção no Abençoado. E dessa
forma, um dos nomes para esta exposição é “A Serena Convicção.”
Notas:
[1] Os dois primeiros versos também aparecem no DN
16.1.16 e no SN XLVII.12. [Retorna]
[2] Dessa forma Sariputta foi estabelecido como o ‘Espelho do Dhamma’: DN 16.2.8. [Retorna]
[3] Conforme o DN 11.3. [Retorna]
[4] Dassana-samapatti. [Retorna]
[5] Viññana-sota: uma
expressão rara que se equipara a bhavanga,
o termo que aparece nos comentários para o contínuo vital da consciência. [Retorna]
[6] Arahants. [Retorna]
[7] Puggala-paññnatti: este
também é o título de um dos livros do Abhidhamma, mas neste sutta a referência
é feita às distintas classes de pessoas nobres. [Retorna]
[8] Veja o MN 70.14 para a descrição de cada
um desses tipos. [Retorna]
[9] Essas práticas são detalhadas no AN IV.162.[Retorna]
[10] Paccattam yoniso manasikara.
[Retorna]
[11] Igual ao DN 1.1.30.[Retorna]
[12] Igual ao DN 1.2.2. [Retorna]
[13] Observe a ênfase em “humano”: o Buda é enfatizado como ser humano o que contrasta com a evolução subseqüente no Mahayana. [Retorna]
[14] Nesta vida. [Retorna]
Revisado: 19 Janeiro 2008
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