Samyutta Nikaya XXXV.23

Sabba Sutta

O Todo

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“Bhikkhus, eu ensinarei para vocês o todo. Ouçam e prestem muita atenção àquilo que eu vou dizer.” – “Sim, venerável senhor,” os bhikkhus responderam. O Abençoado disse o seguinte:

“O que é o todo? Simplesmente, o olho e as formas, o ouvido e os sons, o nariz e os aromas, a língua e os sabores, o corpo e os tangíveis, a mente e os objetos mentais. Isso, bhikkhus é chamado o Todo. [1] Qualquer um que diga, ‘Eu rejeitarei esse todo, e proclamarei um outro,’ ele com certeza pode possuir a sua própria teoria. Mas ao ser questionado, ele seria incapaz de responder e além disso estaria sujeito à vexação. Porque? Porque, bhikkhus, isso não estaria dentro do âmbito da experiência dele.”

 


 

Notas:

[1] De acordo com o comentário, o todo, (sabba,) é de quatro tipos: (a) o todo completo, (sabbasabba), isto é, tudo aquilo que pode ser conhecido, tudo que compõe o âmbito da onisciência do Buda. (b) o todo das bases dos sentidos, (ayatanasabba), isto é, os fenômenos dos quatro planos; (c) o todo da individualidade pessoal, (sakkayasabba), isto é, os fenômenos dos três planos mundanos; e (d) o todo parcial, (padesabba), isto é, os cinco objetos dos sentidos físicos. Cada um destes, de (a) até (d), tem um âmbito mais restrito que o anterior. Neste sutta a referência é feita a (b) o todo das bases dos sentidos. Os quatro planos correspondem aos três planos mundanos (reino da esfera sensual, reino da matéria sutil e reino imaterial) mais o plano supramundano (os quatro caminhos, os seus frutos e Nibbana).[Retorna]

Comentário de Thanissaro Bhikkhu

O tratamento dado a este discurso pelo Comentário é bastante singular. Para começar, ele delineia outros três “Todo” em adição àquele definido neste discurso, um deles supostamente mais abrangente do que aquele aqui definido: o todo completo que constitui o âmbito da onisciência do Buda, (que tudo sabe, no sentido literal). Isso, apesar do discurso dizer que a descrição desse todo está além do alcance das explicações.

Um segundo ponto, o Comentário inclui nibbana, (libertação), dentro do alcance do Todo aqui descrito – como um dhamma, ou objeto da mente – embora existam muitos outros discursos no Cânone mencionando de maneira inequívoca que nibbana se encontra além do alcance dos seis sentidos e seus objetos. O Snp V.6, por exemplo, indica que uma pessoa que tenha alcançado nibbana superou todos os fenômenos, (sabbe dhamma), e portanto não pode ser descrita. O MN 49.25 aborda a “consciência desprovida de atributos”, (viññanam anidassanam), que não faz parte da “Totalidade do Todo.” Além disso o SN.XXXV.24 diz que o “Todo” deve ser abandonado. Em nenhuma instância no Cânone é mencionado que nibbana deva ser abandonado. Nibbana vem em seguida à cessação, (nirodha), que deve ser realizado. Uma vez que Nibbana seja realizado, não há nenhuma outra tarefa a ser realizada.

Portanto, parece que a abordagem deste discurso sobre o “Todo” tem como propósito limitar o uso da palavra “todo” em todos os ensinamentos do Buda às seis bases internas e externas. O SN.XXXV.24 mostra que ele também inclui a consciência, contato e as sensações conectadas com as bases dos sentidos e os seus objetos. Nibbana estaria fora dessa palavra, “todo.” Isso também se encaixa com outro ponto que aparece várias vezes no Cânone: que o desapego é o dhamma mais elevado (It 90), enquanto que o arahant superou até mesmo o desapego (Snp IV.6; Snp IV.10).

Isso levanta uma questão, se a palavra “todo” não inclui nibbana, isso significa que poderíamos inferir da afirmativa, “todos os fenômenos são não-eu”, que nibbana é o eu? A resposta é não. Como mencionado no AN IV.173, até mesmo a pergunta sobre se algo permanece ou não permanece (ou ambos, ou nenhum dos dois) depois da cessação das seis bases dos sentidos é diferenciar aquilo que por natureza não é diferenciado (ou complicar o não complicado – veja o MN 18). A abrangência da dualidade se estende apenas ao “Todo.” As percepções do eu ou não-eu, que constituem a dualidade, não se aplicam para além do “Todo.” Quando a cessação do “Todo” é experimentada, toda dualidade é apaziguada.

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Revisado: 4 Dezembro 2004

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