Majjhima Nikaya 29
Mahasaropama Sutta
O Grande Discurso sobre o Símile do Cerne
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1. Assim
ouvi. Em certa ocasião, o Abençoado estava em Rajagaha na montanha do Pico do Abutre, isto foi pouco
depois que Devadatta havia partido. [1] Lá,
referindo-se a Devadatta, o Abençoado se dirigiu aos monges desta forma:
2.
“Bhikkhus, aqui, um membro de um clã com base na fé deixa a vida em família e
segue a vida santa, considerando: ‘Eu sou uma vítima do nascimento,
envelhecimento e morte, da tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero; eu
sou uma vítima do sofrimento, uma presa do sofrimento. Com certeza, o fim de toda essa massa de sofrimento pode ser apreendido.’ E quando ele segue a vida
santa, ele obtém ganho, honraria e fama. Ele fica satisfeito com esse ganho, honraria
e fama, e a intenção dele é realizada. Por conta disso, ele elogia a si mesmo e
menospreza os outros assim: ‘Eu obtive ganho, honraria e fama, mas esses outros
bhikkhus são desconhecidos, sem importância.’ Ele fica embriagado com aquele ganho,
honraria e fama, desenvolve a negligência, se torna negligente e sendo
negligente, ele vive em sofrimento.
“Suponham
que um homem precisando do cerne de uma árvore, em busca do cerne, perambulando
em busca do cerne, chegasse até uma grande árvore que possuísse um cerne.
Ignorando o cerne, o alburno, a casca interna e a casca externa, ele cortasse
os galhos e folhas e os levasse embora, pensando que fossem o cerne. Então, um
homem com boa visão, vendo aquilo, poderia dizer: ‘Esse bom homem não sabe o
que é o cerne, o alburno, a casca interna, a casca externa, ou os galhos e
folhas. E assim, precisando do cerne de uma árvore, em busca do cerne,
perambulando em busca do cerne, chegou até uma grande árvore que possuía um
cerne. Ignorando o cerne, o alburno, a casca interna e a casca externa, ele
cortou os galhos e folhas e os levou embora, pensando que fossem o cerne. O que
quer que seja que aquele bom homem tinha para fazer com o cerne, o seu
propósito não será satisfeito.’ Assim também, bhikkhus, aqui, um membro de um
clã com base na fé ... ele vive em sofrimento. Esse bhikkhu é chamado aquele
que tomou os galhos e folhas da vida santa e se deteve antes do final.
3.
“Bhikkhus, aqui, um membro de um clã com base na fé deixa a vida em família e
segue a vida santa, considerando: ‘Eu sou uma vítima do nascimento,
envelhecimento e morte, da tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero; eu
sou uma vítima do sofrimento, uma presa do sofrimento. Com certeza, o fim de toda essa massa de sofrimento pode ser apreendido.’ E quando ele segue a vida
santa, ele obtém ganho, honraria e fama. Ele não fica satisfeito com esse ganho,
honraria e fama, e a intenção dele não é realizada. Por conta disso ele não
elogia a si mesmo e não menospreza os outros. Ele não fica embriagado com
aquele ganho, honraria e fama, não desenvolve a negligência, não se torna
negligente. Sendo diligente ele alcança a perfeição da virtude. Ele fica
satisfeito com a perfeição da virtude e a intenção dele é realizada. Por conta
disso, ele elogia a si mesmo e menospreza os outros assim: ‘Eu sou virtuoso, com
bom caráter, mas esses outros bhikkhus são imorais, com caráter ruim.’ Ele fica
embriagado com aquela perfeição da virtude, desenvolve a negligência, se torna
negligente e sendo negligente, ele vive em sofrimento.
“Suponham
que um homem precisando do cerne de uma árvore, em busca do cerne, perambulando
em busca do cerne, chegasse até uma grande árvore que possuísse um cerne.
Ignorando o cerne, o alburno e a casca interna, ele cortasse a casca externa e
a levasse embora, pensando que fosse o cerne. Então um homem com boa visão,
vendo aquilo, poderia dizer: ‘Esse bom homem não sabe o que é o cerne ... ou os
galhos e folhas. E assim, precisando do cerne de uma árvore ... ele cortou a
casca externa e a levou embora, pensando que fosse o cerne. O que quer que seja
que aquele bom homem tinha para fazer com o cerne, o seu propósito não será
satisfeito.’ Assim também, bhikkhus, aqui, um membro de um clã com base na fé
... ele vive em sofrimento. Esse bhikkhu é chamado aquele que tomou a casca
externa da vida santa e se deteve antes do final.
4.
“Bhikkhus, aqui, um membro de um clã com base na fé deixa a vida em família e
segue a vida santa, considerando: ‘Eu sou uma vítima do nascimento,
envelhecimento e morte, da tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero; eu
sou uma vítima do sofrimento, uma presa do sofrimento. Com certeza o fim de toda essa massa de sofrimento pode ser apreendido.’ E quando ele segue a vida
santa, ele obtém ganho, honraria e fama. Ele não fica satisfeito com esse ganho,
honraria e fama, e a intenção dele não é realizada ... Sendo diligente ele
alcança a perfeição da virtude. Ele fica satisfeito com a perfeição da
virtude, mas a intenção dele não é realizada. Por conta disso, ele não elogia a
si mesmo e não menospreza os outros. Ele não fica embriagado com aquela
perfeição da virtude, não desenvolve a negligência, não se torna negligente.
Sendo diligente ele alcança a perfeição da concentração. Ele fica satisfeito
com a perfeição da concentração e a intenção dele é realizada. Por conta
disso, ele elogia a si mesmo e menospreza os outros assim: ‘Eu tenho
concentração, minha mente está unificada, mas esses outros bhikkhus não têm
concentração, as mentes deles estão dispersas.’ Ele fica embriagado com aquela
perfeição da concentração, desenvolve a negligência, se torna negligente e
sendo negligente, ele vive em sofrimento.
“Suponham
que um homem precisando do cerne de uma árvore, em busca do cerne, perambulando
em busca do cerne, chegasse até uma grande árvore que possuísse um cerne.
Ignorando o cerne e o alburno, ele cortasse a casca interna e a levasse embora,
pensando que fosse o cerne. Então um homem com boa visão, vendo aquilo, poderia
dizer: ‘Esse bom homem não sabe o que é o cerne ... ou os galhos e folhas.E
assim, precisando do cerne de uma árvore ... ele cortou a casca interna e a
levou embora, pensando que fosse o cerne. O que quer que seja que aquele bom
homem tinha para fazer com o cerne, o seu propósito não será satisfeito.’ Assim
também, bhikkhus, aqui, um membro de um clã com base na fé ... ele vive em
sofrimento. Esse bhikkhu é chamado aquele que tomou a casca interna da vida
santa e se deteve antes do final.
5.
“Bhikkhus, aqui, um membro de um clã com base na fé deixa a vida em família e
segue a vida santa, considerando: ‘Eu sou uma vítima do nascimento,
envelhecimento e morte, da tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero; eu
sou uma vítima do sofrimento, uma presa do sofrimento. Com certeza o fim de toda essa massa de sofrimento pode ser apreendido.’ E quando ele segue a vida
santa, ele obtém ganho, honraria e fama. Ele não fica satisfeito com esse ganho,
honraria e fama, e a intenção dele não é realizada ... Sendo diligente ele
alcança a perfeição da virtude. Ele fica satisfeito com a perfeição da virtude
mas a intenção dele não é realizada ... Sendo diligente ele alcança a
perfeição da concentração. Ele fica satisfeito com a perfeição da
concentração mas a intenção dele não é realizada. Por conta disso, ele não
elogia a si mesmo e não menospreza os outros. Ele não fica embriagado com
aquela perfeição da concentração, não desenvolve a negligência, não se torna
negligente. Sendo diligente ele alcança o conhecimento e visão. [2]
Ele fica satisfeito com o conhecimento e visão, e a intenção
dele é realizada. Por conta disso, ele elogia a si mesmo e menospreza os outros
assim: ‘Eu vivo com o conhecimento e visão, mas esses outros bhikkhus vivem sem
conhecer nem ver.’ Ele fica embriagado com aquele conhecimento e visão,
desenvolve a negligência, se torna negligente, e sendo negligente, ele vive em
sofrimento..
“Suponham
que um homem precisando do cerne de uma árvore, em busca do cerne, perambulando
em busca do cerne, chegasse até uma grande árvore que possuísse um cerne.
Ignorando o cerne, ele cortasse o alburno e o levasse embora, pensando que
fosse o cerne. Então um homem com boa visão, vendo aquilo, poderia dizer: ‘Esse
bom homem não sabe o que é o cerne ... ou os galhos e folhas. E assim,
precisando do cerne de uma árvore ... ele cortou o alburno e o levou embora,
pensando que fosse o cerne. O que quer que seja que aquele bom homem tinha para
fazer com o cerne, o seu propósito não será satisfeito.’ Assim também,
bhikkhus, aqui, um membro de um clã com base na fé ... ele vive em sofrimento.
Esse bhikkhu é chamado aquele que tomou o alburno da vida santa e se deteve
antes do final.
6. “Bhikkhus, aqui, um membro de um clã com base na fé deixa a vida em
família e segue a vida santa, considerando: ‘Eu sou uma vítima do nascimento,
envelhecimento e morte, da tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero; eu
sou uma vítima do sofrimento, uma presa do sofrimento. Com certeza o fim de toda essa massa de sofrimento pode ser apreendido.’ E quando ele segue a vida
santa, ele obtém ganho, honraria e fama. Ele não fica satisfeito com esse ganho,
honraria e fama, e a intenção dele não é realizada ... Sendo diligente ele
alcança a perfeição da virtude. Ele fica satisfeito com a perfeição da
virtude mas a intenção dele não é realizada ... Sendo diligente ele alcança a
perfeição da concentração. Ele fica satisfeito com a perfeição da
concentração mas a intenção dele não é realizada ... Sendo diligente ele
alcança o conhecimento e visão. Ele fica satisfeito com o conhecimento e visão
mas a intenção dele não é realizada. Por conta disso, ele não elogia a si mesmo
e não menospreza os outros. Ele não fica embriagado com aquele conhecimento e
visão, não desenvolve a negligência, não se torna negligente. Sendo diligente
ele alcança a perpétua libertação. E é impossível que aquele bhikkhu decaia
dessa perpétua libertação. [3]
“Suponham que um homem precisando do cerne de uma árvore, em busca do cerne,
perambulando em busca do cerne, chegasse até uma grande árvore que possuísse um
cerne, e cortando apenas o cerne, ele o levasse embora, sabendo que era o
cerne. Então um homem com boa visão, vendo aquilo, poderia dizer: ‘Esse bom
homem sabe o que é o cerne, o alburno, a casca interna, a casca externa e os
galhos e folhas. Portanto, precisando do cerne de uma árvore, em busca do
cerne, perambulando em busca do cerne, chegou até uma grande árvore que possuía
um cerne e cortando apenas o cerne, ele o levou embora, sabendo que era o
cerne. O que quer que seja que aquele bom homem tinha para fazer com o cerne, o
seu propósito será satisfeito.’ Assim também, bhikkhus, aqui, um membro de um
clã com base na fé ... Sendo diligente ele alcança a perpétua libertação. E é
impossível que aquele bhikkhu decaia dessa perpétua libertação.
“Portanto,
esta vida santa, bhikkhus, não tem o ganho, honraria e fama como seu benefício,
ou a perfeição da virtude como seu benefício, ou a perfeição da concentração
como seu benefício, ou o conhecimento e visão como seu benefício. Mas é a libertação inabalável da mente que é o
objetivo desta vida santa, o seu cerne e o seu fim.” [4]
Isso foi o que disse o Abençoado. Os bhikkhus
ficaram satisfeitos e contentes com as palavras do Abençoado.
Notas:
[1] Depois que Devadatta havia sem sucesso tentado matar o Buda e
usurpar o controle da Sangha, ele se separou do Buda e tentou estabelecer a sua
própria seita tendo ele mesmo como o cabeça. [Retorna]
[2] 'Conhecimento e visão', (ñanadassana), em geral denota o conhecimento obtido
através do insight mas neste caso, de acordo com MA, se refere ao olho
divino, a habilidade para ver formas sutis invisíveis à visão normal. [Retorna]
[3] MA cita o Patis (ii.40) para a definição de asamayavimokkha (em termos literais,
libertação não temporária ou libertação “perpétua”) como sendo os quatro
caminhos, quatro frutos e Nibbana e de samayavimokkha,
(libertação temporária), como sendo os quatro jhanas e as realizações
imateriais. Veja também o MN 122.4. [Retorna]
[4] “Libertação inabalável da mente” é o fruto
do estado do arahant (MA). Portanto, a “libertação perpétua” – que inclui
todos os quatro caminhos e frutos – possui uma abrangência de significado mais
ampla que a “libertação inabalável da mente,” e por si só é declarada como o
objetivo da vida santa. [Retorna]
Revisado: 24 Fevereiro 2008
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