6. Panditavagga
Sábios
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Poucos são os seres humanos |
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Mas aqueles que praticam o Dhamma |
Para ouvir
[Nota Versos 85 e 86] Dhamme Dhammanuvattino (aqueles que praticam o Dhamma de acordo o Dhamma perfeitamente ensinado): o Buda expôs seus ensinamentos, inicialmente, para os cinco contemplativos e pregou seu primeiro discurso - Colocando a Roda do Dhamma em Movimento. E assim o Iluminado proclamou o Dhamma e pôs em movimento a incomparável "Roda da Verdade". Com a proclamação do Dhamma, pela primeira vez, e com o convencimento dos cinco contemplativos, o Parque do Gamo, em Isipatana tornou-se o local de nascimento da Revelação do Buda e da Sangha, a comunidade de monges, os discípulos ordenados.
No Marapasa Sutta, o Buda se dirigiu aos seus discípulos, os arahants perfeitamente iluminados, e disse:
“Bhikkhus, eu estou livre de todas as armadilhas, tanto celestiais como humanas. Vocês também, bhikkhus, estão livres de todas as armadilhas, tanto celestiais como humanas. Peregrinem, bhikkhus, pelo bem-estar de muitos, para a felicidade de muitos, por compaixão pelo mundo, para o bem, bem-estar e felicidade de devas e humanos. Que dois não sigam pela mesma estrada. Ensinem, bhikkhus, o Dhamma que é admirável no início, admirável no meio, admirável no final com o correto fraseado e significado. Revelem a vida santa que é perfeita e imaculada. Há seres com pouca poeira sobre os olhos, que estão decaindo por não ouvir o Dhamma. Há aqueles que entenderão o Dhamma. Eu também, bhikkhus, irei para Senanigama em Uruvela para ensinar o Dhamma.”
Assim o Buda começou sua sublime missão, que durou até o fim de sua vida. Com os seus discípulos, ele andou pelas estradas e caminhos de Jambudipa, a terra do jambo-rosa, (outro nome para a Índia), envolvendo todos dentro da aura de sua compaixão ilimitada e sabedoria.
O Buda não fez distinção de casta, clã ou classe quando ensinava o Dhamma. Homens e mulheres de diferentes esferas da vida - os ricos e os pobres; mais humildes e mais elevados; os alfabetizados e os analfabetos; brâmanes e párias; príncipes e indigentes; santos e criminosos - ouviram o Buda, tomaram refúgio nele, e seguiram aquele que mostrou o caminho para a paz e a iluminação. O caminho está aberto a todos. Seu Dhamma era para todos. As castas, que eram uma questão de importância vital para os brâmanes da Índia, foi uma das questões de maior desinteresse do Buda, que condenou fortemente tal aviltante sistema. O Buda livremente admitia na Sangha pessoas de todas as castas e classes, quando ele sabia que elas estavam aptas para viverem a vida santa, e algumas delas, mais tarde, se destacaram na Sangha. O Buda foi o único professor contemporâneo que se esforçou para associar em mútua tolerância e concórdia aqueles que até então tinham sido segregados por diferenças de castas e de classes.
O Buda também elevou o status das mulheres na Índia. De modo geral, na época do Buda, devido à influência brâmane, as mulheres não tinham muito reconhecimento. Às vezes, elas eram detidas por desacato, embora houvesse casos isolados de exibição de sua erudição em matérias de filosofia, e assim por diante. Em sua magnanimidade, o Buda tratava as mulheres com consideração e civilidade, e apontou-lhes, também, o caminho para a pureza, paz e santidade. O Buda estabeleceu a ordem de monjas, (Bhikkhuni Sasana), pela primeira vez na história, pois nunca antes houve uma ordem em que as mulheres pudessem levar uma vida celibatária de renúncia. Mulheres de todas as esferas da vida juntaram-se à ordem. A vida de um grande número dessas nobres monjas, seus esforços enérgicos para realizar a meta de libertação, e os seus gritos de vitória ao realizarem a libertação da mente são vividamente descritos nos "Versos das Monjas Anciãs", (Therigatha).
Enquanto viajava de vilarejo em vilarejo, de cidade em cidade, instruindo, iluminando e alegrando muitos, o Buda viu como o povo supersticioso, mergulhado na ignorância, sacrificava animais em adoração aos seus deuses. Ele lhes disse:
A vida, que todos podem tomar, mas ninguém pode dar,
vida que todas as criaturas amam e se esforçam para manter,
maravilhosa, amada e prazerosa para cada um,
até mesmo para o mais malvado ...
O Buda nunca incentivou disputas e animosidade. Dirigindo-se aos monges, no Puppha Sutta ele disse:
"Bhikkhus, eu não disputo com o mundo, é o mundo que disputa comigo. Quem fala o Dhamma não disputa com ninguém no mundo."
Para o Buda a prática do Dhamma é de grande importância. Portanto, os budistas têm de ser Dhammanuvatti, (aqueles que praticam o Ensinamento). Os aspectos práticos são os mais essenciais para a realização dos objetivos espirituais indicados pelo Dhamma, (Ensinamento), do Buda.
Não há atalhos para a verdadeira paz e felicidade. Como o Buda apontou em muitos discursos, este é o único caminho que leva ao objetivo supremo da vida santa, que vai dos níveis mais baixos para os mais elevados do mundo mental. É um treinamento gradual, um treinamento na linguagem, ação e pensamento, que traz a verdadeira sabedoria que culmina com a iluminação completa e a realização de Nibbana. É um caminho para todos, independentemente de raça, classe ou credo, um caminho a ser cultivado a cada momento da nossa vida de vigília.
O primeiro e único objetivo do Buda em apontar esse Ensinamento é indicado no Culasaccaka Sutta: "O Abençoado é iluminado e ele ensina o Dhamma tendo como objetivo a iluminação. O Abençoado é domado e ele ensina o Dhamma para cada um domar a si mesmo. O Abençoado está em paz e ele ensina o Dhamma tendo como objetivo a paz. O Abençoado cruzou a torrente e ele ensina o Dhamma para cruzar a torrente. O Abençoado realizou Nibbana e ele ensina o Dhamma para realizar Nibbana.”
Sendo esta a finalidade pela qual o Buda ensina o Dhamma, é óbvio que o objetivo do ouvinte ou seguidor do caminho deveria ser o mesmo, e não qualquer outra coisa que seja. O objetivo, por exemplo, de um médico misericordioso e inteligente deveria ser curar os pacientes que o procuram em busca de tratamento, e o único objetivo do paciente, como sabemos, é conseguir se curar o mais rápido possível. Esse é o único objetivo de uma pessoa doente.
Também devemos entender que embora haja orientação, alertas e instruções, a verdadeira prática do Dhamma, o trilhar do caminho, é deixado para nós. Devemos proceder com a mesma energia incansável para superarmos todos os obstáculos e atentos aos nossos passos ao longo do Caminho Correto - o caminho trilhado e apontado por todos os Budas.
Para explicar a ideia de cruzar, o Buda usou o símile da balsa no Alagaddupama Sutta: "Bhikkhus, eu lhes mostrarei que o Dhamma é semelhante a uma balsa, existindo para o propósito de cruzar (a torrente) e não para que vocês se agarrem a ela."
O Buda, o Mestre compassivo, não está mais vivo, mas ele deixou um legado, o Dhamma sublime. O Dhamma não é uma invenção, mas uma descoberta. É uma lei atemporal, que está em toda parte com cada homem e mulher, Budistas ou não-Budistas, Orientais ou Ocidentais. O Dhamma não tem rótulos, não conhece limites de tempo, espaço ou raça. É para todos os tempos. Cada pessoa que vive o Dhamma vê a sua luz, o vê e o experimenta por si próprio. O Dhamma não pode ser transferido a uma outra pessoa, pois tem que ser realizado por cada um.
Revisado: 19 Maio 2012
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