Atenção plena nas sensações e emoções:
Introdução e meditação guiada
Por
Ayya Khema
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Introdução
Esse método
de meditação é com frequência chamado de vipassana,
mas esse é na verdade um nome incorreto, porque vipassana significa “insight”. Não se pode dizer que um método é
insight; insight se manifesta com a claridade da mente. Portanto, nós comumente
o chamamos de “varredura”, porém não devemos fazer nenhuma conexão com uma
vassoura. A “varredura” que vamos fazer é chamada “parte por parte.”
Em um
aspecto, esse é um método de purificação. Porque o caminho todo do Buda é o da
purificação, e qualquer coisa que possamos usar para nos ajudar ao longo dele é
uma ajuda bem-vinda. Esse método de purificação é bem específico e se torna
claro quando nos lembramos que nossas reações físicas às nossas emoções são
constantes e imediatas e que somos incapazes de pará-las. Se estamos felizes, que
é uma emoção, nós provavelmente sorrimos ou damos risada. Se estamos infelizes,
nós provavelmente choramos ou fazemos um cara infeliz, ou franzimos as
sombrancelhas. Se estamos zangados, podemos ficar vermelhos ou com a fisionomia
enrigecida. Se estamos ansiosos, por exemplo, no meio de um trânsito pesado,
nossos ombros se contraem; existem muito poucas pessoas que não têm tensão nos
ombros. Embora seja irrelevante saber que emoção está ligada a esta ou aquela
parte do corpo. Nossas reações emocionais não têm nenhuma outra maneira de se
manifestar que não através do nosso corpo. Desde o nascimento, nós lidamos com
as nossas emoções dessa maneira, ou talvez, nós poderíamos dizer que lidamos
mal. O corpo tem sempre reagido e talvez retido algumas dessas reações em forma
de tensões e bloqueios. Esse método de meditação tem o potencial de remover
esses bloqueios ou pelo menos de transformá-los em algo menos obstrutivo,
dependendo da força da nossa concentração e também do nosso kamma.
Imagine por
um momento que algumas pessoas têm vivido nesta sala nos últimos trinta anos, e
nunca a limparam. Elas teriam deixado restos de comida, excremento, roupas
sujas e louça suja; e nunca teriam varrido o chão. Agora o lugar estaria sujo e
bagunçado, do chão até o teto. Então, um amigo viria e diria aos ocupantes:
“Porque vocês não varrem pelo menos um cantinho, onde vocês possam se sentar
confortavelmente?” Nossos amigos que estariam vivendo aqui fariam isso e
descobririam que esse cantinho é muito mais confortável do que anteriormente,
apesar deles não terem sido capazes de imaginar isso antes da limpeza. Agora
eles se sentem motivados a limpar todo o restante da sala.
Eles
descobrem que eles podem agora ver lá fora, através das janelas e toda a
perspectiva de viver neste lugar se torna muito mais agradável. É claro que
qualquer pessoa poderia ter se mudado para algum outro lugar quando a bagunça
se tornasse muito insuportável, mas todos nós somos muito presos ao nosso
corpo. Não podemos nos afastar dele. Podemos mudar a nossa residência muitas
vezes durante a nossa vida – seja de cidade ou
país, de um apartamento ou de uma casa, de estar com amigos a estar
sozinho, de um país para outro – mas o nosso corpo nos acompanha sempre. É a
nossa vivenda permanente até que ele se desagrega e morre, e vira pó. E
enquanto temos o nosso corpo, poderíamos também tentar fazer o melhor uso dele,
pois de outro modo, teremos perturbação e aborrecimento na nossa meditação.
Acontece todo tipo de coisas que não queremos que aconteça.
Quando nós
tomamos um banho, tudo que podemos fazer é lavar a nossa pele. Todos nós
sabemos que consistimos de muito mais do que só pele, mas ainda assim é tudo
que podemos limpar. Dia após dia, temos uma pele limpa e agradável e
provavelmente cabelo limpo também. Isso é tudo que conseguimos fazer. O método vipassana na sua primeira aplicação pode se parecer com um banho
interno. O que a mente plantou através de reações emocionais, ela pode remover
através do abandono.
O abandono
é o segredo da purificação. Cada vez que movemos de um ponto no corpo para o
próximo, temos o abandono do que quer que tenha surgido no ponto anterior. No
final, nós deixamos ir todas as sensações e emoções através da ponta dos nossos
dedos das mãos e dos pés para o interior da sala de meditação, porque não
existe mais nenhuma outra parte do corpo para a qual nós possamos mover a nossa
atenção. E através disso, nós fazemos uma limpeza, tomamos um banho interno e
fazemos a remoção de alguns bloqueios interiores. E como isso é de grande ajuda
fisicamente, nossa mente também fica mais relaxada. E agora como já não temos
tantas dificuldades com o corpo, podemos usar nossa energia mental livre do
desconforto.
Essa
técnica tem também uma propriedade de cura. Qualquer pessoa com alguma concentração
pode facilmente se livrar de uma dor de cabeça ou mesmo dor nas costas. Algumas
doenças que já estão profundamente enraizadas serão mais difíceis de
erradicar, podendo até mesmo ser
impossível se livrar delas. A técnica tem no entanto, muitas outras
possibilidades.
Um dos seus
importantes aspectos é que aprendemos a abandonar os nossos sentimentos, de
forma que não precisemos reagir a eles. Os sentimentos compreendem as sensações
físicas e as emoções. A única porta, em toda a origem dependente mundana,
através da qual nós podemos sair do samsara,
é a não reação a essas sensações e emoções, e com isso vem o abandono do
apego. Apego tem sempre o significado de “querer ter” ou “querer se ver livre
de”. Não precisamos estar viciados, no sentido estrito da palavra, só o fato de
querer manter a posse ou de querer mais de algo, ou rejeitar algo, ou querer
destruir, já é o suficiente. Aqui nós
temos um método através do qual podemos realmente nos tornar conscientes das
nossas sensações, sem que seja necessário qualquer reação.
Mesmo se a
raiva surgir, essa é uma ocasião em que sabemos com certeza que ninguém a
causou. E essa poderá ser a primeira vez na nossa vida que estaremos
conscientes da raiva surgindo, sem que nada fora de nós a tenha despertado. O
mesmo se aplica à dor, preocupação, medo ou qualquer outra das nossas sensações
e emoções.
Esse método
também nos dá a oportunidade de nos tornarmos conscientes das sensações que de
vez em quando são desagradáveis. Se as abandonarmos e movermos nossa atenção
para a próxima parte do nosso corpo, nós desempenharemos a mesma ação – isto é,
não reação a uma sensação desagradável através do abandono da rejeição. Nós
abandonamos uma sensação quando colocamos a nossa atenção em algum outro lugar.
Esse método
nos ensina a lidar com todas as nossas sensações e emoções com equanimidade.
Porém, a repetição para nós mesmos, inúmeras vezes, de que esse é o único modo
de lidar com as sensações e emoções, mas sem praticá-lo, não nos capacitará
nesta tarefa. A compreensão – estar intelectualmente consciente – é o primeiro
passo, mas a menos que tenhamos uma prática estruturada, nós não poderemos
aprender isso ou qualquer outra habilidade.
Gosto de
comparar nossas sensações a um brinquedo de criança, o boneco pulador, que
consiste de um palhaço preso numa mola, que pula para fora da caixa cada vez
que a tampa é acionada. A criança só precisa tocar na tampa da caixa de leve e
o palhaço pula para fora. Aí alguém arranca o palhaço da caixa e quando a
criança voltar a tocar a tampa, o palhaço não mais pulará para fora. Isso é o que acontece dentro de nós. Nossas
emoções estão embutidas no nosso coração. Nós só precisamos de uma pequena
impulsão e ser tocados de leve que a raiva ou medo, ou desejo saltam para fora.
E quando estes finalmente se vão, nem mesmo batendo com um martelo pode fazer
com que eles reapareçam.
A
purificação que nós aspiramos necessita de um caminho. É evidente que podemos
praticar no nosso dia-a-dia, onde somos frequentemente tão confrontados por
reações emocionais, mas um método de meditação é uma ajuda enorme e serve como
um sistema de apoio. Em primeiro lugar, porque não existe um agente externo e
portanto fica bem claro que tudo está acontecendo dentro de nós. Na quietude e
paz da prática da meditação é também muito mais fácil não reagir do que na
imediatidade da confrontação – no calor da batalha, por assim dizer.
Aqui nós
temos também um método de ganhar insight de várias maneiras. Durante a
meditação guiada, mencionei solidez, calor, movimento. Todos os corpos
consistem de quatro elementos primários e esses podem ser facilmente
experienciados nessa meditação em particular. Os elementos primários são:
terra, água, fogo e ar. Terra é o elemento da solidez, a dureza que nós podemos
sentir quando nós tocamos o corpo ou quando o corpo toca a almofada, o chão ou
a cadeira. O elemento água não é só saliva, urina, suor e sangue, mas o
elemento de coesão. Quando derramamos água num pouco de farinha, ela se torna
uma massa. É por isso que setenta e oito por cento do nosso corpo é feito de
água. Se assim não fosse, todas as partes estariam se movendo separadamente.
Teríamos uma aparência um pouco estranha, mas talvez não tivéssemos um
sentimento tão forte em relação ao nosso ego, se nós pudéssemos realmente
observar todas as nossas células separadas. A água mantém juntas todas as
partes do nosso corpo. O elemento fogo é temperatura; nosso corpo sente o calor
o frio ou o meio-termo. E existe o ar que são os ventos no corpo – a respiração
e todos os movimentos físicos.
Quando
experienciamos algum ou todos esses elementos dentro de nós, temos uma boa
oportunidade de relacionar essa experiência com tudo ao nosso redor. Tudo que
existe consiste desses quatro elementos e cada um deles contém os outros três em
proporções variadas. Por exemplo, a água tem que ter solidez, de outro modo nós
não poderíamos nadar or remar um barco. Ganhar insight sobre o fato de que nós
consistimos desses elementos nos ajuda a compreender que nós não somos
diferentes do nosso meio ambiente. Não importa para onde olhemos, encontraremos
esses quatro elementos. À medida que fixamos a nossa atenção nessa realidade,
nosso sentimento de separação diminuirá e nós passaremos a nos sentir como
parte de toda manifestação nesse universo. Poderemos nos sentir inseridos nessa
totalidade e não mais ameaçados pelas outras pessoas ou por catástrofes
naturais ou não. Nós somos parte de um todo, o todo é parte de nós; não existe
separação, nem alienação.
Quanto mais
pudermos viver nessa realização, mais fácil será a purificação das nossas
emoções com amor bondade, (metta).Quando
não nos sentirmos mais separados dos outros, uma unidade única no meio de
tantos, mas pudermos ver apenas uma manifestação universal, será muito mais
fácil sentir metta pelos outros,
porque essencialmente estaremos direcionando esse sentimento para nós mesmos.
Quando nos
observamos à luz dos quatro elementos primários, nós também perdemos um pouco
da nossa consciência profundamente impregnada do ego, que é a causa de todos os
problemas que possam surgir. É impossivel encontrar o atributo “eu” numa
combinação de terra, água, fogo e ar. Portanto, uma investigação contemplativa
desses aspectos em nós mesmos pode produzir resultados de longo alcance.
Todos nós
sabemos sobre a impermanência e provavelmente já ouvimos a palavra muitas
vezes. E existem poucas pessoas no mundo que questionariam a impermanência,
estejam elas seguindo uma prática espiritual em particular ou não. Nós
provavelmente poderíamos perguntar ao carteiro ou ao encarregado da loja da
esquina se tudo é impermanente e eles com certeza concordariam que é assim
mesmo. Todos nós concordamos, mas temos que experienciar a impermanência para
que ela deixe uma impressão em nós, e mesmo assim, nem sempre é o suficiente.
Mas, quanto mais experienciarmos a impermanência, mais frequentemente nossa
mente se voltará do seu modo habitual de pensar para o modo do Dhamma, que é
uma virada de 180 graus. E é por isso que temos grandes dificuldades em pensar
e viver no modo do Dhamma. Mas, finalmente, se perseverarmos durante um período
de tempo suficiente, se formos bem determinados e recebermos uma pequena ajuda
no caminho, conseguiremos. À medida que nos distanciarmos do pensamento
mundano, a impermanência se tornará uma das características proeminentes em
tudo que nós experienciarmos. Nesse método de meditação, nós focamos na
impermanência de cada sensação e de cada emoção bem como no seu surgimento e
cessação. Nós não só experienciamos a impermanência, como também compreendemos
que nós só tomamos consciência de algo quando fixamos nossa atenção ali. Se nós
levarmos essa realização para o nosso dia-a-dia, notaremos que a vida se torna
muito mais fácil. Não temos que colocar a nossa atenção em coisas que trazem
problema, fazendo a vida mais difícil para nós mesmos. Quando experienciamos
negativismo, não precisamos mantê-lo na nossa consciência. Somos livres para
movermos nossa atenção para o que é realmente verdadeiro, ou seja,
impermanência, insatisfação e o não-eu.
Ou podemos nos conectar com as emoções puras do amor bondade, compaixão,
alegria altruísta e equanimidade. Depende inteiramente de nós aonde nossa
atenção é focada. Como resultado da meditação, aprendemos que nós podemos
escolher o que pensar, que é uma nova e valiosa abordagem aos nossos estados
mentais. É dessa maneira também que finalmente mudamos nossa consciência para a
consciência do Dhamma o tempo todo. Teremos então aprendido como abandonar
aqueles pensamentos que não estão de acordo com a verdade absoluta.
A
impermanência das nossas sensações e emoções, experienciada durante a
meditação, deveria dar origem a um insight
em relação à natureza impermanente de todo o nosso ser. E o fato do
nosso corpo parecer tão sólido na sua forma é apenas uma manifestação do
elemento terra, e na verdade não é nada mais do que ilusão ótica. Quando
experienciamos as sensações e emoções como totalmente impermanentes, sabendo
que nós habitualmente vivemos reagindo a elas, nós começamos a nos ver pequenos
e menos sólidos do que antes, e pode ser que comecemos a questionar onde é que
um “eu” pode ser encontrado dentro dessa constante mudança. Isso nos dá a
oportunidade de colocar menos importância nas nossas emoções, da mesma forma
que aprendemos a considerar os nossos pensamentos menos importantes quando os
rotulamos durante a nossa prática de meditação e vemos de quão pouca utilidade
eles são – que eles são na realidade dukkha, porque eles estão constantemente
se movendo, mudando e perturbando.
A maioria
das pesssoas reagem automaticamente às suas emoções e justificam isso com a
asserção de que simplesmente é assim que elas sentem. Todos nós já fizemos
isso. Existem esses letreiros de pára-choques na América que proclamam, “se é
bom, deve ser correto”. Essa afirmação não só é tola, mas perigosa.
Podemos ver
em tudo isso quanta importância têm as emoções. E enquanto a nossa
consciência não tiver se tornado uma
consciência do Dhamma, nós cairemos nessa armadilha. Agora nós temos uma
oportunidade para uma nova abordagem. Emoções e sensações são impermanentes e
inteiramente dependentes de onde nós fixamos a nossa atenção. Como podem elas
ter uma significância real, que vai além do seu surgimento e cessação?
Obviamente, nós não nos lembraremos sempre de adotar essa nova abordagem, mas
pelo menos temos um método para lidar com as nossas emoções que, por fim, se
tornará parte do nosso ser. Quando nos sentamos em silêncio, e nada
acontecendo, é mais fácil aprender novos métodos para lidar com nós mesmos. De
fato, não é nada difícil abandonar uma sensação ou emoção e cuidar de outra.
Mas precisamos ser capazes de trazer essa habilidade para o escritório e para a
cozinha, quando alguém nos dá uma “bronca” ou exige atenção; e quando tivermos
feito isso repetidamente na meditação, isso se tornará muito mais fácil. Nós
não mais seremos pegos pelas nossas emoções e pelas nossas reações a elas.
Essa atitude nos traz para um ponto dentro da
origem dependente que é a porta que nos levará para fora da esfera do nascimento
e morte: isto é, a prática da equanimidade em resposta às sensações, ao invés
do costumeiro “gosto” e “não gosto”, em resumo, “desejo” e “raiva”. Através da
atenção plena nós aprenderemos a fazer o tipo certo de escolha. E se
escolhermos o Dhamma, encontraremos tranquilidade e harmonia dentro de nós.
Meditação Guiada da
Atenção Plena nas emoções e sensações ou Varredura
Nesse
momento precisamos nos familiarizar com o ponto no corpo que chamamos de “topo
da cabeça”, que é uma depressão bem raza que todos temos no topo da nossa
cabeça. Num bebê, é a moleira, onde os ossos crescem e se juntam mais tarde.
Podemos encontrá-la tres ou quatro dedos de largura, para trás da raiz dos
cabelos na testa. O outro ponto é a coroa da cabeça, que é mais ou menos do
tamanho de uma moeda grande, onde o cabelo cresce em várias direções. Algumas
pessoas têm-na do lado esquerdo, outras do lado direito e algumas bem no meio
da cabeça. Onde quer que a tenhamos, este é o ponto.
Comece
prestando atenção à sensação gerada pelo ar da respiração nas narinas. Tome
consciência dessa sensação por algum tempo.
Agora
transfira a sua atenção para o “topo da cabeça”, abandone a respiração e deixe
tudo o mais para trás. Ponha a sua total atenção no topo da cabeça e note
qualquer sensação que possa ser sentida ali: cócegas, peso, pressão,
formigamento, se é agradável ou desagradável, movimento, imobilidade, calor,
frio – qualquer uma dessas ou qualquer outra. Você não precisa nomear a
sensação, mas se quiser, pode. Eu as estou nomeando para exemplificar.
Lentamente,
mude a sua atenção do topo da cabeça para a coroa, movendo a sua atenção para trás do topo da cabeça, ponto por
ponto, consciente de cada ponto. Note a sensação, a emoção; deixe-a e siga para
o próximo ponto. Tente cobrir todo o topo da cabeça. Sensação é física e emoção
é emocional. Note qualquer coisa que possa surgir; abandone-a e foque no
próximo ponto: solidez, suavidade, pressão, formigamento, contração, expansão,
calor, pulsação, batimento, golpe, desagrado... a sensação pode ser na pele ou
sob a pele. Pode ser profunda ou na superfície. A única coisa que realmente
importa é estar consciente dela.
Agora
concentre-se na coroa, uma pequena área. Fique consciente da sensação. Tente
voltar para dentro de si mesmo de tal modo que os sentimentos e sensações se
tornem aparentes.
Vagarosamente
mude a sua atenção da coroa para toda a parte de trás da cabeça até a base do
crânio, onde o pescoço se junta com a cabeça. Dê a sua total atenção para cada
ponto, notando, abandonando o que notou e seguindo adiante para o próximo
ponto.
Agora
coloque a sua completa atenção no lado esquerdo da cabeça, lentamente movendo-a
do topo para baixo até a linha da mandíbula, e da raiz do cabelo, na frente,
até a parte detrás da orelha. Concentre-se em cada ponto, movendo a sua atenção
vagarosamente para baixo, tornando-se consciente de cada emoção ou de cada
sensação... notando solidez, toque, tensão, relaxamento, qualquer coisa
que surgir. Note, abandone-a e siga adiante para o próximo ponto.
Traga a sua
atenção para o lado direito da cabeça, lentamente movendo do topo da cabeça
para a linha da mandíbula, da raiz do cabelo, na frente, até a parte detrás da
orelha. Dê total atenção a cada ponto à medida que você move a sua atenção para
baixo, conscientizando-se da sensação, conscientizando-se da emoção, na pele ou
sob a pele, dentro ou na superfície. Estar consciente é o que conta.
Coloque
toda a sua atenção na raiz do cabelo sobre a testa e lentamente mova-a para
baixo, abrangendo toda a extensão da testa até as sombrancelhas, ponto por
ponto. Note o que quer que surja: pulsação, movimento, pressão, batimento,
agradável ou desagradável.
Agora volte
toda a sua atenção para o olho esquerdo, e tudo envolta dele, o globo ocular,
as pálpebras; note a sensação ou qualquer emoção: pressão, peso, escuridão,
luz, o contato, tremor, imobilidade.
Em seguida,
transfira a sua atenção para o olho direito. Tudo em volta dele, o globo
ocular, as pálpebras; note a sensação ou qualquer emoção da qual você tenha
consciência.
Concentre-se
no ponto entre as sombrancelhas. Lentamente mova-a para baixo para a ponta do
nariz, notando ponto por ponto: solidez, suavidade, formigamento, pode ser
qualquer uma destas ou qualquer outra sensação da qual você tenha consciência.
Agora fixe
a sua atenção nas narinas. Vagarosamente mova-a para dentro do nariz, notando a
sensação do ar, movimento, espaço, confinamento, abertura, coceira, humidade,
sequidão, contato.
Concentre-se
na pequena área entre a ponta do nariz e o lábio superior, a extensão toda do
lábio superior. Note qualquer sensação ou qualquer emoção que surja: contato,
movimento, tremor, imobilidade, peso, leveza.
Mova a sua
atenção para os lábios, superior e inferior. Note o contato, pressão,
contração, humidade, sequidão, agradável ou desagradável, qualquer uma destas
ou quaisquer outras.
Coloque a
sua atenção dentro da boca. Fique consciente de qualquer sensação ou emoção.
Mova de um ponto para outro, cobrindo toda a área.
Coloque toda a sua atenção no queixo. Fique
consciente de como é que você o sente.
Mova a sua
atenção para a bochecha esquerda,
movendo-a lentamente para baixo, do olho até a linha da mandíbula. Com a sua
atenção em cada ponto, note qualquer sensação ou emoção; abandone-a e mova para
o próximo ponto.
Concentre-se
na bochecha direita, movendo vagarosamente para baixo, do olho até a linha da
mandíbula, ponto por ponto. Conscientize-se da sensação ou emoção; notando,
abandonando e movendo para o próximo ponto. A sensação pode ser fraca ou
definida, não importa.
Coloque sua
atenção na garganta. Movendo lentamente da linha da mandíbula para onde o
pescoço se junta ao tronco, ponto por ponto, do lado de dentro ou do lado de
fora, notando o contato, calor, obstrução, peso, leveza, pulsação.
Mova a sua
atenção para a parte de trás da garganta, começando na base da cabeça, movendo
lentamente para baixo onde o pescoço se junta ao tronco. Observe cada ponto,
tenso, relaxado, nodoso, agradável ou desagradável, como se houvesse algo
cutucando, golpeando, cócegas, formigamento – qualquer uma destas ou quaisquer
outras.
Coloque
toda a sua atenção no ombro esquerdo. Movendo lentamente do pescoço ao longo do
topo do ombro até onde o braço esquerdo se junta. Observe cada ponto, tornando-se consciente de cada sensação ou
emoção: tenso, relaxado, pesado, sobrecarregado; o que quer que surja,
observando, abandonando e seguindo diante para o próximo ponto.
Agora volte
a sua atenção para a parte superior do braço esquerdo, movendo lentamente para
baixo, do ombro até o cotovelo, por todo o braço, conscientizando-se de cada
ponto à medida que você percorre essa área. Observe a sensação, a emoção;
abandone-a e continue até o próximo ponto. Note o contato, calor, movimento,
peso, leveza, contração, expansão.
Concentre-se
no cotovelo esquerdo. É uma pequena área, portanto deixe que tudo o mais se vá.
Preste atenção exclusivamente no cotovelo esquerdo e em nenhuma outra parte do
corpo e observe a sensação e a emoção que surgir.
Ponha toda
a sua atenção no antebraço esquerdo. Vagarosamente mova do cotovelo até o
pulso, por todo o antebraço, ponto por ponto; observe, abandone e continue até
o próximo ponto, na pele ou sob a pele, na superfície ou mais profundamente.
Chegue bem perto das sua próprias sensações e emoções.
Mova a sua
atenção para o pulso esquerdo, por todo o pulso. Note a pulsação, batimento,
contração, contato.
Em seguida,
concentre-se no dorso da mão esquerda, do pulso até onde os dedos se juntam.
Coloque a sua atenção na palma da mão esquerda, do pulso até onde os dedos se
juntam. Foque a sua atenção na parte de baixo dos cinco dedos da mão esquerda.
Lentamente mova ao longo dos dedos até a ponta. Coloque toda a sua atenção na
ponta dos cinco dedos e aí mentalmente faça um movimento da ponta dos dedos
para longe deles, para o interior da sala de meditação.
Coloque
toda a sua atenção no ombro direito. Movendo vagarosamente do pescoço ao longo do
topo do ombro até onde o braço direito se junta. Note cada ponto: peso,
contração, nodoso, tenso, relaxado, sobrecarregado, dor, tristeza, raiva,
resistência, qualquer coisa, seja o que for. Observe, abandone e siga para o
próximo ponto.
Mova a sua
atenção para o braço direito. Movendo lentamente do ombro para o cotovelo, por
todo o braço. Ponto por ponto, na pele ou sob a pele: solidez, suavidade,
calor, frio, contato, movimento, imobilidade.
Concentre-se
no cotovelo direito. Deixe que tudo o mais se vá; preste atenção só nesta
pequena área e observe as sensações: latejante, contraído, elétrico.
Coloque a
sua atenção no antebraço direito. Movendo lentamente do cotovelo para o pulso,
por toda parte. Observe a superfície ou bem profundamente.
Em seguida,
mova a sua atenção para o dorso da mão direita, do pulso até onde os dedos se
juntam. Ponha a sua atenção na palma da mão direita, do pulso até onde os dedos
se juntam. Foque a sua atenção na parte de baixo dos cinco dedos da mão
direita. Lentamente mova ao longo dos dedos até a ponta. Coloque toda a sua
atenção na ponta dos cinco dedos e aí mentalmente faça um movimento da ponta
dos dedos para longe deles, para o interior dentro da sala de meditação.
Ponha toda
a sua atenção no lado esquerdo da parte da frente do tronco. Mova lentamente do
ombro esquerdo até a cintura, tocando cada ponto à medida que você move a sua
atenção. Observe a emoção ou sensação: restrição, expansão, golpes, peso,
leveza, formigamento, solidez, suavidade, rejeição, resistência, preocupação,
medo, o que quer que surja na superfície, observe, deixe que se vá e continue
até o próximo ponto.
Mova a sua
atenção para o lado direito da parte da frente do tronco; movendo lentamente do
ombro direito até a cintura, tocando em cada ponto com plena atenção.
Coloque
toda a sua atenção na parte da frente da cintura. Observe a sensação: firmeza,
flacidez. Mova lentamente da cintura para a virilha, até a parte mais baixa do
tronco, ponto por ponto, tomando consciência da sensação, da emoção,
abandonando-a e movendo para o próximo ponto, tornando-se consciente de como
você sente cada ponto.
Coloque a
sua atenção do lado esquerdo das costas, movendo lentamente do ombro até a
cintura, prestando atenção a cada ponto, tornando-se consciente da sensação e
da emoção, abandonando-a e observando o próximo ponto: tensão, nodoso,
preocupação, contato, calor, movimento, solidez, suavidade, formigamento.
Coloque
toda a sua atenção no lado direito das costas, movendo lentamente do ombro até
a cintura, com plena atenção em cada ponto.
Ponha toda
a sua atenção na parte de trás da cintura: contraída, expandida,
espasmódica, golpes, cutucação.
Começando da cintura, mova lentamente até a nádega esquerda, onde a perna se
junta. Observe ponto por ponto, na pele, sob a pele, mais profundamente ou na
superfície. Observe, abandone e mova para o próximo ponto: peso, contato,
pressão.
Mova para o
lado direito da parte de trás da cintura. Vagarosamente desloque a atenção para
a nádega direita, até onde a perna se junta. Observe cada ponto, cada sensação.
Concentre-se
na coxa direita. Movendo vagarosamente da virilha até o joelho, por toda parte;
observando a pressão, contato, sensação desagradável, dor aguda, cutucação.
Observe, abandone e continue até o próximo ponto.
Concentre-se no joelho direito, por toda parte,
dentro e fora.
Coloque a
sua atenção na perna. Movendo lentamente do joelho até o tornozelo, por toda
parte, reconhecendo cada ponto.
Coloque a sua
atenção no tornozelo direito. Observe a pressão, contato, solidez, suavidade.
Ponha a sua
atenção no calcanhar direito, uma área pequena. Deixe que todo o resto se vá e
dê toda a sua atenção para essa área.
Coloque
toda a sua atenção na sola do pé direito, movendo do calcanhar até onde os
dedos do pé se juntam. Fique consciente de cada ponto. Observe a sensação ou
emoção: maciez, aspereza, calor, contato, golpes, repuxo.
Coloque a
sua atenção no peito do pé direito, do tornozelo até onde os dedos do pé se
juntam, ponto por ponto, observando dentro e fora. Ponha a sua total atenção na
base dos 5 dedos do pé direito. Lentamente movendo ao longo dos dedos até a
ponta. Ponha a sua atenção na ponta dos
cinco dedos e faça um movimento com a mente para longe deles, da ponta dos
dedos para dentro da sala de meditação.
Em seguida,
mova a sua atenção para a coxa esquerda. Lentamente mova da virilha para o
joelho, por toda parte, ponto por ponto. Observe, abandone e vá para o próximo
ponto.
Ponha toda
a sua atenção no joelho esquerdo, por toda parte, em volta, dentro, fora,
completamente consciente das emoções e sensações.
Concentre-se
na perna esquerda. Lentamente mova do joelho para o tornozelo, por toda parte.
Observe a pressão, peso, solidez, dureza, contato, golpes, pontadas,
formigamento. Seja o que for, observe, abandone e mova a sua atenção para o
próximo ponto.
Ponha toda
a sua atenção no tornozelo esquerdo, por toda parte. Observe o contato,
pressão, resistência, rejeição.
Mova a sua
atenção para o calcanhar esquerdo, uma pequena área. Deixe que tudo o mais se
vá. Dê total atenção para essa área.
Coloque
toda a sua atenção na sola do pé esquerdo. Lentamente movendo do calcanhar para
onde os dedos do pé se juntam. Observe cada ponto: pressão, contato, calor.
Coloque
toda a sua atenção no peito do pé, do tornozelo até onde os dedos do pé se
juntam, ponto por ponto, observando, completamente consciente. Mova a sua
atenção para a base dos cinco dedos do pé esquerdo. Movendo vagarosamente ao longo
dos dedos até a ponta. Ponha toda a sua atenção na ponta dos cinco dedos. Faça
um movimento com a mente para longe deles, da ponta dos dedos para o interior
da sala de meditação.
Mensagem da tradutora para
o Português:
Já faz alguns anos quando pela primeira vez,
durante um retiro, o falecido monge Birmanês Rewata Dhamma expôs para o nosso
grupo a meditação da varredura, a minha primeira reação foi – não gostei. Usei
o método algumas vezes, sempre com restrições, e acabei abandonando-o por
completo. Até que no ano passado, num retiro longo de jhanas, liderado pelo
Leigh Brasington, (discípulo sênior norte-americano da falecida mestra Ayya Khema, autorizado por ela a ensinar os jhanas),
voltei a ouvir sobre esse método e ele não só enfatizava a sua prática, como a
recomendava principalmente para aqueles que sentiram algum tipo de aversão por
ela. Assim, por insistência dele, nesse retiro, acabei incorporando esse método
às minhas meditações diárias, e o resultado foi que a minha concentração deu um
salto qualitativo, não só imediatamente depois de cada varredura, mas durante o
dia todo. É claro que quanto mais o praticarmos, mais aparentes serão os seus
efeitos. A purificação das emoções torna os pensamentos mais compreensíveis e
com isso, a mente se tranquiliza e a meditação se torna menos árida e mais
atrativa.
Saí do retiro com a idéia de traduzir esta
meditação guiada e disponibilizá-la no Acesso ao Insight para que outras
pessoas também pudessem se beneficiar. (Yvone Beisert)
Algumas dicas do professor
Leigh Brasington:
Coloque a sua atenção numa área pequena, de
mais ou menos 4 cms de diâmetro.
Se, no início, ao colocar a sua atenção no topo
da cabeça, a concentração estiver fraca
e você não puder sentir nenhuma sensação, depois de colocar a sua atenção ali,
mova-a para a parede à sua esquerda e em seguida volte ao topo da cabeça. Mova
a sua atenção deste modo várias vezes. Se você perder a concentração no meio da
varredura, vá para o ponto onde você sentiu alguma sensação e mova a sua
atenção para a parede à sua direita, mova-a várias vezes até sentir a
concentração recuperada. Faça a varredura no corpo todo em não menos do que 30
minutos e no máximo 50 minutos, para que ela não se torne maçante.
Se sentir náusea durante a varredura, é por que
você está eliminando lixo emocional do passado, é muito bom sinal.
Revisado: 29 Outubro 2005
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