Projeto Sangiti Sutta
Ariyapariyesana Sutta (MN 26)
Mahasaccaka Sutta (MN 36)
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1.(26.01) Assim ouvi.
Em certa ocasião o Abençoado estava em Savathi no Bosque de Jeta, no Parque de
Anathapindika.
2.(26.02) Então, ao amanhecer, o Abençoado se vestiu e tomando a tigela e o
manto externo, foi para Savathi para esmolar alimentos. Então um grande número
de bhikkhus foram até o ven. Ananda e lhe disseram: “Amigo Ananda, já faz
bastante tempo desde que ouvimos um discurso do Dhamma da própria boca do
Abençoado. Seria bom se pudéssemos ouvir um discurso, amigo Ananda.” – “Então
que os veneráveis sigam até o retiro do brâmane Rammaka. Talvez vocês venham a
ouvir um discurso do Dhamma da própria boca do Abençoado.” – “Sim, amigo,” eles
responderam.
3.(26.03) Então,
após o Abençoado ter esmolado alimentos em Savathi e de haver retornado, após a
refeição, ele se dirigiu ao ven. Ananda: “Ananda, vamos até o Parque do
Oriente, ao Palácio da mãe de Migara, para passar o resto do dia.” – “Sim
venerável senhor,” o ven. Ananda respondeu. Então o Abençoado foi com o ven.
Ananda até o Parque do Oriente, ao Palácio da mãe de Migara, para passar o
resto do dia.
Depois, ao
anoitecer, o Abençoado levantou-se da meditação e disse para o ven. Ananda:
“Ananda, vamos até o Local de Banhos do Oriente para tomar banho.” – “Sim,
venerável senhor,” o ven. Ananda respondeu. Então o Abençoado foi com o ven.
Ananda até a Local de Banhos do Oriente para tomar banho. Quando ele havia
terminado, ele saiu da água e se secou com um manto. Então o ven. Ananda disse
para o Abençoado: “Venerável senhor, o retiro do brâmane Rammaka está próximo
daqui. É um retiro agradável e prazeroso. Venerável senhor, seria bom se o
Abençoado fosse até lá por compaixão.” O Abençoado concordou em silêncio.
4.(26.04) Então, o
Abençoado foi até o retiro do brâmane Rammaka. Agora naquela ocasião um grande
número de bhikkhus estavam no retiro juntos, sentados, discutindo o Dhamma. O
Abençoado ficou do lado de fora da porta esperando que a discussão terminasse.
Ao perceber que havia terminado, ele limpou a garganta e bateu na porta e os
bhikkhus abriram a porta para ele. O Abençoado entrou e sentou num assento que
havia sido preparado e se dirigiu aos bhikkhus da seguinte forma: “Bhikkhus,
qual é o assunto que faz com que vocês estejam sentados juntos aqui agora? Qual
é a discussão que foi interrompida?”
“Venerável
senhor, nossa discussão sobre o Dhamma que foi interrompida era sobre o próprio
Abençoado. Então o Abençoado chegou.”
“Bom,
bhikkhus. É apropriado que vocês, membros de clãs, que pela fé deixaram a vida
em família pela vida santa, se reúnam para discutir o Dhamma. Quando vocês se
reunirem, bhikkhus, vocês devem fazer uma de duas coisas: discutir o Dhamma ou
observar o nobre silêncio.
5.(26.05) “Bhikkhus, existem esses dois tipos de busca: a busca nobre e a busca
ignóbil. E o que é a busca ignóbil? Nesse caso, alguém que, estando ele mesmo
sujeito ao nascimento, busca aquilo que também está sujeito ao nascimento;
estando ele mesmo sujeito ao envelhecimento, busca aquilo que também está
sujeito ao envelhecimento; estando ele mesmo sujeito à enfermidade, busca
aquilo que também está sujeito à enfermidade; estando ele mesmo sujeito à
morte, busca aquilo que também está sujeito à morte; estando ele mesmo sujeito
à tristeza, busca aquilo que também está sujeito à tristeza; estando ele mesmo
sujeito às contaminações, busca aquilo que também está sujeito às
contaminações.
6.(26.06) “E o que
pode ser dito como estando sujeito ao nascimento? Esposa e filhos estão
sujeitos ao nascimento, escravos e escravas, bodes e ovelhas, aves e porcos,
elefantes, gado, cavalos e éguas, ouro e prata estão sujeitos ao nascimento.
Essas aquisições estão sujeitas ao
nascimento; e aquele que está preso a essas coisas, apaixonado por elas e totalmente
comprometido com elas, estando ele mesmo sujeito ao nascimento, busca aquilo
que também está sujeito ao nascimento.
7.(26.07) “E o que
pode ser dito como estando sujeito ao envelhecimento? Esposa e filhos estão
sujeitos ao envelhecimento, escravos e escravas, bodes e ovelhas, aves e
porcos, elefantes, gado, cavalos e éguas, ouro e prata estão sujeitos ao
envelhecimento. Essas aquisições estão sujeitas ao envelhecimento; e aquele que
está preso a essas coisas, apaixonado por elas e totalmente comprometido com
elas, estando ele mesmo sujeito ao envelhecimento, busca aquilo que também está
sujeito ao envelhecimento.
8.(26.08) “E o que
pode ser dito como estando sujeito à enfermidade? Esposa e filhos estão
sujeitos à enfermidade, escravos e escravas, bodes e ovelhas, aves e porcos,
elefantes, gado, cavalos e éguas estão sujeitos à enfermidade. Essas aquisições
estão sujeitas à enfermidade; e aquele que está preso a essas coisas,
apaixonado por elas e totalmente comprometido com elas, estando ele mesmo
sujeito à enfermidade, busca aquilo que também está sujeito à enfermidade.
9.(26.09) “E o que pode ser dito como estando sujeito à morte? Esposa e filhos
estão sujeitos à morte, escravos e escravas, bodes e ovelhas, aves e porcos,
elefantes, gado, cavalos e éguas estão sujeitos à morte. Essas aquisições estão
sujeitas à morte; e aquele que está preso a essas coisas, apaixonado por elas e
totalmente comprometido com elas, estando ele mesmo sujeito à morte, busca
aquilo que também está sujeito à morte.
10.(26.10) “E o
que pode ser dito como estando sujeito à tristeza? Esposa e filhos estão
sujeitos à tristeza, escravos e escravas, bodes e ovelhas, aves e porcos,
elefantes, gado, cavalos e éguas estão sujeitos à tristeza. Essas aquisições
estão sujeitas à tristeza; e aquele que está preso a essas coisas, apaixonado
por elas e totalmente comprometido com elas, estando ele mesmo sujeito à
tristeza, busca aquilo que também está sujeito à tristeza.
11.(26.11) “E o que
pode ser dito como estando sujeito às contaminações? Esposa e filhos estão
sujeitos às contaminações, escravos e escravas, bodes e ovelhas, aves e porcos,
elefantes, gado, cavalos e éguas, ouro e prata estão sujeitos às contaminações.
Essas aquisições estão sujeitas às contaminações; e aquele que está preso a
essas coisas, apaixonado por elas e totalmente comprometido com elas, estando
ele mesmo sujeito às contaminações, busca aquilo que também está sujeito às
contaminações. Essa é a busca ignóbil.
12.(26.12) “E o
que é a busca nobre? Nesse caso, alguém que, estando ele mesmo sujeito ao
nascimento, tendo compreendido o perigo daquilo que está sujeito ao nascimento,
busca o que não nasce, a suprema segurança contra o cativeiro, Nibbana; estando
ele mesmo sujeito ao envelhecimento, tendo compreendido o perigo daquilo que
está sujeito ao envelhecimento, busca o que não envelhece, a suprema segurança
contra o cativeiro, Nibbana; estando ele mesmo sujeito à enfermidade, tendo
compreendido o perigo daquilo que está sujeito à enfermidade, busca o que não
se enferma, a suprema segurança contra o cativeiro, Nibbana; estando ele mesmo
sujeito à morte, tendo compreendido o perigo daquilo que está sujeito à morte,
busca o imortal, a suprema segurança contra o cativeiro, Nibbana; estando ele
mesmo sujeito à tristeza, tendo compreendido o perigo daquilo que está sujeito
à tristeza, busca o que não está sujeito à tristeza, a suprema segurança contra
o cativeiro, Nibbana; estando ele mesmo sujeito às contaminações, tendo compreendido
o perigo daquilo que está sujeito às contaminações, busca o que não é
contaminado, a suprema segurança contra o cativeiro, Nibbana. Essa é a busca
nobre.
(A Busca
pela Iluminação)
13.(26.13) “Bhikkhus, antes da minha iluminação, quando eu ainda era um Bodisatva
não iluminado, eu também, estando eu mesmo sujeito ao nascimento, busquei
aquilo que também estava sujeito ao nascimento; estando eu mesmo sujeito ao
envelhecimento, enfermidade, morte, tristeza e contaminações, busquei aquilo
que também estava sujeito ao envelhecimento, enfermidade, morte, tristeza e
contaminações. Então considerei o seguinte: ‘Por que, estando eu mesmo sujeito
ao nascimento, busco aquilo que também está sujeito ao nascimento? Por que,
estando eu mesmo sujeito ao envelhecimento, enfermidade, morte, tristeza e
contaminações, busco aquilo que também está sujeito ao envelhecimento,
enfermidade, morte, tristeza e contaminações? E se eu, estando eu mesmo sujeito
ao nascimento, tendo compreendido o perigo daquilo que está sujeito ao nascimento,
buscasse o que não nasce, a suprema segurança contra o cativeiro, Nibbana. E se
eu, estando eu mesmo sujeito ao envelhecimento, enfermidade, morte, tristeza e
contaminações, tendo compreendido o perigo daquilo que está sujeito ao
envelhecimento, enfermidade, morte, tristeza e contaminações, buscasse o que
não envelhece, o que não está sujeito à enfermidade, o imortal, o que não está
sujeito à tristeza, o que não é contaminado, a suprema segurança contra o
cativeiro, Nibbana.’
14.(26.14) “Mais tarde, ainda jovem, um homem jovem com o cabelo negro, dotado
com as bênçãos da juventude, na flor da juventude, embora minha mãe e meu pai
desejassem outra coisa e chorassem com o rosto coberto de lágrimas, eu raspei
meu cabelo e barba, vesti o manto de cor ocre e deixei a vida em família e
segui a vida santa.
15.(26.15) "Tendo seguido a vida santa em busca
do que é benéfico, buscando o insuperável estado de paz sublime procurei por
Alara Kalama e lhe disse: 'Amigo Kalama, quero viver a vida santa neste Dhamma
e Disciplina.' Alara Kalama respondeu, ‘O venerável pode ficar aqui, meu amigo.
Este Dhamma é tal que uma pessoa sábia pode em pouco tempo entrar e permanecer
nele, compreendendo por si mesmo através do conhecimento direto a doutrina do
seu mestre.' Em breve aprendi aquele Dhamma. No que diz respeito à mera
recitação e repetição dos seus ensinamentos, eu falava com conhecimento e
segurança e reivindicava, ‘Eu sei e vejo’ – e havia outros que assim também
diziam.
“Eu
pensei: ‘Não é somente pela mera fé que Alara Kalama declara, “Tendo
compreendido por mim mesmo através do conhecimento direto, eu entro e permaneço
neste Dhamma.” Com certeza Alara Kalama permanece conhecendo e vendo este
Dhamma.’ Então fui até Alara Kalama e perguntei: ‘Amigo Kalama, de que forma,
tendo compreendido por você mesmo com conhecimento direto, você declara que
entra e permanece nesse Dhamma?’ Em resposta, ele declarou a esfera do nada.
"Eu pensei: 'Não somente Alara Kalama tem fé, energia, atenção
plena, concentração e sabedoria. Eu, também, tenho fé, energia, atenção plena,
concentração e sabedoria. E se eu me esforçasse para realizar por mim mesmo o
Dhamma no qual Alara Kalama declara entrar e permanecer, tendo compreendido por
ele mesmo através do conhecimento direto?'
“Assim
em pouco tempo eu entrei e permaneci naquele Dhamma, tendo compreendido por mim
mesmo através do conhecimento direto. Eu fui até Alara Kalama e perguntei,
'Amigo Kalama, é dessa forma que você declara que entra e permanece neste
Dhamma, tendo compreendido por você mesmo através do conhecimento direto?' –
‘Essa é a forma, amigo.' – ‘É dessa forma, amigo, que eu também entro e
permaneço nesse Dhamma, tendo compreendido por mim mesmo através do
conhecimento direto.' – ‘É um ganho para nós, meu amigo, um grande ganho para
nós, que tenhamos um tal venerável como companheiro na vida santa. Portanto, o
Dhamma no qual eu declaro que entro e permaneço, tendo compreendido por mim
mesmo através do conhecimento direto, é o Dhamma no qual você declara entrar e
permanecer, tendo compreendido por você mesmo através do conhecimento direto. E
o Dhamma no qual você declara entrar e permanecer, tendo compreendido por você
mesmo através do conhecimento direto, é o Dhamma no qual eu declaro que entro e
permaneço, tendo compreendido por mim mesmo através do conhecimento direto.
Portanto, você conhece o Dhamma que eu conheço e eu conheço o Dhamma que você
conhece. Como eu sou, assim é você; como você é, assim eu sou. Venha amigo,
vamos agora liderar esta comunidade juntos.'
Dessa
forma Alara Kalama, meu mestre, colocou-me, seu pupilo, no mesmo nível que ele
e me concedeu a maior honra possível. Porém, o pensamento me ocorreu, ‘Este
Dhamma não conduz ao desencantamento, ao desapego, à cessação, à paz, ao
conhecimento direto, à iluminação, a Nibbana,
mas somente ao renascimento na esfera do nada.’ Dessa forma, não estando satisfeito com esse Dhamma, eu parti.
16.(26.16)
"Ainda em busca, bhikkhus, do que é benéfico, buscando o insuperável
estado de paz sublime procurei por Uddaka Ramaputta e ao chegar, eu lhe disse:
'Amigo Uddaka, quero viver a vida santa neste Dhamma e Disciplina.' Uddaka Ramaputta respondeu, ‘O venerável pode
ficar aqui, meu amigo. Este Dhamma é tal que uma pessoa sábia pode em pouco
tempo entrar e permanecer nele, compreendendo por si mesmo através do
conhecimento direto a doutrina do seu mestre.' Em breve aprendi aquele Dhamma.
No que diz respeito à mera recitação e repetição dos seus ensinamentos, eu falava
com conhecimento e segurança e reivindicava, ‘Eu sei e vejo’ – e havia outros
que assim também diziam.
"Eu
pensei: 'Não foi somente pela mera fé que Rama declarava, "Tendo
compreendido por mim mesmo através do conhecimento direto, eu entro e permaneço
neste Dhamma.” Com certeza Rama permanecia conhecendo e vendo este Dhamma.'
Então fui até Uddaka Ramaputta e perguntei: ‘Amigo, de que forma Rama, tendo
compreendido por ele mesmo através do conhecimento direto, declarou que entrou
e permaneceu nesse Dhamma?' Em resposta, Uddaka Ramaputta declarou a esfera da
nem percepção, nem não percepção.
"Eu
pensei: 'Não somente Rama tinha fé, energia, atenção plena, concentração e
sabedoria. Eu, também, tenho fé, energia, atenção plena, concentração e
sabedoria. E se eu me esforçasse para realizar por mim mesmo o Dhamma no qual
Rama, tendo compreendido por ele mesmo através do conhecimento direto, declarou
que entrou e permaneceu?'
“Assim
em pouco tempo eu entrei e permaneci naquele Dhamma, tendo compreendido por mim
mesmo através do conhecimento direto. Então eu fui até Uddaka Ramaputta e
perguntei, 'Amigo, é dessa forma que Rama declarou que entrou e permaneceu
neste Dhamma, tendo compreendido por ele mesmo através do conhecimento direto?'
– ‘Essa é a forma, amigo.' – ‘É dessa forma, amigo, que eu também entro e
permaneço nesse Dhamma, tendo compreendido por mim mesmo através do
conhecimento direto.' – ‘É um ganho para nós, meu amigo, um grande ganho para
nós, que tenhamos um tal venerável como companheiro na vida santa. Portanto, o
Dhamma no qual Rama declarou que entrou e permaneceu, tendo compreendido por
ele mesmo através do conhecimento direto, é o Dhamma no qual você entra e
permanece, tendo compreendido por você mesmo através do conhecimento direto. E
o Dhamma que você entra e permanece tendo compreendido por você mesmo através
do conhecimento direto, é o Dhamma no qual Rama declarou que entrou e
permaneceu, tendo compreendido por ele mesmo através do conhecimento direto.
Portanto, você conhece o Dhamma que Rama conhecia e Rama conhecia o Dhamma que
você conhece. Como Rama era, assim é você; como você é, assim era Rama. Venha
amigo, agora lidere esta comunidade.'
“Dessa
forma, Uddaka Ramaputta, meu companheiro na vida santa, colocou-me na posição
de mestre e me concedeu a maior honra possível. Porém, o pensamento me ocorreu,
‘Este Dhamma não conduz ao desencantamento, ao desapego, à cessação, à paz, ao
conhecimento direto, à iluminação, a Nibbana,
mas somente ao renascimento na esfera da nem percepção, nem não percepção.’
Dessa forma, não estando satisfeito com esse Dhamma, eu parti.
17.(26.17) “Ainda em busca, bhikkhus, do que é benéfico, buscando o insuperável
estado de paz sublime, eu andei perambulando pelas terras de Magadha até que
por fim cheguei em Senanigama próximo a Uruvela. Lá eu encontrei um pedaço de
terreno adequado, com um bosque prazeroso e um rio límpido com as margens
planas e agradáveis e um vilarejo próximo para esmolar comida. Eu pensei: ‘Este
é um pedaço de terreno adequado, com um bosque prazeroso e um rio límpido com
as margens planas e agradáveis e um vilarejo próximo para esmolar comida. Isso
é adequado para um membro de um clã que possui a intenção de se esforçar.’ E eu
me sentei ali pensando: ‘Isso é adequado para o esforço.’
18.(36.20) "Eu pensei:
'E se eu, com os dentes cerrados e pressionando minha língua
contra o céu da boca, abatesse, forçasse e subjugasse minha mente com a minha
mente.' Dessa forma, com os dentes cerrados e pressionando minha língua contra
o céu da boca, abati, forcei e subjuguei minha mente com a minha mente.
Enquanto eu fazia isso o suor emanava das minhas axilas. Tal como um homem forte agarra um homem mais
fraco pela cabeça ou pelos ombros e o abate, o força e o subjuga, da mesma
forma com os dentes cerrados e pressionando minha língua contra o céu da boca,
abati, forcei e subjuguei minha mente com a minha mente e o suor emanava das
minhas axilas. Mas embora uma energia incansável houvesse sido estimulada em
mim e uma persistente atenção plena houvesse se estabelecido, meu corpo estava
agitado e inquieto porque eu estava exausto devido ao doloroso esforço. Porém,
a sensação de dor que surgiu em mim não invadiu a minha mente e permaneceu.
19.(36.21) "Eu pensei: 'E se eu praticasse a meditação sem respirar.' Assim eu parei a inspiração e a expiração através
do meu nariz e boca. Ao fazer isso, houve um forte rugido de ventos saindo
pelos ouvidos. Tal como o forte rugido dos ventos que saem do fole de um
ferreiro, da mesma forma, quando parei a inspiração e a expiração através do
meu nariz e boca houve um forte rugido de ventos saindo pelos ouvidos. Mas embora
uma energia incansável houvesse sido estimulada em mim e uma persistente
atenção plena houvesse se estabelecido, meu corpo estava agitado e inquieto
porque eu estava exausto devido ao doloroso esforço. Porém, a sensação de dor
que surgiu em mim não invadiu a minha mente e permaneceu.
20.(36.22)
"Eu pensei: 'E se eu praticasse mais a meditação sem respirar.'
Assim eu parei a inspiração e a expiração através do nariz, boca e ouvidos. Ao
fazer isso, ventos violentos retalharam a minha cabeça. Tal como se um homem
forte estivesse retalhando a minha cabeça com uma espada afiada, da mesma
forma, quando parei a inspiração e a expiração através do nariz, boca e ouvidos
ventos violentos retalharam a minha cabeça. Mas, embora uma energia incansável
houvesse sido estimulada em mim e uma persistente atenção plena houvesse se
estabelecido, meu corpo estava agitado e inquieto porque eu estava exausto
devido ao doloroso esforço. Porém, a sensação de dor que surgiu em mim não
invadiu a minha mente e permaneceu.
21.(36.23) "Eu pensei: 'E se eu praticasse mais
a meditação sem respirar.' Assim eu parei a inspiração
e a expiração através do nariz, boca e ouvidos. Ao fazer isso, dores violentas
surgiram na minha cabeça. Tal como se um homem forte estivesse apertando em
volta da minha cabeça uma tira de couro resistente, da mesma forma, quando
parei a inspiração e a expiração através do nariz, boca e ouvidos dores
violentas surgiram na minha cabeça. Mas embora uma energia incansável houvesse
sido estimulada em mim e uma persistente atenção plena houvesse se
estabelecido, meu corpo estava agitado e inquieto porque eu estava exausto
devido ao doloroso esforço. Porém, a sensação de dor que surgiu em mim não
invadiu a minha mente e permaneceu.
22.(36.24)
"Eu pensei: 'E se eu praticasse mais a meditação sem respirar.'
Assim eu parei a inspiração e a expiração através do nariz, boca e ouvidos. Ao
fazer isso, forças violentas retalharam a cavidade do meu estômago. Tal como se
um açougueiro ou seu aprendiz estivessem retalhando a cavidade do estômago de
um boi com uma faca afiada, da mesma forma, quando parei a inspiração e a
expiração através do nariz, boca e ouvidos, forças violentas retalharam a
cavidade do meu estômago. Mas embora uma energia incansável houvesse sido
estimulada em mim e uma persistente atenção plena houvesse se estabelecido, meu
corpo estava agitado e inquieto porque eu estava exausto devido ao doloroso
esforço. Porém, a sensação de dor que surgiu em mim não invadiu a minha mente e
permaneceu.
23.(36.25)
"Eu pensei: 'E se eu praticasse mais a meditação sem respirar.'
Assim eu parei a inspiração e a expiração através do nariz, boca e ouvidos. Ao
fazer isso, houve uma queimação violenta no meu corpo. Tal como se dois homens
fortes agarrassem um homem mais fraco pelos braços o assassem sobre uma cova
com brasas em chamas, da mesma forma, quando parei a inspiração e a expiração
através do nariz, boca e ouvidos, houve uma queimação violenta no meu corpo.
Mas embora uma energia incansável houvesse sido estimulada em mim e uma
persistente atenção plena houvesse se estabelecido, meu corpo estava agitado e
inquieto porque eu estava exausto devido ao doloroso esforço. Porém, a sensação
de dor que surgiu em mim não invadiu a minha mente e permaneceu.
24.(36.26) “Agora
quando os devas me viram, alguns disseram, 'Gotama o contemplativo está morto.' Outros devas disseram, 'Ele não está morto, ele está
morrendo.' E outros disseram, 'Ele não está morto, nem morrendo; ele é um
arahant, pois é assim como praticam os arahants.'
25.(36.27)
"Eu pensei: 'E se eu praticasse cortando completamente a alimentação.' Então os devas vieram até mim e disseram,
'Estimado senhor, por favor não utilize a prática do corte completo da
alimentação. Se você assim o fizer, nós infundiremos alimento divino através
dos seus poros e você sobreviverá com isso.' Eu pensei, 'Se eu afirmar estar em
jejum completo enquanto esses devas estiverem infundindo alimento divino
através dos meus poros, eu estarei mentindo.' Assim eu os dispensei, dizendo,
'Não é necessário.'
26.(36.28)
"Eu pensei: 'E se eu comesse somente um pouco de comida de cada vez, uma
mão cheia de cada vez, seja de sopa de feijão ou de sopa de lentilha, ou de
sopa de legumes, ou sopa de ervilhas.' Assim, eu comia
muito pouco, uma mão cheia de cada vez, seja de sopa de feijão ou de sopa de lentilha,
ou de sopa de legumes, ou de sopa de ervilhas. Enquanto eu fazia isso meu corpo
ficou extremamente emaciado. Por comer tão pouco, os meus membros ficaram como
os segmentos articulados de uma videira ou bambu. Por comer tão pouco, as
minhas costas ficaram como a corcova de um camelo. Por comer tão pouco, as
projeções da minha coluna pareciam contas de um cordão. Por comer tão pouco, as
minhas costelas se projetavam para a frente tão frágeis como as traves de um
celeiro destelhado. Por comer tão pouco, o brilho dos meus olhos se afundou
dentro da cavidade do olho, parecendo com o brilho d´água no fundo de um poço
profundo. Por comer tão pouco, o meu escalpo enrugou e encolheu como uma
abóbora verde, amarga, enruga e encolhe com o vento e o sol. Por comer tão
pouco, a pele da minha barriga se uniu à minha coluna; portanto se eu tocasse a
minha barriga encontrava a minha coluna e se tocasse a minha coluna encontrava
a pele da minha barriga. Por comer tão pouco, se eu urinasse ou defecasse eu
caía com a cara no chão ali mesmo. Por comer tão pouco, se eu tentasse aliviar
meu corpo esfregando meus membros com as mãos, os pelos, com as raízes
apodrecidas, caíam do corpo à medida que eu os esfregava.
27.(36.29)
"Agora, quando as pessoas me viam, algumas diziam: 'O contemplativo Gotama
é negro. Outras pessoas diziam, 'O contemplativo Gotama não é negro, ele é marrom.' Outros diziam, 'O contemplativo Gotama não é negro
nem marrom, ele tem a pele dourada.’ Tanto havia se deteriorado a complexão
pura e brilhante da minha pele, por comer tão pouco.
28.(36.30) “Eu
pensei: 'Todos os contemplativos ou brâmanes que no passado experimentaram
sensações dolorosas, torturantes e penetrantes devido ao esforço, isto é o
máximo, não existe nada além disso. Todos os
contemplativos ou brâmanes que no futuro experimentarão sensações dolorosas,
torturantes e penetrantes devido ao esforço, isto é o máximo, não existe nada
além disso. E todos os contemplativos ou brâmanes que no presente experimentam
sensações dolorosas, torturantes e penetrantes devido ao esforço, isto é o
máximo, não existe nada além disso. Mas, através desta prática de austeridades
atormentadoras eu não alcancei nenhum estado supra-humano, nenhuma distinção em conhecimento e visão digna
dos nobres. Poderia haver um outro caminho para a iluminação?’”
29.(36.31)
"Eu refleti: 'Eu me recordo que quando meu pai, o Sakya, estava ocupado
enquanto eu estava sentado à sombra fresca de um jambo-rosa, afastado dos prazeres sensuais,
afastado das qualidades não hábeis, entrei e permaneci no primeiro jhana, que é caracterizado pelo
pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e felicidade nascidos do afastamento. Poderia ser esse o caminho para a
iluminação?' Então, seguindo essa memória, cheguei à conclusão: ‘Esse é o
caminho para a iluminação.’
30.(36.32)
"Eu pensei: 'Por que temo esse prazer que não tem nada que ver com a
sensualidade, nem com qualidades mentais prejudiciais?' Eu pensei: 'Eu não temo mais esse prazer já
que ele não tem nada que ver com a sensualidade nem com qualidades mentais
prejudiciais.'
31.(36.33) "Eu refleti: 'Não é fácil alcançar
esse prazer com um corpo tão extremamente emaciado. E se eu comesse alguma
comida sólida - um pouco de arroz doce com leite.' E
eu comi um pouco de comida sólida: um pouco de arroz doce com leite. Agora os
cinco contemplativos que estavam comigo, pensaram: 'Se Gotama, nosso
contemplativo, alcançar algum estado mais elevado, ele nos dirá.’' Porém,
quando eles me viram comendo comida sólida – um pouco de arroz doce com leite –
eles sentiram repulsa e me deixaram, pensando: 'O contemplativo Gotama agora
vive gratificado pelos sentidos. Ele deixou de lado a sua busca e reverteu ao
luxo.'
32.(26.18) “Então,
bhikkhus, estando eu mesmo sujeito ao nascimento, tendo compreendido o perigo
daquilo que está sujeito ao nascimento, buscando o que não nasce, a suprema
segurança contra o cativeiro, Nibbana, eu alcancei o que não nasce, a suprema
segurança contra o cativeiro, Nibbana; estando eu mesmo sujeito ao
envelhecimento, tendo compreendido o perigo daquilo que está sujeito ao
envelhecimento, buscando o que não envelhece, a suprema segurança contra o
cativeiro, Nibbana, eu alcancei o que não envelhece, a suprema segurança contra
o cativeiro, Nibbana; estando eu mesmo sujeito à enfermidade, tendo
compreendido o perigo daquilo que está sujeito à enfermidade, buscando o que
não está sujeito à enfermidade, a suprema segurança contra o cativeiro,
Nibbana, eu alcancei o que não está sujeito à enfermidade, a suprema segurança
contra o cativeiro, Nibbana; estando eu mesmo sujeito à morte, tendo
compreendido o perigo daquilo que está sujeito à morte, buscando o imortal, a
suprema segurança contra o cativeiro, Nibbana, eu alcancei o imortal, a suprema
segurança contra o cativeiro, Nibbana; estando eu mesmo sujeito à tristeza,
tendo compreendido o perigo daquilo que está sujeito à tristeza, buscando o que
não está sujeito à tristeza, a suprema segurança contra o cativeiro, Nibbana, eu
alcancei o que não está sujeito à tristeza, a suprema segurança contra o
cativeiro, Nibbana; estando eu mesmo sujeito às contaminações, tendo
compreendido o perigo daquilo que está sujeito às contaminações, buscando o que
não está sujeito às contaminações, a suprema segurança contra o cativeiro,
Nibbana, eu alcancei o que não está sujeito às contaminações, a suprema
segurança contra o cativeiro, Nibbana. Surgiram em mim a visão e o
conhecimento: ‘Inabalável é a libertação da minha mente. Este é o último
nascimento. Não há mais vir a ser a nenhum estado.’
33.(26.19) “Eu
pensei: ‘Este Dhamma que eu alcancei é profundo, difícil de ver e difícil de
compreender, pacífico e sublime, que não pode ser alcançado através do mero
raciocínio, ele é sutil, para ser experimentado pelos sábios.
Mas, esta população se delicia com a adesão, está excitada com a
adesão, desfruta da adesão. É difícil para
uma população como esta ver esta verdade, isto é, a condicionalidade isto/aquilo
e a origem dependente. E também é difícil de ver esta verdade, isto é, o cessar
de todas as formações, o abandono de todas aquisições, o fim do desejo,
desapego, cessação, Nibbana. Se eu fosse ensinar o Dhamma, os outros não me
entenderiam e isso seria fatigante, problemático para mim .’ Então, estes
versos nunca antes ouvidos, me ocorreram:
‘Basta com a idéia de ensinar o Dhamma
que até para mim foi difícil alcançar;
pois ele nunca será entendido
por aqueles que vivem com a cobiça e a raiva.
Aqueles tingidos pela cobiça, envoltos na escuridão
nunca irão discernir este Dhamma difícil de ser compreendido
que vai contra a torrente do mundo,
sutil, profundo e difícil de ser visto.’
Pensando dessa forma, minha mente tendia à inação ao invés do ensino do
Dhamma.
34.(26.20) “Então,
bhikkhus, o Brahma Sahampati, soube com a mente dele o pensamento na minha
mente e pensou: ‘O mundo estará perdido, o mundo estará destruído, já que a
mente do Tathagata, um arahant, perfeitamente iluminado, se inclina à inação ao
invés do ensino do Dhamma.’ Então, com a mesma rapidez com que um homem forte
pode estender o seu braço flexionado ou flexionar o seu braço estendido, Brahma
Sahampati desapareceu do mundo de Brahma e apareceu na minha frente. Ele
arrumou o seu manto externo sobre o ombro e juntou as mãos numa reverenciosa
saudação, dizendo: ‘Venerável senhor, que o Abençoado ensine o Dhamma, que o
Iluminado ensine o Dhamma. Há seres com pouca poeira sobre os olhos que estão
decaindo por não ouvir o Dhamma. Há aqueles que entenderão o Dhamma.’ Depois de
dizer isso, Brahma Sahampati disse ainda mais:
‘Em Magadha surgiram até agora
ensinamentos contaminados formulados por aqueles que ainda estão poluídos.
Abram as portas para o
Imortal! Que eles ouçam
o Dhamma que o Imaculado
encontrou.
Tal como alguém que
esteja no pico de uma montanha
é capaz de ver todas as pessoas embaixo,
da mesma forma, Oh sábio, sábio que tudo vê,
suba ao palácio do Dhamma.
Que o Conquistador da Tristeza inspecione esta raça humana,
engolfada na tristeza,
subjugada pelo nascimento e envelhecimento.
Levante-se, Oh herói,
vitorioso na batalha!
Oh líder da caravana, sem dívidas, saia pelo mundo.
Ensine o Dhamma, Oh Abençoado:
Existem aqueles que irão compreender.’
35.(26.21)
“Então, tendo ouvido o pedido de Brahma e por compaixão pelos seres,
inspecionei o mundo com o olho de um Buda. Inspecionando o mundo com o olho de
um Buda, eu vi seres com pouca poeira sobre os olhos e com muita poeira sobre
os olhos, com faculdades aguçadas e com faculdades embotadas, com boas
qualidades e com más qualidades, fáceis de serem ensinados e difíceis de serem
ensinados e alguns que permaneciam sentindo medo e responsabilidade pelo outro
mundo. Tal como num lago com flores de lótus azuis ou vermelhas ou brancas,
algumas flores de lótus nascem e crescem na água e prosperam imersas na água
sem sair fora da água, enquanto que algumas outras flores de lótus nascem e
crescem na água e pousam sobre a superfície da água, e ainda, algumas outras
flores de lótus nascem e crescem na água e sobem acima do nível da água
permanecendo sem serem molhadas pela água; assim também, inspecionando o mundo
com o olho de um Buda, eu vi seres com pouca poeira sobre os olhos e com muita
poeira sobre os olhos, com faculdades aguçadas e com faculdades embotadas, com
boas qualidades e com más qualidades, fáceis de serem ensinados e difíceis de
serem ensinados e alguns que permaneciam sentindo medo e responsabilidade pelo
outro mundo. Então respondi ao Brahma Sahampati em versos:
Para eles estão abertas
as portas para o Imortal,
que aqueles com ouvidos
mostrem agora a sua fé.
Pensando que seria
problemático, Oh Brahma,
eu não quis falar o
Dhamma sutil e sublime.’
Então o
Brahma Sahampati pensou: ‘Eu criei a oportunidade para que o Abençoado ensine o
Dhamma.’ E depois de me homenagear, mantendo-me à sua direita, ele então
desapareceu.
36.(26.22) “Eu
pensei: ‘Para quem devo primeiro ensinar o Dhamma? Quem irá compreender este
Dhamma com rapidez?’ Então me ocorreu: ‘Alara Kalama é sábio, inteligente e com
sabedoria; faz muito tempo que ele possui pouca poeira sobre os olhos. E se eu
ensinasse o Dhamma primeiro para Alara Kalama. Ele irá compreendê-lo com
rapidez.’ Então alguns devas se aproximaram de mim e disseram: ‘Venerável
senhor, Alara Kalama morreu faz sete dias.’ E o conhecimento e visão surgiram
em mim: ‘Alara Kalama morreu faz sete dias.’ Eu pensei: ‘A perda de Alara Kalama
é significativa. Se ele tivesse ouvido este Dhamma, ele o teria compreendido
com rapidez.’
37.(26.23) “Eu
pensei: ‘Para quem devo primeiro ensinar o Dhamma? Quem irá compreender este
Dhamma com rapidez?’ Então me ocorreu: ‘Uddaka Ramaputta é sábio, inteligente e
com sabedoria; faz muito tempo que ele possui pouca poeira sobre os olhos. E se
eu ensinasse o Dhamma primeiro para Uddaka Ramaputta. Ele irá compreendê-lo com
rapidez.’ Então alguns devas se aproximaram de mim e disseram: ‘Venerável
senhor, Uddaka Ramaputta morreu na noite passada.’ E o conhecimento e visão
surgiram em mim: ‘Uddaka Ramaputta morreu na noite passada.’ Eu pensei: ‘A
perda de Uddaka Ramaputta é significativa. Se ele tivesse ouvido este Dhamma,
ele o teria compreendido com rapidez.’
38.(26.24) “Eu
pensei: ‘Para quem devo primeiro ensinar o Dhamma? Quem irá compreender este
Dhamma com rapidez?’ Então me ocorreu: ‘Os cinco bhikkhus que me acompanharam e
que foram de grande ajuda enquanto eu estava engajado na minha busca. E se eu ensinasse o Dhamma primeiro para
eles.’ Então pensei: ‘Onde estarão vivendo agora os cinco bhikkhus?’ E com o
olho divino, que é purificado e sobrepuja o humano, eu vi que eles estavam
vivendo em Benares no Parque do Gamo em Isipatana.
(O ensinamento
do Dhamma)
39.(26.25) “Então, bhikkhus, tendo permanecido em Uruvela pelo tempo que
queria, sai caminhando em direção a Benares. Entre Gaya e o lugar da
Iluminação, o Ajivaka Upaka me viu na estrada e disse: ‘Amigo, as suas
faculdades estão claras, a sua complexão está pura e brilhante. Sob qual mestre
você adotou a vida santa, amigo? Quem é o seu mestre? Qual Dhamma você
professa?’ Eu respondi ao Ajivaka Upaka em versos:
‘Eu sou aquele que transcendeu tudo,
aquele que tudo conhece,
imaculado entre todas as coisas,
renunciando a tudo,
libertado pela cessação do desejo.
Tendo conhecido tudo isso
por mim mesmo, a quem devo apontar
como mestre?
Eu não tenho mestre, e outro como eu
não existe em nenhum lugar do mundo,
com todos os seus devas, porque não
tenho
outra pessoa como equivalente.
Eu sou o Consumado no mundo,
eu sou o Mestre Supremo.
Eu sozinho sou um Perfeitamente
Iluminado
cujo fogo está saciado e extinto.
Eu vou agora para Kasi (Benares)
para colocar a Roda do Dhamma em movimento.
Num mundo que se tornou cego
eu vou proclamar o Imortal.’
‘Pela sua declaração, amigo, você
deve ser o Vitorioso Universal.’
‘Os vitoriosos são como eu
que venceram destruindo as
contaminações.
Eu derrotei todos os estados ruins,
portanto, Upaka, eu sou um
vitorioso.’
“Quando
isso foi dito, o Ajivaka Upaka disse: ‘Pode ser que assim seja, amigo.’
Balançando a cabeça, ele tomou um desvio e partiu.
40.(26.26) “Então, bhikkhus, prosseguindo na caminhada por fim cheguei em
Benares, no Parque do Gamo em Isipatana e me aproximei do grupo de cinco
bhikkhus. Os bhikkhus me viram chegando à distância e combinaram entre si o
seguinte: ‘Amigos, ali vem o contemplativo Gotama que vive gratificado pelos
sentidos, que deixou de lado a sua busca e reverteu ao luxo. Nós não deveríamos
homenageá-lo, ou nos levantarmos para ele, ou receber a sua tigela e manto
externo. Mas um assento poderá ser preparado para ele. Se ele quiser, poderá
sentar.’ No entanto, à medida que eu me aproximava, aqueles bhikkhus foram
incapazes de manter o acordo. Um veio se encontrar comigo e tomou minha tigela
e o manto externo, outro preparou um assento e um outro preparou água para os
meus pés; no entanto, eles se dirigiam a mim pelo meu nome e como ‘amigo.’
41.(26.27) “Como resultado eu lhes disse: ‘Bhikkhus, não se dirijam ao
Tathagata pelo nome e como ‘amigo.’ O Tathagata é um arahant, perfeitamente
iluminado. Ouçam bhikkhus, o Imortal foi alcançado. Eu os instruirei, eu lhes
ensinarei o Dhamma. Praticando da forma instruída, realizando por vocês mesmos
através do conhecimento direto vocês logo entrarão e permanecerão no objetivo
supremo da vida santa pelo qual membros de clãs abandonam a vida em família
pela vida santa.’
“Quando
isso foi dito, os bhikkhus me responderam o seguinte: ‘Amigo Gotama, através da
conduta, da prática e da realização das austeridades às quais você se dedicou,
você não alcançou nenhum estado supra-humano, nenhuma distinção em conhecimento
e visão digna dos nobres. Como agora
você vive gratificado pelos sentidos, tendo deixado de lado a sua busca e
revertido ao luxo, como poderia você ter atingido algum estado supra-humano,
alguma distinção em conhecimento e visão dignos dos nobres?’ Quando isso foi
dito, eu lhes disse: ‘O Tathagata não vive gratificado pelos sentidos, nem
deixou de lado a sua busca e reverteu ao luxo. O Tathagata é um arahant, perfeitamente iluminado. Ouçam bhikkhus, o Imortal foi alcançado ... abandonam
a vida em família pela vida santa.’
“Uma
segunda vez os bhikkhus me disseram: ‘Amigo Gotama...como poderia você ter
atingido algum estado supra-humano, alguma distinção em conhecimento e visão
dignos dos nobres?’ Uma segunda vez eu lhes disse: ‘O Tathagata não vive
gratificado pelos sentidos ... abandonam a vida em família pela vida santa.’
“Uma
terceira vez os bhikkhus me disseram: ‘Amigo Gotama...como poderia você ter atingido
algum estado supra-humano, alguma distinção em conhecimento e visão dignos dos
nobres?’
42.(26.28) “Quando
isso foi dito eu lhes perguntei: ‘Bhikkhus, vocês já me viram falar desta forma
antes?’ – ‘Não, venerável senhor.’ – ‘Bhikkhus,
o Tathagata é um arahant, perfeitamente iluminado. Ouçam bhikkhus, o Imortal foi
alcançado. Eu os instruirei, eu lhes ensinarei o Dhamma. Praticando da forma
instruída, realizando por vocês mesmos através do conhecimento direto vocês
logo entrarão e permanecerão no objetivo supremo da vida santa pelo qual
membros de clãs abandonam a vida em família pela vida santa.’
43.(26.29) “Eu fui
capaz de convencer o grupo de cinco bhikkhus. Então, algumas vezes eu instruía dois bhikkhus enquanto que os
outros três esmolavam alimentos e todos nós seis vivíamos daquilo que aqueles
três bhikkhus traziam de esmolas. Algumas vezes eu instruía três bhikkhus
enquanto que os outros dois esmolavam alimentos e todos nós seis vivíamos
daquilo que aqueles dois bhikkhus traziam de esmolas.
44.(26.30) “Então o grupo de cinco
bhikkhus ensinados e instruídos por mim, estando eles mesmos sujeitos ao
nascimento, tendo compreendido o perigo daquilo que está sujeito ao nascimento,
buscando o que não nasce, a suprema segurança contra o cativeiro, Nibbana,
alcançaram o que não nasce, a suprema segurança contra o cativeiro, Nibbana;
estando eles mesmos sujeito ao envelhecimento, enfermidade, morte, tristeza e
contaminações, tendo compreendido o perigo daquilo que está sujeito ao
envelhecimento, enfermidade, morte, tristeza e contaminações, buscando o que
não envelhece, o que não está sujeito à enfermidade, o imortal, o que não está
sujeito à tristeza, o que não é contaminado, a suprema segurança contra o
cativeiro, Nibbana, alcançaram o que não envelhece, o que não está sujeito à
enfermidade, o imortal, o que não está sujeito à tristeza, o que não é
contaminado, a suprema segurança contra o cativeiro, Nibbana.’ Surgiram neles a
visão e o conhecimento: ‘Inabalável é a libertação da minha mente. Este é o
último nascimento. Não há mais vir a ser a nenhum estado.’
(Prazer
Sensual)
45.(26.31)
‘Bhikkhus, existem esses cinco elementos do prazer sensual.
Quais são os cinco? Formas percebidas pelo olho que são
desejáveis, agradáveis e fáceis de serem gostadas, conectadas com o desejo
sensual e que provocam a cobiça. Sons percebidos pelo ouvido ... Aromas
percebidos pelo nariz ... Sabores percebidos pela língua ... Tangíveis
percebidos pelo corpo que são desejáveis, agradáveis e fáceis de serem
gostados, conectados com o desejo sensual e que provocam a cobiça. Esses são os
cinco elementos do prazer sensual.
46.(26.32) “Quanto
a esses contemplativos e brâmanes que estão atados a esses cinco elementos do
prazer sensual, apaixonados por eles e totalmente comprometidos com eles e que
os utilizam sem ver o perigo que eles contêm ou sem compreender como escapar
deles, desses contemplativos e brâmanes se pode compreender o seguinte: ‘Eles
encontraram a calamidade, encontraram o desastre, o Senhor do Mal poderá fazer
deles o que quiser.’ Suponham um gamo da floresta que esteja atado preso numa
armadilha; dele se pode compreender o seguinte: ‘Ele encontrou a calamidade,
encontrou o desastre, o caçador poderá fazer dele o que quiser.’ Assim também
com relação àqueles contemplativos e brâmanes que estão atados a esses cinco
elementos do prazer sensual ... deles se pode compreender o seguinte: ‘Eles
encontraram a calamidade, encontraram o desastre, o Senhor do Mal poderá fazer
deles o que quiser.’
47.(26.33) “Quanto
a esses contemplativos e brâmanes que não estão atados a esses cinco elementos
do prazer sensual, que não estão apaixonados por eles nem totalmente
comprometidos com eles e que os utilizam vendo o perigo que eles contêm,
compreendendo como escapar deles, desses contemplativos e brâmanes se pode
compreender o seguinte: ‘Eles não encontraram a calamidade, não encontraram o
desastre, o Senhor do Mal não poderá fazer deles o que quiser.’
Suponham um gamo da floresta que não esteja atado, preso numa
armadilha; dele se pode compreender o seguinte: ‘Ele não encontrou a
calamidade, não encontrou o desastre, o caçador não poderá fazer dele o que
quiser, e quando o caçador vier o gamo poderá ir onde quiser.’ Assim também com
relação àqueles contemplativos e brâmanes que não estão atados a esses cinco
elementos do prazer sensual ... deles se pode compreender o seguinte: ‘Eles não
encontraram a calamidade, não encontraram o desastre, o Senhor do Mal não
poderá fazer deles o que quiser.’
48.(26.34) “Suponham um gamo da floresta que perambula pela região inexplorada
da floresta: ele caminha sem medo, fica em pé sem medo, senta sem medo, deita
sem medo. Por que isso? Porque ele se encontra fora do alcance do caçador. Assim
também, um bhikkhu afastado dos prazeres sensuais, afastado das qualidades não hábeis, entra e permanece no primeiro jhana, que é caracterizado pelo pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e felicidade nascidos do afastamento. Este bhikkhu, diz-se que vendou os olhos de Mara, se
tornou invisível para o Senhor do Mal ao privar o olho de Mara da sua oportunidade.
49.(26.35) “Novamente, abandonando o pensamento aplicado e sustentado, um bhikkhu entra e permanece no segundo jhana, que é caracterizado pela segurança interna e perfeita unicidade da mente, sem o pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e felicidade nascidos da concentração. Este
bhikkhu, diz-se que vendou os olhos de Mara...
50.(26.36)
“Novamente, abandonando o êxtase, um bhikkhu entra e permanece no terceiro jhana que é caracterizado pela felicidade sem o êxtase, acompanhada pela atenção plena, plena consciência e equanimidade, acerca do qual os nobres declaram: ‘Ele permanece numa estada feliz, equânime e plenamente atento.’
Este bhikkhu, diz-se que vendou os olhos de Mara...
51.(26.37)
“Novamente, com o completo desaparecimento da felicidade, um bhikkhu entra e permanece no quarto jhana, que possui nem felicidade nem sofrimento, com a atenção plena e a equanimidade purificadas. Este bhikkhu, diz-se que vendou os olhos de Mara...
52.(26.38)
“Novamente, com a completa superação das percepções da forma, com o
desaparecimento das percepções de impacto sensual, com a não atenção na
percepção da diversidade, consciente que o ‘espaço é infinito,’ um bhikkhu
entra e permanece na base do espaço infinito. Este bhikkhu, diz-se que vendou
os olhos de Mara...
53.(26.39)
“Novamente, com a completa superação da base do espaço infinito, consciente que
a ‘consciência é infinita,’ um bhikkhu entra e permanece na base da consciência
infinita. Este bhikkhu, diz-se que vendou os olhos de Mara...
54.(26.40)
“Novamente, com a completa superação da base da consciência infinita,
consciente que ‘não há nada,’ um bhikkhu entra e permanece na base do nada.
Este bhikkhu, diz-se que vendou os olhos de Mara...
55.(26.41)
“Novamente, com a completa superação da base do nada, um bhikkhu entra e
permanece na base da nem percepção, nem não percepção. Este bhikkhu, diz- se que
vendou os olhos de Mara, se tornou invisível para a Senhor do Mal ao privar o
olho de Mara da sua oportunidade.
56.(26.42)
“Novamente, com a completa superação da base da nem percepção, nem não
percepção, um bhikkhu entra e permanece na cessação da percepção e sensação. E
as suas impurezas são destruídas através da visão com sabedoria. Este bhikkhu,
diz-se que vendou os olhos de Mara, se tornou invisível para o Senhor do Mal ao
privar o olho de Mara da sua oportunidade e de ter cruzado para o outro lado do
apego ao mundo. Ele caminha sem medo,
fica em pé sem medo, senta sem medo, deita sem medo. Por que isso? Porque ele se
encontra fora do alcance da Senhor do Mal.”
Isso foi o que disse o Abençoado. Os bhikkhus ficaram satisfeitos e
contentes com as palavras do Abençoado.
Revisado: 6 Fevereiro 2012
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