Majjhima Nikaya 102
Pañcattaya Sutta
Os Cinco e Três
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1. Assim
ouvi. [1] Em certa ocasião o
Abençoado estava em Savatthi no Bosque de Jeta, no Parque de Anathapindika. Lá
ele se dirigiu aos monges desta forma: “Bhikkhus” – “Venerável Senhor,” eles
responderam. O Abençoado disse o seguinte:
(ESPECULAÇÕES
ACERCA DO FUTURO)
2.
“Bhikkhus, há alguns contemplativos e brâmanes que especulam acerca do futuro,
que possuem idéias acerca do futuro, que fazem várias alegações doutrinárias em
relação ao futuro.
(I) Alguns
afirmam o seguinte: ‘O eu é perceptivo e intacto [2] após a morte.’
(II) Alguns
afirmam o seguinte: ‘O eu é não-perceptivo e intacto após a morte.’
(III)
Alguns afirmam o seguinte: ‘O eu é nem perceptivo, nem não-perceptivo e
intacto após a morte.’
(IV) Ou
eles descrevem a aniquilação, destruição e exterminação de um ser existente [na
morte].
(V) Ou
alguns afirmam Nibbana aqui e agora.
“Portanto,
(a) ou eles descrevem um eu existente que permanece intacto após a morte; (b)
ou eles descrevem a aniquilação, destruição e exterminação de um ser existente
[na morte]; (c) ou eles afirmam Nibbana aqui e agora. Assim essas [idéias],
sendo cinco se tornam três e sendo três se tornam cinco. Esse é o sumário dos
‘cinco e três.’
3. (I) “Nesse sentido, bhikkhus, aqueles contemplativos e brâmanes que
descrevem o eu como perceptivo e intacto após a morte, descrevem esse eu,
perceptivo e intacto após a morte, como um dos seguintes:
material;
ou
imaterial;
ou ambos,
material e imaterial;
ou nem
material e tampouco imaterial;
ou
perceptivo da unidade;
ou
perceptivo da diversidade;
ou
perceptivo do limitado;
ou
perceptivo do imensurável. [3]
Ou ainda, dentre aqueles poucos que vão além disso, alguns afirmam ser a
kasina da consciência, imensurável e imperturbável, [o eu]. [4]
4. “O Tathagata, bhikkhus, compreende isso da seguinte forma: ‘Esses
bons contemplativos e brâmanes que descrevem o eu como perceptivo e intacto
após a morte, descrevem esse eu,
perceptivo e intacto após a morte, como, ou material ... ou eles o
descrevem como perceptivo do imensurável. Por outro lado, visto que [a
percepção] “não há nada” é declarada como a mais pura, suprema, a melhor e
insuperável dessas percepções – sejam elas, percepção da forma ou sem forma, da
unidade ou diversidade [5] – alguns afirmam
ser a base do nada, imensurável e imperturbável [o eu]. Isso é condicionado e
grosseiro, mas há a cessação das formações.’ Tendo compreendido ‘Existe isso,’
vendo a escapatória disso, o Tathagata foi além disso. [6]
5. (II) “Nesse sentido, bhikkhus, aqueles contemplativos e brâmanes que
descrevem o eu como não-perceptivo e intacto após a morte, descrevem esse eu
não-perceptivo e intacto após a morte como um dos seguintes:
material;
ou
imaterial;
ou ambos, material
e imaterial;
ou nem
material e tampouco imaterial. [7]
6. “Nesse sentido, bhikkhus, esses criticam aqueles contemplativos e
brâmanes que descrevem o eu como perceptivo e intacto após a morte. Por que isso?
Porque eles dizem: ‘A percepção é uma enfermidade, a percepção é um tumor, a
percepção é uma flecha; isto é pacífico, isto é sublime, isto é, a
não-percepção.’
7. “O
Tathagata, bhikkhus, compreende isso da seguinte forma: ‘Esses bons
contemplativos e brâmanes que descrevem o eu como não-perceptivo e intacto após
a morte, descrevem esse eu não-perceptivo e intacto após a morte como, ou
material ... ou nem material e tampouco imaterial. Que algum contemplativo ou
brâmane possa dizer: “Separado da forma material, separado da sensação,
separado da percepção, separado das formações, eu irei descrever as vindas e
idas da consciência, o seu falecimento e renascimento, o seu desenvolvimento,
crescimento e maturação” – isso é impossível. [8] Isso
é condicionado e grosseiro, mas há a cessação das formações.’ Tendo
compreendido ‘Existe isso,’ vendo a escapatória disso, o Tathagata foi além
disso.
8. (III)
“Nesse sentido, bhikkhus, aqueles contemplativos e brâmanes que descrevem o eu
como nem perceptivo, nem não-perceptivo e intacto após a morte, descrevem esse
eu nem perceptivo, nem não-perceptivo e intacto após a morte como um dos
seguintes:
material;
ou
imaterial;
ou ambos
material e imaterial;
ou nem
material e tampouco imaterial. [9]
9. “Nesse sentido, bhikkhus, esses criticam aqueles contemplativos e
brâmanes que descrevem o eu como perceptivo e intacto após a morte, e eles
criticam aqueles contemplativos e brâmanes que descrevem o eu como
não-perceptivo e intacto após a morte. Por que isso? Porque eles dizem: ‘A
percepção é uma enfermidade, a percepção é um tumor, a percepção é uma flecha,
e a não-percepção é a estupefação; [10] isto
é pacífico, isto é sublime, isto é, nem percepção, nem não-percepção.’
10. “O
Tathagata, bhikkhus, compreende isso da seguinte forma: ‘Esses bons
contemplativos e brâmanes que descrevem o eu como nem perceptivo, nem
não-perceptivo e intacto após a morte, descrevem esse eu, nem perceptivo, nem
não-perceptivo e intacto após a morte, ou como material ... ou nem material e
tampouco imaterial. Se algum contemplativo ou brâmane descrever que a entrada
nessa base ocorre através de uma medida de formações relacionada ao que é
visto, ouvido, sentido e conscientizado, isto é declarado ser um desastre para
a entrada nessa base. [11] Pois esta base, é
assim declarado, não é para ser alcançada como uma realização com formações;
esta base, é assim declarado, é para ser alcançada como uma realização com um
resíduo de formações. [12] Isso é
condicionado e grosseiro, mas há a cessação das formações.’ Tendo compreendido
‘Existe isso,’ vendo a escapatória disso, o Tathagata foi além disso.
11. (IV)
“Nesse sentido, bhikkhus, aqueles contemplativos e brâmanes que descrevem a
aniquilação, destruição e exterminação de um ser existente [na morte] [13] criticam aqueles contemplativos e brâmanes
que descrevem o eu como perceptivo e intacto após a morte, e eles criticam
aqueles contemplativos e brâmanes que descrevem o eu como não-perceptivo e
intacto após a morte, e eles criticam aqueles contemplativos e brâmanes que
descrevem o eu como nem perceptivo, nem não-perceptivo e intacto após a morte.
Por que isso? Todos esses contemplativos e brâmanes, apressando-se adiante,
afirmam o seu apego assim: ‘Nós seremos assim após a morte, nós seremos assim
após a morte.’ Como um comerciante, que vai para o mercado, pensa: ‘Através
disto, aquilo será meu; com isto, eu conseguirei aquilo’; assim também, aqueles
contemplativos e brâmanes parecem comerciantes quando eles declaram: ‘Nós
seremos assim após a morte, nós seremos assim após a morte.’
12. “O
Tathagata, bhikkhus, compreende isso da seguinte forma: ‘Esses bons
contemplativos e brâmanes que descrevem a aniquilação, destruição e
exterminação de um ser existente [na morte], devido ao medo da identidade e
repulsa pela identidade, ficam correndo e circundando ao redor dessa mesma
identidade. [14] Como um cão, atado por uma
correia a um poste firme ou coluna, fica correndo e circundando ao redor desse
mesmo poste ou coluna; assim também, esses contemplativos e brâmanes, devido ao
medo da identidade e repulsa pela identidade, ficam correndo e circundando ao
redor dessa mesma identidade. Isso é condicionado e grosseiro, mas há a
cessação das formações.’ Tendo compreendido ‘Existe isso,’ vendo a escapatória
disso, o Tathagata foi além disso.
13.
“Bhikkhus, quaisquer contemplativos e brâmanes que especulem acerca do futuro,
que possuam idéias acerca do futuro, e que façam várias alegações doutrinárias
com relação ao futuro, todos afirmam essas cinco bases ou alguma dentre elas. [15]
(ESPECULAÇÕES ACERCA DO PASSADO)
14.
“Bhikkhus, há alguns contemplativos e brâmanes que especulam acerca do passado,
que possuem idéias acerca do passado, que fazem várias alegações doutrinárias
com relação ao passado.
(1) Alguns
afirmam o seguinte: ‘O eu e o mundo são eternos: somente isto é verdadeiro,
todo o restante é falso.’ [16]
(2) Alguns afirmam o seguinte: ‘O eu e o mundo não são eternos: somente
isto é verdadeiro, todo o restante é falso.’ [17]
(3) Alguns afirmam o seguinte: ‘O eu e o mundo são ambos, eterno e não
eterno: somente isto é verdadeiro, todo o restante é falso.’ [18]
(4) Alguns afirmam o seguinte: ‘O eu e o mundo são nem eternos, nem não
eternos: somente isto é verdadeiro, todo o restante é falso.’ [19]
(5) Alguns afirmam o seguinte: ‘O eu e o mundo são finitos: somente isto
é verdadeiro, todo o restante é falso.’ [20]
(6) Alguns afirmam o seguinte: ‘O eu e o mundo são infinitos: somente
isto é verdadeiro, todo o restante é falso.’
(7) Alguns
afirmam o seguinte: ‘O eu e o mundo são ambos, finito e infinito: somente isto
é verdadeiro, todo o restante é falso.’
(8) Alguns
afirmam o seguinte: ‘O eu e o mundo são nem finitos, nem infinitos: somente
isto é verdadeiro, todo o restante é falso.’
(9) Alguns
afirmam o seguinte: ‘O eu e o mundo são perceptivos da unidade: somente isto é
verdadeiro, todo o restante é falso.’ [21]
(10) Alguns afirmam o seguinte: ‘O eu e o mundo são perceptivos da
diversidade: somente isto é verdadeiro, todo o restante é falso.’
(11) Alguns
afirmam o seguinte: ‘O eu e o mundo são perceptivos do limitado: somente isto é
verdadeiro, todo o restante é falso.’
(12) Alguns
afirmam o seguinte: ‘O eu e o mundo são perceptivos do imensurável: somente
isto é verdadeiro, todo o restante é falso.’
(13) Alguns
afirmam o seguinte: ‘O eu e o mundo [experimentam] exclusivamente o prazer:
somente isto é verdadeiro, todo o restante é falso.’
(14) Alguns
afirmam o seguinte: ‘O eu e o mundo [experimentam] exclusivamente a dor:
somente isto é verdadeiro, todo o restante é falso.’
(15) Alguns
afirmam o seguinte: ‘O eu e o mundo [experimentam] ambos, prazer e dor: somente
isto é verdadeiro, todo o restante é falso.’
(16) Alguns
afirmam o seguinte: ‘O eu e o mundo [experimentam] nem prazer, nem dor: somente
isto é verdadeiro, todo o restante é falso.'
15. (1)
“Nesse sentido, bhikkhus, com relação àqueles contemplativos e brâmanes que
possuem a seguinte doutrina e entendimento: ‘O eu e o mundo são eternos:
somente isto é verdadeiro, todo o restante é falso,’ que exceto pela fé, exceto
pela preferência, exceto pela tradição, exceto pela cogitação com base na razão, exceto pelas
idéias, eles terão um tipo de conhecimento pessoal claro e puro disso – isso é
impossível. [22] Visto que eles não possuem
conhecimento pessoal claro e puro, mesmo o mero conhecimento incompleto que
esses contemplativos e brâmanes elucidam [acerca do entendimento deles] é
declarado como sendo apego da parte deles. [23] Isso
é condicionado e grosseiro, mas há a cessação das formações.’ Tendo
compreendido ‘Existe isso,’ vendo a escapatória disso, o Tathagata foi além disso.
16. (2-16)
“Nesse sentido, bhikkhus, aqueles contemplativos e brâmanes que possuem a
seguinte doutrina e entendimento: ‘O eu e o mundo não são eternos ... ambos,
eterno e não eterno ... nem eternos, nem não eternos ... finitos ... infinitos
... ambos, finito e infinito ... nem finitos, nem infinitos ... perceptivos da
unidade ... perceptivos da diversidade ... perceptivos do limitado ...
perceptivos do imensurável ... [experimentam] exclusivamente o prazer ...
[experimentam] exclusivamente a dor ... [experimentam] ambos, prazer e dor ...
[experimentam] nem prazer, nem dor: que exceto pela fé, exceto pela
preferência, exceto pela tradição,
exceto pela cogitação com base na razão, exceto pelas idéias, eles terão algum tipo de
conhecimento pessoal claro e puro disso – isso é impossível. Visto que eles não
possuem conhecimento pessoal claro e puro, mesmo o mero conhecimento incompleto
que esses contemplativos e brâmanes elucidam [acerca do entendimento deles] é
declarado como sendo apego da parte deles. Isso é condicionado e grosseiro, mas
há a cessação das formações.’ Tendo compreendido ‘Existe isso,’ vendo a
escapatória disso, o Tathagata foi além disso. [24]
(NIBBANA AQUI E AGORA) [25]
17. (V) “Aqui, bhikkhus, [26] um
contemplativo ou brâmane, com o abandono das idéias acerca do passado e do
futuro e com a completa ausência de determinação pelos grilhões do prazer sensual,
entra e permanece no êxtase do afastamento. [27] Ele pensa: ‘Isto é pacífico, isto é sublime, que eu entre e
permaneça no êxtase do afastamento.’ Aquele êxtase do afastamento cessa nele.
Com a cessação do êxtase do afastamento, surge a aflição, e com a cessação da
aflição, o êxtase do afastamento surge. [28] Como
a luz do sol permeia a área que a sombra deixa, e a sombra permeia a área que a
luz do sol deixa, assim também, com a cessação do êxtase do afastamento, surge
a aflição, e com a cessação da aflição, o êxtase do afastamento surge.
18. “O
Tathagata, bhikkhus, compreende isso da seguinte forma: ‘Esse bom contemplativo
ou brâmane, com o abandono das idéias acerca do passado e do futuro ... e com a
cessação da aflição, o êxtase do afastamento surge. Isso é condicionado e
grosseiro, mas há a cessação das formações.’ Tendo compreendido ‘Existe isso,’
vendo a escapatória disso, o Tathagata foi além disso.
19. “Aqui,
bhikkhus, um contemplativo ou brâmane, com o abandono das idéias acerca do
passado e do futuro e com a completa ausência de determinação pelos grilhões do
prazer sensual, e com a superação do êxtase do afastamento, entra e permanece
num prazer extra-mundano. [29] Ele pensa:
‘Isto é pacífico, isto é sublime, que eu entre e permaneça num prazer
extra-mundano.’ Aquele prazer extra-mundano cessa nele. Com a cessação do
prazer extra-mundano, surge o êxtase do afastamento, e com a cessação do êxtase
do afastamento, o prazer extra-mundano surge. Como a luz do sol permeia a área
que a sombra deixa, e a sombra permeia a área que a luz do sol deixa, assim
também, com a cessação do êxtase do prazer extra-mundano, surge o êxtase do
afastamento, e com a cessação do êxtase do afastamento, o prazer extra-mundano
surge.
20. “O
Tathagata, bhikkhus, compreende isso da seguinte forma: ‘Esse bom contemplativo
ou brâmane, com o abandono das idéias acerca do passado e do futuro ... e com a
cessação do êxtase do afastamento, o prazer extra-mundano surge. Isso é
condicionado e grosseiro, mas há a cessação das formações.’ Tendo compreendido
‘Existe isso,’ vendo a escapatória disso, o Tathagata foi além disso.
21. “Aqui,
bhikkhus, um contemplativo ou brâmane, com o abandono das idéias acerca do
passado e do futuro e com a completa ausência de determinação pelos grilhões do
prazer sensual, e com a superação do êxtase do afastamento e do prazer
extra-mundano, entra e permanece na sensação nem dolorosa, nem prazerosa. [30] Ele pensa: ‘Isto é pacífico, isto é
sublime, que eu entre e permaneça na sensação nem dolorosa, nem prazerosa.’
Aquela sensação nem dolorosa, nem prazerosa cessa nele. Com a cessação da
sensação nem dolorosa, nem prazerosa, surge o prazer extra-mundano, e com a
cessação do prazer extra-mundano, a sensação nem dolorosa, nem prazerosa surge.
Como a luz do sol permeia a área que a sombra deixa, e a sombra permeia a área
que a luz do sol deixa, assim também, com a cessação do êxtase da sensação nem
dolorosa, nem prazerosa, surge o prazer extra-mundano, e com a cessação do
prazer extra-mundano, a sensação nem dolorosa, nem prazerosa surge.
22. “O
Tathagata, bhikkhus, compreende isso da seguinte forma: ‘Esse bom contemplativo
ou brâmane, com o abandono das idéias acerca do passado e do futuro ... e com a
cessação do prazer extra-mundano, a sensação nem dolorosa, nem prazerosa surge.
Isso é condicionado e grosseiro, mas há a cessação das formações.’ Tendo
compreendido ‘Existe isso,’ vendo a escapatória disso, o Tathagata foi além
disso.
23. “Aqui,
bhikkhus, um contemplativo ou brâmane, com o abandono das idéias acerca do
passado e do futuro e com a completa ausência de determinação pelos grilhões do
prazer sensual, e com a superação do êxtase do afastamento, do prazer
extra-mundano, e da sensação nem dolorosa, nem prazerosa, considera a si mesmo
assim: ‘Eu estou em paz, eu realizei Nibbana, eu estou sem apego.’ [31]
24. “O Tathagata, bhikkhus, compreende isso da seguinte forma: ‘Esse bom
contemplativo ou brâmane, com o abandono das idéias acerca do passado e do
futuro ... considera a si mesmo assim: “Eu estou em paz, eu realizei Nibbana,
eu estou sem apego.” Com certeza esse venerável declara o caminho na direção de
Nibbana. No entanto, esse bom contemplativo ou brâmane ainda tem apego,
apegando-se ainda a uma idéia acerca do passado ou a uma idéia acerca do
futuro, ou a um grilhão do prazer sensual, ou ao êxtase do afastamento, ou ao
prazer extra-mundano, ou à sensação nem dolorosa, nem prazerosa. E quando esse
venerável considera a si mesmo assim:
“Eu estou em paz, eu alcancei Nibbana, eu estou sem apego,” isso também
é declarado como apego por parte desse bom contemplativo ou brâmane. [32] Isso é condicionado e grosseiro, mas há a
cessação das formações.’ Tendo compreendido ‘Existe isso,’ vendo a escapatória
disso, o Tathagata foi além disso.
25.
“Bhikkhus, esse estado supremo de paz sublime foi descoberto pelo Tathagata,
isto é, a libertação através do desapego, [33] por
meio da compreensão de como na verdade são a origem, a cessação, a
gratificação, o perigo e a escapatória no caso das seis bases do contato.
Bhikkhus, esse é o estado supremo de paz sublime descoberto pelo Tathagata,
isto é, a libertação através do desapego, por meio da compreensão de como na
verdade são a origem, a cessação, a gratificação, o perigo e a escapatória no
caso das seis bases do contato.”[34]
Isso foi o
que disse o Abençoado. Os bhikkhus ficaram satisfeitos e contentes com as
palavras do Abençoado.
Notas:
[1] Este sutta é a contraparte, em “extensão
média”, do mais longo Brahmajala Sutta, que faz
parte do Digha Nikaya. [Retorna]
[2] Aroga, “saudável,” explicado por MA
com o significado de permanente. [Retorna]
[3] No Brahmajala Sutta
são mencionadas dezesseis variantes desta idéia, as oito mencionadas aqui e
mais duas tétrades: o eu como finito, infinito, ambos e nenhum dos dois; e o eu
experimentando exclusivamente o prazer, exclusivamente a dor, uma mescla de
ambos e nenhum dos dois. Neste sutta as duas tétrades estão incluídas nas
especulações sobre o passado no verso 14. [Retorna]
[4] É evidente que na lista acima, as idéias
do eu como imaterial, perceptivo da unidade e perceptivo do imensurável estão
baseadas na realização da base do espaço infinito. MT explica a kasina da
consciência como a base da consciência infinita, mencionando que esses
teorizadores afirmam que essa base é o eu. [Retorna]
[5] A percepção contida no terceiro nível
imaterial – a base do nada – é a mais sutil e a mais refinada de todas as
percepções mundanas. Embora ainda haja um certo tipo de percepção no quarto
nível imaterial, ela é tão sutil que não é mais considerado apropriado
designá-la como percepção. [Retorna]
[6] MA parafraseia assim: “Todos esses tipos
de percepção, juntamente com as idéias, são condicionadas e porque são
condicionadas, são grosseiras. Mas existe Nibbana, chamado de cessação das
formações, isto é, do condicionado. Tendo compreendido ‘Existe isso,’ de que
Nibbana existe, vendo a escapatória do condicionado, o Tathagata foi além do
condicionado.” [Retorna]
[7] A segunda tétrade do verso 3 é aqui
deixada de lado, visto que o eu é concebido como não perceptivo. No Brahmajala
Sutta são mencionadas oito variantes desta idéia, estas quatro mais a
tétrade finito-infinito. [Retorna]
[8] MA indica que esta afirmação é feita com
referência aos planos de existência nos quais existem os cinco agregados. Nos
planos imateriais a consciência ocorre sem o agregado da forma material e no
plano não-perceptivo existe a forma material sem a percepção. Mas a
consciência nunca ocorre sem os outros três agregados mentais. [Retorna]
[9] O Brahmajala Sutta menciona oito
variantes desta idéia, estas quatro mais a tétrade finito-infinito. [Retorna]
[10] Sammoha, obviamente, aqui tem um
significado distinto do usual, “confusão” ou “delusão.” [Retorna]
[11] MA explica o composto ditthasutamutaviññatabba
com o significado de “aquilo que é para ser conscientizado como o visto, ouvido
e sentido” e entende que isto se refere à cognição através das portas dos meios
dos sentidos. No entanto, isto também pode abranger todas as cognições
grosseiras através da porta da mente. Para penetrar a quarta realização
imaterial, todas as “formações mentais” comuns envolvidas no processo cognitivo
precisam ser superadas, pois a persistência destas é um obstáculo para entrar
nessa realização. Por conseguinte, ela é chamada “não perceptiva” (n'eva
saññi). [Retorna]
[12] Sasankharavasesasamapatti. Dentro
da quarta realização imaterial permanece um resíduo de formações mentais
extremamente sutis. Por conseguinte, é chamada de “não não-perceptiva” (nasaññi).
[Retorna]
[13] O Brahmajala explica sete tipos de
doutrina de aniquilação, aqui todas estão ajuntadas numa só. [Retorna]
[14] O “medo e repulsa pela identidade” é um
aspecto de vibhavatanha, o desejo pela não existência. A doutrina de
aniquilação à qual esse desejo dá origem, ainda envolve a identificação da
identidade com o eu – um eu que é aniquilado com a morte – e assim, apesar da
negação, ata o teorista ao ciclo de existências. [Retorna]
[15] Até este ponto, foram analisadas apenas
quatro das cinco categorias originais de especulações sobre o futuro. O Brahmajala
abrange as cinco categorias, incluindo Nibbana, aqui e agora. Não há uma
explicação convincente para a omissão neste sutta, levantando a suspeita de que
esse trecho tenha se perdido no processo da transmissão oral. [Retorna]
[16] Esta idéia inclui todas as quatro
doutrinas da eternidade com especulações acerca do passado mencionadas no Brahmajala.
[Retorna]
[17] Visto que esta é uma idéia que se refere ao
passado, pode ser entendido que o eu e o mundo surgiram de modo espontâneo a
partir do nada, em algum momento no passado. Isto compreende as duas doutrinas
de origem fortuita mencionadas no Brahmajala,
tal como afirma MA. [Retorna]
[18] Isto inclui os quatro tipos de eternidade
parcial. [Retorna]
[19] Isto pode incluir os quatro tipos de
tergiversação interminável ou “contorção de enguias” do Brahmajala. [Retorna]
[20] As idéias 5-8 correspondem de modo exato
aos quatro ‘extencionistas’ do Brahmajala.
[Retorna]
[21] As oito idéias (9-16) no Brahmajala, estão
incluídas como parte das doutrinas de percepção da imortalidade que fazem parte
das especulações sobre o futuro. [Retorna]
[22]Isto é, eles têm que aceitar a doutrina
deles com base em outra coisa que não o conhecimento verdadeiro, e essa coisa
envolve a crença ou o raciocínio. No MN 95.14 é dito
que os cinco fundamentos para a convicção produzem conclusões que tanto podem
ser falsas como verdadeiras. [Retorna]
[23] MA: Isto não é na verdade conhecimento,
mas entendimento incorreto; portanto, é declarado como apego a idéias. [Retorna]
[24] MA diz que neste ponto todas as sessenta
e duas idéias mencionadas no Brahmajala
Sutta foram incorporadas, no entanto, este sutta possui um escopo ainda
mais amplo, visto que inclui uma exposição da idéia de uma identidade
(implícito de forma especial no verso 24). [Retorna]
[25] Este título e o numeral Romano “V” que
segue, foram inseridos na suposição de que este trecho representaria a doutrina
de Nibbana, aqui e agora, mencionada mas não explicada anteriormente. [Retorna]
[26] MA: Esta seção tem a intenção de mostrar
como todas as sessenta e duas idéias especulativas surgem sob a influência da
idéia de uma identidade. [Retorna]
[27] Pavivekam pitim. Isto se refere
aos dois primeiros jhanas, que incluem piti. [Retorna]
[28] MA explica que esta é a aflição provocada
pela perda do jhana. A aflição não surge de imediato após a cessação do jhana,
mas só após refletir acerca do seu desaparecimento. [Retorna]
[29] Niramisam sukham. Este é o prazer
do terceiro jhana. [Retorna]
[30] O quarto jhana. [Retorna]
[31] Santo'ham asmi, nibbuto'ham asmi,
anupadano'ham asmi. A expressão em Pali aham asmi, “Eu estou”,
revela que ele ainda está envolvido com o apego, como será apontado pelo Buda.
[Retorna]
[32] MA entende que esta é uma alusão à idéia
de uma identidade. Portanto, ele ainda tem apego a uma idéia. [Retorna]
[33] MA menciona que em outros textos a
expressão “libertação através do desapego”, (anupada
vimokkha), significa Nibbana, mas aqui significa a realização do fruto de
arahant. [Retorna]
[34] O Brahmajala Sutta também aponta
para o entendimento da origem, etc., das seis bases de contato como o caminho
para transcender todas as idéias. [Retorna]
Revisado: 19 Fevereiro 2008
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