Anguttara Nikaya VII.55
Purisagati Sutta
Destinação das Pessoas
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"Bhikkhus, eu lhes ensinarei as sete destinações das pessoas e a realização de nibbana através do desapego. Ouçam e prestem muita atenção àquilo que eu vou dizer."
"Sim, venerável senhor," aqueles bhikkhus responderam. O Abençoado disse o seguinte:
"Quais, bhikkhus, são as sete destinações das pessoas?
(1) "Aqui, um bhikkhu pratica assim: ‘Isso poderá não ser; isso poderá não ser meu. Isso não será; isso não será meu. Eu estou abandonando aquilo que existe, que veio a ser.' [1] Ele obtém a equanimidade. Ele não está apegado ao ser/existir; ele não está apegado à originação. Ele vê com correta sabedoria: 'Há um estado superior que é pacífico', no entanto ele ainda não realizou esse estado por completo. Ele não abandonou por completo a tendência subjacente para a presunção; ele não abandonou por completo a tendência subjacente para a cobiça pelo ser/existir; ele não abandonou por completo a ignorância. Com a completa destruição dos cinco primeiros grilhões ele realiza nibbana no intervalo. [2]
"Por exemplo, quando uma bola de ferro que foi aquecida durante todo um dia é golpeada, uma fagulha poderá voar e ser extinta. Do mesmo modo, um bhikkhu pratica assim ... não abandonou por completo a ignorância. Com a completa destruição dos cinco primeiros grilhões ele realiza nibbana no intervalo.
(2) "Então um bhikkhu pratica assim: ‘Isso poderá não ser; isso poderá não ser para mim. Isso não será; isso não será meu. Eu estou abandonando aquilo que existe, que veio a ser.' Ele obtém a equanimidade. Ele não está apegado ao ser/existir; ele não está apegado à originação. Ele vê com correta sabedoria: 'Há um estado superior que é pacífico', no entanto ele ainda não realizou esse estado por completo. Ele não abandonou por completo a tendência subjacente para a presunção; ele não abandonou por completo a tendência subjacente para a cobiça pelo ser/existir; ele não abandonou por completo a ignorância. Com a completa destruição dos cinco primeiros grilhões ele realiza nibbana no intervalo.
"Por exemplo, quando uma bola de ferro que foi aquecida durante todo um dia é golpeada, uma fagulha poderá voar, ascender, e ser extinta. Do mesmo modo, um bhikkhu pratica assim ... não abandonou por completo a ignorância. Com a completa destruição dos cinco primeiros grilhões ele realiza nibbana no intervalo.
(3) "Então um bhikkhu pratica assim: ‘Isso poderá não ser; isso poderá não ser para mim. Isso não será; isso não será meu. Eu estou abandonando aquilo que existe, que veio a ser.' ... Com a completa destruição dos cinco primeiros grilhões ele realiza nibbana no intervalo.
"Por exemplo, quando uma bola de ferro que foi aquecida durante todo um dia é golpeada, uma fagulha poderá voar, ascender, e ser extinta justamente antes de chegar ao solo. Do mesmo modo, um bhikkhu pratica assim ... não abandonou por completo a ignorância. Com a completa destruição dos cinco primeiros grilhões ele realiza nibbana no intervalo.
(4) "Então um bhikkhu pratica assim: ‘Isso poderá não ser; isso poderá não ser para mim. Isso não será; isso não será meu. Eu estou abandonando aquilo que existe, que veio a ser.' ... Com a completa destruição dos cinco primeiros grilhões ele realiza nibbana ao pousar.
"Por exemplo, quando uma bola de ferro que foi aquecida durante todo um dia é golpeada, uma fagulha poderá voar, ascender, e ser extinta ao pousar sobre o solo. Do mesmo modo, um bhikkhu pratica assim ... não abandonou por completo a ignorância. Com a completa destruição dos cinco primeiros grilhões ele realiza nibbana ao pousar.
(5) "Então um bhikkhu pratica assim: ‘Isso poderá não ser; isso poderá não ser para mim. Isso não será; isso não será meu. Eu estou abandonando aquilo que existe, que veio a ser.' ... Com a completa destruição dos cinco primeiros grilhões ele realiza nibbana sem esforço.
"Por exemplo, quando uma bola de ferro que foi aquecida durante todo um dia é golpeada, uma fagulha poderá voar, ascender, e cair sobre uma pequena pilha de palha ou gravetos. Isso produziria fogo e fumaça, mas ao ter consumido toda a pequena pilha de palha ou gravetos, se não houver mais combustível, o fogo será extinto. Do mesmo modo, um bhikkhu pratica assim ... não abandonou por completo a ignorância. Com a completa destruição dos cinco primeiros grilhões ele realiza nibbana sem esforço.
(6) "Então um bhikkhu pratica assim: ‘Isso poderá não ser; isso poderá não ser para mim. Isso não será; isso não será meu. Eu estou abandonando aquilo que existe, que veio a ser.' ... Com a completa destruição dos cinco primeiros grilhões ele realiza nibbana com esforço.
"Por exemplo, quando uma bola de ferro que foi aquecida durante todo um dia é golpeada, uma fagulha poderá voar, ascender, e cair sobre uma grande pilha de palha ou gravetos. Isso produziria fogo e fumaça, mas ao ter consumido toda a grande pilha de palha ou gravetos, se não houver mais combustível, o fogo será extinto. Do mesmo modo, um bhikkhu pratica assim ... não abandonou por completo a ignorância. Com a completa destruição dos cinco primeiros grilhões ele realiza nibbana com esforço.
(7) "Então um bhikkhu pratica assim: ‘Isso poderá não ser; isso poderá não ser para mim. Isso não será; isso não será meu. Eu estou abandonando aquilo que existe, que veio a ser.' ... Com a completa destruição dos cinco primeiros grilhões ele estará destinado a um plano superior, o plano Akanittha.
"Por exemplo, quando uma bola de ferro que foi aquecida durante todo um dia é golpeada, uma fagulha poderá voar, ascender, e cair sobre uma grande pilha de palha ou gravetos. Isso produziria fogo e fumaça, mas ao ter consumido toda a grande pilha de palha ou gravetos, queimaria um bosque até a beira de um campo, ou a beira de uma estrada, ou a beira de uma montanha rochosa, a beira de um rio, ou algum pedaço de terra, e então, se não houver mais combustível, o fogo será extinto. Do mesmo modo, um bhikkhu pratica assim ... não abandonou por completo a ignorância. Com a completa destruição dos cinco primeiros grilhões ele estará destinado a um plano superior, o plano Akanittha.
"Essas bhikkhus são as sete destinações das pessoas.
"E como, bhikkhus, é a realização de nibbana através do desapego? Aqui, um bhikkhu pratica assim: ‘Isso poderá não ser; isso poderá não ser para mim. Isso não será; isso não será meu. Eu estou abandonando aquilo que existe, que veio a ser.' Ele obtém a equanimidade. Ele não está apegado ao ser/existir; ele não está apegado à originação. Ele vê com correta sabedoria: 'Há um estado superior que é pacífico', e ele realizou esse estado por completo. Ele abandonou por completo a tendência subjacente para a presunção; ele abandonou por completo a tendência subjacente para a cobiça pelo ser/existir; ele abandonou por completo a ignorância. Realizando por si mesmo através do conhecimento direto, aqui e agora, ele entra e permanece na libertação da mente e libertação através da sabedoria que são imaculadas com a destruição de todas as impurezas. Isso é chamado a realização de nibbana através do desapego."
Notas:
[1] No cassa no ca me siya, na bhavissati na me bhavissati, nos Nikayas o significado preciso desse enunciado críptico nunca é explicado. No SN XXII.81, há um enunciado semelhante atribuído à idéia da aniquilação: no cassam no ca me siya na bhavissami na me bhavissati. A diferença entre as duas versões está nos verbos no cassam vs. no cassa e na bhavissami vs. na bhavissati. Na versão atribuída à idéia da aniquilação os verbos estão na primeira pessoa enquanto que na versão deste sutta os verbos estão na terceira pessoa. Essa mudança reflete a idéia de um eu implícita na idéia da aniquilação ("eu serei aniquilado") e a perspectiva impessoal que harmoniza com a doutrina de anatta.
Os comentários explicam esse enunciado com base em kamma: "se no passado não houvesse uma existência individual produtora de kamma, agora não haveria uma existência individual. Não havendo agora kamma que produza uma nova existência, no futuro não haverá uma nova existência."
Bhikkhu Bodhi discorda dessa interpretação dos comentários e oferece como alternativa: "os cinco agregados podem ser descontinuados, e o mundo que eles representam pode ser descontinuado. Eu me esforçarei para que os cinco agregados sejam descontinuados e assim o mundo que eles representam seja descontinuado." De acordo com a sua interpretação, "aquilo que existe, que veio a ser" são os agregados que se manifestam no presente, que vieram a ser através do desejo em vidas passadas, e que estão sendo abandonados, através do abandono das causas para o seu ressurgimento numa vida futura, isto é, o desejo ou cobiça. [Retorna]
[2] Veja o SN XLVI.3 - nota 2.
Nota de Bhikkhu Bodhi:
Entre os Nikayas e os comentários há um certo grau de tensão com relação à questão se o renascimento ocorre imediatamente após a morte ou após um intervalo de tempo. Durante a época do Budismo sectário, quando diferentes escolas se ramificaram à partir da originalmente unificada Sangha e as diferenças doutrinárias começaram a surgir, a escola dos textos em pali adotou o princípio de que o renascimento ocorre imediatamente após a morte, sem intervalo separando os momentos de morte e renascimento (ou re-concepção). Parece que esta posição, articulada nos comentários, está baseada em uma leitura particular de certas passagens no livro final do Abhidhamma Pitaka, o Patthana. No entanto, há suttas que podem ser lidos como contradizendo essa posição doutrinária.
Este sutta oferece a hipótese mais clara contrária ao renascimento instantâneo. Os Nikayas com frequência analisam a pessoa no terceiro estágio de iluminação, o anagami, ou aquele que não retorna, em cinco subtipos. O primeiro entre eles, aquele com as faculdades mais aguçadas , é chamado antaraparinibbayi, que é traduzido como "realiza nibbana no intervalo." Os comentários explicam este caso como realizando nibbana na primeira metade do tempo de vida, em seguida interpretam os outros quatro tipos de uma forma que está de acordo com essa explicação. No entanto, este sutta distingue três subtipos de antaraparinibbayi, cada um dos quais é ilustrado com um símile. O símile de uma fagulha que se extingue em diferentes pontos antes de atingir o solo, sugerem que o antaraparinibbayi atinge nibbana antes do renascimento, reforçando a hipótese de um estágio intermediário separando o renascimento, pelo menos para determinados anagamis (mas certamente capaz de uma maior generalização). Esta foi a posição defendida por algumas das escolas rivais com as quais o Theravada competia em solo indiano, mais notavelmente a Sarvastivada.
Símiles não são sempre uma base confiável para tirar conclusões doutrinárias, e a questão de saber se o renascimento é instantâneo ou se há um intervalo parece ter muito pouca importância prática. Mas o comprometimento com o renascimento instantâneo é fundamental para os comentários do Theravada. O tom de certos argumentos nos comentários sugere que, entre as primeiras escolas Budistas na Índia, a questão gerou um grau de debate que dificilmente parece ser justificável levando em conta as suas conseqüências práticas. Talvez subjacente ao conflito estava a apreensão que o reconhecimento de um estado intermediário poderia ser tomado como implicando um eu ou alma que migra da vida para vida. Mas outras escolas se sentiram confortáveis em aceitar o estado intermediário sem vê-lo como uma ameaça à doutrina de não-eu.
Veja o AN IX.12.
Revisado: 29 Junho 2013
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