Majjhima Nikaya 36
Mahasaccaka Sutta
O Grande Discurso para Saccaka
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1. Assim ouvi.
Em certa ocasião o Abençoado estava em Vesali na Grande Floresta no Salão com
um pico na cumeeira.
2. Então, ao amanhecer, o Abençoado se vestiu e tomando a tigela e o
manto externo, estava pronto para ir até Vesali para esmolar alimentos.
3. Então,
enquanto caminhava e perambulava fazendo exercício, Saccaka o filho de
Nigantha, chegou no Salão com um pico na cumeeira, na
Grande Floresta. [1] O Venerável Ananda o viu
chegando à distância e disse para o Abençoado: "Venerável senhor, ali vem
Saccaka o filho de Nigantha, um polemista e hábil orador considerado por muitos
como um santo. Ele quer desacreditar o Buda, o Dhamma e a Sangha. Seria bom se
o Abençoado por compaixão pudesse sentar por algum tempo." [2]
O Abençoado sentou num assento que havia sido preparado. Então
Saccaka o filho de Nigantha foi até o Abençoado e ambos se cumprimentaram.
Quando a conversa cortês e amigável havia terminado, ele sentou a um lado e
disse:
4. “Mestre
Gotama, existem alguns contemplativos e brâmanes que permanecem dedicados ao
desenvolvimento do corpo, mas não ao desenvolvimento da mente. [3]
Eles são tocados por sensações dolorosas no corpo. No passado,
quando alguém era tocado por sensações dolorosas no corpo, as coxas
enrijeciam, o coração explodia, sangue quente jorrava pela boca e ele
ficava louco, completamente maluco. Portanto, a mente era subserviente ao
corpo, o corpo possuía o controle sobre a mente. Por que isso? Porque a mente
não estava desenvolvida. Mas existem alguns contemplativos e brâmanes que
permanecem dedicados ao desenvolvimento da mente, mas não ao desenvolvimento do
corpo. Eles são tocados por sensações dolorosas na mente. No passado, quando
alguém era tocado por sensações dolorosas na mente, as coxas
enrijeciam, o coração explodia, sangue quente jorrava pela boca e ele ficava louco,
completamente maluco. Portanto, o corpo era subserviente à mente, a mente
possuía o controle sobre o corpo. Por que isso? Porque o corpo não estava
desenvolvido. Mestre Gotama, me ocorreu o seguinte: ‘Com certeza os discípulos
do Mestre Gotama permanecem dedicados ao desenvolvimento da mente, mas não ao
desenvolvimento do corpo.’”
5. "Mas, Aggivessana, o que você aprendeu sobre o desenvolvimento
do corpo?"
"Bem,
existem, por exemplo, Nanda Vaccha, Kisa Sankicca, Makkhali Gosala. [4] Eles andam nus, rejeitando as convenções, [A]
lambendo as mãos, [B] não atendendo quando chamados, não parando quando solicitados [C];
não aceitam que lhes tragam comida [D] ou comida feita especialmente para eles, ou
convite para comer [E]; eles não aceitam comida diretamente de um pote ou de uma
panela na qual foi cozida, ou comida colocada numa soleira, ou colocada onde
está a lenha, ou colocada onde estão os pilões, ou de duas pessoas comendo
juntas, ou de uma mulher grávida, ou de uma mulher amamentado, ou de uma mulher num grupo com homens, ou de um lugar que tenha divulgado a
distribuição de comida, onde um cachorro esteja esperando, onde moscas estejam
zunindo; eles não aceitam peixe ou carne, eles não aceitam bebidas alcoólicas,
vinho, ou mingau de arroz fermentado. Eles se restringem a uma casa, [F] a um
bocado; eles se restringem a duas casas, a dois bocados …
eles se restringem a sete casas, a sete
bocados. Eles vivem com um pires de comida por dia, dois pires de comida por
dia … sete pires de comida por dia; Eles comem uma vez por dia, uma vez cada
dois dias … uma vez cada sete dias, e assim por diante até uma vez cada quinze
dias..
6.
"Mas eles sobrevivem com tão pouco, Aggivessana?"
"Não,
Mestre Gotama, algumas vezes eles consomem excelente comida sólida, saboreiam
comidas refinadas, bebem bebidas excelentes. Dessa forma eles recuperam as
forças, se fortificam e engordam."
"Aquilo
que eles antes abandonaram, Aggivessana, mais tarde
eles recuperam novamente. Assim é como ocorre o aumento e a redução deste
corpo. Mas o que você aprendeu sobre o desenvolvimento da mente?"
Quando
Saccaka o filho de Nigantha foi perguntado pelo Abençoado sobre o
desenvolvimento da mente, ele foi incapaz de responder.
7. Então o
Abençoado lhe disse: "Aquilo que você descreveu como desenvolvimento do
corpo, Aggivessana, não é o desenvolvimento do corpo de acordo com o Dhamma na
Disciplina dos Nobres. Como você não sabe o que é o desenvolvimento do corpo,
como poderia saber o que é o desenvolvimento da mente? Apesar disso,
Aggivessana, quanto a como alguém não é desenvolvido com o corpo e não é
desenvolvido com a mente, ouça e preste muita atenção àquilo que eu vou
dizer." – "Sim, senhor," Saccaka o filho de Nigantha respondeu.
O Abençoado disse o seguinte:
8. "Como, Aggivessana, alguém não é desenvolvido com o corpo e
não é desenvolvido com a mente? Nesse caso, Aggivessana, uma sensação
prazerosa surge numa pessoa comum sem instrução. Tocada por aquela sensação
prazerosa, ela cobiça o prazer e continua cobiçando o prazer. Aquela sensação
prazerosa cessa. Com a cessação da sensação prazerosa surge uma sensação
dolorosa. Tocada por aquela sensação dolorosa ela se entristece, fica
angustiada e lamenta, ela chora batendo no peito e fica perturbada. Quando
aquela sensação prazerosa surge nela, ela invade a mente e permanece porque o
corpo dela não é desenvolvido. E quando aquela sensação dolorosa surge nela,
ela invade a mente e permanece porque a mente dela não é desenvolvida. Qualquer
pessoa, dessa forma dupla, cujas sensações prazerosas, que surgem, invadem e
permanecem na mente porque o corpo não é desenvolvido e cujas sensações
dolorosas, que surgem, invadem e permanecem na mente porque a mente não é
desenvolvida, não é desenvolvida com o corpo e não é desenvolvida com a mente.
9. "E
como, Aggivessana, alguém é desenvolvido com o corpo e é desenvolvido com a
mente? Nesse caso, Aggivessana, uma sensação prazerosa surge num discípulo
nobre bem instruído. Tocado por aquela sensação prazerosa ele não cobiça o
prazer ou continua cobiçando o prazer. Aquela sensação prazerosa cessa. Com a
cessação da sensação prazerosa surge uma sensação dolorosa. Tocado por aquela
sensação dolorosa ele não se entristece, fica angustiado e lamenta, ele não
chora batendo no peito e não fica perturbado. Quando aquela sensação prazerosa
surge nele, ela não invade a sua mente e permanece porque o corpo dele é
desenvolvido. E quando aquela sensação dolorosa surge nele, ela não invade a
sua mente e permanece porque a mente dele é desenvolvida. Qualquer um, dessa
forma dupla, cujas sensações prazerosas, que surgem, não invadem e permanecem
na mente porque o corpo é desenvolvido e cujas sensações dolorosas, que surgem,
não invadem e permanecem na mente porque a mente é desenvolvida, é desenvolvido
com o corpo e é desenvolvido com a mente."[5]
10.
"Eu tenho confiança no Mestre Gotama deste modo: ‘Mestre Gotama é
desenvolvido com o corpo e desenvolvido com a mente."
"Com
certeza, Aggivessana, as suas palavras são ofensivas e descorteses, mas ainda
assim vou lhe responder. Desde quando raspei o meu cabelo e barba, vesti o
manto ocre e deixei a vida em família pela vida santa, não tem sido possível
para as sensações prazerosas que têm surgido invadirem e permanecerem na minha
mente ou para as sensações dolorosas que têm surgido invadirem e permanecerem
na minha mente."
11.
"Nunca surgiu no Mestre Gotama uma sensação tão prazerosa que pudesse
invadir e permanecer na sua mente? Nunca surgiu no Mestre Gotama uma
sensação tão dolorosa que pudesse invadir e permanecer na sua mente?"
12.
"Como nunca, Aggivessana? [6] Aqui,
Aggivessana, antes da minha iluminação quando eu ainda era um Bodisatva não
iluminado, eu pensei: 'A vida em família é confinada, um caminho empoeirado. A
vida santa é como o ar livre. Não é fácil viver em casa e praticar a vida santa
completamente perfeita, totalmente pura, como uma concha polida. E se eu
raspasse o meu cabelo e barba, vestisse os mantos de cor ocre e seguisse a vida
santa?'
13-16.
"Mais tarde, ainda jovem, um homem jovem com o cabelo negro, dotado com as bênçãos
da juventude, na flor da juventude...(igual ao MN 26,
versos 14-17)...E eu me sentei ali pensando: “Isso é adequado para o
esforço.’
17. "Agora estes três símiles, nunca ouvidos antes, me ocorreram
espontaneamente. Suponha que houvesse um pedaço de madeira ainda verde que
estivesse na água e surgisse um homem com um graveto para acender fogo
pensando: ‘Eu preciso acender um fogo, eu preciso produzir calor.’
O que você pensa, Aggivessana? Poderia o homem acender um fogo e produzir calor
esfregando o graveto para acender fogo contra o pedaço de madeira ainda verde,
molhada, que estivesse na água?"
"Não,
Mestre Gotama. Por que não? Porque é um pedaço de madeira verde, molhada, que
está na água. No final o homem iria apenas colher cansaço e
desapontamento."
"Assim
também, Aggivessana, com relação àqueles contemplativos e brâmanes que ainda
não permanecem com o corpo e a mente afastados dos prazeres sensuais
e cuja paixão, desejo, afeição, sede, cobiça e ambição pelos prazeres sensuais
não foram completamente abandonadas e suprimidas internamente, mesmo se esses
contemplativos e brâmanes sentirem sensações dolorosas, torturantes e
penetrantes devido a um grande esforço, eles serão incapazes de obter o
conhecimento e visão e a iluminação suprema; mesmo se esses contemplativos e
brâmanes não sentirem sensações dolorosas, torturantes e penetrantes devido a
um grande esforço, eles serão incapazes de obter o conhecimento e visão e a
iluminação suprema. Esse foi o primeiro símile, nunca ouvido antes, que me
ocorreu espontaneamente.
18.
"Novamente, Aggivessana, um segundo símile, nunca ouvido antes, me ocorreu
espontaneamente. Suponha que houvesse um pedaço de madeira ainda verde,
molhada, que estivesse na terra seca distante da água e surgisse um homem com
um graveto para acender fogo pensando: ‘Eu preciso acender um fogo, eu preciso
produzir calor.’ O que você pensa, Aggivessana?
Poderia o homem acender um fogo e produzir calor esfregando o graveto para
acender fogo contra o pedaço de madeira ainda verde, molhada, que estivesse na
terra seca distante da água?"
"Não,
Mestre Gotama. Por que não? Porque, apesar de estar na terra seca longe da água,
é um pedaço de madeira verde, molhada. No final o homem iria apenas colher
cansaço e desapontamento."
"Assim também, Aggivessana, com relação àqueles contemplativos e
brâmanes que permanecem com o corpo e a mente afastados dos prazeres sensuais, [7] mas cuja paixão, desejo, afeição, sede, cobiça
e ambição pelos prazeres sensuais não foram completamente abandonadas e
suprimidas internamente, mesmo se esses contemplativos e brâmanes sentirem
sensações dolorosas, torturantes e penetrantes devido a um grande esforço, eles
serão incapazes de obter o conhecimento e visão e a iluminação suprema; mesmo se esses contemplativos e
brâmanes não sentirem sensações dolorosas, torturantes e penetrantes devido a
um grande esforço, eles serão incapazes de obter o conhecimento e visão e a
iluminação suprema. Esse foi o segundo símile, nunca ouvido antes, que me
ocorreu espontaneamente.
19.
"Novamente, Aggivessana, um terceiro símile, nunca ouvido antes, me
ocorreu espontaneamente. Suponha que houvesse um pedaço de madeira seca que
estivesse na terra seca, distante da água, e surgisse um homem com um graveto
para acender fogo pensando: ‘Eu preciso acender um fogo, eu preciso produzir calor.’ O que você pensa, Aggivessana? Poderia o homem
acender um fogo e produzir calor esfregando o graveto para acender fogo contra
o pedaço de madeira seca que estivesse na terra seca, distante da água?"
"Sim,
Mestre Gotama. Por que? Porque, é um pedaço de madeira
seca que está na terra seca, distante da água."
"Assim também, Aggivessana, com relação àqueles contemplativos e
brâmanes que permanecem com o corpo e a mente afastados dos prazeres sensuais e cuja
paixão, desejo, afeição, sede, cobiça e ambição pelos prazeres sensuais foram
completamente abandonadas e suprimidas internamente, mesmo se esses
contemplativos e brâmanes sentirem sensações dolorosas, torturantes e
penetrantes devido a um grande esforço, eles serão capazes de obter o
conhecimento e visão e a iluminação suprema; [8] mesmo se
esses contemplativos e brâmanes não sentirem sensações dolorosas, torturantes e
penetrantes devido a um grande esforço, eles serão capazes de obter o
conhecimento e visão e a iluminação suprema. Esse foi o terceiro símile, nunca
ouvido antes, que me ocorreu espontaneamente. Esses são os três símiles, nunca
ouvidos antes, que me ocorreram espontaneamente.
20. "Eu pensei:
'E se eu, com os dentes cerrados e pressionando minha língua
contra o céu da boca, abatesse, forçasse e subjugasse minha mente com a minha
mente.' Dessa forma, com os dentes cerrados e pressionando minha língua contra
o céu da boca, abati, forcei e subjuguei minha mente com a minha mente.
Enquanto eu fazia isso o suor emanava das minhas axilas. Tal como um homem forte agarra um homem mais
fraco pela cabeça ou pelos ombros e o abate, o força e o subjuga, da mesma
forma com os dentes cerrados e pressionando minha língua contra o céu da boca,
abati, forcei e subjuguei minha mente com a minha mente e o suor emanava das
minhas axilas. Mas embora uma energia incansável houvesse sido estimulada em
mim e uma persistente atenção plena houvesse se estabelecido, meu corpo estava
agitado e inquieto porque eu estava exausto devido ao doloroso esforço. Porém,
a sensação de dor que surgiu em mim não invadiu a minha mente e permaneceu. [9]
21. "Eu pensei: 'E se eu praticasse a meditação sem respirar.' Assim eu parei a inspiração e a expiração através
do meu nariz e boca. Ao fazer isso, houve um forte rugido de ventos saindo
pelos ouvidos. Tal como o forte rugido dos ventos que saem do fole de um
ferreiro, da mesma forma, quando parei a inspiração e a expiração através do
meu nariz e boca houve um forte rugido de ventos saindo pelos ouvidos. Mas embora
uma energia incansável houvesse sido estimulada em mim e uma persistente
atenção plena houvesse se estabelecido, meu corpo estava agitado e inquieto
porque eu estava exausto devido ao doloroso esforço. Porém, a sensação de dor
que surgiu em mim não invadiu a minha mente e permaneceu.
22.
"Eu pensei: 'E se eu praticasse mais a meditação sem respirar.'
Assim eu parei a inspiração e a expiração através do nariz, boca e ouvidos. Ao
fazer isso, ventos violentos retalharam a minha cabeça. Tal como se um homem
forte estivesse retalhando a minha cabeça com uma espada afiada, da mesma
forma, quando parei a inspiração e a expiração através do nariz, boca e ouvidos
ventos violentos retalharam a minha cabeça. Mas, embora uma energia incansável
houvesse sido estimulada em mim e uma persistente atenção plena houvesse se
estabelecido, meu corpo estava agitado e inquieto porque eu estava exausto
devido ao doloroso esforço. Porém, a sensação de dor que surgiu em mim não
invadiu a minha mente e permaneceu.
23. "Eu pensei: 'E se eu praticasse mais
a meditação sem respirar.' Assim eu parei a inspiração
e a expiração através do nariz, boca e ouvidos. Ao fazer isso, dores violentas
surgiram na minha cabeça. Tal como se um homem forte estivesse apertando em
volta da minha cabeça uma tira de couro resistente, da mesma forma, quando
parei a inspiração e a expiração através do nariz, boca e ouvidos dores
violentas surgiram na minha cabeça. Mas embora uma energia incansável houvesse
sido estimulada em mim e uma persistente atenção plena houvesse se
estabelecido, meu corpo estava agitado e inquieto porque eu estava exausto
devido ao doloroso esforço. Porém, a sensação de dor que surgiu em mim não
invadiu a minha mente e permaneceu.
24.
"Eu pensei: 'E se eu praticasse mais a meditação sem respirar.'
Assim eu parei a inspiração e a expiração através do nariz, boca e ouvidos. Ao
fazer isso, forças violentas retalharam a cavidade do meu estômago. Tal como se
um açougueiro ou seu aprendiz estivessem retalhando a cavidade do estômago de
um boi com uma faca afiada, da mesma forma, quando parei a inspiração e a
expiração através do nariz, boca e ouvidos, forças violentas retalharam a
cavidade do meu estômago. Mas embora uma energia incansável houvesse sido
estimulada em mim e uma persistente atenção plena houvesse se estabelecido, meu
corpo estava agitado e inquieto porque eu estava exausto devido ao doloroso
esforço. Porém, a sensação de dor que surgiu em mim não invadiu a minha mente e
permaneceu.
25.
"Eu pensei: 'E se eu praticasse mais a meditação sem respirar.'
Assim eu parei a inspiração e a expiração através do nariz, boca e ouvidos. Ao
fazer isso, houve uma queimação violenta no meu corpo. Tal como se dois homens
fortes agarrassem um homem mais fraco pelos braços o assassem sobre uma cova
com brasas em chamas, da mesma forma, quando parei a inspiração e a expiração
através do nariz, boca e ouvidos, houve uma queimação violenta no meu corpo.
Mas embora uma energia incansável houvesse sido estimulada em mim e uma
persistente atenção plena houvesse se estabelecido, meu corpo estava agitado e
inquieto porque eu estava exausto devido ao doloroso esforço. Porém, a sensação
de dor que surgiu em mim não invadiu a minha mente e permaneceu.
26. “Agora
quando os devas me viram, alguns disseram, 'Gotama o contemplativo está morto.' Outros devas disseram, 'Ele não está morto, ele está
morrendo.' E outros disseram, 'Ele não está morto, nem morrendo; ele é um
arahant, pois é assim como praticam os arahants.'
27.
"Eu pensei: 'E se eu praticasse cortando completamente a alimentação.' Então os devas vieram até mim e disseram,
'Estimado senhor, por favor não utilize a prática do corte completo da
alimentação. Se você assim o fizer, nós infundiremos alimento divino através
dos seus poros e você sobreviverá com isso.' Eu pensei, 'Se eu afirmar estar em
jejum completo enquanto esses devas estiverem infundindo alimento divino
através dos meus poros, eu estarei mentindo.' Assim eu os dispensei, dizendo,
'Não é necessário.'
28.
"Eu pensei: 'E se eu comesse somente um pouco de comida de cada vez, uma
mão cheia de cada vez, seja de sopa de feijão ou de sopa de lentilha, ou de
sopa de legumes, ou sopa de ervilhas.' Assim, eu comia
muito pouco, uma mão cheia de cada vez, seja de sopa de feijão ou de sopa de lentilha,
ou de sopa de legumes, ou de sopa de ervilhas. Enquanto eu fazia isso meu corpo
ficou extremamente emaciado. Por comer tão pouco, os meus membros ficaram como
os segmentos articulados de uma videira ou bambu. Por comer tão pouco, as
minhas costas ficaram como a corcova de um camelo. Por comer tão pouco, as
projeções da minha coluna pareciam contas de um cordão. Por comer tão pouco, as
minhas costelas se projetavam para a frente tão frágeis como as traves de um
celeiro destelhado. Por comer tão pouco, o brilho dos meus olhos se afundou
dentro da cavidade do olho, parecendo com o brilho d´água no fundo de um poço
profundo. Por comer tão pouco, o meu escalpo enrugou e encolheu como uma
abóbora verde, amarga, enruga e encolhe com o vento e o sol. Por comer tão
pouco, a pele da minha barriga se uniu à minha coluna; portanto se eu tocasse a
minha barriga encontrava a minha coluna e se tocasse a minha coluna encontrava
a pele da minha barriga. Por comer tão pouco, se eu urinasse ou defecasse eu
caía com a cara no chão ali mesmo. Por comer tão pouco, se eu tentasse aliviar
meu corpo esfregando meus membros com as mãos, os pelos, com as raízes
apodrecidas, caíam do corpo à medida que eu os esfregava.
29.
"Agora, quando as pessoas me viam, algumas diziam: 'O contemplativo Gotama
é negro. Outras pessoas diziam, 'O contemplativo Gotama não é negro, ele é marrom.' Outros diziam, 'O contemplativo Gotama não é negro
nem marrom, ele tem a pele dourada.’ Tanto havia se deteriorado a complexão
pura e brilhante da minha pele, por comer tão pouco.
30. “Eu
pensei: 'Todos os contemplativos ou brâmanes que no passado experimentaram
sensações dolorosas, torturantes e penetrantes devido ao esforço, isto é o
máximo, não existe nada além disso. Todos os
contemplativos ou brâmanes que no futuro experimentarão sensações dolorosas,
torturantes e penetrantes devido ao esforço, isto é o máximo, não existe nada
além disso. E todos os contemplativos ou brâmanes que no presente experimentam
sensações dolorosas, torturantes e penetrantes devido ao esforço, isto é o
máximo, não existe nada além disso. Mas, através desta prática de austeridades
atormentadoras eu não alcancei nenhum estado supra-humano, nenhuma distinção em conhecimento e visão digna
dos nobres. Poderia haver um outro caminho para a iluminação?’”
31.
"Eu refleti: 'Eu me recordo que quando meu pai, o Sakya, estava ocupado
enquanto eu estava sentado à sombra fresca de um jambo-rosa, afastado dos prazeres sensuais, afastado das qualidades não hábeis, entrei e permaneci no primeiro jhana, que é caracterizado pelo pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e felicidade nascidos do afastamento. [10] Poderia ser esse o caminho para a
iluminação?' Então, seguindo essa memória, cheguei à conclusão: ‘Esse é o
caminho para a iluminação.’
32.
"Eu pensei: 'Por que temo esse prazer que não tem nada que ver com a
sensualidade, nem com qualidades mentais prejudiciais?' Eu pensei: 'Eu não temo mais esse prazer já
que ele não tem nada que ver com a sensualidade nem com qualidades mentais
prejudiciais.' [11]
33. "Eu refleti: 'Não é fácil alcançar
esse prazer com um corpo tão extremamente emaciado. E se eu comesse alguma
comida sólida - um pouco de arroz doce com leite.' E
eu comi um pouco de comida sólida: um pouco de arroz doce com leite. Agora os
cinco contemplativos que estavam comigo, pensaram: 'Se Gotama, nosso
contemplativo, alcançar algum estado mais elevado, ele nos dirá.’' Porém,
quando eles me viram comendo comida sólida – um pouco de arroz doce com leite –
eles sentiram repulsa e me deixaram, pensando: 'O contemplativo Gotama agora
vive gratificado pelos sentidos. Ele deixou de lado a sua busca e reverteu ao
luxo.'
34."Agora, tendo comido comida sólida e
recuperado as minhas forças, afastado dos prazeres sensuais, afastado das
qualidades não hábeis eu entrei e permaneci no primeiro jhana, que é
acompanhado pelo pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e felicidade
nascidos do afastamento. Mas essa sensação prazerosa que surgiu em mim não
invadiu a minha mente e permaneceu.[12]
35-37. " Abandonando o pensamento aplicado e sustentado, eu entrei e permaneci no segundo jhana ... abandonando o
êxtase ... eu entrei e permaneci no terceiro jhana ... com o completo desaparecimento da felicidade ... eu entrei e permaneci no quarto jhana. Mas essa
sensação prazerosa que surgiu em mim não invadiu a minha mente e permaneceu.
38. "Quando a minha mente dessa forma
concentrada, purificada, luminosa, pura, imaculada, livre de defeitos,
flexível, maleável, estável e atingindo a imperturbabilidade, eu a dirigi para
o conhecimento da recordação de minhas vidas passadas. Eu recordei minhas
muitas vidas passadas, isto é, um nascimento, dois ...
cinco, dez ... cinqüenta, cem, mil, cem mil, muitos ciclos cósmicos de
contração, muitos ciclos cósmicos de expansão, muitos ciclos cósmicos de
contração e expansão: 'Lá eu tinha tal nome, pertencia a tal clã, tinha tal
aparência. Assim era o meu alimento, assim era a minha experiência de prazer e
dor, assim foi o fim da minha vida. Falecendo daquele estado eu ressurgi ali.
Ali eu também tinha tal nome, pertencia a tal clã, tinha tal aparência. Assim
era o meu alimento, assim era a minha experiência de prazer e dor, assim foi o
fim da minha vida. Falecendo daquele estado eu ressurgi aqui.' Assim eu me recordei das minhas vidas
passadas nos seus modos e detalhes.
39.
"Esse foi o primeiro conhecimento verdadeiro que eu
obtive na primeira vigília da noite. A ignorância foi destruída; o
conhecimento surgiu; a escuridão foi destruída; surgiu a luz – como acontece
com alguém que seja diligente, ardente e decidido. Mas o sentimento prazeroso
que surgiu em mim não invadiu a minha mente e
permaneceu.
40.
"Quando a minha mente dessa forma concentrada, purificada, luminosa, pura, imaculada, livre de
defeitos, flexível, maleável, estável e atingindo a imperturbabilidade, eu a
dirigi para o conhecimento do falecimento e ressurgimento dos seres. Eu vi –
através do olho divino, que é purificado e que sobrepuja o humano – seres
falecendo e renascendo e eu compreendi como eles são inferiores e superiores,
bonitos e feios, afortunados e desafortunados de acordo com o seu kamma: 'Esses
seres – que são dotados de má conduta com o corpo, linguagem e mente, que
insultam os nobres, que têm entendimento incorreto e realizam ações sob a
influência do entendimento incorreto – na dissolução do corpo, após a morte,
reaparecem num estado de privação, num destino infeliz, nos reinos inferiores,
até mesmo no inferno. Porém,
aqueles seres – que são dotados de boa conduta com o corpo, linguagem e mente,
que não insultam os nobres, que têm entendimento correto e realizam ações sob a
influência do entendimento correto – com a dissolução do corpo, após a morte,
renascem num destino feliz, no paraíso.' Dessa forma – através do olho divino, que
é purificado e que sobrepuja o humano –
eu vi seres falecendo e renascendo e eu compreendi como eles são inferiores e
superiores, bonitos e feios, afortunados e desafortunados de acordo com o seu
kamma.
41.
"Esse foi o segundo conhecimento verdadeiro que eu
obtive na segunda vigília da noite. A ignorância foi destruída; o
conhecimento surgiu; a escuridão foi destruída; surgiu a luz – como acontece
com alguém que seja diligente, ardente e decidido. Mas o sentimento prazeroso
que surgiu em mim não invadiu a minha mente e permaneceu.
42. "Quando a minha mente dessa forma concentrada, purificada,
luminosa, pura, imaculada, livre de defeitos, flexível, maleável, estável e
atingindo a imperturbabilidade, eu a dirigi para o conhecimento do fim das
impurezas mentais. Eu compreendi, como na verdade é que: ‘Isto é sofrimento … Esta é a origem do sofrimento … Esta é a
cessação do sofrimento … Este é o caminho que conduz à cessação do sofrimento
... Estas são as impurezas ... Esta é a origem das impurezas .... Esta é a
cessação das impurezas ... Este é o caminho que conduz à cessação das
impurezas.'
43.
"Quando eu assim soube e vi, minha mente estava livre da impureza do desejo
sensual, da impureza de ser/existir, da impureza da ignorância. Quando ela se
libertou, surgiu o conhecimento, ‘Libertada.’ Eu
compreendi que ‘O nascimento foi destruído, a vida santa foi vivida, o que
devia ser feito foi feito, não há mais vir a ser a nenhum estado.'
44. "Esse foi o terceiro conhecimento verdadeiro que eu obtive na
terceira vigília da noite. A ignorância foi destruída e o verdadeiro
conhecimento surgiu; a escuridão foi destruída e a luz surgiu – como acontece
com alguém que seja diligente, ardente e decidido. Mas o sentimento prazeroso
que surgiu em mim não invadiu a minha mente e permaneceu.
45.
"Aggivessana, eu me recordo ter ensinado o Dhamma para uma assembléia de
muitas centenas de ouvintes. Talvez cada pessoa pensasse: 'O contemplativo
Gotama está ensinando o Dhamma especialmente para mim.'
Mas isso não deve ser visto assim; o Tathagata ensina o Dhamma aos outros
apenas para lhes dar conhecimento. Quando o discurso termina, Aggivessana, eu
então firmo a minha mente internamente, a tranqüilizo, trago-a para a unicidade
e a concentro no mesmo sinal de concentração de antes e nele permaneço
constantemente." [13]
"Isso se pode crer do Mestre Gotama, já que ele é um arahant, perfeitamente iluminado. Mas o Mestre Gotama se recorda de dormir durante o
dia?" [14]
46. "Eu me recordo,
Aggivessana, de no último mês da estação quente, depois de haver esmolado
alimentos e haver retornado, após a refeição, eu dobrei o meu manto em quatro e
deitando no meu lado direito, adormeci com atenção plena e plenamente
consciente.
"Alguns
contemplativos e brâmanes chamam isso de estar deludido, Mestre Gotama."
"Não é
dessa forma que alguém está deludido ou não deludido, Aggivessana. Quanto à
forma como alguém está deludido ou não deludido, ouça e preste muita atenção
àquilo que eu vou dizer." – "Sim, senhor," Saccaka o filho de
Nigantha respondeu. O Abençoado disse o seguinte:
47. "Ele eu chamo de deludido, Aggivessana, aquele que não
abandonou as impurezas que contaminam, que causam a
renovação de ser/existir, que causam problemas, que amadurecem no sofrimento e
conduzem ao futuro nascimento, envelhecimento e morte; pois é com o não
abandono das impurezas que ele é deludido. Ele eu chamo de não deludido, aquele
que abandonou as impurezas que contaminam, que causam a renovação de
ser/existir, que causam problemas, que amadurecem no sofrimento e conduzem ao
futuro nascimento, envelhecimento e morte; pois é com o abandono das impurezas
que ele é não deludido. O Tathagata, Aggivessana, abandonou as impurezas que
contaminam, que causam a renovação de ser/existir, que causam problemas, que
amadurecem no sofrimento e conduzem ao futuro nascimento, envelhecimento e
morte; ele as cortou pela raiz, fez como com um tronco de uma palmeira
eliminando-as de tal forma que não estarão mais sujeitas a um futuro
surgimento. Como uma palmeira, cujo topo foi cortado, é incapaz de crescer,
assim também, o Tathagata abandonou as impurezas que contaminam ... eliminando-as
de tal forma que não estarão mais sujeitas a um futuro surgimento."
48. Quando
isso foi dito, Saccaka o filho de Nigantha disse: "É maravilhoso, Mestre
Gotama, é admirável que quando alguém se dirige ao Mestre Gotama de forma ofensiva
com insistência, quando ele é assaltado com a linguagem descortês a cor da sua
pele se ilumina e a cor da sua face se torna límpida, como seria de se esperar
de alguém que é um arahant, perfeitamente iluminado. Eu me recordo, Mestre Gotama,
de ter envolvido Purana Kassapa num debate e ele então tergiversou, ignorou a
conversa e demonstrou ódio, raiva e amargor. Mas quando alguém se dirige ao
Mestre Gotama de forma ofensiva com insistência, quando ele é assaltado com a
linguagem descortês a cor da sua pele se ilumina e a cor da sua face se torna
límpida como seria de se esperar de alguém que é um arahant, perfeitamente
iluminado. Eu me recordo,
Mestre Gotama, de ter envolvido Makkhali Gosala ... Ajita
Kesakambalim ... Padukha Kaccayana ... Sanjaya Belathiputta ...o Nigantha
Nataputta num debate e ele então tergiversou, ignorou a conversa e demonstrou
ódio, raiva e amargor. Mas quando alguém se dirige ao Mestre Gotama de forma
ofensiva com insistência, quando ele é assaltado com a linguagem descortês a
cor da sua pele se ilumina e a cor da sua face se torna límpida, como seria de
se esperar de alguém que é um arahant, perfeitamente iluminado. E agora, Mestre Gotama, nós
partiremos. Estamos ocupados e temos muito o que fazer."
"Agora
é o momento, Aggivessana, faça como julgar adequado."
Então, Saccaka, o filho de Nigantha, tendo ficado satisfeito e
contente com as palavras do Abençoado, levantou-se do seu assento e partiu. [15]
Notas:
[1] MA: Saccaka se aproximou com a intenção de refutar a doutrina do
Buda, no que ele havia falhado no seu encontro anterior com o Buda (MN 35). Mas, desta vez ele veio sozinho, pensando que se
fosse derrotado ninguém saberia. A sua intenção era refutar o Buda com a
questão sobre dormir durante o dia, pergunta que ele só faz quase no final do
sutta (verso 45). [Retorna]
[2] MA: Ananda diz isto por compaixão por Saccaka, pensando que se ele
visse o Buda e ouvisse o Dhamma isso lhe traria bem-estar e felicidade por
muito tempo. [Retorna]
[3] A partir do verso 5 ficará claro que Saccaka identifica o
“desenvolvimento do corpo” (kayabhavana) com a prática da mortificação.
Como ele não vê os bhikkhus Budistas engajados na mortificação, ele argumenta
que eles não se dedicam ao desenvolvimento do corpo. Mas o Buda (de acordo com
MA) entende “desenvolvimento do corpo” como a meditação de insight, “desenvolvimento
da mente” (cittabhavana) como a meditação da tranqüilidade. [Retorna]
[4] Esses são os três mentores dos Ajivakas; o último era contemporâneo
do Buda, os dois primeiros são figuras quase lendárias cujas identidades
permanecem nebulosas. O Bodisatva havia adotado as suas práticas durante o seu
período de ascetismo – veja o MN 12.45 – mas
subseqüentemente as rejeitou como contraproducentes
para a iluminação. [Retorna]
[A] Comendo e defecando em pé ao invés de agachado ou sentado como fazem
as pessoas de bem. [Retorna]
[B] Depois de comer ele lambe as mãos ao invés de lavá-las. [Retorna]
[C] Durante a esmola de alimentos, para não correr o risco de seguir as
ordens de outra pessoa, eles não atendem quando são chamados e nem param quando
solicitados. [Retorna]
[D] Que lhes tragam comida antes que eles iniciem a esmola de alimentos.
[Retorna]
[E] Que durante a esmola de alimentos ele vá a um certa casa ou uma
certa rua ou num determinado lugar. [Retorna]
[F] Regressando da esmola de alimentos depois de receber comida de uma
casa. [Retorna]
[5] MA explica que
“desenvolvimento do corpo” é insight e “desenvolvimento da mente” é
concentração. Quando o nobre discípulo experimenta uma sensação prazerosa, ele
não é dominado por ela, porque através do desenvolvimento do insight ele compreende
que a sensação é impermanente, insatisfatória e não-eu; e quando ele
experimenta sensações dolorosas, ele não é dominado por elas, porque através do
desenvolvimento da concentração ele é capaz de escapar delas entrando numa das
absorções meditativas. [Retorna]
[6] Agora o Buda irá responder as perguntas de Saccaka
mostrando primeiro as sensações extremamente dolorosas que ele
experimentou durante as suas práticas ascéticas e depois as sensações
extremamente prazerosas que ele experimentou com as realizações meditativas que
antecederam a iluminação. [Retorna]
[7] Embora possa parecer contraditório dizer que esses contemplativos e
brâmanes permanecem mentalmente afastados dos prazeres sensuais sem no entanto terem abandonado o desejo sensual, se
entendermos kama, neste caso, como objetos físicos que produzem o prazer
sensual, a contradição ficará resolvida. [Retorna]
[8] Com relação a isto MA levanta a questão: Porque o Bodisatva se
dedicou à prática das austeridades se ele poderia ter alcançado o estado de
Buda sem isso? A resposta: Ele assim o fez, primeiro,
para mostrar o seu esforço ao mundo, porque a qualidade de energia invencível
lhe trazia alegria; e segundo, por compaixão com as gerações futuras,
inspirando-as para que se esforçassem com a mesma determinação que ele aplicou
para alcançar a iluminação. [Retorna]
[9] Esta sentença, que se repete ao final de cada um dos versos
seguintes, responde a segunda pergunta feita por Saccaka no verso 11. [Retorna]
[10] MA: Durante a infância do Bodisatva, quando ele era um príncipe, em
certa ocasião o seu pai liderou uma cerimônia de arar a terra em um festival
tradicional dos Sakyas. O príncipe foi trazido para o festival
e um lugar foi preparado para ele sob um jambo-rosa. Quando os criados o
deixaram para ver a cerimônia de arar a terra, o príncipe, estando só, espontaneamente sentou-se em posição de meditação e
alcançou o primeiro jhana através da meditação da atenção plena na respiração.
Quando os criados voltaram e encontraram o menino sentado em meditação, eles
relataram isso para o rei que veio e se curvou em veneração ao seu filho. [Retorna]
[11] Este trecho marca uma mudança na forma como o Bodisatva avaliava o
prazer; agora não é mais algo a ser temido e exterminado através da prática de
austeridades, mas, quando originário do isolamento e desapego é visto como
valioso companheiro nos estágios mais elevados no caminho para a iluminação.
Veja o MN 139.9 acerca da divisão dupla do prazer. [Retorna]
[12] Esta sentença responde a primeira das duas
questões feitas por Saccaka no verso 11. [Retorna]
[13] MA explica o “sinal de concentração” (samadhinimitta) como o
fruto da realização do vazio (suññataphalasamapatti). Veja também o MN 122.6. [Retorna]
[14] Esta é a questão que Saccaka originalmente tencionava perguntar ao
Buda. MA explica que embora os arahants tenham eliminado toda preguiça e
torpor, eles ainda necessitam de sono para dissipar o cansaço intrínseco ao
corpo. [Retorna]
[15] MA explica que embora
Saccaka não tenha alcançado nenhuma realização ou não tenha buscado os Três
Refúgios, o Buda lhe ensinou dois longos suttas de forma a depositar nele uma
impressão mental (vasana) que irá amadurecer no futuro. [Retorna]
Revisado: 6 Fevereiro 2012
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