Anguttara Nikaya IV.49

Vipallasa Sutta

Distorções

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“Bhikkhus, há essas quatro distorções da percepção, distorções da mente, distorções do entendimento. Quais quatro? ‘Permanente’ com relação ao que é impermanente é uma distorção da percepção, uma distorção da mente, uma distorção do entendimento. ‘Prazer’ com relação ao que é sofrimento ... ‘Eu’ com relação ao que é não-eu ... ‘Belo’ com relação ao que não é belo é uma distorção da percepção, uma distorção da mente, uma distorção do entendimento. Essas são as quatro distorções da percepção, distorções da mente, distorções do entendimento. [1]

“Há essas quatro não distorções da percepção, não distorções da mente, não distorções do entendimento. Quais quatro? ‘Impermanente’ com relação ao que é impermanente é uma não distorção da percepção, uma não distorção da mente, uma não distorção do entendimento. ‘Sofrimento’ com relação ao que é sofrimento ... ‘Não-eu’ com relação ao que é não-eu ... ‘Não belo’ com relação ao que não é belo é uma não distorção da percepção, uma não distorção da mente, uma não distorção do entendimento. Essas são as quatro não distorções da percepção, não distorções da mente, não distorções do entendimento.”

Percebendo permanente no impermanente,
prazer no doloroso,
eu naquilo que é não-eu,
belo no feio,
os seres são destruídos pelo entendimento incorreto,
loucos, desvairados.

Atados pelo jugo de Mara,
da canga eles não têm descanso.
Os seres seguem perambulando,
conduzidos ao renascimento e morte.

Mas quando os Iluminados
surgem no mundo,
trazendo a luz para o mundo,
eles proclamam o Dhamma
que conduz ao fim do sofrimento.

Quando aqueles com sabedoria ouvem,
eles recuperam a razão,
vendo o impermanente como impermanente,
o sofrimento como sofrimento,
aquilo que é não-eu como não-eu,
o não belo como tal.

Assumindo o entendimento correto,
eles superam todo sofrimento.

 


 

Notas:

[1] As distorções são fundamentais na noção de ignorância ou delusão no Budismo. Não é que sejamos defeituosos por natureza mas apenas que cometemos sérios erros em muitos níveis ao tentar entender o mundo à nossa volta. Na medida em que reconhecemos através da prática da meditação o modo como interpretamos mal as nossas experiências podemos estar em melhor posição para corrigir esses erros e obter maior claridade.

As distorções operam em três níveis. Primeiro as distorções da percepção (sañña-vipallasa) fazem com que interpretemos mal a informação recebida através das portas dos sentidos. Por exemplo, podemos confundir uma corda no caminho como sendo uma cobra. Normalmente esses erros são corrigidos através de uma análise mais cuidadosa, mas algumas vezes esses erros sensoriais são ignorados e se mantêm.

Distorções da mente ou do pensamento (citta-vipallasa) têm a ver com a etapa seguinte no processo cognitivo quando pensamos ou ponderamos sobre todo o tipo de coisas. A mente tende a elaborar com base na percepção e se os pensamentos tiverem por base percepções distorcidas, então eles também serão distorcidos.

Em algum momento esses tipos de pensamentos se tornam habituais e evolvem para distorções de entendimento (ditthi-vipallasa). Podemos estar tão convencidos que existe uma cobra no caminho que não importa a quantidade de evidências em contrário, a nossa idéia não será modificada. Estamos aprisionados no entendimento incorreto.

Além disso, esses três níveis de distorções são cíclicos – nossas percepções se formam no contexto do nosso entendimento que é reforçado pelos nossos pensamentos e os três atuam em conjunto para criar os sistemas cognitivos que compõem a nossa distinta personalidade.[Retorna]

Veja também o MN 18.

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Revisado: 2 Dezembro 2006

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