Abrindo as Portas da Consciência
Por
Cristina Feldman
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Meu
primeiro encontro com os jhanas foi uma experiência espontânea no meio de um
retiro de Vipassana na Índia, onde eu vivia no início da década de 70. O
professor do retiro não encorajava a prática dos jhanas, mas eu obtive alguma
orientação mais tarde de outros professores, incluindo Achariya Anagarika
Munindra [Mestre de Meditação Indiano
(1914-2003)]. Antes disso, quando estudei com professores Tibetanos o
treinamento na concentração era bastante enfatizado, mas eram empregadas
visualizações como objeto ao invés do anapanasati – atenção plena na
respiração. Os professores Tibetanos não se referiam aos jhanas, mas os
estudantes eram capazes de alcançar níveis extraordinários de concentração
empregando as visualizações. Com as instruções que me foram dadas mais
tarde, tateando em busca do caminho e
lendo as descrições dos jhanas no cânone em Pali, eu aprendi a usar os jhanas.
Eu não
creio que alguém tenha uma definição absoluta de jhana. Descrições dos jhanas
podem variar desde estados passageiros, fugidios, até estados muito mais
prolongados que podem ser acessados e deixados através da volição. Há
indicadores para cada jhana que procuro identificar em mim mesmo e nos meus
estudantes. Um é a sustentabilidade – a habilidade de entrar nos jhanas e
manter aquele nível de concentração durante um certo período de tempo. Cada
jhana é na verdade um trampolim para o seguinte. O êxtase experimentado no
primeiro jhana se estabiliza através da concentração contínua e é abrandado,
transformando-se numa concentração refinada no seguinte e assim por diante. Um
professor Tibetano que tive, certa vez disse que seria uma boa idéia deixar as
nossas roupas do lado de fora da porta porque estaríamos demasiado absortos
para notar se o edifício – e as nossas roupas – pegassem fogo. Eu nunca testei
essa teoria do fogo, mas com certeza há estados de concentração nos quais a
percepção desaparece.
Eu decidi
ensinar jhana depois de perceber que algumas pessoas têm encontros acidentais
com esses estados e porque tenho uma grande dose de respeito pelos efeitos que
a prática de jhana tem na consciência. Quando vejo que alguém tem um
temperamento com propensão para entrar em jhanas, eu encorajo isso. Há muitos
benefícios poderosos decorrentes da prática dos jhanas além de empregá-los para
a prática de insight. Primeiro, na minha experiência, eles fazem com que a
mente tenda muito menos para a proliferação de pensamentos e agitação. Eu
também vejo benefícios em relação à supressão dos cinco obstáculos, (desejo, má
vontade, preguiça e torpor, inquietação e ansiedade, e dúvida).
Vejo como
os jhanas ajudam os estudantes a encontrar um nível profundo de alegria e
felicidade internas que afetam profundamente o seu relacionamento com a vida.
Toda a energia por detrás do desejo, da cobiça e do apego, se torna
transparente para as pessoas que praticam os jhanas, e elas têm um melhor
entendimento do fato de que tudo que é obtido através da cobiça não se compara
ao contentamento alcançado através do desenvolvimento da concentração. A mente
larga o vício de ficar perdida na proliferação de pensamentos porque está mais
inclinada para a tranqüilidade interna. A prática de jhana é realmente uma
prática para aprender a se soltar das coisas. E nesse sentido, um dos seus efeitos
prolongados é auxiliar os estudantes na habilidade de renunciar.
Mas os
jhanas não são para todos. Eles exigem um enorme trabalho e tomam muito tempo.
As fases preparatórias para alcançar a concentração de acesso – o limite mínimo
de concentração necessária para entrar no primeiro jhana – exige esforço
sustentado e determinação. Eu nunca penso em ensinar os jhanas no contexto de
um retiro de uma ou duas semanas. É necessário no mínimo um mês. Além disso,
nem todos têm capacidade para entrar nos jhanas, embora eu acredite que todos
tenham capacidade para alcançar a concentração de acesso.
Poucos
professores do dharma Ocidentais ensinam a prática dos jhanas, porque os jhanas
não foram necessariamente parte do próprio treinamento deles. Na Tailândia e na
Birmânia, onde alguns deles estudaram, os jhanas ainda são ensinados, mas a
forma dominante de meditação é a prática de insight. A prática dos jhanas tem
um pouco de arte perdida, mas creio que há um interesse renovado nessa prática.
Cada vez mais vejo estudantes maduros que estão motivados em refinar a sua
prática com períodos mais longos de meditação samatha – tranqüilidade.
Quando eles começam a experimentar os jhanas, eles podem ver quão eficazes eles
são como meio para refinar a consciência. Os jhanas abrem as portas da
consciência.
Fonte: Tricycle – The Buddhist Review. Winter 2004
Revisado: 4 Junho 2005
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