Cerimônia de Ordenação de um Monge

Por

Ajaan Brahmavamso

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A cerimônia de ordenação (upasampada), de um monge Budista Theravada é um dos 'atos legais da Sangha' contida nas regras monásticas (Vinaya). A cerimônia deve ser realizada de acordo com essa regra, caso contrário a ordenação será inválida e o candidato não será um monge. A exigência estrita de seguir essa regra fez com que a cerimônia tenha se mantido inalterada desde o tempo do Buda. A cerimônia ainda é conduzida em Pali, a linguagem do Budismo original, de modo a dar ao rito uma formalidade solene, que reflete a importância da ocasião. No entanto, como a cerimônia é sempre pública, com parentes e amigos e outros simpatizantes presentes, as frases em Pali são muitas vezes traduzidas e a cerimônia é explicada.

De acordo com a regra, não pode se tornar um monge: quem tenha matado um arahant (um ser iluminado), quem tenha matado a mãe ou o pai, quem tenha ferido o Buda, quem tenha estuprado uma monja Budista, quem tenha causado um cisma na Sangha, quem tenha fingido ser um monge sem ter sido ordenado, quem deixou a Sangha e tenha sido ordenado em outra religião, quem como monge tenha cometido uma das quatro ofensas de perda do manto (parajika), quem é um eunuco, um hermafrodita ou um animal ...

... Certa vez um Naga, uma serpente poderosa que pode assumir a forma de um ser humano, foi erroneamente ordenado como monge. Pouco depois, enquanto dormia na sua cabana, o Naga voltou à forma de uma cobra enorme. O monge que dormia na mesma cabana ficou alarmado ao despertar e ver aquela enorme cobra dormindo ao seu lado! O Buda convocou o Naga e disse que ele não poderia permanecer como um monge, no que o Naga totalmente desconsolado começou a chorar. O Naga tomou os Cinco Preceitos como meio de alcançar uma existência humana em sua próxima vida quando ele então poderia se tornar um monge. Depois disso, por compaixão pelo triste Naga, o Buda disse que a partir de então, como consolo, todos os candidatos para a vida monástica seriam chamados 'Naga'. Até hoje eles ainda são assim chamados.

... todos aqueles mencionados acima não podem ser monges e se forem 'ordenados' por engano, eles devem ser convidados a deixar a Sangha.

O candidato deve ter 20 anos de idade ou mais, contados a partir de quando a "consciência apareceu pela primeira vez no ventre da mãe." Por causa da dificuldade óbvia em saber quando isso ocorreu, é normal insistir em pelo menos 20 anos de idade desde o nascimento. Se, por engano, alguém foi "ordenado" com menos de 20 anos de idade, o candidato continuará sendo um noviço com dez preceitos e a sua ordenação como monge não será válida.

Também há outros que não devem ser ordenados, mas que se forem ordenados por engano a sua ordenação será válida. Estes incluem: alguém com doenças infecciosas, um escravo, alguém que tenha escapado da prisão, alguém procurado pela polícia, alguém com dívidas não pagas, alguém a 'Serviço do Rei' (por exemplo, um soldado), alguém mutilado, deformado, deficiente ou muito velho (significando alguém incapaz de exercer as funções da vida monástica).

Também é necessário o consentimento dos pais.

A cerimônia começa com o patrocinador do candidato, muitas vezes os seus pais, oferecendo os mantos e a tigela para comer. Uma pessoa não pode ser ordenada, sem ter um conjunto de mantos e a sua própria tigela para comer. Quando os patrocinadores são os pais, o candidato com freqüência aproveita a ocasião para demonstrar a sua gratidão para com os seus pais, pedindo formalmente perdão por qualquer coisa errada que ele tenha feito ao longo dos anos, intencional ou não, através do corpo, da linguagem, ou da mente. Em seguida, com a bênção de seus pais, o candidato se aproxima da Sangha que o aguarda.

Para realizar a cerimônia de ordenação, é necessária a presença de uma Sangha com pelo menos cinco monges, um dos quais deve ser um monge sênior experiente, com pelo menos dez anos, que será o Preceptor do candidato (upajjhaya). O Preceptor será responsável por aquele candidato ao longo de sua vida monástica e o candidato deve, por sua vez, cuidar de seu Preceptor como se ele fosse o seu pai. Assim, a cerimônia continua com o candidato escolhendo o seu Preceptor e com a concordância do Preceptor.

O candidato então recebe instruções sobre a cerimônia e recebe o seu novo nome, um nome de monge para sempre lembrá-lo do propósito de sua nova vida. Ele é mandado que se afaste do grupo de monges e então dois monges seniores são escolhidos para questionar o candidato sobre a sua adequação para ser um monge. Eles lhe perguntam se ele tem alguma doença infecciosa, se ele é um ser humano (para evitar nagas), um homem, um homem livre (para identificar alguém que esteja fugindo da polícia), livre de dívidas, livre do serviço público, com o consentimento dos pais, se tem mais de 20 anos de idade, se tem a sua tigela e os mantos, e se ele escolheu o Preceptor. Tendo examinado com sucesso o candidato, os monges seniores voltam para o grupo de monges, informam o grupo do resultado do exame e, em seguida, chamam o candidato de volta para o grupo. As mesmas perguntas são novamente repetidas no grupo, só para ter certeza.

Uma pessoa não pode ser forçada a ser um monge contra a sua vontade e assim, na próxima parte da cerimônia, o candidato faz um pedido formal para a Sangha para ser ordenado como monge. Agora começa a parte crucial da cerimônia na qual toda a Sangha concorda formalmente em aceitá-lo como monge. Se esta parte da cerimônia é realizada de forma incorreta, a ordenação será inválida.

Todos os monges dentro da área da demarcação monástica (SIMA) devem estar presentes e sentados a uma distância equivalente ao comprimento de um braço um do outro. Em seguida, dois monges seniores fazem o anúncio formal para o grupo que o candidato solicitou a ordenação e foi julgado adequado para se tornar um monge. Eles propõem três vezes que ele seja admitido como um monge. Se algum monge no grupo se opor à ordenação enquanto as três propostas estiverem sendo feitas, então a ordenação é interrompida e o candidato não será um monge. Se nenhum monge tiver alguma objeção, no final da terceira proposta, o candidato torna-se um monge.

O horário deve ser anotado, pois a senioridade do novo monge será contada a partir desse momento. Outro monge ordenado até mesmo poucos segundos antes vai ter um lugar à frente dele.

Então, geralmente, o Preceptor irá orientar o novo monge nas quatro ofensas da perda dos mantos - parajika, e nos quatro requisitos básicos de um monge (alimentos esmolados, mantos feitos de retalhos, um abrigo debaixo de uma árvore, e medicamentos feitos a partir da urina), acrescentando que algo além disso deve ser considerado ao longo da vida de monge como um luxo desnecessário! Com esta lição sobre os quatro perigos para a vida monástica e o incentivo na frugalidade, a cerimônia chega ao fim.

Apesar dessa instrução na frugalidade monástica, pais e simpatizantes muitas vezes oferecem muitos presentes para o novo monge! Tendo recebido os presentes, no entanto, ele pode depois dá-los se quiser. Afinal de contas, a ordenação como monge tem tudo a ver com abrir mão.

 


 

Fonte: BSWA Newsletter, 1998

 

 

Revisado: 6 Setembro 2014

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