A História de Mo
Por
Ajaan Brahmavamso
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Mo era um detento em uma prisão de segurança máxima, conhecida como Prisão Samsara. A prisão era cercada por cinco muros altos, cada um com a sua própria câmara focada em Mo, e impiedosamente comandada por um sádico guarda presidiário que todos chamavam de Voli. O guarda tirânico fazia com que Mo fosse incessantemente de um lado para o outro, sem nunca lhe dar nenhuma paz, mesmo durante o sono. Mo havia nascido naquela prisão, vivido ali toda a sua vida, e por isso ele não conhecia nenhum outro lugar. Ele até mesmo pensava que Voli, o guarda mandão, era seu amigo e que de vez em quando ele era capaz de influenciá-lo.
Certo dia Mo descobriu um túnel na sua cela, exatamente onde ele com freqüência sentava sonhando acordado. O túnel parecia ser muito antigo, porque tinha uma placa em uma língua desconhecida que dizia ARIYA ATTHANGIKA MAGGA. O ex-presidiário que havia construído o túnel até tinha rabiscado o seu nome na pedra "cavado por Zak Yamuni". "Boa, Zak", pensou Mo.
Inicialmente Mo não ficou interessado no túnel. Porque sair pelo túnel quando ele estava tão acostumado à vida na prisão? A Prisão Samsara tinha um pátio enorme para exercícios conhecido como "Mundo", que ela ainda nem tinha explorado totalmente. Ele tinha um bom emprego na gestão de um negócio na prisão, e até mesmo tinha se casado com uma bela prisioneira chamada Carma Raga que lhe dera três pequenos delinqüentes. Ele amava Carma, muito embora tivessem discussões todos os dias.
Certo fim de semana, por curiosidade, Mo explorou os primeiros metros do túnel e descobriu que o túnel era muito mais legal e tranqüilo do que qualquer coisa que ele já tivesse visto antes. Assim ele foi mais fundo e encontrou o livro guia do túnel chamado Sutta Pitaka.
Primeiro, dizia o guia do túnel, é necessário ter o entendimento correto, o que significa aceitar, mesmo que com base na fé, que a Prisão Samsara é sofrimento. Além disso, qualquer pessoa pode rastejar pelo túnel com base no seu próprio esforço hábil (chamado de karma no guia) e chegar a um lugar legal chamado Nirvana que está além dos muros da prisão Samsara.
Em segundo lugar, é necessário ter o pensamento correto, ou seja, ele teria que pensar em abrir mão, deixar tudo para trás, porque o túnel é muito estreito para possibilitar levar qualquer tipo de posse. Mo ficou muito perturbado pois o guia dizia especificamente que ele não poderia levar a sua esposa Carma Raga, porque o túnel era apenas grande o suficiente para que ele entrasse sozinho. Em seguida, ele teria que ser gentil, porque alguém que estivesse dentro do túnel enraivecido, bateria a cabeça no teto baixo e ficaria desorientado. Por último, ele não deveria se mover de modo brusco, mas com muita sutileza, para que o guarda da prisão, Voli, não interrompesse a sua fuga.
Em terceiro lugar é necessário usar a linguagem correta. O guia do túnel mencionava que mentirosos, maliciosos, grosseiros e até mesmo fofoqueiros, incomodariam os ratos do túnel que iriam persegui-lo de volta para a sua cela.
Em quarto lugar é necessário agir de modo correto. Se ele matasse qualquer tipo de ser, como aqueles ratos, roubasse ou cometesse adultério, no túnel há cobras que iriam ouvir aquilo e não permitiriam que ele passasse. Mesmo beber álcool ou tomar drogas é proibido no túnel, já que ele ficaria desorientado e incapaz de encontrar a saída.
Quinto, o modo de vida correto seria essencial. As pessoas que fazem negócios ilícitos acabam pegando o caminho errado no túnel.
Em sexto lugar, dizia o guia do túnel, seria necessário o esforço correto. Às vezes é necessário trabalhar duro, às vezes apenas relaxar. Essa foi a instrução mais difícil para Mo compreender. Quando ele deveria se esforçar? Quando ele deveria abrir mão? No entanto, através da experiência ele logo pegou o jeito da coisa. Parecia que quanto mais fundo ele penetrava no túnel, mais ele simplesmente devia ficar quieto e não fazer nada. Era como andar com patins descendo uma ladeira íngreme - ao relaxar ele avançava, mas ao se esforçar e ficar tenso ele caía.
Em sétimo lugar, a atenção plena correta seria crucial. Ele tinha que manter firme atenção dentro do túnel. Sonhar acordado ou cochilar seria fatal evitando avançar mais fundo no túnel. Ele tinha que manter a sua atenção em um dos quatro indicadores direcionando-o para a saída do túnel - corpo, sensações, mente e objetos mentais. Atenção também significava que ele teria que aprender rapidamente com os seus erros e repeti-los com menos freqüência.
Oitavo, a quietude correta foi o mais importante de todos. Ele percebeu que quanto mais avançava ao longo do túnel, mais quieto ele tinha que estar de modo a manter o equilíbrio. Seu corpo tinha que ficar sentado como uma estátua por horas, mas isso não foi tão difícil. A parte difícil foi manter a sua mente quieta, tão quieta que o guarda da prisão, Voli, não teria como saber o que Mo pretendia. Sempre que Mo perdia essa quietude, Voli, o guarda tirânico da prisão, apareceria e agarrava Mo de volta para a prisão.
A primeira vez que Mo explorou o túnel, ele não foi muito longe, mas foi uma boa experiência. Quanto mais fundo ele ia, mais feliz ele se sentia. Logo Mo tinha aperfeiçoado as primeiras instruções para percorrer o caminho - ele tinha entendimento, pensamento, linguagem, ação e modo de vida corretos. Além disso, ele sabia como equilibrar o esforço, estava extremamente atento e focado, e ele aprendeu como ficar realmente muito quieto.
Logo, Mo viu a luz no fim do túnel, aquilo que o livro guia chamava de nimitta. Depois, ele passou pelas impressionantes e gloriosas cavernas chamadas os quatro jhanas. Então, finalmente, Uau! Ele chegou ao fim do túnel. Nirvana! Ele estava por fim fora da prisão. Liberdade. Bem-aventurança. Paz! Ele recebeu um novo nome. Conhecido como Mo Ha ele passou a se chamar Harry Hant.
Glossário
Ariya Atthangika Magga – o Nobre Caminho Óctuplo
Samsara – o ciclo de renascimentos
Carma Raga (kama-raga) – desejo sensual
Mo Ha (moha) – delusão
Harry Hant (Arahant) – desperto ou iluminado
Nimmita – o sinal luminoso que antecede os jhanas
Os Cinco Muros da Prisão representam os cinco sentidos
O guarda tirânico da prisão, Voli, significa Volição, cetana. O processo de escolha ou intenção
Revisado: 12 Setembro 2015
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