Majjhima Nikaya 31
Culagosinga Sutta
O Pequeno Discurso em Gosinga
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1. Assim ouvi.
Em certa ocasião o Abençoado estava em Nadika na Casa de Tijolos.
2. Agora,
naquela ocasião o venerável Anuruddha, o venerável Nandiya e o venerável
Kimbila estavam no Parque da Floresta de árvores Sal de Gosinga. [1]
3. Então, ao anoitecer, o Abençoado se levantou
da meditação e foi até o Parque da Floresta de árvores Sal de Gosinga. O guarda
do Parque viu o Abençoado chegando à distância e disse: “Não entre neste
parque, contemplativo. Aqui há três membros de clãs que estão buscando o que
lhes pode trazer benefício. Não os perturbe.”
4. O
venerável Anuruddha ouviu o guarda do parque conversando com o Abençoado e
disse: “Amigo guarda, não deixe o Abençoado do lado de fora. Ele é o nosso
Mestre, o Abençoado, que veio.” Então o venerável Anuruddha foi até o venerável
Nandiya e o venerável Kimbila e disse: ‘Venham para fora, veneráveis senhores,
venham para fora! O nosso Mestre, o Abençoado, veio.’
5. Então
todos os três foram receber o Abençoado. Um tomou a sua tigela e o manto
externo, outro preparou um assento e o outro verteu água para lavar os pés. O
Abençoado sentou no assento que havia sido preparado e lavou os pés. Então
aqueles três veneráveis homenagearam o Abençoado e sentaram a um lado e o
Abençoado disse: “Eu espero que todos vocês estejam bem, Anuruddha, eu espero
que vocês tenham conforto, eu espero que vocês não estejam enfrentando
dificuldades para obter comida esmolada.”
“Nós
estamos bem, Abençoado, nós temos conforto e não temos enfrentado dificuldades
para obter comida esmolada.”
6. “Eu
espero, Anuruddha, que vocês estejam vivendo em concórdia, com respeito mútuo,
sem disputas, combinando como leite e
água, considerando um ao outro com bondade.”
“Com
certeza, venerável senhor, nós estamos vivendo em concórdia, com apreço mútuo,
sem disputas, mesclando como leite e água, considerando um ao outro com
bondade.”
“Mas,
Anuruddha, como vocês vivem assim?”
7.
“Venerável senhor, quanto a isso, eu penso da seguinte forma: ‘É um ganho para
mim, é um grande ganho para mim que eu esteja vivendo a vida santa com estes
companheiros.’ Eu pratico atos com amor bondade com o corpo, em público e em
particular, em relação a esses veneráveis; Eu pratico atos com amor bondade com
a linguagem, em público e em particular, em relação a esses veneráveis; Eu
pratico atos com amor bondade com a mente, em público e em particular, em
relação a esses veneráveis. [2] Eu considero: ‘Porque
não deveria deixar de lado aquilo que quero fazer e fazer aquilo que esses
veneráveis querem fazer?’ Então deixo de lado aquilo que quero fazer e faço
aquilo que esses veneráveis querem fazer. Nós temos corpos distintos, venerável
senhor, mas é como se fôssemos únicos na mente.”
O venerável
Nandiya e o venerável Kimbila falaram cada um da mesma forma, adicionando:
“Assim é como, venerável senhor, nós estamos vivendo em concórdia, com respeito
mútuo, sem disputas, combinando como leite e água, considerando um ao outro com
bondade.”
8. “Muito
bem Anuruddha, eu espero que vocês permaneçam diligentes, ardentes e
decididos.”
“Com
certeza, venerável senhor, nós permanecemos diligentes, ardentes e decididos.”
“Mas,
Anuruddha, como é que vocês assim permanecem?”
9.
“Venerável senhor, quanto a isso, qualquer um de nós que primeiro retorne do
vilarejo com comida esmolada prepara os assentos, prepara a água de beber e de
limpeza, e coloca o balde de sobras no seu lugar. Qualquer um de nós que
retorne por último come qualquer comida que tenha sobrado, se ele assim
desejar, de outro modo ele joga aquilo fora onde não haja vegetação ou despeja
na água onde não haja vida. Ele guarda os assentos e a água de beber e de
limpeza. Ele guarda o balde de sobras depois de lavá-lo e varre o refeitório.
Qualquer um que perceber que os potes com água de beber, água de limpeza, ou água da
latrina estão com o nível baixo ou vazios, toma as providências necessárias.
Se eles forem excessivamente pesados,
ele chama alguém através de um sinal com a mão e o outro vem ajudá-lo, mas por
conta disso nós não irrompemos em conversação. E a cada cinco dias nós sentamos
juntos uma noite inteira para discutir o Dhamma. Assim é como permanecemos
diligentes, ardentes e decididos.”
10. “Muito
bem Anuruddha. Mas enquanto vocês assim permanecem diligentes, ardentes e
decididos, vocês alcançaram algum estado supra-humano, uma distinção no
conhecimento e visão digna dos nobres, uma estada confortável?”
“Como não,
venerável senhor? Aqui, venerável senhor, sempre que queremos, afastados dos
prazeres sensuais, afastados das qualidades não hábeis, entramos e permanecemos
no primeiro jhana, que é acompanhado pelo pensamento aplicado e sustentado, com
o êxtase e felicidade nascidos do afastamento. Venerável senhor, este é um
estado supra-humano, uma distinção no conhecimento e visão digna dos nobres,
uma estada confortável que alcançamos ao permanecer diligentes, ardentes e
decididos.”
11-13.
“Muito bem Anuruddha. Mas existe algum outro estado supra-humano, uma distinção
no conhecimento e visão digna dos nobres, uma estada confortável, que vocês
alcançaram superando esse estado, fazendo com que esse estado decline?”
“Como não,
venerável senhor? Aqui, venerável senhor, sempre que queremos, silenciando o
pensamento aplicado e sustentado, entramos e permanecemos no segundo jhana ....
Com o desaparecer do êxtase ... entramos e permanecemos no terceiro jhana ... Com o abandono da felicidade e do
sofrimento ... entramos e permanecemos no quarto jhana ... Venerável senhor,
este é um outro estado supra-humano, uma distinção no conhecimento e visão
digna dos nobres, uma estada confortável que alcançamos superando o estado
anterior, fazendo com que aquele estado decline.”
14. “Muito
bem Anuruddha. Mas existe algum outro estado supra-humano ... que vocês
alcançaram superando esse estado, fazendo com que esse estado decline?”
“Como não,
venerável senhor? Aqui, venerável senhor, sempre que queremos, com a completa
superação das percepções da forma, com o desaparecimento das percepções do
contato sensorial, sem dar atenção às percepções da diversidade, conscientes de
que o ‘espaço é infinito,’ entramos e permanecemos na base do espaço infinito.
Venerável senhor, este é um outro estado supra-humano ... que alcançamos superando
o estado anterior, fazendo com que aquele estado decline.”
15-17.
“Muito bem Anuruddha. Mas existe algum outro estado supra-humano ... que vocês
alcançaram superando esse estado, fazendo com que esse estado decline?”
“Como não,
venerável senhor? Aqui, venerável senhor, sempre que queremos, com a completa
superação da base do espaço infinito, conscientes de que a ‘consciência é
infinita,’ entramos e permanecemos na base da consciência infinita ... Com a
completa superação da base da consciência infinita, conscientes de que ‘não há
nada,’ entramos e permanecemos na base do nada ... Com a completa superação da
base do nada, entramos e permanecemos na base da nem percepção, nem não
percepção. Venerável senhor, este é um outro estado supra-humano ... que
alcançamos superando o estado anterior, fazendo com que aquele estado decline.”
18. “Muito
bem Anuruddha. Mas existe algum outro estado supra-humano, uma distinção no
conhecimento e visão dignos dos nobres, uma estada confortável, que vocês
alcançaram superando esse estado, fazendo com que esse estado decline?”
“Como não,
venerável senhor? Aqui, venerável senhor, sempre que queremos, com a completa
superação da base da nem percepção, nem não percepção, entramos e permanecemos
na cessação da percepção e sensação. E as nossas impurezas foram destruídas ao
vermos com sabedoria. Venerável senhor, este é um outro estado supra-humano,
uma distinção no conhecimento e visão digna dos nobres, uma estada confortável,
que alcançamos superando o estado anterior, fazendo com que aquele estado
decline. E, venerável senhor, nós não vemos nenhum outro estado mais elevado ou
mais sublime do que esse.”
“Muito bem
Anuruddha. Não há nenhum outro estado mais elevado ou mais sublime do que
esse.”
19. Então,
quando o Abençoado havia instruído, motivado, estimulado e encorajado o
venerável Anuruddha, o venerável Nandiya e o venerável Kimbila com um discurso
do Dhamma, ele levantou do seu assento e partiu.
20. Depois de
terem acompanhado o Abençoado por algum tempo e de terem regressado, o
venerável Nandiya e o venerável Kimbila perguntaram ao venerável Anuruddha:
“Alguma vez relatamos ao venerável Anuruddha termos alcançado esses estados e
realizações que o venerável Anuruddha, na presença do Abençoado, nos atribuiu,
até a destruição das impurezas?”
“Os
veneráveis nunca relataram terem alcançado esses estados e realizações. No
entanto abrangendo a mente dos veneráveis com a minha mente, eu sei que vocês
alcançaram esses estados e realizações. E divindades também me relataram:
‘Esses veneráveis alcançaram aqueles estados e realizações.’ Então eu declarei
isso ao ser perguntado diretamente pelo Abençoado.”
21. Então o
yakkha Digha Parajana[3] foi até o Abençoado.
Depois de cumprimentá-lo, ele ficou em pé num lado e disse: “É um ganho para os
Vajjias, venerável senhor, um grande ganho para o povo de Vajjia que o
Tathagata, um arahant, perfeitamente iluminado, e esses três membros de um clã, o
venerável Anuruddha, o venerável Nandiya e o venerável Kimbila, habitem entre
eles!” Ao ouvirem a exclamação do yakkha Digha Parajana, as divindades da terra
exclamaram: “É um ganho para os Vajjias, venerável senhor, um grande ganho para
o povo de Vajjia que o Tathagata, um arahant, perfeitamente iluminado, e esses três
membros de um clã, o venerável Anuruddha, o venerável Nandiya e o venerável
Kimbila, habitem entre eles!” Ao ouvirem a exclamação das divindades da terra,
os devas dos Quatro Grandes Reis ... os devas do Trinta
e três ... os devas de Yama ... os devas de Tusita ... os devas de Nimmanarati ... os devas de Paranimmita-vasavatti
... os devas do cortejo de brahma exclamaram: “É um ganho para os
Vajjias, venerável senhor, um grande ganho para o povo de Vajjia que o
Tathagata, um arahant, perfeitamente iluminado, e esses três membros de um clã, o
venerável Anuruddha, o venerável Nandiya e o venerável Kimbila, habitem entre
eles!” Assim, naquele instante, naquele momento, aqueles veneráveis se tornaram
conhecidos até no mundo de Brahma.
22. [O
Abençoado disse:] “Assim é, Digha, assim é! E se o clã do qual aqueles três
saíram, para deixar a vida em família pela vida santa, se recordasse deles com confiança
no coração, isso seria para a felicidade e bem-estar daquele clã por muito
tempo. E se a comitiva daquele clã, do qual aqueles três saíram para deixar a
vida em família ... o vilarejo do qual aqueles três saíram ... a vila da qual
aqueles três saíram ... a cidade da qual aqueles três saíram ... o país do qual
aqueles três saíram ... pela vida santa, se recordasse deles com confiança no
coração, isso seria para a felicidade e bem-estar daquele país por muito tempo.
Se todos os nobres se recordassem deles com confiança no coração, isso seria
para a felicidade e bem-estar dos nobres por muito tempo. Se todos os brâmanes
... todos os comerciantes ... todos os trabalhadores se recordassem deles com
confiança no coração, isso seria para a felicidade e bem-estar dos
trabalhadores por muito tempo. Se o mundo com os seus devas, maras e brahmas, esta população com os seus
contemplativos e brâmanes, seus príncipes e o povo, se recordassem deles com
confiança no coração, isso seria para a felicidade e bem-estar do mundo por
muito tempo. Você vê, Digha, como esses três estão praticando pela felicidade e
bem-estar de muitos, por compaixão pelo mundo, para o bem, bem-estar e
felicidade de devas e humanos.”
Isso foi o
que disse o Abençoado. O yakkha Digha Parajana ficou satisfeito e contente com
as palavras do Abençoado.
Notas:
[1] O Ven. Anuruddha era o primo do Buda; os
Vens. Nandiya e Kimbila eram amigos e constantes companheiros de Anuruddha. [Retorna]
[2] Estas são as três das “seis qualidades
memoráveis” explicadas no MN 48.6. [Retorna]
[3] MA identifica este yakkha como um rei
celestial, (devaraja), que fazia parte dos vinte oito comandantes dos
yakkhas mencionado no DN 32.10. [Retorna]
Revisado: 2 Fevereiro 2008
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