Majjhima Nikaya 100
Sangarava Sutta
Para Sangarava
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1. Assim
ouvi. Em certa ocasião, o Abençoado estava perambulando em Kosala com uma
grande Sangha de bhikkhus.
2. Agora,
naquela ocasião uma mulher brâmane chamada Dhananjani vivia em Candalakappa com plena confiança no Buda, no
Dhamma e na Sangha. [1] Certa vez ela tropeçou
e [ao recuperar o equilíbrio] ela exclamou três vezes: “Honra ao Abençoado,
um arahant, perfeitamente iluminado! Honra ao Abençoado, um arahant, perfeitamente iluminado! Honra ao Abençoado, um arahant, perfeitamente iluminado!”
3. Naquela
ocasião, havia um estudante brâmane chamado Sangarava que vivia em
Candalakappa. Ele era um mestre dos três Vedas com os seus mantras, liturgia,
fonologia e etimologia e as histórias como quinto elemento; hábil em filologia
e gramática, um perito em filosofia natural e nas marcas de um grande homem. Ao
ouvir Dhananjani dizer aquelas palavras ele disse para ela: “Essa mulher
brâmane Dhananjani tem que ser desgraçada e degradada, visto que havendo
brâmanes por perto ela elogia aquele contemplativo careca.”
[Ela
respondeu]: “Meu estimado senhor, você não conhece a virtude e a sabedoria do
Abençoado. Se você conhecesse a virtude e a sabedoria do Abençoado, estimado
senhor, você nunca pensaria em abusá-lo e insultá-lo.”
“Então,
senhora, comunique-me quando o contemplativo Gotama vier para Candalakappa.”
“Sim,
estimado senhor,” a mulher brâmane Dhananjani respondeu.
4. Então,
depois de caminhar em etapas pela região de Kosala, o Abençoado por fim chegou
em Candalakappa. Em Candalakappa o Abençoado se instalou no mangueiral que
pertencia aos brâmanes do clã Todeyya.
5. A mulher
brâmane Dhananjani ouviu dizer que o Abençoado havia chegado e foi até o
estudante brâmane Sangarava e disse: “Estimado senhor, o Abençoado chegou em
Candalakappa e está no mangueiral que pertence aos brâmanes do clã
Todeyya. Agora é o momento, estimado senhor, faça como julgar adequado.”
“Sim,
senhora” ele respondeu. Então, ele foi até o Abençoado e ambos se
cumprimentaram. Quando a conversa amigável e cortês havia terminado, ele se
sentou a um lado e disse:
6. “Mestre
Gotama, há alguns contemplativos e brâmanes que reivindicam ensinar os
fundamentos da vida santa depois de ter alcançado a consumação e perfeição do
conhecimento direto aqui e agora. [2] Onde entre
esses contemplativos e brâmanes se situa o Mestre Gotama?”
7. “Bharadvaja, eu digo que há uma diversidade entre os contemplativos e
brâmanes que reivindicam ensinar os
fundamentos da vida santa depois de terem alcançado a consumação e perfeição do
conhecimento direto aqui e agora. Há alguns contemplativos e brâmanes que são
tradicionalistas, que com base na tradição oral reivindicam ensinar os
fundamentos da vida santa depois de terem alcançado a consumação e perfeição do
conhecimento direto aqui e agora; assim são os brâmanes dos Três Vedas. Há
alguns contemplativos e brâmanes que, baseados totalmente na mera fé,
reivindicam ensinar os fundamentos da vida santa depois de terem alcançado a
consumação e perfeição do conhecimento direto aqui e agora; assim são os
raciocinadores e investigadores. [3] Há alguns
contemplativos e brâmanes que tendo compreendido o Dhamma de modo direto por si
próprios, [4] coisas nunca antes ouvidas,
reivindicam ensinar os fundamentos da vida santa depois de terem alcançado a
consumação e perfeição do conhecimento direto.
8. “Eu,
Bharadvaja, sou um desses contemplativos e brâmanes que, tendo compreendido o
Dhamma de modo direto por mim mesmo, coisas
nunca antes ouvidas, reivindico ensinar os fundamentos da vida santa depois de
ter alcançado a consumação e perfeição do conhecimento direto. Quanto a como é
que eu sou um desses contemplativos e brâmanes, isso pode ser compreendido da
seguinte forma.
9. “Aqui, Bharadvaja,
antes da minha iluminação, quando eu ainda era um Bodisatva não desperto, eu
considerei o seguinte: ‘A vida em família é confinada, um caminho empoeirado; a
vida santa é como o ar livre. Não é fácil viver em casa e praticar a vida santa
completamente perfeita, totalmente pura, como uma concha polida. E se eu
raspasse o meu cabelo e barba, vestisse os mantos de cor ocre e seguisse a vida
santa.’
10-13.
“Mais tarde, Bharadvaja, ainda jovem ... (igual ao MN
26.14-17) ... E eu me sentei ali pensando: ‘Isso é adequado para o
esforço.’”
14-30.
“Agora, estes três símiles, nunca ouvidos antes, me ocorreram espontaneamente
... (igual ao MN 36.17-33; mas neste sutta nos
versos 17-22 que correspondem aos versos 20-25 do MN 36, a sentença “Porém, a
sensação de dor que surgiu em mim não invadiu a minha mente e permaneceu” não
ocorre) ... eles sentiram repulsa e me deixaram, pensando: ‘O contemplativo
Gotama agora vive gratificado pelos sentidos. Ele deixou de lado a sua busca e
reverteu ao luxo.’
31-41.
“Agora, tendo comido comida sólida e recuperado as minhas forças, afastado dos
prazeres sensuais, afastado das qualidades não hábeis ... (igual ao MN 36.34-44; mas neste sutta nos versos 36, 38 e 41 que
correspondem aos versos 39, 41 e 44 do MN 36, a sentença “Mas o sentimento
prazeroso que surgiu em mim não invadiu a minha mente e permaneceu” não ocorre)
... como acontece com alguém que é diligente, ardente e decidido.”
42. Quando
isso foi dito, o estudante brâmane Sangarava disse para o Abençoado: “O empenho
do Mestre Gotama foi resoluto, o empenho do Mestre Gotama foi aquele de um
homem verdadeiro, tal como deve ser para um arahant, para um perfeitamente
iluminado. Mas como é, Mestre Gotama, existem devas?”
“É do meu
conhecimento ser o caso, Bharadvaja, que existem devas.”
“Mas como é
isso, Mestre Gotama, que ao ser perguntado. ‘Existem devas?’ você diz: ‘É do meu conhecimento ser o caso, Bharadvaja,
que existem devas’? Em sendo assim, aquilo que você diz não é vazio e falso?” [5]
“Bharadvaja,
quando alguém é perguntado, ‘Existem devas?’ quer alguém responda, ‘Existem
devas,’ ou ‘É do meu conhecimento ser o caso [que existem devas],’ um homem
sábio pode tirar a conclusão definitiva de que existem devas.”
“Mas porque
o Mestre Gotama não me respondeu da primeira forma?”
“É
amplamente aceito no mundo, Bharadvaja, que existem devas.”
43. Quando
isso foi dito o estudante brâmane Sangarava disse para o Abençoado: “Magnífico
, Mestre Gotama! Magnífico, Mestre Gotama! Mestre Gotama esclareceu o Dhamma de
várias formas, como se tivesse colocado em pé o que estava de cabeça para
baixo, revelasse o que estava escondido, mostrasse o caminho para alguém que
estivesse perdido ou segurasse uma lâmpada no escuro para aqueles que possuem
visão pudessem ver as formas. Eu busco refúgio no Mestre Gotama, no Dhamma e na
Sangha dos bhikkhus. Que o Mestre Gotama me aceite como discípulo leigo que
buscou refúgio para o resto da vida.”
Notas:
[1] Dhananjani havia alcançado o
estado de entrar na correnteza. MA diz que Sangarava era o irmão mais jovem do
seu esposo. [Retorna]
[2] Ditthadhammabhinnavosanaparamippatta
adibrahmacariyam patijananti. MA explica: Eles reivindicam serem os
originadores, criadores, produtores de uma vida santa dizendo: “Ao compreender
de modo direto aqui e agora nesta presente existência e alcançar a consumação,
nós realizamos Nibbana, chamado de ‘perfeição’ porque transcende tudo.” [Retorna]
[3] É estranho que se diga que os
raciocinadores e investigadores (takki, vimamsi) dependam apenas da mera
fé (saddhamattakena). Em outro sutta a fé e a razão são contrastadas
como duas bases distintas para a convicção, (MN 95.14), e a
“mera fé” parece estar ligada de modo mais próximo com a tradição oral do que
com o raciocínio e a investigação. [Retorna]
[4] Samani yeva dhammani abhinnaya.
Esta frase enfatiza a realização pessoal direta como o fundamento para a
promulgação da vida santa. [Retorna]
[5] MA diz que Sangarava tinha a idéia de que
o Buda dizia isso sem ter o real conhecimento e por isso ele acusou o Buda de
empregar a linguagem mentirosa. A seqüência de idéias neste trecho é difícil de
ser seguida e é provável que o texto tenha sido corrompido. [Retorna]
Revisado: 8 Dezembro 2015
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