Majjhima Nikaya 94
Ghotamukha Sutta
Para Ghotamukha
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1. Assim
ouvi. Em certa ocasião o venerável Udena estava em Benares no mangueiral de Khemiya.
2. Agora
naquela ocasião o brâmane Ghotamukha havia chegado em Benares para tratar de
negócios. Enquanto caminhava e perambulava fazendo exercício ele chegou até o
mangueiral de Khemiya. Naquela ocasião, o venerável Udena estava caminhando para
cá e para lá ao ar livre. Então o brâmane Ghotamukha foi até o venerável Udena
e ambos se cumprimentaram. Quando a conversa amigável e cortês havia terminado,
ainda caminhando para cá e para lá com o
venerável Udena, ele disse o seguinte: “Digno contemplativo, não há vida
contemplativa que esteja de acordo com o Dhamma: assim me parece, e isso
pode ser assim porque eu ainda não vi veneráveis como você ou porque eu não vi
o Dhamma.”
3. Quando
isso foi dito, o venerável Udena deixou o caminho e foi para a sua moradia onde
ele sentou num assento que havia sido preparado. [1] E Ghotamukha também deixou o caminho e foi para a moradia, ficando
em pé a um lado. Então o venerável Udena disse: “Há assentos, brâmane, sente se
assim desejar.”
“Nós não
sentamos porque esperávamos pelo Mestre Udena [falar]. Pois como poderia alguém
como eu ousar sentar sem antes ter sido convidado?”
4. Então o
brâmane Ghotamukha tomou um assento mais baixo, sentando a um lado disse para o
venerável Udena: “Digno contemplativo, não há vida contemplativa que esteja de
acordo com o Dhamma: assim me parece, e isso pode ser assim porque eu
ainda não vi veneráveis como você ou porque eu não vi o Dhamma.”
“Brâmane,
se você achar que alguma afirmação minha deva ser acedida, então concorde com
ela; se você achar que alguma afirmação minha deva ser questionada, então
argumente contra ela; e se você não compreender o significado de alguma
afirmação minha, peça esclarecimentos da seguinte forma: ‘Como é isso, Mestre
Udena? Qual o significado disso?’ Assim poderemos discutir esse assunto.”
“Mestre
Udena, se eu achar que alguma afirmação do Mestre Udena deva ser acedida, eu
concordarei com ela; se eu achar que alguma afirmação sua deva ser questionada,
eu argumentarei contra ela; e se eu não compreender o significado de alguma
afirmação do Mestre Udena, então pedirei que o Mestre Udena esclareça da
seguinte forma: ‘Como é isso, Mestre Udena? Qual o significado disso?’ Assim
discutamos esse assunto.”
5-6.
“Brâmane, existem quatro tipos de pessoas que podem ser encontradas no mundo.
Quais quatro? ... (igual ao MN 51, versos 5-6) ...
“Mas,
Mestre Udena, o tipo de pessoa que não atormenta a si mesma, nem se dedica à
prática de torturar a si mesma e ela também não atormenta os outros, nem se
dedica à prática de torturar os outros; esta pessoa, visto que ela não
atormenta a si mesma nem aos outros, está aqui e agora sem fome, saciada,
arrefecida, permanece experimentando a bem-aventurança, tendo ela mesma se
tornado santa – ela não atormenta nem tortura nem a si mesma, nem aos outros
pois ela deseja o prazer e abomina a dor. É por isso que esse tipo de pessoa satisfaz
a minha mente.”
7.
“Brâmane, existem dois tipos de assembléia. Quais dois? Aqui uma certa
assembléia cobiça jóias e adereços e busca esposas e filhos, escravos e
escravas, campos e terras, ouro e prata. Mas aqui uma certa assembléia não
cobiça jóias e adereços, e tendo abandonado esposas e filhos, escravos e
escravas, campos e terras, ouro e prata, deixou a vida em família pela vida
santa. Agora existe esse tipo de pessoa que não atormenta a si mesma, nem se
dedica à prática de torturar a si mesma e ela também não atormenta os outros,
nem se dedica à prática de torturar os outros; esta pessoa, visto que não
atormenta a si mesma nem aos outros, está aqui e agora sem fome, saciada,
arrefecida, permanece experimentando a bem-aventurança, tendo ela mesma se
tornado santa. Em qual dos dois tipos de assembléia você em geral vê esse tipo
de pessoa, brâmane – na assembléia que cobiça jóias e adereços e busca esposas
e filhos, escravos e escravas, campos e terras, ouro e prata; ou na assembléia
que não cobiça jóias e adereços, e tendo
abandonado esposas e filhos, escravos e escravas, campos e terras, ouro e
prata, deixou a vida em família pela vida santa?”
“Eu em
geral vejo esse tipo de pessoa, Mestre Udena, na assembléia que não cobiça
jóias e adereços, e tendo abandonado esposas e filhos ... deixou a vida em
família pela vida santa.
8. “Mas
agora mesmo, brâmane, entendemos você dizer: ‘Digno contemplativo, não há vida
contemplativa que esteja de acordo com o Dhamma: assim me parece, e isso
pode ser assim porque eu ainda não vi veneráveis como você ou porque eu não vi
o Dhamma.’”
“Com
certeza, Mestre Udena, foi para aprender que eu disse aquelas palavras. Há uma
vida contemplativa que está de acordo com o Dhamma; assim me parece, e que
o Mestre Udena possa se lembrar de mim tendo dito isso. Seria bom, se por
compaixão, o Mestre Udena me explicasse em detalhe esses quatro tipos de
pessoas que foram mencionadas de forma resumida.”
9. “Então,
brâmane, ouça e preste muita atenção àquilo que eu vou dizer.” – “Sim, senhor,”
o brâmane Ghotamukha respondeu. O venerável Udena disse o seguinte:
10-30.
“Brâmane, que tipo de pessoa atormenta a si mesma e se dedica à prática de
torturar a si mesma? Neste caso uma certa pessoa anda nua ... (igual ao MN 51, versos 8-28)
... permanece experimentando a bem-aventurança, tendo ela mesma se
tornado santa.”
31. Quando
isso foi dito, o brâmane Ghotamukha disse para o venerável Udena: “Magnífico,
Mestre Udena! Magnífico, Mestre Udena! Mestre Udena esclareceu o Dhamma de
várias formas, como se tivesse colocado em pé o que estava de cabeça para
baixo, revelasse o que estava escondido, mostrasse o caminho para alguém que
estivesse perdido ou segurasse uma lâmpada no escuro para aqueles que possuem
visão pudessem ver as formas. Nós buscamos refúgio no Mestre Udena, no Dhamma e
na Sangha dos bhikkhus. Que o Mestre Udena nos aceite como discípulos leigos
que nele buscaram refúgio para o resto da sua vida.”
32. “Não
busque refúgio em mim, brâmane. Busque refúgio no mesmo Abençoado em quem eu
busquei refúgio.”
“Onde ele
vive agora, esse Mestre Gotama, um arahant, perfeitamente iluminado, Mestre
Udena?”
“Esse
Abençoado, um arahant, perfeitamente iluminado, realizou o parinibbana, brâmane.”
“Se ouvíssemos
que o Mestre Gotama estava a dez léguas, nós percorreríamos as dez léguas para
ver esse Mestre Gotama, um arahant, perfeitamente iluminado. Se ouvíssemos que o
Mestre Gotama estava a vinte léguas ... trinta léguas ... quarenta léguas ...
cinqüenta léguas ... cem léguas, nós percorreríamos as cem léguas para ver esse
Mestre Gotama, um arahant, perfeitamente. Mas visto que esse Mestre Gotama realizou
o parinibbana, nós buscamos refúgio no Mestre Gotama e no Dhamma e na Sangha
dos bhikkhus. Que a partir de hoje o Mestre Udena se recorde de mim como
discípulo leigo que buscou refúgio pelo resto da sua vida.”
33. “Agora,
Mestre Udena, o rei de Anga me dá um donativo diário. Permita que disso eu dê
para o Mestre Udena um donativo regular.”
“Que tipo de
donativo o rei de Anga lhe dá, brâmane?”
“Quinhentos
kahapanas, Mestre Udena.” [2]
“Não nos é permitido aceitar ouro e prata, brâmane.”
“Se não é
permitido ao Mestre Udena aceitar ouro e prata, eu farei com que se construa um
monastério para o Mestre Udena.”
“Se você
deseja construir um monastério para mim, brâmane, faça com se construa um salão
de reuniões para a Sangha em
Pataliputta.” [3]
“Eu estou ainda mais satisfeito e contente por que o Mestre Udena sugere
que eu dê um presente para a Sangha. Assim com esse donativo regular e mais
outro donativo regular, eu farei com que se construa um salão para a Sangha em
Pataliputta.”
Então com
aquele donativo regular [que ele havia oferecido ao Mestre Udena] e mais outro
donativo regular [adicionado], o brâmane Ghotamukha fez com que se construísse
um salão para a Sangha em Pataliputta. E essa construção é agora conhecida como
Ghotamukhi.
Notas:
[1] MA: Ele fez isso depois de perceber que
seria necessária uma longa conversa. [Retorna]
[2] O kahapana era a principal unidade
monetária na época. [Retorna]
[3] Na época dos últimos dias do Buda esta
cidade ainda era uma pequena vila conhecida como Pataligama. No DN 16.1.28, o Buda prevê a sua futura grandeza. No
final das contas ela acabou se tornando a capital de Magadha. Na atualidade a
sua descendente é a cidade de Patna, capital do estado de Bihar.[Retorna]
Revisado: 8 Dezembro 2015
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