Majjhima Nikaya 12
Mahasihanada Sutta
O Grande Discurso do Rugido do Leão
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1. Assim
ouvi. Em certa ocasião o Abençoado estava em Vesali no bosque fora da cidade,
no lado oeste.
2. Agora naquela
ocasião Sunakkhatta, filho dos Licchavis, havia recentemente abandonado este
Dhamma e Disciplina. [1] Ele fez esta
afirmação perante a assembléia de Vesali: "O contemplativo Gotama não
possui nenhum estado supra-humano, nenhuma distinção em conhecimento e visão
dignos dos nobres. [2] O contemplativo Gotama
ensina um Dhamma que é a mera discussão de argumentos, seguindo a sua própria
linha de investigação de acordo com aquilo que lhe ocorra e quando ele ensina o
Dhamma para alguém, este o conduz, se praticado, à completa destruição do
sofrimento." [3]
3. Então, ao amanhecer, o venerável Sariputta se vestiu e tomando a
tigela e o manto externo, foi para Vesali para esmolar alimentos. Foi quando
ele ouviu Sunakkhatta, filho dos Licchavis, fazer essa afirmação perante a
assembléia de Vesali. Depois de ter perambulado em Vesali esmolando alimentos,
ele retornou e após a refeição foi até o Abençoado e após cumprimentá-lo,
sentou a um lado e relatou aquilo que Sunakkhatta estava dizendo.
4. [O
Abençoado disse:] "Sariputta, esse tolo Sunakkhatta está enraivecido e diz
essas palavras devido à raiva. Pensando em desacreditar o Tathagata, ele na
verdade o elogia; pois é um elogio para o Tathagata dizer que: 'Quando ele
ensina o Dhamma para alguém, este o conduz, se praticado, à completa destruição
do sofrimento.'
5. "Sariputta, esse tolo Sunakkhatta nunca irá inferir a meu
respeito de acordo com o Dhamma: 'Esse Abençoado é um arahant,
perfeitamente iluminado, consumado no verdadeiro conhecimento e conduta,
bem-aventurado, conhecedor dos mundos, um líder insuperável de pessoas
preparadas para serem treinadas, mestre de devas e humanos, desperto, sublime.' [4]
6. "E ele nunca irá inferir a meu respeito de acordo com o Dhamma:
'Aquele Abençoado desfruta dos vários tipos de poderes supra-humanos: tendo
sido um, ele se torna vários; tendo sido vários, ele se torna um; ele aparece e
desaparece; ele cruza sem nenhum problema uma parede, um cercado, uma montanha
ou através do espaço; ele mergulha e sai da terra como se fosse água; ele
caminha sobre a água sem afundar como se fosse terra; sentado de pernas
cruzadas ele cruza o espaço como se fosse um pássaro; com a sua mão ele toca e
acaricia a lua e o sol tão forte e poderoso; ele exerce poderes corporais até
mesmo nos distantes mundos de Brahma.'
7. "E
ele nunca irá inferir a meu respeito de acordo com o Dhamma: 'Com o elemento do
ouvido divino, que é purificado e sobrepuja o humano, aquele Abençoado ouve
ambos os tipos de sons, os divinos e os humanos, aqueles que estão distantes
bem como próximos.'
8. "E
ele nunca irá inferir a meu respeito de acordo com o Dhamma: 'Aquele Abençoado
abrange com a sua mente as mentes dos demais seres, de outras pessoas. Ele
compreende uma mente afetada pela cobiça como afetada pela cobiça e uma mente
não afetada pela cobiça como não afetada pela cobiça; ele compreende uma mente
afetada pela raiva como afetada pela raiva e uma mente não afetada pela raiva
como não afetada pela raiva; ele compreende uma mente afetada pela delusão como
afetada pela delusão e uma mente não afetada pela delusão como não afetada pela
delusão; ele compreende uma mente contraída como contraída e uma mente
distraída como distraída; ele compreende uma mente transcendente como
transcendente e uma mente não transcendente como não transcendente; ele
compreende uma mente superável como superável e uma mente não superável como
não superável; ele compreende uma mente concentrada como concentrada e uma
mente não concentrada como não concentrada; ele compreende uma mente libertada
como libertada e uma mente não libertada como não libertada.'
(Os dez
Poderes de um Tathagata)
9. "Sariputta, o Tathagata possui esses dez poderes de um
Tathagata, possuindo-os ele reivindica o lugar de líder do rebanho, ruge o seu
rugido de leão nas assembléias e coloca em movimento a roda de Brahma. [5] Quais são os dez?
10. (1)
"Nesse caso, o Tathagata compreende como na verdade é, o possível como
possível e o impossível como impossível. [6] E
esse é um dos poderes dos Tathagatas que o Tathagata possui, pelo qual ele
reivindica o lugar de líder do rebanho, ruge o seu rugido de leão nas
assembléias e coloca em movimento a roda de Brahma.
11. (2)
"Outra vez, o Tathagata compreende como na verdade é, os resultados das
ações praticadas, passadas, futuras e presentes, com as possibilidades e com as
causas. Esse também é um dos poderes dos Tathagatas…[7]
12. (3) "Outra vez, o Tathagata compreende
como na verdade é, os caminhos que conduzem a todos os destinos. Esse também é
um dos poderes dos Tathagatas…[8]
13. (4) "Outra vez, o Tathagata compreende como na verdade é, o
mundo com os seus muitos e diferentes elementos. Esse também é um dos poderes
dos Tathagatas…[9]
14. (5) "Outra vez, o Tathagata compreende como na verdade é, como
os seres possuem inclinações diferentes. Esse também é um dos poderes dos
Tathagatas…[10]
15. (6) "Outra vez, o Tathagata compreende como na verdade é, a
disposição das faculdades dos outros seres, outras pessoas. Esse também é um
dos poderes dos Tathagatas…[11]
16. (7) "Outra vez, o Tathagata compreende como na verdade é, a
impureza, a purificação, o surgimento dos jhanas, das libertações, das concentrações
e das realizações. Esse também é um dos poderes dos Tathagatas…[12]
17. (8) "Outra vez, o Tathagata se recorda das suas muitas vidas
passadas, isto é, um nascimento, dois nascimentos….(veja o MN
4 verso 27 )…Assim ele se recorda das suas muitas vidas passadas nos seus
modos e detalhes. Esse também é um dos poderes dos Tathagatas…
18. (9)
"Outra vez, com o olho divino que é purificado e sobrepuja o humano, o
Tathagata vê seres falecendo e renascendo, inferiores e superiores, bonitos e
feios, afortunados e desafortunados…(veja o MN 4 verso 29
)…e ele compreende como os seres continuam de acordo com as suas ações. Esse
também é um dos poderes dos Tathagatas…
19. (10)
"Outra vez, realizando por si mesmo com conhecimento direto, o Tathagata
aqui e agora entra e permanece na libertação da mente e libertação através da
sabedoria que são imaculadas, com a destruição de todas as impurezas. Esse
também é um dos poderes dos Tathagatas que o Tathagata possui, pelo qual ele
reivindica o lugar de líder do rebanho, ruge o seu rugido de leão nas
assembléias e coloca em movimento a roda de Brahma.
20. "O
Tathagata possui esses dez poderes de um Tathagata, possuindo-os ele reivindica
o lugar de líder do rebanho, ruge o seu rugido de leão nas assembléias e coloca
em movimento a roda de Brahma.
21.
"Sariputta, sendo que eu assim sei e vejo, deveria alguém dizer a meu
respeito: 'O contemplativo Gotama não possui nenhum estado supra-humano,
nenhuma distinção em conhecimento e visão dignos dos nobres. O contemplativo
Gotama ensina um Dhamma que é a mera discussão de argumentos, seguindo a sua
própria linha de investigação de acordo com aquilo que lhe ocorra' - a menos
que ele abandone essa afirmação e esse estado mental e abdique dessa opinião,
ele acabará terminando no inferno. [13] Da
mesma forma que um bhikkhu possuído de virtude, concentração e sabedoria
desfrutaria aqui e agora do conhecimento supremo, assim também ocorrerá neste
caso, eu digo, que a menos que ele abandone essa afirmação e esse estado mental
e abdique dessa opinião, ele acabará terminando no inferno.
(Quatro
Tipos de Intrepidez ou Autoconfiança)
22.
"Sariputta, o Tathagata possui esses quatro tipos de intrepidez,
possuindo-os ele reivindica o lugar de líder do rebanho, ruge o seu rugido de
leão nas assembléias e coloca em movimento a roda de Brahma. Quais são os
quatro?
23.
"Nesse caso, eu não vejo o fundamento com base no qual algum contemplativo
ou brâmane, ou deva, ou Mara, ou Brahma, ou qualquer outro no mundo pudesse, de
acordo com o Dhamma, acusar-me do seguinte: 'Apesar de reivindicar a completa
iluminação, você não é completamente iluminado com respeito a certas coisas, (dhammas).' E
vendo nenhum fundamento nisso, eu permaneço seguro, destemido e intrépido.
24.
"Eu não vejo o fundamento com base no qual algum contemplativo… ou
qualquer outro no mundo pudesse me acusar do seguinte: 'Apesar de reivindicar
ter destruído todas as impurezas, certas impurezas não estão destruídas por
você.' E vendo nenhum fundamento nisso, eu permaneço seguro, destemido e
intrépido.
25.
"Eu não vejo o fundamento com base no qual algum contemplativo… ou
qualquer outro no mundo pudesse me acusar do seguinte: 'Aquelas coisas que você
chama de obstruções não são capazes de obstruir alguém que se ocupe com elas.'
E vendo nenhum fundamento nisso, eu permaneço seguro, destemido e intrépido.
26.
"Eu não vejo o fundamento com base no qual algum contemplativo… ou
qualquer outro no mundo pudesse me acusar do seguinte: 'Ao ensinar para alguém
o Dhamma, este não o conduz, quando praticado, à completa destruição do
sofrimento.' E vendo nenhum fundamento nisso, eu permaneço seguro, destemido e
intrépido.
27.
"Um Tathagata possui esses quatro tipos de intrepidez, possuindo-os ele
reivindica o lugar de líder do rebanho, ruge o seu rugido de leão nas
assembléias e coloca em movimento a roda de Brahma.
28.
"Sariputta, sendo que eu assim sei e vejo, deveria alguém dizer a meu
respeito… ele acabará terminando no inferno.
(As Oito
Assembléias)
29. "Sariputta, existem essas oito assembléias. Quais são as oito?
Uma assembléia de nobres, uma assembléia de brâmanes, uma assembléia de chefes de
família, uma assembléia de contemplativos, uma assembléia de devas do paraíso
dos Quatro Grandes Reis, uma assembléia de devas do paraíso dos Trinta e Três,
uma assembléia dos discípulos de Mara, uma assembléia de Brahma. Possuindo
esses quatro tipos de intrepidez, O Tathagata se aproxima e entra nessas oito
assembléias.
30. "Eu lembro ter me aproximado de muitas centenas de assembléias
de nobres… muitas centenas de assembléias de Brâmanes… muitas centenas de
assembléias de chefes de família… muitas centenas de assembléias de
contemplativos… muitas centenas de assembléias de devas do paraíso dos Quatro
Grandes Reis… muitas centenas de assembléias de devas do paraíso do Trinta e
Três … muitas centenas de assembléias dos discípulos de Mara… muitas centenas
de assembléias de Brahma. E no passado eu sentei com eles e falei com eles e
mantive conversações com eles, no entanto não vejo fundamento para pensar que o
medo ou timidez pudessem tomar conta de mim. E vendo nenhum fundamento nisso,
eu permaneço seguro, destemido e intrépido.
31. "Sariputta, sendo que eu assim sei e vejo, deveria alguém dizer
a meu respeito… ele acabará terminando no inferno.
(Quatro tipos de Geração)
32. "Sariputta, existem esses quatro tipos de geração. Quais são os
quatro? Geração em um ovo, geração em um ventre, geração na umidade, geração
espontânea.
33. 'O que é geração em um ovo? Há seres que nascem rompendo a casca de
um ovo; isso é chamado de geração em um ovo. O que é geração em um ventre? Há
seres que nascem rompendo a placenta;
isso é chamado de geração em um ventre. O que é geração na umidade? Há
seres que nascem em um peixe podre, em um cadáver podre, em um mingau podre, em
uma fossa ou num esgoto; isso é chamado de geração na umidade. O que é geração
espontânea? Há devas e habitantes do inferno e certos seres humanos e alguns
seres nos mundos inferiores; isso é chamado de geração espontânea. Esses são os
quatro tipos de geração.
34. "Sariputta, sendo que eu assim sei e vejo, deveria alguém dizer
a meu respeito… ele acabará terminando no inferno.
(As Cinco Destinações e Nibbana)
35. "Sariputta, existem essas cinco destinações. Quais são as
cinco? O inferno, o reino animal, o reino dos fantasmas, seres humanos e devas.
[14]
36. (1) "Eu compreendo o
inferno e o caminho que conduz ao inferno. E eu também compreendo como é que
alguém, que tendo entrado nesse caminho, irá, na dissolução do corpo, após a
morte, renascer em um estado de privação, num destino infeliz, nos reinos
inferiores, no inferno.
(2) "Eu compreendo os animais e o caminho que conduz ao mundo
animal. E eu também compreendo como é que alguém, que tendo entrado nesse
caminho, irá, na dissolução do corpo, após a morte, renascer no mundo animal.
(3) "Eu compreendo os fantasmas e o caminho que conduz ao
mundo dos fantasmas. E eu também compreendo como é que alguém, que tendo
entrado nesse caminho, irá, na dissolução do corpo, após a morte, renascer no
mundo dos fantasmas.
(4) "Eu compreendo os seres humanos e o caminho que conduz ao mundo dos
seres humanos. E eu também compreendo como é que alguém, que tendo entrado
nesse caminho, irá, na dissolução do corpo, após a morte, renascer no mundo dos
seres humanos.
(5) "Eu compreendo os devas e o caminho que conduz ao mundo dos devas. E eu
também compreendo como é que alguém, que tendo entrado nesse caminho, irá, na
dissolução do corpo, após a morte, renascer num destino feliz, no paraíso.
(6) "Eu compreendo Nibbana e o caminho que conduz a Nibbana. E eu
também compreendo como é que alguém, que tendo entrado nesse caminho, através
da realização por si mesmo, pelo conhecimento direto, aqui e agora, irá entrar
e permanecer na libertação da mente e libertação pela sabedoria que são imaculadas,
com a destruição de todas as impurezas.
37. (1) "Abarcando a mente com a mente, eu
compreendo uma certa pessoa assim: 'Essa pessoa se comporta dessa forma, se
conduz dessa forma, tomou um tal caminho que na dissolução do corpo, após a
morte, irá renascer num estado de privação, num destino infeliz, nos reinos
inferiores, no inferno.' E mais tarde, com o olho divino que é purificado e
sobrepuja o humano, eu vejo que na dissolução do corpo, após a morte, ela
renasce num estado de privação, num destino infeliz, nos reinos inferiores, no
inferno, e está experimentando [15] sensações
extremamente dolorosas, torturantes e penetrantes. Suponha que houvesse uma
cova mais profunda que a altura de um homem cheia de brasas ardentes; então um
homem queimado pelo sol e exausto devido ao tempo quente, cansado, ressecado,
sedento, viesse por um caminho que levasse a uma única direção, orientado para
aquela mesma cova com brasas. Então um homem com boa visão vendo isso diria:
'Essa pessoa se comporta de tal forma, se conduz de tal forma, tomou um tal
caminho, ela irá acabar naquela mesma cova cheia de brasas'; e mais tarde ele
vê que ela caiu na cova cheia de brasas e está experimentando sensações
extremamente dolorosas, torturantes e penetrantes. Assim também ao abarcar a
mente com a mente… sensações extremamente dolorosas, torturantes e penetrantes.
38. (2)
"Abarcando a mente com a mente eu compreendo uma certa pessoa assim: 'Essa
pessoa se comporta dessa forma, se conduz dessa forma, tomou um tal caminho que
na dissolução do corpo, após a morte, irá renascer no mundo animal.' E mais
tarde, com o olho divino que é purificado e sobrepuja o humano, eu vejo que na
dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no mundo animal, e está experimentando
sensações extremamente dolorosas, torturantes e penetrantes. Suponha que
houvesse uma fossa mais profunda que a altura de um homem, cheia de imundícies;
então um homem queimado pelo sol e exausto devido ao tempo quente, cansado,
ressecado, sedento, viesse por um caminho que levasse a uma única direção,
orientado para aquela mesma fossa. Então um homem com boa visão vendo isso
diria: 'Essa pessoa se comporta de tal forma…ela irá acabar naquela mesma
fossa'; e mais tarde ele vê que ela caiu na fossa e está experimentando
sensações extremamente dolorosas, torturantes e penetrantes. Assim também ao
abarcar a mente com a mente… sensações extremamente dolorosas, torturantes e
penetrantes.
39. (3)
"Abarcando a mente com a mente eu compreendo uma certa pessoa assim: 'Essa
pessoa se comporta dessa forma, se conduz dessa forma, tomou um tal caminho que
na dissolução do corpo, após a morte, irá renascer no mundo dos fantasmas.' E
mais tarde…eu vejo que…ela renasce no mundo dos fantasmas, e está experimentando
sensações dolorosas. Suponha que houvesse uma árvore crescendo em
um terreno irregular com poucas folhas propiciando uma sombra mosqueada; então
um homem queimado pelo sol e exausto devido ao tempo quente, cansado,
ressecado, sedento, viesse por um caminho que levasse a uma única direção,
orientado para aquela mesma árvore. Então um homem com boa visão vendo isso
diria: 'Essa pessoa se comporta de tal forma… ela irá acabar naquela mesma
árvore'; e mais tarde ele vê que ela está sentada ou deitada sob a sombra
daquela árvore experimentando sensações dolorosas. Assim também ao
abarcar a mente com a mente… sensações dolorosas.
40. (4)
"Abarcando a mente com a mente eu compreendo uma certa pessoa assim: 'Essa
pessoa se comporta dessa forma, se conduz dessa forma, tomou um tal caminho que
na dissolução do corpo, após a morte, irá renascer no mundo dos seres humanos.' E
mais tarde…eu vejo que…ela renasce no mundo dos seres humanos, e está
experimentando muitas sensações prazerosas. Suponha que houvesse uma árvore
crescendo em um terreno plano com muitas folhas propiciando muita sombra; então
um homem queimado pelo sol e exausto devido ao tempo quente, cansado,
ressecado, sedento, viesse por um caminho que levasse a uma única direção,
orientado para aquela mesma árvore. Então um homem com boa visão vendo isso
diria: 'Essa pessoa se comporta de tal forma…ela irá acabar naquela mesma
árvore'; e mais tarde ele vê que ela está sentada ou deitada sob a sombra
daquela árvore experimentando muitas sensações prazerosas. Assim também ao
abarcar a mente com a mente… sensações muito prazerosas.
41. (5)
"Abarcando a mente com a mente eu compreendo uma certa pessoa assim: 'Essa
pessoa se comporta dessa forma, se conduz dessa forma, tomou um tal caminho que
na dissolução do corpo, após a morte, irá renascer em um destino feliz, no
paraíso.' E mais tarde…eu vejo que…ela renasce num destino feliz, no paraíso, e
está experimentando sensações extremamente prazerosas. Suponha que houvesse uma
mansão e que nela houvesse um cômodo num andar superior com as paredes revestidas por dentro e por
fora, cerrada, protegida por barras, com as janelas fechadas, e que lá houvesse uma
cama coberta com colchas felpudas, coberta com colchas de lã branca, colchas
bordadas, peles de antílope e gamo, coberta com um baldaquino e com almofadas
vermelhas para a cabeça e os pés; então um homem queimado pelo sol e exausto
devido ao tempo quente, cansado, ressecado, sedento, viesse por um caminho que
levasse a uma única direção, orientado para aquela mesma mansão. Então um homem
com boa visão vendo isso diria: 'Essa pessoa se comporta de tal forma…ela irá
acabar naquela mesma mansão'; e mais tarde ele vê que ela está sentada ou
deitada naquele cômodo da mansão experimentando sensações extremamente prazerosas.
Assim também ao abarcar a mente com a mente… sensações extremamente prazerosas.
42. (6)
"Abarcando a mente com a mente eu compreendo uma certa pessoa assim: 'Essa
pessoa se comporta dessa forma, se conduz dessa forma, tomou um caminho
tal que através da realização por si
mesma, pelo conhecimento direto, aqui e agora, irá entrar e permanecer na
libertação da mente e libertação pela sabedoria que são imaculadas, com a
destruição de todas as impurezas.' E mais tarde eu vejo que
realizando por si mesma através do conhecimento direto, ela aqui e agora entra
e permanece na libertação da mente e libertação pela sabedoria que são
imaculadas, com a destruição de todas as impurezas, e está experimentando
sensações extremamente prazerosas. [16] Suponha
que houvesse um lago com água limpa, agradável, fresca e transparente, com as
margens aplainadas, deleitável e próximo a um denso bosque; então um homem
queimado pelo sol e exausto devido ao tempo quente, cansado, ressecado,
sedento, viesse por um caminho que levasse a uma única direção, orientado para
aquele mesmo lago. Então um homem com boa visão vendo isso diria: 'Essa pessoa
se comporta de tal forma… ela irá acabar naquele mesmo lago'; e mais tarde ele
vê que ela mergulhou no lago, se banhou, bebeu e aliviou toda sua aflição, fadiga e febre, e
tendo saído do lago está sentada ou deitada no bosque experimentando sensações
extremamente prazerosas. Assim também ao abarcar a mente com a mente… sensações
extremamente prazerosas. Essas são as cinco destinações.
43.
"Sariputta, sendo que eu assim sei e vejo, deveria alguém dizer a meu
respeito: 'O contemplativo Gotama não possui nenhum estado supra-humano,
nenhuma distinção em conhecimento e visão dignos dos nobres. O contemplativo
Gotama ensina um Dhamma que é a mera discussão de argumentos, seguindo a sua
própria linha de investigação de acordo com aquilo que lhe ocorra' - a menos
que ele abandone essa afirmação e esse estado mental e abdique dessa opinião,
ele acabará terminando no inferno. Da mesma forma que um bhikkhu possuído de
virtude, concentração e sabedoria desfrutaria aqui e agora do conhecimento
supremo, assim também ocorrerá neste caso, eu digo, que a menos que ele
abandone essa afirmação e esse estado mental e abdique dessa opinião, ele
acabará terminando no inferno.
(As
Austeridades do Bodisatva)
44.
"Sariputta, eu recordo ter vivido uma vida santa que possuía quatro
fatores. Eu pratiquei o ascetismo - o extremo do ascetismo; eu pratiquei de
forma bruta - o extremo da brutalidade; eu pratiquei com escrupulosidade - o
extremo da escrupulosidade; eu pratiquei o isolamento - o extremo do
isolamento. [17]
45. "Meu ascetismo era tal, Sariputta, que
eu andava nu, rejeitando as convenções, [A] lambendo as mãos, [B] não atendendo quando
chamado, não parando quando solicitado [C]; não aceitava que me trouxessem comida [D]
ou comida feita especialmente para mim, ou convite para comer [E]; eu não aceitava
comida diretamente de um pote ou de uma panela na qual tivesse sido cozida, ou comida
colocada numa soleira, ou colocada onde estivesse a lenha, ou colocada onde estivessem os
pilões, ou de duas pessoas comendo juntas, ou de uma mulher grávida, ou de uma
mulher amamentado, ou de uma mulher num grupo com homens, ou de um
lugar que tivesse divulgado a distribuição de comida, onde um cachorro estivesse
esperando, onde moscas estivessem zunindo; eu não aceitava peixe ou carne, eu não
aceitava bebidas alcoólicas, vinho, ou mingau de arroz fermentado. Eu me
restringia a uma casa, [F] a um bocado; eu me restringia a duas casas, a dois
bocados … eu me restringia a sete casas, a sete bocados. Eu vivia com um pires
de comida por dia, dois pires de comida por dia … sete pires de comida por dia;
Eu comia uma vez por dia, uma vez cada dois dias … uma vez cada sete dias, e
assim por diante até uma vez cada quinze dias. Ou eu comia ervas, ou capim, ou
arroz selvagem, ou plantas aquáticas, ou farelo de arroz, ou escuma de arroz
cozido, ou flores de plantas oleaginosas, ou estrume de vaca, ou raízes e frutas da floresta, ou frutas
caídas. Eu me vestia com cânhamo, com mortalhas, com trapos, com casca de
árvores, com pele de antílopes, com tiras de pele de antílopes, com capim, com
cabelos humanos, com pelos do rabo de cavalos, com penas das asas de corujas.
Eu arrancava cabelos e barba, dedicando-me à prática de arrancar os cabelos e
barba. Eu ficava em pé continuamente, rejeitando assentos. Eu ficava de cócoras
continuamente, devotado a manter a posição de cócoras. Eu usava um colchão com
espinhos; eu fazia de um colchão com espinhos a minha cama. Eu dormia no chão.
Eu dormia sempre do mesmo lado. O meu corpo estava coberto com imundície. Eu
vivia e dormia ao ar livre. Eu me alimentava com imundície, dedicando-me à
prática de comer os quatro tipos de imundície (esterco de vaca, urina de vaca,
cinzas e argila). Eu nunca bebia água fria. [G] Eu purificava o corpo com três
imersões na água a cada dia. [H] Assim era o meu ascetismo.
46.
"Minha brutalidade era tal, Sariputta, que, como o tronco de uma árvore
tinduka que acumula ao longo dos anos uma grossa camada que se descama, assim
também, a poeira e a sujeira, acumuladas ao longo dos anos, se acumulavam em
camadas sobre o meu corpo e se descamavam. Nunca me ocorreu; 'Ah, melhor que eu
esfregue com a minha mão para remover essa poeira e sujeira ou que alguém outro
esfregue com a sua mão e remova essa poeira e sujeira' - isso nunca me ocorreu.
Assim era a minha brutalidade.
47.
"Minha escrupulosidade era tal, Sariputta, que eu estava sempre com
atenção plena ao dar um passo para a frente e ao dar um passo para trás. Eu
estava pleno de piedade, até mesmo para com os seres em uma gota d´água, desta
forma: 'Que eu não fira as ínfimas criaturas que estão nas rachaduras do chão.'
Assim era a minha escrupulosidade.
48. "Meu
isolamento era tal, Sariputta, que eu mergulhava em uma floresta e lá ficava. E
se eu visse um pastor ou um vaqueiro ou alguém recolhendo capim ou gravetos,
ou um lenhador, eu fugia de bosque em bosque, de cerrado em cerrado, de vale em
vale, de morro em morro. Por que isso? De forma que eles não me vissem ou que eu
os visse. Da mesma forma que um gamo que cresceu na floresta, quando vê seres
humanos foge de bosque em bosque, de cerrado em cerrado, de vale em vale, de
morro em morro, assim também, quando eu via um pastor…Assim era o meu
isolamento.
49.
"Eu ia sobre quatro patas para os currais quando o gado tivesse saído e o
vaqueiro os tivesse deixado e comia o estrume dos bezerros. Enquanto durasse o
meu próprio excremento e a minha própria urina, eu me alimentava do meu próprio
excremento e urina. Assim era a minha grande distorção na alimentação.
50.
"Eu mergulhei em um bosque aterrorizante e permaneci ali - um bosque tão
aterrorizante que faria os cabelos de uma pessoa que não estivesse livre da
cobiça ficarem em pé. Quando as noites geladas do inverno chegavam, durante o
'intervalo de oito dias com geadas' eu permanecia a céu aberto durante a noite
e no bosque durante o dia. [18] No último
mês da estação quente eu permanecia a céu aberto durante o dia e no bosque
durante a noite. Foi quando espontaneamente me vieram esses versos que nunca
foram ouvidos antes:
'Esfriado pela noite e queimado pelo
dia,
só em bosques atemorizantes,
nu, sem uma fogueira para sentar-se ao
lado,
o sábio apesar disso persevera na
sua busca.'
51.
"Eu fazia a minha cama nos campos de cremação com os ossos dos mortos como
travesseiro. E jovens vaqueiros vinham
e cuspiam em mim, urinavam em mim, jogavam terra em mim, e enfiavam gravetos nos
meus ouvidos. No entanto, não me lembro de alguma vez eu ter estimulado a minha mente com maldade
(com ódio) contra eles. Assim é como eu permanecia com equanimidade.
52.
"Sariputta, existem certos contemplativos e brâmanes cuja doutrina e
opinião é a seguinte: 'A purificação é obtida através da comida.' [19] Eles dizem: 'Vivamos somente das nozes da
árvore Cola,' e eles comem as nozes da Cola, eles comem as nozes da Cola
moídas, eles bebem o refresco feito com as nozes da Cola e eles fazem vários
tipos de misturas com as nozes da Cola. Agora eu me lembro de comer uma única
noz da Cola por dia. Sariputta, você pode pensar que as nozes da Cola eram
maiores naquela época, no entanto você não deve pensar dessa forma: a noz de Cola
era no máximo do mesmo tamanho que agora. Por comer apenas uma noz da Cola por
dia, meu corpo ficou extremamente emaciado. Por comer tão pouco os meus membros
ficaram como os segmentos articulados de uma videira ou bambu. Por comer tão
pouco as minhas costas ficaram como a corcova de um camelo. Por comer tão pouco
as projeções da minha espinha pareciam contas em um cordão. Por comer tão pouco
as minhas costelas se projetavam para a frente tão frágeis como as traves de um
celeiro destelhado. Por comer tão pouco o brilho dos meus olhos se afundou
dentro da cavidade do olho, parecendo com o brilho d´água no fundo de um poço
profundo. Por comer tão pouco o meu escalpo enrugou e encolheu como uma abóbora
verde, amarga, enruga e encolhe com o vento e o sol. Por comer tão pouco a pele
da minha barriga se uniu à minha espinha; portanto se eu tocasse a minha
barriga encontrava a minha espinha e se tocasse a minha espinha encontrava a
pele da minha barriga. Por comer tão pouco, se eu tentasse aliviar meu corpo
esfregando meus membros com as mãos, os pelos, com as raízes apodrecidas, caíam
do corpo à medida que eu os esfregava.
53-55.
"Sariputta, existem certos contemplativos e brâmanes cuja doutrina e
opinião é a seguinte: 'A purificação é obtida através da comida.' Eles dizem:
'Vivamos somente de feijões,'…'Vivamos somente de sésamo,'…'Vivamos somente de
arroz,' e eles comem arroz, eles comem o arroz moído, eles bebem o refresco
feito com arroz e eles fazem vários tipos de misturas com o arroz. Agora eu me
lembro de comer um único grão de arroz por dia. Sariputta, você pode pensar
que os grãos de arroz eram maiores naquela época, no entanto você não deve
pensar dessa forma: o grão de arroz era no máximo do mesmo tamanho que agora.
Por comer apenas um grão de arroz por dia, meu corpo ficou extremamente
emaciado. Por comer tão pouco…os pelos, com as raízes apodrecidas, caíam do
corpo à medida que eu os esfregava.
56.
"No entanto, Sariputta, através dessa conduta, através dessa prática,
através da realização dessas austeridades, eu não conquistei nenhum estado
supra-humano, nenhuma distinção em conhecimento e visão digna dos nobres.
Por que isso? Porque eu não realizei a nobre sabedoria, que quando
realizada é nobre e emancipa, e conduz aquele que a pratica à completa
destruição do sofrimento.
57.
"Sariputta, existem certos contemplativos e brâmanes cuja doutrina e
opinião é a seguinte: 'A purificação é obtida através do ciclo de
renascimentos.' Mas é impossível encontrar um reino no ciclo de renascimentos
pelo qual eu não tenha passado nesta longa jornada, exceto aquele dos devas das
Moradas Puras; e se eu tivesse passado pelo ciclo como um deva das Moradas
Puras, eu nunca teria retornado a este mundo. [20]
58. "Sariputta, existem certos contemplativos e brâmanes cuja
doutrina e opinião é a seguinte: 'A purificação é obtida através (de algum tipo
particular) de renascimento.' Mas é impossível encontrar um tipo de
renascimento pelo qual eu não tenha passado nesta longa jornada, exceto aquele
dos devas das Moradas Puras…
59.
"Sariputta, existem certos contemplativos e brâmanes cuja doutrina e
opinião é a seguinte: 'A purificação é obtida através (de algum tipo
particular) de mundo.' Mas é impossível encontrar um tipo de mundo pelo qual eu
não tenha passado…exceto aquele dos devas das Moradas Puras…
60.
"Sariputta, existem certos contemplativos e brâmanes cuja doutrina e
opinião é a seguinte: 'A purificação é obtida através do sacrifício.' Mas é
impossível encontrar um tipo de sacrifício que não tenha sido oferecido por mim
nesta longa jornada, quando fui um nobre rei ungido ou um brâmane próspero.
61.
"Sariputta, existem certos contemplativos e brâmanes cuja doutrina e
opinião é a seguinte: 'A purificação é obtida através da adoração do fogo.' Mas
é impossível encontrar um tipo de fogo que não tenha sido adorado por mim nesta
longa jornada, quando fui um nobre rei ungido ou um brâmane próspero.
62.
"Sariputta, existem certos contemplativos e brâmanes cuja doutrina e opinião
é a seguinte: 'Enquanto este homem ainda for jovem, um homem jovem com o cabelo
negro dotado com as bênçãos da juventude, na flor da juventude, durante esse
período ele é perfeito na sua lúcida sabedoria. Mas quando esse homem estiver
velho, envelhecido, com a idade avançada, pressionado pelos anos, avançado na vida, chegando ao último estágio, tendo oitenta, noventa ou cem anos de idade, a lucidez da sua sabedoria
estará perdida.' Mas isso não deve ser encarado assim. Eu estou agora velho, envelhecido, com a idade avançada, pressionado pelos anos, avançado na vida, chegando ao último estágio:
eu tenho oitenta anos. Agora suponha que eu tivesse quatro discípulos com cem
anos de expectativa de vida, perfeitos na atenção plena, memória, narrativa e
sabedoria lúcida . [21] Tal como um arqueiro
habilidoso, treinado, experto e testado, poderia com facilidade atirar uma
flecha de luz que atravessasse a sombra de uma palmeira, suponha que da mesma
forma eles fossem perfeitos na atenção plena, memória, narrativa e sabedoria
lúcida. Suponha que eles continuamente me perguntassem sobre os quatro
fundamentos da atenção plena e que eu respondesse quando perguntado e que eles
se lembrassem de cada resposta minha e nunca fizessem uma pergunta repetida
ou não pausassem exceto para comer, beber, consumir alimento, saborear, urinar,
defecar e descansar para eliminar a sonolência e o cansaço. Ainda assim, a
exposição do Dhamma pelo Tathagata, as suas explicações dos fatores do Dhamma e
as suas respostas às questões ainda não haveriam terminado e aqueles meus
quatro discípulos com cem anos de expectativa de vida teriam morrido ao final
dos cem anos. Sariputta, mesmo que você tenha que me carregar por aí em uma
cama, ainda assim não haverá mudança na lucidez da sabedoria do Tathagata.
63. "Falando
corretamente, se fosse para dizer de alguém que: 'Um ser não sujeito à delusão
apareceu no mundo para o bem-estar e felicidade de muitos, com compaixão pelo
mundo, pelo bem, pelo bem-estar e felicidade de devas e humanos,' é de mim
verdadeiramente que, falando o que é certo, isso deveria ser dito."
64. Agora
naquela ocasião o venerável Nagasamala estava em pé atrás do Abençoado,
ventilando-o. [22] Então ele disse ao
Abençoado: "É admirável, venerável senhor, é maravilhoso! Enquanto eu
ouvia este discurso do Dhamma os pelos do meu corpo ficaram em pé. Venerável
senhor, qual é o nome deste discurso do Dhamma?"
"Quanto
a isso, Nagasamala, você poderá lembrar deste discurso do Dhamma como 'O
Discurso que faz os Pelos ficarem em pé.'" [23]
Isso foi o que disse o Abençoado. O Venerável Nagasamala ficou
satisfeito e contente com as palavras do Abençoado.
Notas:
[1] O Buda lhe havia exposto o Sunakkhatta
Sutta (MN 105), aparentemente antes que ele se
tornasse parte da Sangha; o relato da sua saída é dado no Patika Sutta (DN 24). Ele ficou insatisfeito
e abandonou a Ordem porque o Buda não realizava nenhum milagre ou explicava a
origem das coisas. [Retorna]
[2] Estados supra-humanos (uttari
manussadhamma) são estados, virtudes ou realizações superiores em relação
às virtudes humanas comuns, compreendidas nos dez tipos de ações benéficas
(veja o MN 9.6); estes incluem os jhanas, os tipos de
conhecimento direto, e os caminhos supramundanos e os seus frutos.
"Distinção em conhecimento e visão dignos dos nobres" (ariyananadassanavisesa), uma expressão
que ocorre com freqüência nos suttas, significando todos os graus elevados de
conhecimento meditativo característico do indivíduo nobre. Neste caso, de
acordo com MA, significa especificamente o caminho supramundano, que Sunakkhatta
nega ao Buda. [Retorna]
[3] A essência desta crítica é que o Buda ensina uma doutrina que ele
apenas elaborou através do raciocínio ao invés de tê-la realizado através do
conhecimento direto. Aparentemente ele acredita que ser conduzido à completa
destruição do sofrimento é, como objetivo, inferior à obtenção de poderes
miraculosos. [Retorna]
[4] Todos os versos que seguem são formulados como uma refutação à
crítica de Sunakkhatta ao Buda. Os versos 6-8 abrangem os primeiros três dos
seis conhecimentos diretos (abhiñña),
os últimos três aparecendo como os últimos dos dez poderes de um Tathagata.
Estes últimos, de acordo com MA, devem ser compreendidos como os poderes do
conhecimento (ñanabala) que são
obtidos por todos os Budas como fruto do seu mérito acumulado. [Retorna]
[5] A Roda de Brahma é a roda suprema,
melhor, mais excelente, a Roda do Dhamma (dhammacakka) com o seu duplo significado: o conhecimento que
penetra a verdade e o conhecimento de como expor o ensinamento. [Retorna]
[6] MA explica isto como o conhecimento da correlação entre as causas e
os seus resultados. Veja o MN 115.12. [Retorna]
[7] Esta frase é um tanto obscura mas de acordo com o Vbh, que oferece uma análise detalhada dos dez
poderes do Tathagata, há vários tipos de kamma prejudicial que uma pessoa pode cometer e algumas vezes esse kamma
pode produzir o seu resultado, (vipaka), e outras vezes esse kamma não produz resultado. O Buda compreende
que algumas vezes um determinado kamma não produz o seu resultado devido a quatro fatores: gati - destinação,
ou o mundo em particular onde ocorre o renascimento, uma pessoa pode ter vários kammas prejudiciais mas devido a
um renascimento favorável, esses kammas prejudiciais não irão encontrar as condições apropriadas para gerar os seus
frutos. Outro fator é upadhi que pode significar o corpo físico ou as posses, riquezas, que a pessoa possua,
por exemplo, pode ser o caso que uma pessoa possui um corpo forte e saudável e devido a isso os kammas
prejudiciais não irão encontrar as condições apropriadas para gerar os seus frutos. O terceiro fator é kala que
significa tempo, ou seja aqueles kammas prejudiciais não encontram condições apropriadas para amadurecer porque a pessoa
renasceu numa época favorável, uma época de paz e prosperidade, governos justos, etc. O quarto fator é o esforço pessoal,
ou seja, a pessoa não sabe que possui kammas prejudiciais mas como ela se comporta de um modo benéfico e saudável, então
esse comportamento irá evitar que se formem as condições apropriadas para que os kammas prejudiciais gerem os seus frutos.
Este conhecimento pode ser exemplificado com a análise de kamma
feita pelo Buda no MN 57, MN 135
e MN 136. [Retorna]
[8] Este conhecimento será elucidado nos versos 35-42. [Retorna]
[9] A compreensão pelo Tathagata dos muitos elementos que constituem o
mundo é encontrada no MN 115.4-9. [Retorna]
[10] Vbh (813) explica que o Tathagata compreende que os seres possuem
inclinações inferiores e superiores e que eles gravitam na direção daqueles que
compartem as suas próprias inclinações. [Retorna]
[11] MA explica o significado como o conhecimento do Tathagata da
superioridade ou inferioridade das faculdades de convicção, energia, atenção
plena, concentração e sabedoria nos seres. [Retorna]
[12] Vbh (828): A "impureza" (sankilesa) é um estado que causa deterioração,
"purificação" (vodana) é um
estado que causa excelência, "surgimento" (vutthana) é ambos a purificação e a emersão de uma realização. As
oito libertações (vimokkha) estão
enumeradas no MN 77.22 e MN
137.26; as nove realizações (samapatti)
são os quatro jhanas, as quatro realizações imateriais (jhanas imateriais)
e a cessação da percepção e da sensação como no MN
25.12-20. [Retorna]
[13] A expressão yathabhatam
nikkhitto evam niraye é complexa. A interpretação de acordo com o
comentário: "Ele será colocado no inferno como se fosse carregado e
colocado lá pelos guardiões do inferno." [Retorna]
[14] Na tradição Budista mais recente, os asuras ou titãs, são agregados como uma destinação em separado
resultando em seis destinações. [Retorna]
[15] Ekanta: pode também
significar "exclusivamente" ou "incessantemente". [Retorna]
[16] MA: Embora a descrição seja a mesma da felicidade do paraíso, o
significado é distinto. Pois a felicidade do paraíso não é na verdade
extremamente agradável porque a febre da cobiça, etc. ainda está presente. Mas
a felicidade de Nibbana é extremamente agradável em todos os aspectos devido à
eliminação de todas as febres. [Retorna]
[17] Neste ponto, MA nos informa, o Buda relatou as suas práticas ascéticas
do passado porque Sunakkhatta era um grande admirador do ascetismo extremo
(como demonstrado no Patika Sutta) e
o Buda queria que soubessem que não havia ninguém que poderia igualá-lo nas
práticas ascéticas. Os trechos que seguem devem ser combinados com o MN 4.20 e MN 36.20-30 para um
quadro mais completo dos experimentos do Bodisatva com os extremos da
auto-mortificação. [Retorna]
[A] Comendo e defecando em pé ao invés de agachado ou sentado como fazem
as pessoas de bem. [Retorna]
[B] Depois de comer ele lambia as mãos ao invés de lavá-las. [Retorna]
[C] Durante a esmola de alimentos, para não correr o risco de seguir as
ordens de outra pessoa, ele não atendia quando chamado e nem parava quando
solicitado. [Retorna]
[D] Que lhe trouxessem comida antes que ele iniciasse a esmola de alimentos.
[Retorna]
[E] Que durante a esmola de alimentos ele fosse a um certa casa ou uma
certa rua ou num determinado lugar. [Retorna]
[F] Regressando da esmola de alimentos depois de receber comida de uma
casa. [Retorna]
[G] Apanaka. Semelhante aos Jainistas que não
bebem água fria devido aos seres vivos que nela se encontram. [Retorna]
[H] Para purificação. [Retorna]
[18] O 'intervalo de oito dias com geadas' se refere a um período de
tempo frio que em geral ocorre no norte da Índia no final de Dezembro, início
de Janeiro. [Retorna]
[19] Isto é, eles possuem a opinião de que os seres se purificam
reduzindo a quantidade de alimento ingerida. [Retorna]
[20] O renascimento nas Moradas Puras (suddhavasa) só é possível para os 'que não retornam'. [Retorna]
[21] Os quatro termos em Pali são: sati,
gati, dhiti, paññaveyyattiya. MA explica sati como a habilidade de captar na mente cem ou mil frases na
medida em que elas são ditas; gati como
a habilidade de combiná-las e retê-las na mente; dhiti como a habilidade de recitar aquilo que foi captado e retido;
e paññaveyyattiya como a habilidade
para discernir a lógica e o significado dessas frases. [Retorna]
[22] O ven. Nagasamala havia sido o assistente do Buda durante os
primeiros vinte anos do seu ministério. [Retorna]
[23] Lomahamsanapariyaya. Esse
é o nome pelo qual o sutta é referido no Miln 398 e no comentário do Digha Nikaya. [Retorna]
Revisado: 21 Março 200
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