Majjhima Nikaya 77
Mahasakuludayin Sutta
O Grande Discurso para Sakuludayin
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1. Assim
ouvi. Em certa ocasião o Abençoado estava em Rajagaha, no Bambual, no Santuário
dos Esquilos.
2. Agora,
naquela ocasião um número de errantes famosos estavam no Santuário do Pavão, no
parque dos errantes – isto é, Annabhara, Varadhara e Sakuludayin, bem
como outros conhecidos errantes.
3. Então,
ao amanhecer, o Abençoado se vestiu e tomando a tigela e o manto externo, foi
para Rajagaha para esmolar alimentos. Então ele pensou: “Ainda é muito cedo
para esmolar alimentos em Rajagaha. E se eu fosse até o errante Sakuludayin no
Santuário do Pavão, no parque dos errantes.”
4. Então o Abençoado foi até o Santuário do Pavão, no parque dos
errantes. Agora naquela ocasião o errante Sakuludayin estava sentado com uma
grande assembléia de errantes que estavam fazendo uma grande baderna,
conversando em voz alta e aos berros sobre muitos assuntos inúteis, tal como
falar sobre reis ... (igual ao MN 76, verso 4) ...
falar sobre a existência ou não das coisas. Então o errante Sakuludayin viu o
Abençoado chegando à distância. Ao vê-lo, ele silenciou a assembléia dizendo o
seguinte: “Senhores, fiquem quietos; senhores, não façam ruído. Ali vem o
contemplativo Gotama. Esse venerável gosta do silêncio e recomenda o silêncio.
Talvez, se ele encontrar a nossa assembléia em silêncio, pensará em juntar-se a
nós.” Então os errantes ficaram em silêncio.
5. O
Abençoado foi até o errante Sakuludayin que lhe disse: “Venha Abençoado! Bem
vindo Abençoado! Já faz muito tempo que o Abençoado encontrou uma oportunidade
para vir aqui. Que o Abençoado sente; este assento está preparado.”
O Abençoado
sentou no assento que havia sido preparado e o errante Sakuludayin tomou um
assento mais baixo ao lado. Tendo feito isso, o Abençoado perguntou: “Qual é o
assunto que faz com que vocês estejam sentados juntos aqui agora, Udayin? E
qual é a discussão que foi interrompida?”
6. “Venerável Senhor, deixemos de lado a discussão pela qual estamos
aqui sentados juntos. O Abençoado poderá ouví-la mais tarde. Nos últimos dias,
venerável senhor, quando os contemplativos e brâmanes de várias seitas se
reunem e sentam juntos no salão de debates, este tópico tem surgido: ‘É um
ganho para o povo de Anga e Magadha, é um grande ganho para o povo de Anga e
Magadha que esses contemplativos e brâmanes, líderes de ordens, líderes de
grupos, mestres de grupos, conhecidos e famosos fundadores de seitas
religiosas, considerados como santos por muitos, tenham vindo passar o período
das chuvas em Rajagaha. Ali está Purana Kassapa, líder de uma ordem, líder de
um grupo, mestre de um grupo, conhecido e famoso fundador de uma seita
religiosa considerado como um santo por muitos, veio passar o período das
chuvas em Rajagaha. Ali também está Makkhali Gosala ... Ajita Kesakambalin ...
Pakudha Kaccayana ... Sanjaya Belatthiputta ... Niganttha Nataputta, líder de
uma ordem, líder de um grupo, mestre de um grupo, conhecido e famoso fundador
de uma seita religiosa considerado como um santo por muitos, veio passar o
período das chuvas em Rajagaha. Ali também está o contemplativo Gotama, líder
de uma ordem, líder de um grupo, mestre de um grupo, conhecido e famoso
fundador de uma seita religiosa considerado como um santo por muitos: ele
também veio passar o período das chuvas em Rajagaha. Agora, dentre esses respeitados
contemplativos e brâmanes, líderes de ordens ... considerados como santos por
muitos, quem é honrado, respeitado, reverenciado e venerado pelos seus
discípulos? E como, honrando-o e respeitando-o eles vivem confiando nele?’
"Com respeito
a isso alguns dizem o seguinte: ‘Esse Purana Kassapa é o líder de uma ordem ...
considerado como santo por muitos, todavia ele não é honrado, respeitado,
reverenciado e venerado pelos seus discípulos, nem os seus discípulos vivem
confiando nele, honrando-o e respeitando-o. Certa vez Purana Kassapa estava
ensinando o Dhamma dele para uma assembléia de centenas de discípulos. Então um
certo discípulo disse o seguinte: “Senhores, não façam essa pergunta a Purana
Kassapa. Ele não sabe sobre isso. Nós sabemos.
Perguntem para nós. Nós responderemos sobre isso para vocês, senhores.” Sucedeu
que Purana Kassapa não conseguiu o que queria, embora agitasse os braços e se
queixasse: “Fiquem quietos, senhores, não façam ruído, senhores. Eles não estão
perguntando para vocês, senhores. Eles estão perguntando para nós. Nós
responderemos para eles.” Deveras, muitos dos discípulos o abandonaram depois
de refutar sua doutrina assim: “Você não compreende este Dhamma e Disciplina.
Eu compreendo este Dhamma e Disciplina. Como poderia você compreender este
Dhamma e Disciplina? O seu jeito está errado. O meu jeito está certo. Eu sou
consistente. Você é inconsistente. O que
deveria ter sido dito primeiro, você disse por último. O que deveria ter sido
dito por último, você disse primeiro. Aquilo que você pensou com tanto cuidado
foi virado de pernas para o ar. A sua doutrina foi refutada. Ficou provado que
você está errado. Vá e aprenda melhor ou desembarace-se se puder!” Portanto
Purana Kassapa não é honrado, respeitado, reverenciado e venerado pelos seus
discípulos, nem os seus discípulos vivem confiando nele, honrando-o e
respeitando-o. Na verdade, ele é desdenhado com o desdém demonstrado em relação
ao seu Dhamma.'
" E
alguns dizem o seguinte: 'Esse Makkhali Gosala ... esse Ajita Kesakambalin ...
esse Pakudha Kaccayana ... esse Sanjaya Belatthiputta ... esse Niganttha
Nataputta é o líder de uma ordem ...[mas ele] não é honrado, respeitado,
reverenciado e venerado pelos seus discípulos, nem os seus discípulos vivem confiando
nele, honrando-o e respeitando-o. Na verdade, ele é desdenhado com o desdém
demonstrado em relação ao seu Dhamma.'
" E
alguns dizem o seguinte: 'Esse contemplativo Gotama é o líder de uma ordem,
líder de um grupo, mestre de um grupo, conhecido e famoso, fundador de uma
seita religiosa considerado como um santo por muitos. Ele é honrado,
respeitado, reverenciado e venerado pelos seus discípulos e os seus discípulos
vivem confiando nele, honrando-o e respeitando-o. Certa vez o contemplativo
Gotama estava ensinando o Dhamma dele para uma assembléia de centenas de
discípulos. Então um certo discípulo
pigarreou. Por causa disso um dos seus companheiros na vida santa o
cutucou com o joelho [para indicar]: “Fique quieto, venerável senhor, não faça
ruído; o Abençoado, o Mestre, nos está ensinando o Dhamma.” Quando o
contemplativo Gotama está ensinando o Dhamma para uma assembléia de muitas
centenas de discípulos, nessa ocasião não há ruídos dos seus discípulos
tossindo ou pigarreando. Pois naquele momento aquela grande assembléia está
suspensa em expectativa: “Ouçamos o Dhamma que o Abençoado está a ponto de nos
ensinar.” Como se um homem estivesse numa encruzilhada espremendo puro mel e um
grande grupo de pessoas estivessem suspensas em expectativa, assim também,
quando o contemplativo Gotama está ensinando o Dhamma para uma assembléia de
muitas centenas de discípulos, nessa ocasião não há ruídos dos seus discípulos
tossindo ou pigarreando. Pois naquele momento aquela grande assembléia está
suspensa em expectativa: “Ouçamos o Dhamma que o Abençoado está a ponto de nos
ensinar.” E mesmo aqueles discípulos que se indispõem com os seus companheiros
na vida santa e abandonam o treinamento e retornam para a vida inferior – mesmo
eles elogiam o Mestre e o Dhamma e a Sangha; eles culpam a si mesmos ao invés
dos outros, dizendo: “Nós tivemos má sorte, tivemos pouco mérito; pois embora
tenhamos seguido a vida santa neste Dhamma tão bem declarado, fomos incapazes
de viver a vida santa completamente perfeita e imaculada pelo resto das nossas
vidas.” Tornando-se serventes nos monastérios ou discípulos leigos, eles adotam
e observam os cinco preceitos. Portanto o contemplativo Gotama é honrado,
respeitado, reverenciado e venerado pelos seus discípulos, e os seus discípulos
vivem confiando nele, honrando-o e respeitando-o.”
7. “Mas,
Udayin, quantas qualidades você vê em mim pelas quais meus discípulos me
honram, respeitam, reverenciam e veneram, e vivem confiando em mim, honrando-me
e respeitando-me?”
8.
“Venerável senhor, eu vejo cinco qualidades no Abençoado pelas quais os seus
discípulos o honram, respeitam, reverenciam e veneram, e vivem confiando no
venerável senhor, honrando-o e respeitando-o. Quais cinco? Primeiro, venerável
senhor, o Abençoado come pouco e recomenda comer pouco; isso eu vejo como a
primeira qualidade do Abençoado pela qual os seus discípulos o honram,
respeitam, reverenciam e veneram, e vivem confiando no venerável senhor,
honrando-o e respeitando-o. De novo, venerável senhor, o Abençoado está satisfeito
com qualquer tipo de manto e recomenda a satisfação com qualquer tipo de manto;
isso eu vejo como a segunda qualidade do Abençoado ... De novo, venerável
senhor, o Abençoado está satisfeito com qualquer tipo de comida esmolada e
recomenda a satisfação com qualquer tipo de comida esmolada; isso eu vejo como
a terceira qualidade do Abençoado ... De novo, venerável senhor, o Abençoado
está satisfeito com qualquer tipo de moradia e recomenda a satisfação com
qualquer tipo de moradia; isso eu vejo como a quarta qualidade do Abençoado
.... De novo, venerável senhor, o Abençoado vive isolado e recomenda o
isolamento; isso eu vejo como a quinta qualidade do Abençoado. Venerável
senhor, essas são as cinco qualidades que vejo no Abençoado pelas quais os seus
discípulos o honram, respeitam, reverenciam e veneram, e vivem confiando no
venerável senhor, honrando-o e respeitando-o.”
9.
“Suponha, Udayin, que os meus discípulos me honrassem, respeitassem,
reverenciassem e venerassem, e vivessem confiando em mim, honrando-me e
respeitando-me com o pensamento: ‘O contemplativo Gotama come pouco e recomenda
comer pouco.’ Agora existem discípulos meus que vivem com uma xícara de comida
ou meia xícara de comida, uma fruta ou meia fruta, enquanto que eu como todo o
conteúdo da minha tigela de esmolar alimentos ou até mais. Portanto, se os meus
discípulos me honrassem … com o pensamento: ‘O contemplativo Gotama come pouco
e recomenda comer pouco,’ então, aqueles discípulos meus que vivem com uma
xícara de comida … não deveriam me honrar, respeitar, reverenciar e venerar por
essa qualidade, nem deveriam eles viver confiando em mim, honrando-me e
respeitando-me.
“Suponha,
Udayin, que os meus discípulos me honrassem, respeitassem, reverenciassem e
venerassem, e vivessem confiando em mim, honrando-me e respeitando-me com o
pensamento: ‘O contemplativo Gotama está
satisfeito com qualquer tipo de manto e recomenda a satisfação com qualquer
tipo de manto.' Agora existem discípulos meus que vestem mantos feitos de
trapos, vestem mantos grosseiros; eles recolhem trapos dos cemitérios, montes
de lixo ou oficinas, fazem com eles mantos com remendos e os usam. Mas, eu às
vezes uso mantos dados por chefes de família, mantos tão finos que os pelos das
abóboras se tornam grosseiros na comparação. Portanto, se os meus discípulos me
honrassem …com o pensamento: ‘O contemplativo Gotama está satisfeito com
qualquer tipo de manto e recomenda a satisfação com qualquer tipo de
manto,' então, aqueles discípulos meus
que vestem mantos feitos de trapos, vestem mantos grosseiros ... não deveriam
me honrar, respeitar, reverenciar e venerar por essa qualidade, nem deveriam
eles viver confiando em mim, honrando-me e respeitando-me.
“Suponha,
Udayin, que os meus discípulos me honrassem, respeitassem, reverenciassem e
venerassem, e vivessem confiando em mim, honrando-me e respeitando-me com o
pensamento: ‘O contemplativo Gotama está satisfeito com qualquer tipo de comida
esmolada e recomenda a satisfação com qualquer tipo de comida esmolada.' Agora,
existem discípulos meus que comem comida esmolada, que de forma contínua vão de
casa em casa esmolando alimentos, que se deliciam em coletar sua comida;
estando nas casas eles não concordam em sentar-se mesmo quando convidados. Mas,
eu algumas vezes, quando convidado, como refeições com arroz de primeira e
muitos tipos de molhos e tipos de caril. Portanto, se os meus discípulos me
honrassem … com o pensamento: ‘O contemplativo Gotama está satisfeito com
qualquer tipo de comida esmolada e recomenda a satisfação com qualquer tipo de
comida esmolada,’ então, aqueles discípulos meus que comem comida esmolada …
não deveriam me honrar, respeitar, reverenciar e venerar por essa qualidade,
nem deveriam eles viver confiando em mim, honrando-me e respeitando-me.
“Suponha, Udayin,
que os meus discípulos me honrassem, respeitassem, reverenciassem e venerassem,
e vivessem confiando em mim, honrando-me e respeitando-me com o pensamento: ‘O
contemplativo Gotama está satisfeito com qualquer tipo de moradia e recomenda a
satisfação com qualquer tipo de moradia.' Agora, existem discípulos meus que
habitam sob as árvores e vivem a céu aberto, que não habitam sob um teto
durante oito meses do ano, enquanto que eu às vezes vivo em mansões suntuosas
com as paredes externas e internas revestidas, protegido do vento,
seguro com ferrolhos nas portas e persianas nas janelas. Portanto, se os meus
discípulos me honrassem … com o pensamento: ‘O contemplativo Gotama está
satisfeito com qualquer tipo de moradia e recomenda a satisfação com qualquer
tipo de moradia,' então, aqueles discípulos meus que habitam sob as
árvores e vivem a céu aberto ... não deveriam me honrar, respeitar, reverenciar
e venerar por essa qualidade, nem deveriam eles viver confiando em mim,
honrando-me e respeitando-me.
“Suponha,
Udayin, que os meus discípulos me honrassem, respeitassem, reverenciassem e
venerassem, e vivessem confiando em mim, honrando-me e respeitando-me com o
pensamento: ‘O contemplativo Gotama vive isolado e recomenda o isolamento.'
Agora existem discípulos meus que vivem nas florestas, vivem em lugares
remotos, que vivem afastados no meio da mata cerrada e que retornam para o meio
da Sangha a cada quinzena para a recitação do Patimokkha. Mas eu às vezes vivo
cercado por bhikkhus e bhikkhunis, por discípulos leigos, por reis e ministros
de reis, por membros de outras seitas e seus discípulos. Portanto, se os meus
discípulos me honrassem … com o pensamento: ‘O contemplativo vive isolado e
recomenda o isolamento,’ então aqueles discípulos meus que vivem nas florestas
... não deveriam me honrar, respeitar, reverenciar e venerar por essa
qualidade, nem deveriam eles viver com confiança em mim, honrando-me e
respeitando-me. Portanto, Udayin, não é devido a essas cinco qualidades que os
meus discípulos me honram, respeitam, reverenciam e veneram, e vivem confiando
em mim, honrando-me e respeitando-me.
10. “No
entanto, Udayin, existem outras cinco qualidades pelas quais meus discípulos me
honram, respeitam, reverenciam e veneram, e vivem confiando em mim, honrando-me
e respeitando-me. Quais são as cinco?
(I. A
VIRTUDE SUPERIOR)
11.
“Aqui, Udayin, meus discípulos me estimam pela virtude superior da seguinte
forma: ‘O contemplativo Gotama é virtuoso, ele possui o supremo agregado da virtude.’
Essa é a primeira qualidade pela qual meus discípulos me honram, respeitam,
reverenciam e veneram, e vivem confiando em mim, honrando-me e respeitando-me.
(II.
CONHECIMENTO E VISÃO)
12. “Outra vez,
Udayin, meus discípulos me estimam pelo meu conhecimento direto e visão da
seguinte forma: ‘Quando o contemplativo Gotama diz ”Eu sei,” ele de verdade
sabe; quando ele diz “Eu vejo,” ele de verdade vê. O contemplativo Gotama
ensina o Dhamma através do conhecimento direto, não sem o conhecimento direto;
ele ensina o Dhamma com uma base sólida, não sem uma base sólida; ele ensina o
Dhamma de forma convincente, não de uma forma não convincente.’ Essa é a
segunda qualidade pela qual meus
discípulos me honram...
(III. A
SABEDORIA SUPERIOR)
13. “Outra
vez, Udayin, meus discípulos me estimam pela sabedoria superior da seguinte
forma: ‘O contemplativo Gotama é sábio; ele possui o agregado supremo da
sabedoria. É impossível que ele não possa prever as implicações de uma determinada afirmação
ou não seja capaz de refutar com base em
argumentos as doutrinas correntes dos outros.’ [1] O que você pensa, Udayin? Os
meus discípulos, sabendo e vendo isso, iriam me interromper e perturbar?”
–“Não, venerável senhor.” – “Eu não espero receber instruções dos meus
discípulos; sempre, são os meus discípulos que esperam receber instruções de
mim. Essa é a segunda qualidade pela qual
meus discípulos me honram...
(IV. AS
QUATRO NOBRES VERDADES)
14. “Outra
vez, Udayin, quando os meus discípulos encontram o sofrimento e se tornam
vítimas do sofrimento, presas do sofrimento, eles vêm até mim e me perguntam
sobre a nobre verdade do sofrimento. Tendo sido perguntado, eu lhes explico a
nobre verdade do sofrimento e satisfaço a mente deles com a minha explicação.
Eles me perguntam sobre a nobre verdade da origem do sofrimento … sobre a nobre
verdade da cessação do sofrimento … sobre a nobre verdade do caminho que conduz
à cessação do sofrimento. Tendo sido perguntado, eu lhes explico a nobre
verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento e satisfaço a mente
deles com a minha explicação. Essa é a quarta qualidade pela qual meus discípulos me honram...
(V. O
CAMINHO PARA DESENVOLVER QUALIDADES BENÉFICAS)
(1. Os
Quatro Fundamentos da Atenção Plena)
15. “Outra vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho
para desenvolver os quatro fundamentos da atenção plena [2]. Aqui um bhikkhu permanece contemplando o corpo como um corpo,
ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a
cobiça e o desprazer pelo mundo. Ele permanece contemplando as sensações como
sensações … Ele permanece contemplando a mente como mente … Ele permanece
contemplando os objetos mentais como objetos mentais ardente, plenamente
consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer
pelo mundo. E através disso, muitos dos meus discípulos permanecem assim, tendo
alcançado a consumação e perfeição do conhecimento direto.[3]
(2. Os Quatro Tipos de Esforço)
16. “Outra vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho
para desenvolver os quatro tipos de esforço correto. Aqui um bhikkhu gera
desejo para que não surjam estados ruins e prejudiciais que ainda não surgiram
e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. Ele
gera desejo em abandonar estados ruins e prejudiciais que já surgiram e ele se
aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. Ele gera
desejo para que surjam estados benéficos que ainda não surgiram e ele se
aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. Ele gera
desejo para a continuidade, o não desaparecimento, o fortalecimento, o
incremento e a realização através do desenvolvimento de estados benéficos que
já surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se
esforça. E através disso, muitos dos meus discípulos permanecem assim, tendo
alcançado a consumação e perfeição do conhecimento direto.
(3. As
Quatro Bases do Poder Espiritual)
17 “Outra
vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho para desenvolver as
quatro bases do poder espiritual. Aqui um bhikkhu desenvolve a base do poder
espiritual que possui a concentração devida ao desejo e as formações volitivas
para o esforço. Ele desenvolve a base do poder espiritual que possui a
concentração devida à energia e as formações volitivas para o esforço. Ele
desenvolve a base do poder espiritual que possui a concentração devida à mente
e as formações volitivas para o esforço. Ele desenvolve a base para do poder
espiritual que possui a concentração devida à investigação e as formações
volitivas para o esforço. E através disso, muitos dos meus discípulos permanecem
assim, tendo alcançado a consumação e perfeição do conhecimento direto.
(4. As
Cinco Faculdades Dominantes)
18. “Outra
vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho para desenvolver as
cinco faculdades dominantes. Aqui um bhikkhu desenvolve a faculdade da
convicção que conduz à paz, conduz à iluminação. Ele desenvolve a faculdade da
energia … a faculdade da atenção plena … a faculdade da concentração … a
faculdade da sabedoria que conduz à paz, conduz à iluminação. E através disso, muitos dos meus discípulos
permanecem assim, tendo alcançado a consumação e perfeição do conhecimento
direto.
(5. Os
Cinco Poderes)
19. “Outra
vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho para desenvolver os
cinco poderes. Aqui um bhikkhu desenvolve o poder da convicção que conduz à
paz, conduz à iluminação. Ele desenvolve o poder da energia … o poder da
atenção plena … o poder da concentração … o poder da sabedoria que conduz à
paz, conduz à iluminação. E através
disso, muitos dos meus discípulos permanecem assim, tendo alcançado a
consumação e perfeição do conhecimento direto.
(6. Os Sete
Fatores da Iluminação)
20. “Outra
vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho para desenvolver os
sete fatores da iluminação. Aqui um bhikkhu desenvolve o fator da iluminação da
atenção plena, que tem como base o afastamento, desapego e cessação que
amadurece no abandono. Ele desenvolve o fator da iluminação da investigação dos
fenômenos ... Ele desenvolve o fator da iluminação da energia ... Ele
desenvolve o fator da iluminação do êxtase ... Ele desenvolve o fator da
iluminação da tranqüilidade ... Ele desenvolve o fator da iluminação da
concentração ... Ele desenvolve o fator da iluminação da equanimidade,
que tem como base o afastamento, desapego e cessação que amadurece no abandono.
E através disso muitos dos meus discípulos permanecem assim, tendo alcançado a
consumação e perfeição do conhecimento direto.
(7. O Nobre
Caminho Óctuplo)
21. “Outra
vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho para desenvolver o
Nobre Caminho Óctuplo. Aqui um bhikkhu desenvolve o entendimento correto,
pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto,
esforço correto, atenção plena correta e concentração correta. E através disso,
muitos dos meus discípulos permanecem assim, tendo alcançado a consumação e
perfeição do conhecimento direto.
(8. As Oito
Libertações)
22. “Outra vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho
para desenvolver as oito libertações. [4] Possuindo
forma material, ele vê a forma: essa é a primeira libertação. Não percebendo a
forma no interior, ele vê a forma no exterior: essa é a segunda libertação. Ele
está decidido apenas pelo belo: essa é a terceira libertação. Com a completa
superação das percepções da forma, com o desaparecimento das percepções do
contato sensorial, sem dar atenção às percepções da diversidade, consciente que
o ‘espaço é infinito,’ ele entra e permanece na base do espaço infinito: essa é
a quarta libertação. Com a completa superação da base do espaço infinito,
consciente que a ‘consciência é infinita,’ ele entra e permanece na base da
consciência infinita: essa é a quinta libertação. Com a completa superação da
base da consciência infinita, consciente de que ‘não há nada,’ ele entra e
permanece na base do nada: essa é a sexta libertação. Com a completa superação
da base do nada, ele entra e permanece na base da nem percepção, nem não
percepção: essa é a sétima libertação. Com a completa superação da base da nem
percepção, nem não percepção, ele entra e permanece na cessação da sensação e
percepção: essa é a oitava libertação. E através disso, muitos dos meus
discípulos permanecem assim, tendo alcançado a consumação e perfeição do
conhecimento direto.
(9. As Oito
Bases para a Transcendência)
23. “Outra vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho
para desenvolver as oito bases para a transcendência.[5] Percebendo a forma no interior, ele vê a forma no exterior,
limitada, bonita e feia; ao transcendê-la, ele percebe assim: ‘Eu sei, eu
vejo.’ Essa é a primeira base para a transcendência. [6] Percebendo a forma no interior, ele vê a forma no exterior,
imensurável, bonita e feia; ao transcendê-la, ele percebe assim: ‘Eu sei, eu
vejo.’ Essa é a segunda base para a transcendência. Não percebendo a forma no
interior, ele vê a forma no exterior, limitada, bonita e feia; ao
transcendê-la, ele percebe assim: ‘Eu sei, eu vejo.’ Essa é a terceira base
para a transcendência.[7] Não percebendo a
forma no interior, ele vê a forma no exterior, imensurável, bonita e feia; ao
transcendê-la, ele percebe assim: ‘Eu sei, eu vejo.’ Essa é a quarta base para
a transcendência. Não percebendo a forma no interior, ele vê a forma no
exterior, azul, de cor azul, azul na aparência, com luminosidade azul. Igual a
uma flor de linho que é azul, de cor azul, azul na aparência, com luminosidade
azul ou como o tecido de Benares liso dos dois lados que é azul, de cor azul,
azul na aparência, com luminosidade azul; assim também, não percebendo a forma
no interior, ele vê a forma no exterior...com luminosidade azul; ao
transcendê-la, ele percebe assim: ‘Eu sei, eu vejo.’ Essa é a quinta base para
a transcendência. Não percebendo a forma no interior, ele vê a forma no
exterior, amarela, de cor amarela, amarela na aparência, com luminosidade
amarela. Igual a uma flor que é amarela, de cor amarela, amarela na aparência,
com luminosidade amarela ou como o tecido de Benares liso dos dois lados que é
amarelo, de cor amarela, amarelo na aparência, com luminosidade amarela; assim
também, não percebendo a forma no interior, ele vê a forma no exterior...com
luminosidade amarela; ao transcendê-la, ele percebe assim: ‘Eu sei, eu vejo.’
Essa é a sexta base para a transcendência.. Não percebendo a forma no interior,
ele vê a forma no exterior, vermelha, de cor vermelha, vermelha na aparência,
com luminosidade vermelha. Igual a uma flor de hibisco, que é vermelha, de cor
vermelha, vermelha na aparência, com luminosidade vermelha ou como o tecido de
Benares liso dos dois lados, que é vermelho, de cor vermelha, vermelho na
aparência, com luminosidade vermelha; assim também, não percebendo a forma no
interior, ele vê a forma no exterior...com luminosidade vermelha; ao
transcendê-la, ele percebe assim: ‘Eu sei, eu vejo.’ Essa é a sétima base para
a transcendência. Não percebendo a forma no interior, ele vê a forma no
exterior, branca, de cor branca, branca na aparência, com luminosidade branca.
Igual à estrela da manhã, que é branca, de cor branca, branca na aparência, com
luminosidade branca ou como o tecido de Benares liso dos dois lados, que é
branco, de cor branca, branco na aparência, com luminosidade branca; assim
também, não percebendo a forma no interior, ele vê a forma no exterior...com
luminosidade branca; ao transcendê-la, ele percebe assim: ‘Eu sei, eu vejo.’
Essa é a oitava base para a transcendência. E através disso, muitos dos meus
discípulos permanecem assim, tendo alcançado a consumação e perfeição do
conhecimento direto.
(10. As Dez
Kasinas)
24. “Outra vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho
para desenvolver as dez kasinas.[8] Um
contempla a kasina da terra acima, abaixo e de lado a lado, indivisa e
imensurável. Outro contempla a kasina da água …Outro contempla a kasina do fogo
…Outro contempla a kasina do ar …Outro contempla a kasina azul …Outro contempla
a kasina amarela …Outro contempla a kasina vermelha …Outro contempla a kasina
branca …Outro contempla a kasina do espaço …Outro contempla a kasina da
consciência acima, abaixo e de lado a lado, indivisa e imensurável. E através
disso, muitos dos meus discípulos permanecem assim, tendo alcançado a
consumação e perfeição do conhecimento direto.
(11. Os
Quatro Jhanas)
25. “Outra vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho
para desenvolver os quatro jhanas. Aqui, um bhikkhu afastado dos prazeres sensuais, afastado das qualidades não hábeis, entra e permanece no primeiro jhana, que é caracterizado pelo pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e felicidade nascidos do afastamento. Ele permeia e impregna, cobre e preenche o corpo com o êxtase e felicidade nascidos do afastamento. Não há nada em todo o corpo que não esteja permeado pelo êxtase e felicidade nascidos do afastamento. [9] É como se um banhista habilidoso ou seu aprendiz vertesse pó de banho numa bacia de latão e o misturasse, borrifando com água de tempos em tempos, de forma que essa bola de pó de banho - saturada, carregada de umidade, permeada por dentro e por fora - no entanto não pingasse; assim, o bhikkhu permeia, cobre e preenche o corpo com o êxtase e felicidade nascidos do afastamento....
26. “Outra
vez, abandonando o pensamento aplicado e sustentado, um bhikkhu entra e permanece no segundo jhana, que é caracterizado pela segurança interna e perfeita unicidade da mente, sem o pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e felicidade nascidos da concentração. Ele permeia e impregna, cobre e preenche o corpo com o êxtase e felicidade nascidos da concentração. Não há nada em todo o corpo que não esteja permeado pelo êxtase e felicidade nascidos da concentração.Como um lago sendo alimentado por uma fonte de água interna, não tendo um fluxo de água do leste, oeste, norte, ou sul, nem os céus periodicamente fornecendo chuvas abundantes, de modo que a fonte de água interna permeia e impregna, cobre e preenche o lago de água fresca, sem que nenhuma parte do lago não esteja permeada pela água fresca; assim também o bhikkhu permeia e impregna, cobre e preenche o corpo com o êxtase e felicidade nascidos da concentração...
27. “Outra vez,
abandonando o êxtase, um bhikkhu entra e permanece no terceiro jhana que é caracterizado pela felicidade sem o êxtase, acompanhada pela atenção plena, plena consciência e equanimidade, acerca do qual os nobres declaram: ‘Ele permanece numa estada feliz, equânime e plenamente atento.’ Ele permeia e impregna, cobre e preenche o corpo com a felicidade despojada do êxtase, de forma que não exista nada em todo o corpo que não esteja permeado com a felicidade despojada do êxtase. Como num lago que tenha flores de lótus azuis, brancas ou vermelhas, podem existir algumas flores de lótus azuis, brancas, ou vermelhas que, nascidas e tendo crescido na água, permanecem imersas na água e florescem sem sair de dentro da água, de forma que elas permanecem permeadas e impregnadas, cobertas e preenchidas com água fresca da raiz até a ponta, e nada dessas flores de lótus azuis, brancas ou vermelhas permanece sem estar permeado pela água fresca; assim também o bhikkhu permeia e impregna, cobre e preenche o corpo com a felicidade despojada de êxtase ...
28. “Outra
vez, om o completo desaparecimento da felicidade, um bhikkhu entra e permanece no quarto jhana, que possui nem felicidade nem sofrimento, com a atenção plena e a equanimidade purificadas. Ele permanece permeando o corpo com a mente pura e luminosa, de forma que não exista nada em todo o corpo que não esteja permeado pela mente pura e luminosa. Como se um homem estivesse enrolado da cabeça aos pés com um tecido branco de forma que não houvesse nenhuma parte do corpo que não estivesse coberta pelo tecido branco; assim também o bhikkhu permanece permeando o corpo com a mente pura e luminosa. Não há nada no corpo que não esteja permeado por essa mente pura e luminosa. E através disso, muitos dos meus discípulos permanecem assim,
tendo alcançado a consumação e perfeição do conhecimento direto.
(12.
Conhecimento do Insight)
29. “Outra vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho
para compreender da seguinte forma: [10] ‘Este
meu corpo, feito de forma material, consistindo dos quatro grandes elementos,
procriado por uma mãe e um pai, construído com arroz cozido e mingau, está
sujeito à impermanência, a ser gasto e pulverizado, à dissolução e
desintegração, e esta minha consciência está apoiada nele e atada a ele.’
Suponha que houvesse uma bela pedra de berilo da mais pura água, com oito
facetas, bem lapidada, clara e límpida, possuindo todas as boas qualidades e
através dela fosse passado um fio azul, amarelo, vermelho ou branco. Então um
homem com boa visão, tomando a pedra nas mãos a examinaria da seguinte forma:
’Esta é uma bela pedra de berilo da mais pura água, com oito facetas, bem
lapidada, clara e límpida, possuindo todas as boas qualidades e através dela
passa um fio azul, amarelo, vermelho, branco.' Assim também, eu proclamei para
os meus discípulos o caminho para compreender da seguinte forma: ‘Este meu
corpo ... está sujeito à impermanência, a ser gasto e pulverizado, à dissolução
e desintegração, e esta minha consciência está apoiada nele e atada a ele.’ E
através disso, muitos dos meus discípulos permanecem assim, tendo alcançado a
consumação e perfeição do conhecimento direto.
(13. O
Corpo feito pela Mente)
30. “Outra
vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho para criar deste
corpo um outro corpo dotado de forma, feito pela mente, completo com todas as
suas partes, sem defeito em nenhuma das faculdades. Tal como se um homem fosse
tirar uma flecha do seu estojo. O pensamento lhe ocorreria: ‘Este é o estojo,
esta é a flecha. O estojo é uma coisa, a flecha outra, porém a flecha foi
tirada do estojo.’ Ou como se um homem fosse tirar uma espada da sua bainha. O
pensamento lhe ocorreria: ‘Esta é a espada, esta é a bainha. A espada é uma
coisa, a bainha outra, porém a espada foi tirada da bainha.’ Ou como se um
homem puxasse uma cobra da sua pele morta. O pensamento lhe ocorreria: ‘Esta é
a cobra, esta é a pele. A cobra é uma coisa, a pele outra, porém a cobra foi
puxada da pele.’ Assim também, eu proclamei para os meus discípulos o caminho
para criar deste corpo um outro corpo dotado de forma, feito pela mente,
completo com todas as suas partes, sem defeito em nenhuma das faculdades. E
através disso, muitos dos meus discípulos permanecem assim, tendo alcançado a
consumação e perfeição do conhecimento direto.
(14. Os
Tipos de Poderes Supra-humanos)
31. “Outra
vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho para exercer os
vários tipos de poderes supra-humanos: tendo sido um eles se tornam vários,
tendo sido vários eles se tornam um; eles aparecem e desaparecem; eles cruzam
sem nenhum problema uma parede, um cercado, uma montanha ou através do espaço;
eles mergulham e saem da terra como se fosse água; eles caminham sobre a água
sem afundar como se fosse terra; sentados de pernas cruzadas eles cruzam o
espaço como se fossem um pássaro; com a sua mão eles tocam e acariciam a lua e
o sol tão forte e poderoso; eles exercem poderes corporais até
mesmo nos distantes mundos de Brahma. Tal como um hábil oleiro ou seu
aprendiz podem fazer, com uma argila bem preparada, qualquer tipo de
vasilhame de cerâmica que ele queira; ou como um hábil escultor em marfim ou
seu aprendiz podem fazer, com marfim bem preparado, qualquer tipo de trabalho
em marfim que ele queira; ou como um ourives ou seu aprendiz podem fazer, com
ouro bem preparado, qualquer peça de ouro que ele queira; da mesma forma eu
proclamei para os meus discípulos o caminho para exercer os vários tipos de
poderes supra-humanos .... eles exercem poderes corporais até mesmo nos
distantes mundos de Brahma. E através disso, muitos dos meus discípulos
permanecem assim, tendo alcançado a consumação e perfeição do conhecimento
direto.
(15. O
Elemento do Ouvido Divino)
32. "
Outra vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho através do
qual com o elemento do ouvido divino, que é purificado e ultrapassa o humano,
eles ouvem ambos os tipos de sons: divinos e humanos, quer estejam próximos ou
distantes. Tal como um trompetista vigoroso seria ouvido sem dificuldade nos
quatro cantos; da mesma forma eu proclamei para os meus discípulos o caminho
através do qual com o elemento do ouvido divino ... próximos ou distantes. E
através disso, muitos dos meus discípulos permanecem assim, tendo alcançado a
consumação e perfeição do conhecimento direto.
(16.
Leitura da Mente)
33. “Outra
vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho para compreender as
mentes dos outros seres, de outras pessoas, tendo abarcado aquelas mentes com
as suas próprias mentes. Eles compreendem uma mente afetada pela cobiça como
uma mente afetada pela cobiça, uma mente não afetada pela cobiça como uma mente
não afetada pela cobiça. Eles compreendem uma mente afetada pela raiva como uma
mente afetada pela raiva, uma mente não afetada pela raiva como uma mente não
afetada pela raiva. Eles compreendem uma mente afetada pela delusão como uma
mente afetada pela delusão, uma mente não afetada pela delusão como uma mente
não afetada pela delusão. Eles compreendem uma mente restrita como uma mente
restrita, uma mente dispersa como uma mente dispersa. Eles compreendem uma
mente ampliada como uma mente ampliada, uma mente não ampliada como uma mente
não ampliada. Eles compreendem uma mente excedida como uma mente excedida, uma
mente não excedida como uma mente não excedida. Eles compreendem uma mente
concentrada como uma mente concentrada, uma mente não concentrada como uma
mente não concentrada. Eles compreendem uma mente liberta como uma mente
liberta, uma mente não liberta como uma mente não liberta. Tal como um homem ou
uma mulher – jovens, plenos de juventude e que apreciam ornamentos – ao verem a
imagem do seu próprio rosto em um espelho claro e brilhante ou numa tigela com
água limpa, saberiam se existe alguma mácula assim: ‘Ali está uma mácula' ou
saberiam se não existe mácula assim: ‘Não há mácula’; da mesma forma eu
proclamei para os meus discípulos o caminho para compreender... uma mente não
liberada como não liberada. E através disso, muitos dos meus discípulos
permanecem assim, tendo alcançado a consumação e perfeição do conhecimento
direto.
(17. A
Recordação de Vidas Passadas)
34. “ Outra
vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho para a recordação
das suas muitas vidas passadas, isto é, um nascimento, dois nascimentos, três
nascimentos, quatro, cinco, dez, vinte, trinta, quarenta, cinqüenta, cem, mil,
cem mil, muitos ciclos cósmicos de contração, muitos ciclos cósmicos de
expansão, muitos ciclos cósmicos de contração e expansão, ‘Lá eu tinha tal
nome, pertencia a tal clã, tinha tal aparência. Assim era o meu alimento, assim
era a minha experiência de prazer e dor, assim foi o fim da minha vida.
Falecendo daquele estado, eu ressurgi ali. Ali eu também tinha tal nome,
pertencia a tal clã, tinha tal aparência. Assim era o meu alimento, assim era a
minha experiência de prazer e dor, assim foi o fim da minha vida. Falecendo
daquele estado, eu ressurgi aqui.’ Assim eles se recordam das suas muitas vidas
passadas nos seus modos e detalhes. Tal como se um homem fosse do seu vilarejo
a um outro vilarejo e desse vilarejo a mais um outro vilarejo e então desse
vilarejo de volta ao vilarejo onde ele mora. O pensamento lhe ocorreria, ‘Eu
fui do meu vilarejo para aquele vilarejo ali. Ali eu fiquei em pé de tal forma,
sentei de tal forma, falei de tal forma e permaneci em silêncio de tal forma.
Daquele vilarejo eu fui para o outro vilarejo lá e lá eu fiquei em pé de tal
forma, sentei de tal forma, falei de tal forma e permaneci em silêncio de tal
forma. Desse vilarejo eu voltei para o meu vilarejo.’ ‘Da mesma forma, eu proclamei para os meus discípulos o
caminho para a recordação das suas muitas vidas passadas ... Assim eles se
recordam das suas muitas vidas passadas nos seus modos e detalhes. E através
disso, muitos dos meus discípulos permanecem assim, tendo alcançado a consumação
e perfeição do conhecimento direto.
(18. O Olho
Divino)
35. “ Outra
vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho através do qual com
o olho divino, que é purificado e ultrapassa o humano, eles vêm seres falecendo e
renascendo, inferiores e superiores, bonitos e feios, afortunados e
desafortunados. Eles compreendem como os seres prosseguem de acordo com as suas
ações desta forma: ‘Esses seres – dotados de má conduta corporal, linguagem, e
mente, que insultam os nobres, com o
entendimento incorreto e realizando ações sob a influência do entendimento
incorreto – com a dissolução do corpo, após a morte, renasceram no plano de
privação, um destino ruim, nos planos inferiores, no inferno. Porém estes seres
- dotados de boa conduta corporal, linguageem, e mente,
(19. A
Destruição das Impurezas)
36. “ Outra
vez, Udayin, eu proclamei para os meus discípulos o caminho através do qual
realizando por si mesmos com o conhecimento direto, eles aqui e agora entram e
permanecem na libertação da mente e libertação pela sabedoria que são
imaculadas com a destruição de todas impurezas. Tal como se houvesse uma lagoa
num vale em uma montanha - clara,
límpida e cristalina – em que um homem com boa visão, em pé na margem, pudesse
ver conchas, cascalho e seixos e também cardumes de peixes nadando e
descansando, isso lhe ocorreria, ‘Esta lagoa tem a água clara, límpida e
cristalina. Ali estão aquelas conchas, cascalho e seixos e também aqueles
cardumes de peixes nadando e descansando.’ Da mesma forma, proclamei para os
meus discípulos o caminho através do qual realizando por si mesmos com o
conhecimento direto, eles aqui e agora entram e permanecem na libertação da
mente e libertação pela sabedoria que são imaculadas com a destruição de todas
impurezas. E através disso, muitos dos meus discípulos permanecem assim, tendo
alcançado a consumação e perfeição do conhecimento direto.
37. “ Essa,
Udayin, é a quinta qualidade pela qual meus discípulos me honram, respeitam,
reverenciam e veneram e vivem confiando em mim, honrando-me e respeitando-me.
38. “
Essas, Udayin, são as cinco qualidades pelas quais meus discípulos me honram,
respeitam, reverenciam e veneram, e vivem confiando em mim, honrando-me e
respeitando-me."
Isso foi o
que disse o Abençoado. O errante Udayin ficou satisfeito e contente com as
palavras do Abençoado.
Notas:
[1] Anagatam vadapatham. O
significado parece ser que o Buda compreende todas as implicações não expressas
da sua própria doutrina bem como das doutrinas dos seus oponentes. [Retorna]
[2] Explicado de forma completa no MN 10. Os sete
primeiros grupos de “estados benéficos” (verso 15-21) constituem os trinta e
sete apoios ou ‘asas’ para iluminação (bodhipakkhiya
dhamma) [Retorna]
[3] Abhiññavosanaparamippatta.
MA explica como a realização do estado de arahant. Esse parece ser o único
sentido que a palavra parami tem
quando aparece nos quatro Nikayas. Na literatura posterior Theravada, começando
talvez com obras como o Buddhavamsa, essa palavra passou a significar as
virtudes perfeitas que um bodisatva tem que realizar ao longo de muitas vidas
de forma a alcançar o estado de Buda. Nesse contexto ela corresponde a paramita
da literatura Mahayana, embora a relação numérica das virtudes apenas
corresponda em parte. [Retorna]
[4] MA explica que libertação (vimokkha)
neste caso significa a completa (porém temporária) libertação da mente dos
obstáculos e a sua completa (porém temporária) libertação através do prazer com
o objeto da meditação. A primeira libertação é a realização dos quatro jhanas
usando uma kasina derivada de um objeto colorido do próprio corpo; a segunda é
a realização dos jhanas usando uma kasina derivada de um objeto externo; a
terceira pode ser compreendida como a realização dos jhanas através de uma
kasina muito pura e brilhante ou dos quatro brahmaviharas.
As libertações restantes são as realizações imateriais e por fim a
realização da cessação da percepção e sensação. [Retorna]
[5] MA explica que estas são chamadas de bases da
transcendência (abhibhayatana) porque
elas transcendem (abhibhavati,
superar) os obstáculos e os objetos, o primeiro através da aplicação do
antídoto apropriado e o último através do conhecimento. [Retorna]
[6] MA: O meditador faz o trabalho preliminar sobre uma forma interna – ex.:
o azul dos olhos para a kasina azul, a pele para a kasina amarela, o sangue
para a kasina vermelha, os dentes para a kasina branca – mas o sinal da
concentração (nimitta) surge
externamente. A “transcendência” das formas é a realização da absorção junto
com o surgimento do sinal. A percepção “eu sei, eu vejo” é a consideração (abhoga) que ocorre depois que ele emerge
da realização, não durante. A segunda base da transcendência difere da primeira
somente na extensão do sinal de uma dimensão limitada para ilimitada. [Retorna]
[7] MA: A segunda e quarta bases envolvem trabalho preliminar feito numa
forma externa e o surgimento do sinal externamente. A quinta até a oitava bases
diferem da terceira e quarta na pureza e luminosidade superior das suas cores.
[Retorna]
[8] A kasina é um objeto de meditação derivado de um dispositivo físico
que proporciona o apoio para interiorizar o sinal visualizado adquirido. Assim,
por exemplo, um disco feito de argila pode ser usado como objeto preliminar
para praticar a kasina da terra, uma tigela com água para praticar a kasina da
água. As kasinas são explicadas em detalhe no Vsm IV e
V. Lá, no entanto, a kasina do espaço está
restrita ao espaço limitado e a kasina da consciência é substituída pela kasina
da luz. [Retorna]
[9] Os símiles para os jhanas também aparecem no MN
39, como também os símiles para os três últimos tipos de conhecimento dos
versos 34-36. [Retorna]
[10] Os versos 29-36 descrevem oito variedades de conhecimento superior
que, no DN 2 - Samaññaphala Sutta, são designados como os
frutos superiores da vida contemplativa. [Retorna]
Revisado: 8 Dezembro 2006
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