Samyutta Nikaya XXXV.121

Rahulovada Sutta

Exortação para Rahula

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Assim ouvi. Em certa ocasião o Abençoado estava em Savatthi, no Bosque de Jeta, no Parque de Anathapindika.[1]

Então, enquanto o Abençoado estava só em meditação, o seguinte pensamento lhe ocorreu: ‘Os estados que amadurecem na libertação estão maduros em Rahula; [2] E se eu o conduzisse para realizar a destruição das impurezas.”

Então, ao amanhecer, o Abençoado se vestiu e tomando a tigela e o manto externo foi para Savatthi para esmolar alimentos. Depois de haver esmolado em Savatthi e de haver retornado, após a refeição, ele se dirigiu ao venerável Rahula da seguinte forma:

“Leve com você o seu pano para sentar, Rahula; vamos até o Bosque dos Cegos para passar o dia.”

“Sim, venerável senhor,” o venerável Rahula respondeu, e tomando o seu pano para sentar seguiu de perto atrás do Abençoado.

Agora, naquela ocasião milhares de devas seguiam o Abençoado, pensando: “Hoje o Abençoado irá conduzir o venerável Rahula para realizar a destruição das impurezas.” [3]

Então, o Abençoado foi até o Bosque dos Cegos e sentou à sombra de uma certa árvore num assento que havia sido preparado. E o venerável Rahula homenageou o Abençoado e sentou-se a um lado. O Abençoado disse para o venerável Rahula:

“Rahula, o que você pensa? O olho é permanente ou impermanente?” – “Impermanente, venerável senhor.” – “Aquilo que é impermanente é sofrimento ou felicidade?” – “Sofrimento, venerável senhor.” – “Aquilo que é impermanente, sofrimento e sujeito à mudança é adequado que se considere assim: “Isso é meu, isso eu sou, isso é o meu eu?” – “Não, venerável senhor.”

“Rahula, o que você pensa? As formas… A consciência no olho…O contato no olho…Qualquer sensação, qualquer percepção, quaisquer formações volitivas, qualquer consciência que surja tendo o contato no olho como condição é permanente ou impermanente?” [4] – “Impermanente, venerável senhor.” - “Aquilo que é impermanente é sofrimento ou felicidade?” – “Sofrimento, venerável senhor.” – “Aquilo que é impermanente, sofrimento e sujeito à mudança é adequado que se considere assim: “Isso é meu, isso eu sou, isso é o meu eu?” – “Não, venerável senhor.”

“Rahula, o que você pensa? O ouvido é permanente ou impermanente? ... O nariz é permanente ou impermanente? ... A língua é permanente ou impermanente? ... O corpo é permanente ou impermanente? ... Os objetos mentais ... A consciência na mente ... O contato na mente ... Qualquer sensação, qualquer percepção, quaisquer formações volitivas, qualquer consciência que surja tendo o contato na mente como condição é permanente ou impermanente?” – “Impermanente, venerável senhor.” - “Aquilo que é impermanente é sofrimento ou felicidade?” – “Sofrimento, venerável senhor.” – “Aquilo que é impermanente, sofrimento e sujeito à mudança é adequado que se considere assim: “Isso é meu, isso eu sou, isso é o meu eu?” – “Não, venerável senhor.”

“Vendo dessa forma, Rahula, um nobre discípulo bem instruído se desencanta do olho, se desencanta das formas, se desencanta da consciência no olho, se desencanta do contato no olho e se desencanta de qualquer sensação, qualquer percepção, quaisquer formações volitivas, qualquer consciência que surja do contato no olho como condição.

“Ele se desencanta do ouvido ... Ele se desencanta do nariz ... Ele se desencanta da língua ... Ele se desencanta do corpo ... Ele se desencanta da mente, se desencanta dos objetos mentais, se desencanta da consciência na mente, se desencanta do contato na mente e se desencanta de qualquer sensação, qualquer percepção, quaisquer formações volitivas, qualquer consciência que surja do contato na mente como condição.

Desencantado, ele se torna desapegado. Através do desapego a sua mente é libertada. Quando ela está libertada surge o conhecimento: ‘Libertada.’ Ele compreende que: ‘O nascimento foi destruido, a vida santa foi vivida, o que deveria ser feito foi feito, não há mais vir a ser a nenhum estado.’

Isso foi o que disse o Abençoado. O venerável Rahula ficou satisfeito e contente com as palavras do Abençoado. Agora, enquanto este discurso estava sendo proferido, através do desapego a mente do venerável Rahula se libertou das impurezas. E naqueles milhares de devas surgiu a imaculada visão do Dhamma : “Tudo que está sujeito ao surgimento está sujeito à cessação.” [5]

 


 

Notas:

[1] MA diz que este discurso foi proferido para Rahula pouco tempo depois da sua ordenação superior, presume- se que com vinte anos de idade. [Retorna]

[2] Vimuttiparipacaniya dhamma. MA menciona quinze estados que amadurecem na libertação: as cinco faculdades espirituais; os cinco insights penetrativos – da impermanência, sofrimento, não-eu, abandono e cessação; e as cinco coisas ensinadas para Meghiya – nobre amizade, virtude, discussão benéfica, energia e sabedoria (veja o AN IX.3; Ud 4.1). [Retorna]

[3] MA diz que essas divindades, que vieram de vários mundos celestiais, haviam sido companheiras de Rahula durante uma vida passada na qual ele aspirou alcançar o estado de arahant como filho de um Buda. [Retorna]

[4] Deve-se observar que os quatro últimos itens mencionados são os quatro agregados mentais. Portanto, este discurso abrange não somente as bases sensoriais mas também os cinco agregados, sendo que o agregado da forma material está implícito através do aspecto físico das faculdades sensoriais e os seus objetos. [Retorna]

[5] De acordo com MA, ‘entrar na correnteza’ foi a realização mínima desses devas, alguns alcançaram os caminhos e frutos mais elevados do estado de arahant. [Retorna]

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Revisado: 20 Dezembro 2014

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