Majjhima Nikaya 99
Subha Sutta
Para Subha
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1. Assim
ouvi. Em certa ocasião o Abençoado estava em Savatthi no Bosque de Jeta,
no Parque de Anathapindika.
2. Agora
naquela ocasião o estudante brâmane Subha, o filho de Todeyya, estava residindo
na residência de um certo chefe de família em Savathi para tratar de negócios.
[1] Então o estudante brâmane Subha, o filho
de Todeyya, perguntou ao chefe de família na casa de quem ele estava residindo:
“Chefe de família, eu ouvi que Savathi não está desprovida de arahants. Qual
contemplativo ou brâmane deveríamos visitar hoje para homenageá-lo?”
“Venerável
senhor, há um Abençoado vivendo em Savathi no Bosque de Jeta, no Parque
de Anathapindika. Você poderá
ir homenagear esse Abençoado, venerável senhor.”
3. Então,
tendo concordado com o chefe de família, o estudante brâmane Subha, o filho de
Todeyya, foi até o Abençoado e ambos se cumprimentaram. Quando a conversa
amigável e cortês havia terminado, ele sentou a um lado e perguntou ao
Abençoado:
4. “Mestre
Gotama, os brâmanes dizem o seguinte: ‘Um chefe de família está realizando o
caminho verdadeiro, o Dhamma que é benéfico. Aquele que segue a vida santa não
está realizando o caminho verdadeiro, o Dhamma que é benéfico.’ O que o Mestre
Gotama diz disso?”
“Veja,
estudante, eu sou aquele que fala depois de fazer uma análise; [2]
eu não falo para favorecer um grupo. Eu não elogio o caminho de
prática incorreto por parte quer seja de um chefe de família ou de um
contemplativo, pois tanto um chefe de família como um contemplativo, que tenha
entrado no caminho de prática incorreto, devido ao modo de prática incorreto,
não está realizando o caminho verdadeiro, o Dhamma que é benéfico. Eu elogio o
caminho de prática correto por parte quer seja de um chefe de família ou de um
contemplativo, pois tanto um chefe de família como um contemplativo, que tenha
entrado no caminho de prática correto, devido ao modo de prática correto, está
realizando o caminho verdadeiro, o Dhamma que é benéfico.”
5. “Mestre
Gotama, os brâmanes dizem o seguinte: ‘Visto que a vida em família envolve
muita atividade, grandes funções, grandes compromissos e grandes obrigações,
ela produz muitos frutos. Visto que o trabalho dos contemplativos envolve
pequena atividade, pequenas funções, pequenos compromissos, pequenas
obrigações, ele produz poucos frutos.’ O que o Mestre Gotama diz disso?”
“Aqui
também, estudante, eu sou aquele que fala depois de fazer uma análise; eu não
falo para favorecer um grupo. Há trabalho que envolve muita atividade, grandes
funções, grandes compromissos e grandes obrigações, que, quando fracassa,
produz poucos frutos. Há trabalho que envolve muita atividade, grandes funções,
grandes compromissos e grandes obrigações, que, quando tem êxito, produz muitos
frutos. Há trabalho que envolve pequena
atividade, pequenas funções, pequenos compromissos, pequenas obrigações, que,
quando fracassa, produz poucos frutos. Há trabalho que envolve pequena
atividade, pequenas funções, pequenos compromissos, pequenas obrigações, que,
quando tem êxito, produz muitos frutos.
6. “Qual,
estudante, é aquele trabalho que envolve muita atividade ... que, quando
fracassa, produz poucos frutos? A agricultura é o trabalho que envolve muita
atividade ... que, quando fracassa, produz poucos frutos. E qual, estudante, é
aquele trabalho que envolve muita
atividade ... que, quando tem êxito, produz muitos frutos? Novamente a
agricultura é o trabalho que envolve muita atividade .. . que, quando tem
êxito, produz muitos frutos. E qual,
estudante, é aquele trabalho que
envolve pequena atividade ... que, quando fracassa, produz poucos
frutos? O comércio é o trabalho que envolve pequena atividade ... que, quando
fracassa, produz poucos frutos. [3] E qual,
estudante, é aquele trabalho que
envolve pequena atividade ... que, quando tem êxito, produz muitos
frutos? Novamente o comércio é o trabalho que envolve pequena atividade ...
que, quando tem êxito, produz muitos frutos.
7. “Da
mesma forma que a agricultura, estudante, é um trabalho que envolve muita
atividade ... mas que produz poucos frutos quando fracassa, assim também o
trabalho de um chefe de família envolve muita atividade, grandes funções,
grandes compromissos e grandes obrigações e produz poucos frutos quando
fracassa. Da mesma forma que a agricultura é um trabalho que envolve muita
atividade ... e produz muitos frutos quando tem êxito, assim também o trabalho
de um chefe de família envolve muita atividade, grandes funções, grandes compromissos
e grandes obrigações e produz muitos frutos quando tem êxito. Da mesma forma
que o comércio é um trabalho que envolve pouca atividade ... e produz poucos
frutos quando fracassa, assim também o trabalho de um contemplativo envolve
pequena atividade, pequenas funções, pequenos compromissos, pequenas obrigações
e produz poucos frutos quando fracassa. Da mesma forma que o comércio é um
trabalho que envolve pouca atividade ... mas que produz muitos frutos quando
tem êxito, assim também o trabalho de um contemplativo envolve pequena
atividade, pequenas funções, pequenos compromissos, pequenas obrigações, mas
produz muitos frutos quando tem êxito.”
8. “Mestre
Gotama, os brâmanes prescrevem cinco coisas para a realização de méritos, para
lograr o que e benéfico.”
“Se não for
problema, estudante, por favor diga para esta assembléia as cinco coisas que os
brâmanes prescrevem para a realização de méritos, para lograr o que é
benéfico.”
“Não é
problema, Mestre Gotama, quando veneráveis como você e outros estão sentados
[na assembléia].”
“Então
fale, estudante.”
9. “Mestre
Gotama, a verdade é a primeira coisa que os brâmanes prescrevem para a
realização de méritos, para lograr o que é benéfico. Ascetismo é a segunda
coisa ... Celibato é a terceira coisa ... Estudo é a quarta coisa ... Generosidade é a quinta coisa que os
brâmanes prescrevem para a realização de méritos, para lograr o que é benéfico.
Essas são as cinco coisas que os brâmanes prescrevem para a realização de
méritos, para lograr o que é benéfico. O que o Mestre Gotama diz disso?”
“Como
então, estudante, entre os brâmanes existe
pelo menos um brâmane que diga isto: ‘Eu declaro o resultado dessas cinco
coisas, tendo eu mesmo compreendido isso através do conhecimento direto’?” –
“Não, Mestre Gotama.”[4]
Como então,
estudante, entre os brâmanes existe pelo menos um mestre ou um mestre de um
mestre nas últimas sete gerações de mestres que tenha dito isto: ‘Eu declaro o
resultado dessas cinco coisas, tendo eu mesmo compreendido isso através do
conhecimento direto’?” – “Não, Mestre Gotama.”
Como então,
estudante, os antigos brâmanes videntes, os criadores dos mantras, os
compositores dos mantras antigos, que antigamente eram recitados, falados e
compilados, e que ainda hoje os brâmanes recitam e repetem, repetindo o que foi
dito e recitando o que foi recitado – isto é, Atthaka, Vamaka, Vamadeva,
Vessamitta, Yamataggi, Angirasa, Bharadvaja, Vasettha, Kassapa e Bhagu – pelo
menos esses antigos brâmanes videntes diziam isto: ‘Nós declaramos o resultado
dessas cinco coisas, sendo que nós mesmos compreendemos isso através do
conhecimento direto’?” – “Não, Mestre Gotama.”
“Portanto,
estudante, parece que entre os brâmanes não existe nem pelo menos um que diga
isto: ‘Eu declaro o resultado dessas cinco coisas, tendo eu mesmo compreendido
isso através do conhecimento direto.’ E entre os brâmanes não existe nem pelo
menos um mestre ou um mestre de um mestre nas últimas sete gerações de mestres
que tenha dito isto: ‘Eu declaro o resultado dessas cinco coisas tendo eu mesmo
compreendido isso através do conhecimento direto.’ E entre os antigos brâmanes
videntes, os criadores dos mantras, os compositores dos mantras ... até mesmo
esses antigos brâmanes videntes não diziam isto: ‘Nós declaramos o resultado
dessas cinco coisas, sendo que compreendemos isso por nós mesmos através do conhecimento direto.’ Suponha que
houvesse uma fila de homens cegos cada um em contato com o seguinte: o primeiro
não vê, o do meio não vê e o último não vê. Da mesma forma, estudante, em
relação às suas afirmações, os brâmanes parecem uma fila de homens cegos: o primeiro não vê, o do meio não vê e o
último não vê. O que você pensa, estudante, em sendo assim, a fé dos brâmanes
não se torna sem fundamento?”
10. Quando
isso foi dito, o estudante brâmane Subha, o filho de Todeyya, ficou furioso e
desgostoso com o símile da fila de homens cegos e ele insultou, menosprezou e
censurou o Abençoado dizendo: “O contemplativo Gotama será derrotado.” Então
ele disse para o Abençoado: “Mestre Gotama, o brâmane Pokkharasati do clã
Upamanna, soberano do Bosque de Subhaga, diz o seguinte: [5] ‘Aqui alguns contemplativos e brâmanes reivindicam estados
supra-humanos, distinções em conhecimento e visão dignas dos nobres. Mas aquilo
que eles dizem se revela ridículo; se transforma em meras palavras, vazias e ôcas. Pois como poderia um ser humano compreender ou ver, ou ter o
conhecimento de um estado supra-humano, uma distinção em conhecimento e visão
dignas dos nobres? Isso é impossível.’
11. “Como
então, estudante, o brâmane Pokkharasati compreende as mentes de todos os
contemplativos e brâmanes, abrangendo-as com a sua própria mente?”
“Mestre
Gotama, o brâmane Pokkharasati não compreende nem mesmo a mente da sua escrava
esposa Punnika, abrangendo-a com a sua própria mente, então como poderia
ele compreender as mentes de todos os
contemplativos e brâmanes?”
12.
“Estudante, suponha que houvesse um homem cego de nascença que não pudesse ver
as formas claras e escuras. Que não pudesse ver as formas azuis, amarelas,
vermelhas ou rosadas, que não pudesse ver aquilo que é plano e aquilo que é
irregular, que não pudesse ver as estrelas ou o sol e a lua. Ele poderia dizer
o seguinte: ‘Não existem formas claras e escuras, e ninguém que possa ver
formas claras e escuras; não existem
formas azuis, amarelas, vermelhas ou
rosadas, e ninguém que possa ver formas
azuis, amarelas, vermelhas ou rosadas; não há nada plano e nada
irregular, e ninguém que possa ver o plano e o irregular; não existem estrelas
e não existe o sol e a lua, e ninguém que possa ver as estrelas, o sol e a lua.
Eu não conheço isso, eu não vejo isso, portanto isso não existe.’ Dizendo isso,
estudante, ele estaria falando da forma correta?”
“Não, Mestre
Gotama. Existem formas claras e escuras, e aqueles que podem ver formas claras
e escuras ... existem estrelas e existe o sol e a lua, e aqueles que podem ver
as estrelas, o sol e a lua. Dizendo ‘Eu não conheço isso, eu não vejo isso,
portanto, isso não existe,’ ele não estaria falando da forma correta.”
13. “Da
mesma forma, estudante, o brâmane Pokkharasati é cego e não tem visão. Que ele
possa compreender, ver ou alcançar um estado supra-humano, uma distinção em
conhecimento e visão dignas dos nobres – isso é impossível. O que você pensa,
estudante? O que é melhor para os prósperos brâmanes de Kosala, como o brâmane
Canki, o brâmane Tarukkha, o brâmane Pokkharasati, o brâmane Janussoni ou o seu
pai, o brâmane Todeyya, – que as afirmações que eles fazem estejam de acordo
com as convenções do mundo ou que desprezem as convenções do mundo?” – “Que
estas estejam de acordo com as convenções do mundo, Mestre Gotama.”
“O que é
melhor para eles, que as afirmações que eles fazem sejam ponderadas ou
impensadas?” – “Ponderadas, Mestre Gotama.” – “O que é melhor para eles, que as
afirmações que eles fazem sejam feitas depois de refletir ou sem reflexão? –
“Depois de refletir, Mestre Gotama.” – “O que é melhor para eles, que as
afirmações que eles fazem sejam benéficas ou sem benefício?” – “Benéficas,
Mestre Gotama.”
14. “O que
você pensa, estudante? Se é assim, a afirmação feita pelo brâmane Pokkharasati está de acordo com as
convenções do mundo ou despreza as convenções do mundo?” – “Ela despreza as
convenções do mundo, Mestre Gotama.” – “A afirmação feita foi ponderada ou
impensada?” – “Impensada, Mestre Gotama.” – “A afirmação foi feita depois de
refletir ou sem reflexão? – “Sem reflexão, Mestre Gotama.” – “A afirmação feita
foi benéfica ou sem benefício?” – “Sem benefício, Mestre Gotama.”
15. “Agora,
existem esses cinco obstáculos, estudante. Quais são os cinco? O obstáculo do
desejo sensual, o obstáculo da má vontade, o obstáculo da preguiça e torpor, o
obstáculo da inquietação e ansiedade e o obstáculo da dúvida. Esses são os
cinco obstáculos. O brâmane Pokkharasati está obstruído, impedido, bloqueado e
envolvido por esses cinco obstáculos. Que ele possa compreender, ver ou
alcançar um estado supra-humano, uma distinção em conhecimento e visão digna
dos nobres – isso é impossível.
16. “Agora,
existem esses cinco elementos do prazer sensual. Quais são os cinco?
Formas conscientizadas através do olho que são desejáveis, agradáveis e fáceis de
serem gostadas, conectadas com o desejo sensual e que provocam a cobiça. Sons conscientizados através do
ouvido … Aromas conscientizados através do nariz … Sabores conscientizados através da
língua … Tangíveis conscientizados através do corpo
que são desejáveis, agradáveis e fáceis de serem gostados, conectados
com o desejo sensual e que provocam a cobiça. Esses são os cinco elementos do
prazer sensual. O brâmane
Pokkharasati está atado a esses cinco elementos do prazer sensual, apaixonado
por eles e totalmente comprometido com eles; ele desfruta deles sem ver neles o
perigo ou compreender como escapar deles. Que ele possa compreender, ver ou
alcançar um estado supra-humano, uma distinção em conhecimento e visão digna
dos nobres – isso é impossível..
17. “O que
você pensa, estudante? Quais desses dois fogos teria uma [melhor] chama, cor e
luminosidade – um fogo que arde na dependência de um combustível, tal como
capim e madeira, ou um fogo que arde independente de um combustível, tal como
capim e madeira?”
“Se fosse
possível, Mestre Gotama, que um fogo ardesse independente de um combustível,
tal como capim e madeira, esse fogo teria uma [melhor] chama, cor e
luminosidade.”
“É
impossível, estudante, não pode acontecer que um fogo queime independente de
combustível tal como capim ou madeira, exceto através do [exercício de] poderes
supra-humanos. Como o fogo que arde na dependência de um combustível tal como
capim e madeira, eu digo, é o gozo que depende dos cinco elementos do prazer
sensual. Como o fogo que arde independente de combustível tal como o capim e
madeira, é o gozo afastado dos prazeres sensuais, afastado dos estados
prejudiciais. E o que estudante, é o gozo afastado dos prazeres sensuais,
afastado dos estados prejudiciais? Aqui, afastado dos prazeres sensuais,
afastado das qualidades não hábeis, um bhikkhu entra e permanece no primeiro jhana,
que é caracterizado pelo pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e
felicidade nascidos do afastamento. Esse é o gozo afastado dos prazeres
sensuais, afastado dos estados prejudiciais. Além disso, abandonando o
pensamento aplicado e sustentado, um bhikkhu entra e permanece no segundo
jhana, que é caracterizado pela segurança interna e perfeita unicidade da mente, sem o pensamento
aplicado e sustentado, com o êxtase e felicidade nascidos da concentração.
Este também é o gozo afastado dos prazeres sensuais, afastado dos
estados prejudiciais.”
18.
“Daquelas cinco coisas, estudante, que os brâmanes prescrevem para a realização de méritos, para lograr o
que é benéfico, quais das cinco eles prescrevem como sendo a mais frutífera
para a realização de méritos, para
lograr o que é benéfico?”
“Dessas
cinco coisas, Mestre Gotama, que os brâmanes prescrevem para a realização de méritos, para lograr o
que é benéfico, eles prescrevem a generosidade como sendo a mais frutífera para
a realização de méritos, para lograr o que é benéfico.”
19. “O que
você pensa, estudante? Aqui um brâmane pode estar promovendo um grande
sacrifício, e dois outros brâmanes iriam até lá pensando em tomar parte naquele
grande sacrifício. Um dos brâmanes poderia pensar: ‘Ah, que pelo menos eu possa
conseguir o melhor lugar, a melhor água, a melhor comida no refeitório; que
nenhum outro brâmane possa conseguir o melhor lugar, a melhor água, a melhor
comida no refeitório!’ E é possível que um outro brâmane, não aquele brâmane,
consiga o melhor lugar, a melhor água, a melhor comida no refeitório. Pensando
nisso, o primeiro brâmane poderia ficar irado e descontente. Que tipo de
resultado os brâmanes descrevem neste caso?”
“Mestre
Gotama, os brâmanes não dão oferendas dessa forma, pensando: ‘Que os outros
fiquem irados e descontentes devido a isso.’ Ao invés disso, os brâmanes dão oferendas
motivados pela compaixão.”
“Sendo
assim, estudante, essa não seria a sexta base para a realização de méritos,
isto é, a motivação pela compaixão?” [6]
“Sendo
assim, Mestre Gotama, essa é a sexta base para a realização de méritos, isto é,
a motivação pela compaixão.”
20. “Essas
cinco coisas, estudante, que os brâmanes prescrevem para a realização de méritos, para lograr o que é benéfico – onde
você vê essas cinco coisas com freqüência, entre os chefes de família ou entre
os contemplativos?”
“Essas
cinco coisas, Mestre Gotama, que os brâmanes prescrevem para a realização de méritos, para lograr o
que é benéfico, com freqüência vejo entre os contemplativos, raramente entre os
chefes de família. Pois um chefe de família tem muita atividade, grandes
funções, grandes compromissos e grandes obrigações: ele não fala a verdade
constantemente e de modo invariável, não pratica o ascetismo, não observa o
celibato, não se dedica ao estudo e não pratica a generosidade. Mas um
contemplativo tem pouca atividade, pequenas funções, pequenos compromissos e
pequenas obrigações: constantemente e de modo invariável ele fala a verdade,
pratica o ascetismo, observa o celibato, se dedica ao estudo e pratica a
generosidade. Portanto, essas cinco coisas que os brâmanes prescrevem para a realização de méritos, para lograr o
que é benéfico, vejo freqüentemente entre os contemplativos, raramente entre os
chefes de família.”
21. “Essas
cinco coisas, estudante, que os brâmanes prescrevem para a realização de méritos, para lograr o que é benéfico, eu
chamo de equipamento da mente, isto é, para desenvolver uma mente desprovida de
hostilidade e sem má vontade. Aqui, estudante, um bhikkhu diz a verdade.
Pensando, ‘Eu digo a verdade,’ ele obtém inspiração do significado, obtém
inspiração do Dhamma, obtém satisfação do Dhamma. É essa satisfação
conectada com aquilo que é benéfico que eu chamo de um equipamento da mente.
Aqui, estudante, um bhikkhu é um asceta ... um celibatário ... aquele que se
dedica ao estudo ... aquele que pratica a generosidade. Pensando, ‘Eu pratico a
generosidade,’ ele obtém inspiração do significado, obtém inspiração do Dhamma,
obtém satisfação do Dhamma. É essa satisfação
conectada com aquilo que é
benéfico que eu chamo de um equipamento da mente. Portanto, essas cinco coisas
que os brâmanes prescrevem para a
realização de méritos, para lograr o que é benéfico, eu chamo de equipamento da
mente, isto é, para desenvolver uma mente desprovida de hostilidade e sem má
vontade.”
22. Quando
isso foi dito, o estudante brâmane Subha, o filho de Todeyya, disse para o
Abençoado: “Mestre Gotama, eu ouvi dizer que o contemplativo Gotama conhece o
caminho para o mundo de Brahma.”
“O que você
pensa, estudante? O vilarejo de Nalakara está próximo daqui, não distante
daqui?”
“Sim,
senhor, o vilarejo de Nalakara está próximo daqui, não distante daqui.”
“O que você
pensa, estudante? Suponha que houvesse um homem nascido e educado no vilarejo
de Nalakara, e assim que ele tivesse saído de Nalakara alguém lhe perguntasse
qual o caminho para o vilarejo. Aquele homem seria lento e hesitante ao responder?”
“Não,
Mestre Gotama. Porque isso? Porque aquele homem nasceu e foi educado em
Nalakara, e está bem familiarizado com todos os caminhos do vilarejo.”
“Apesar
disso, um homem nascido e educado no vilarejo de Nalakara poderia ser lento ou
hesitante ao responder quando perguntado qual o caminho para o vilarejo, mas um
Tathagata, quando perguntado sobre o mundo de Brahma ou o caminho que conduz
ao mundo de Brahma, nunca seria lento ou hesitante na sua resposta. Eu
compreendo Brahma, estudante, eu
compreendo o mundo de Brahma e eu compreendo o caminho que conduz ao mundo de
Brahma e eu compreendo como alguém deve praticar para renascer no mundo de
Brahma.” [7]
23. “Mestre Gotama, eu ouvi dizer que o contemplativo Gotama ensina o
caminho para o mundo de Brahma. Seria bom se o Mestre Gotama me ensinasse o
caminho para o mundo de Brahma.”
“Então,
estudante, ouça e preste muita atenção àquilo que eu vou dizer.”
- “Sim, senhor” ele respondeu. O Abençoado disse o seguinte:
24. “Qual, estudante, é o caminho para o mundo de Brahma? Aqui um
bhikkhu permanece com o coração pleno de amor bondade, permeando o primeiro quadrante com a mente imbuída de
amor bondade, da mesma forma o segundo, da mesma forma o terceiro, da mesma
forma o quarto; assim, acima, abaixo, em volta e em todos os lugares, para
todos bem como para si mesmo, ele permanece permeando o mundo todo com a mente
imbuída de amor bondade, abundante, transcendente, imensurável, sem hostilidade
e sem má vontade. Quando a
libertação da mente através do amor bondade é desenvolvida dessa forma, nenhum
kamma limitante ali permanece, nenhum ali persiste. Da mesma forma que um
vigoroso corneteiro poderia se fazer ouvir sem dificuldade nos quatro cantos,
assim também, quando a libertação da mente através do amor bondade é
desenvolvida dessa forma, nenhum kamma limitante ali permanece, nenhum ali
persiste.[8] Esse é o caminho para o mundo
de Brahma.
25-27.
‘Novamente, um bhikkhu permanece com o coração pleno de amor bondade, permeando o primeiro quadrante com a
mente imbuída de compaixão ...
com a mente imbuída de alegria altruísta … com a mente imbuída de
equanimidade, da mesma forma o segundo, da mesma forma o terceiro, da mesma
forma o quarto; assim, acima, abaixo, em volta e em todos os lugares, para todos
bem como para si mesmo, ele permanece permeando o mundo todo com a mente
imbuída de equanimidade, abundante, transcendente, imensurável, sem hostilidade
e sem má vontade. Quando a
libertação da mente através da equanimidade é desenvolvida dessa forma, nenhuma ação
limitante ali permanece, nenhuma ali persiste. Da mesma forma que um vigoroso
corneteiro poderia se fazer ouvir sem dificuldade nos quatro cantos, assim
também, quando a libertação da mente através da equanimidade é desenvolvida dessa forma, nenhum
kamma limitante ali permanece, nenhum ali persiste. Esse também é o caminho
para o mundo de Brahma."
28. Quando
isso foi dito o estudante brâmane Subha, o filho de Todeyya, disse para o
Abençoado: “Magnífico, Mestre Gotama! Magnífico, Mestre Gotama! Mestre
Gotama esclareceu o Dhamma de várias formas, como se tivesse colocado em pé o
que estava de cabeça para baixo, revelasse o que estava escondido, mostrasse o
caminho para alguém que estivesse perdido ou segurasse uma lâmpada no escuro
para aqueles que possuem visão pudessem ver as formas. Eu busco refúgio no
Mestre Gotama, no Dhamma e na Sangha dos bhikkhus. Que a partir de hoje o Abençoado me aceite como discípulo leigo que buscou refúgio para o resto da vida.”
29. “E
agora, Mestre Gotama, nós partiremos. Estamos muito ocupados e temos muito que
fazer."
“Agora é o
momento, estudante, faça como julgar adequado.”
Então o
estudante brâmane Subha, o filho de Todeyya, tendo ficado satisfeito e contente
com as palavras do Abençoado levantou do seu assento e depois de homenagear o
Abençoado, mantendo-o à sua direita, partiu.
30. Agora
naquela ocasião o brâmane Janussoni estava saindo de Savatthi ao meio dia numa
carruagem toda branca puxada por éguas brancas. [9] Ele viu o estudante brâmane Subha, o filho de Todeyya, vindo à
distância e perguntou: “De onde vem o Mestre Bharadvaja no meio do dia?”
“Senhor, eu
venho de estar com o contemplativo Gotama.”
“O que o
Mestre Bharadvaja pensa da lucidez da sabedoria do contemplativo Gotama? Ele é
sábio, não é?”
“Senhor,
quem sou eu para saber da lucidez da sabedoria do Mestre Gotama? Alguém
precisaria ser seu igual para saber da lucidez da sabedoria do contemplativo
Gotama."
“O Mestre
Bharadvaja de fato elogia o contemplativo Gotama com muito louvor.”
“Senhor,
quem sou eu para elogiar o contemplativo Gotama? O contemplativo Gotama é
elogiado por aqueles que são elogiados como os melhores entre devas e
humanos.”
Senhor,
essas cinco coisas que os brâmanes prescrevem
para a realização de méritos, para lograr o que é benéfico, o
contemplativo Gotama chama de equipamento da mente, isto é, para desenvolver
uma mente desprovida de hostilidade e sem má vontade.”
31. Quando
isso foi dito, o brâmane Janussoni apeou da sua carruagem toda branca puxada
por éguas brancas e arrumando o seu manto externo sobre o ombro, juntou as mãos
em respeitosa saudação na direção do Abençoado e pronunciou esta exclamação: “É
um ganho para o Rei Pasenadi de Kosala, é um grande ganho para o Rei Pasenadi
de Kosala que o Tathagata, um arahant, perfeitamente iluminado, viva no seu reino.”
Notas:
[1] Todeyya era um brâmane próspero, o
soberano de Tudigama, um vilarejo próximo a Savathi. O MN
135 também foi discursado para este mesmo Subha. [Retorna]
[2] Vibhajjavado kho aham ettha. Afirmações
como esta justificam a designação mais tarde do Budismo como vibhajjavada,
“a doutrina da análise.” [Retorna]
[3] É óbvio que naquela época o comércio ainda
estava numa fase primária de desenvolvimento. A mesma afirmação dificilmente
poderia ser feita na atualidade! [Retorna]
[4] Igual ao MN 95.13.[Retorna]
[5] Esta afirmação deve ter sido feita por
Pokkharasati antes deste se tornar um discípulo do Buda, tal como mencionado no
MN 95.9. [Retorna]
[6] Anukampajatika. [Retorna]
[7] Este conhecimento faz parte do terceiro
poder de um Tathagata, conhecer os caminhos para todos os destinos. Veja o MN 12.12. [Retorna]
[8] MA explica o kamma limitante, (pamanakatam
kammam), como o kamma pertencente à esfera sensual, (kammavacara).
Este é contrastado com o kamma ilimitado ou imensurável, isto é, dos jhanas que
pertencem à esfera da matéria sutil ou imaterial. Neste caso tem-se em mente os
brahmaviharas desenvolvidos até o nível de jhana. Uma vez alcançada e obtida a
maestria sobre um jhana que pertence à esfera da matéria sutil ou imaterial, um
kamma que pertença à esfera sensual não poderá superá-lo e obter uma
oportunidade de gerar o seu próprio resultado. Ao invés disso, o kamma
pertencente à esfera da matéria sutil ou
imaterial sobrepuja os kammas da esfera sensual e produz os seus
resultados. Obstruindo o resultado dos kammas da esfera sensual, o brahmavihara
que foi desenvolvido conduz ao renascimento no mundo de Brahma. [Retorna]
[9] Igual ao MN 27.2.
[Retorna]
Revisado: 16 Abril 2013
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