Digha Nikaya 22
Mahasatipatthana Sutta
Os Fundamentos da Atenção Plena
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1. Assim
ouvi.[1] Certa ocasião, estava o Abençoado entre os Kurus numa cidade
denominada Kammasadhamma.[2] Lá ele se dirigiu aos monges
desta forma: "Bhikkhus." – "Venerável Senhor," eles
responderam. O Abençoado disse o seguinte:
2. " Bhikkhus, este é
o caminho direto [3] para a purificação dos seres, para superar a tristeza e
a lamentação, para o desaparecimento da dor e da angústia, [3a]
para alcançar o caminho verdadeiro, para a realização de
Nibbana – isto é, os quatro fundamentos da atenção plena.[4]
3. "
Quais são os quatro? Aqui, bhikkhus, um bhikkhu[5] permanece
contemplando o corpo como um corpo, ardente, plenamente consciente e com
atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo.[6] Ele permanece
contemplando as sensações como sensações, ardente, plenamente consciente e com
atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. Ele
permanece contemplando a mente como mente, ardente, plenamente consciente e com
atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. Ele
permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais, ardente,
plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o
desprazer pelo mundo.[7]
( 1. Atenção Plena na
Respiração )
4. " E
como, bhikkhus, um bhikkhu permanece contemplando o corpo como um corpo? Aqui
um bhikkhu, dirigindo-se à floresta ou à sombra de uma árvore ou a um local
isolado; senta-se com as pernas cruzadas, mantém o corpo ereto e estabelecendo
a plena atenção à sua frente, [7a] ele
inspira com atenção plena justa, ele expira com atenção plena justa. [7b] Inspirando longo, ele
compreende : ‘Eu inspiro longo’; ou expirando longo, ele compreende: ‘Eu expiro
longo.’ Inspirando curto, ele compreende: ‘Eu inspiro curto’; ou expirando
curto, ele compreende: ‘Eu expiro curto.’ [8] Ele treina dessa
forma: ‘Eu inspiro experienciando todo o corpo [da respiração]’; ele treina
dessa forma: ‘Eu expiro experienciando todo o corpo [da respiração].’ [9] Ele treina dessa
forma: ‘Eu inspiro tranqüilizando a formação do corpo [da respiração]’: ele
treina dessa forma: ‘ Eu expiro tranqüilizando a formação do corpo [da
respiração].’[10] Da mesma forma como um torneiro habilidoso ou seu
aprendiz, quando faz uma volta longa, compreende: ‘Eu faço uma volta longa’;
ou, quando faz uma volta curta, compreende: ‘Eu faço uma volta curta’; da mesma
forma, inspirando longo, um Bhikkhu compreende: ‘Eu inspiro longo’... ele
treina dessa forma: ‘Eu devo expirar tranqüilizando a formação do corpo.’
(Insight)
5. " Dessa forma ele
permanece contemplando o corpo como um corpo internamente, ou ele permanece
contemplando o corpo como um corpo externamente, ou ele permanece contemplando
o corpo como um corpo tanto interna como externamente. [11] Ou então, ele
permanece contemplando fenômenos que surgem no corpo, ou ele permanece
contemplando fenômenos que desaparecem no corpo, ou ele permanece contemplando
ambos, fenômenos que surgem e fenômenos que desaparecem no corpo. [12] Ou então, a
atenção plena de que ‘existe um corpo’ se estabelece somente na medida
necessária para o conhecimento e para a continuidade da atenção plena. [13] E ele permanece
independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim é como um
bhikkhu permanece contemplando o corpo como um corpo.
( 2. As Quatro Posturas
)
6. " Novamente,
bhikkhus, quando caminhando, um bhikkhu compreende: ‘Eu estou caminhando’;
quando em pé, ele compreende: ‘Eu estou em pé’; quando sentado, ele compreende:
‘Eu estou sentado’; quando deitado, ele compreende: ‘Eu estou deitado’; ou ele
compreende a postura do corpo conforme for o caso. [14]
7. " Dessa
forma ele permanece contemplando o corpo como um corpo internamente,
externamente, tanto interna como externamente ... E ele permanece independente,
sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim também é como um bhikkhu
permanece contemplando o corpo como um corpo.
( 3. Plena Consciência )
8. " Novamente,
bhikkhus, um bhikkhu age com plena consciência ao ir para a frente e retornar; [15] age com plena
consciência ao olhar para frente e desviar o olhar; age com plena consciência
ao dobrar e estender os membros; age com plena consciência ao carregar o manto
externo, o manto superior, a tigela; age com plena consciência ao comer, beber,
mastigar e saborear; age com plena consciência ao urinar e defecar; age com
plena consciência ao caminhar, ficar em pé, sentar, dormir, acordar, falar e
permanecer em silêncio.
9. " Dessa forma ele
permanece contemplando o corpo como um corpo internamente, externamente,
tanto interna como externamente ... E ele permanece independente, sem
nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim também é como um bhikkhu
permanece contemplando o corpo como um corpo.
( 4. Repulsa – As
Partes do Corpo )
10. "
Novamente, bhikkhus, um bhikkhu examina esse mesmo corpo para cima, a partir da
sola dos pés e para baixo, a partir do topo da cabeça, limitado pela pele e
repleto de muitos tipos de coisas repulsivas, portanto: ‘Neste corpo existem cabelos,
pêlos do corpo, unhas, dentes, pele, carne, tendões, ossos, tutano, rins,
coração, fígado, diafragma, baço, pulmões, intestino grosso, intestino delgado,
conteúdo do estômago, fezes, bílis, fleuma, pus, sangue, suor, gordura,
lágrimas, saliva, muco, líquido sinovial e urina.’ [16] Como se houvesse
um saco com uma abertura em uma extremidade cheio de vários tipos de grãos,
como arroz sequilho, arroz vermelho, feijões, ervilhas, milhete e arroz branco,
e um homem com vista boa o abrisse e examinasse: ‘Isto é arroz sequilho, arroz
vermelho, feijões, ervilhas, milhete e arroz branco’; da mesma forma, um
bhikkhu examina esse mesmo corpo ... repleto de muitos tipos de coisas repulsivas: ‘ Neste
corpo existem cabelos ... e urina.’
11. " Dessa maneira,
ele permanece contemplando o corpo como um corpo internamente, externamente,
tanto interna como externamente ... E ele permanece independente, sem
nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim também é como um bhikkhu
permanece contemplando o corpo como um corpo.
( 5. Elementos )
12. "
Novamente, bhikkhus, um bhikkhu examina esse mesmo corpo que, não importando a sua posição ou postura,
consiste de elementos da seguinte forma: ‘Neste corpo há o elemento terra, o
elemento água, o elemento fogo, e o elemento ar.’ [17] Do mesmo modo,
como se um açougueiro habilidoso ou seu aprendiz tivesse matado uma vaca e
estivesse sentado numa encruzilhada com a vaca em pedaços; assim também um
bhikkhu examina esse mesmo corpo que ... consiste de elementos, portanto:
‘Neste corpo há o elemento terra, o elemento água, o elemento fogo e o elemento
ar.’
13. " Dessa forma
ele permanece contemplando o corpo como um corpo internamente, externamente,
tanto interna como externamente ... E ele permanece independente, sem nenhum
apego a qualquer coisa mundana. Assim também é como um bhikkhu permanece
contemplando o corpo como um corpo.
( 6. As Nove
Contemplações do Cemitério )
14. " Novamente,
bhikkhus, como se ele visse um cadáver jogado em um cemitério, [17a]
um, dois, ou três dias depois de morto, inchado, lívido e
esvaindo matéria, um bhikkhu compara seu corpo com ele: ‘Este corpo também tem
a mesma natureza, se tornará igual, não está isento desse destino.’ [18]
15. " Dessa
forma ele permanece contemplando o corpo como um corpo internamente,
externamente, tanto interna como externamente ... E ele permanece independente,
sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim também é como um bhikkhu
permanece contemplando o corpo como um corpo.
16. " Novamente, como
se ele visse um cadáver jogado num cemitério, sendo devorado por corvos,
gaviões, abutres, cães, chacais ou vários tipos de vermes, um bhikkhu compara
seu mesmo corpo com ele: ‘Este corpo também tem a mesma natureza, se tornará
igual, não está isento desse destino.’
17. "...Assim também é
como um bhikkhu permanece contemplando o corpo como um corpo.
18-24." Novamente,
bhikkhus, como se ele visse um cadáver jogado num cemitério, um esqueleto com
carne e sangue, que se mantém unido por tendões ... um esqueleto descarnado
lambuzado de sangue, que se mantém unido por tendões...um esqueleto descarnado
e sem sangue, que se mantém unido por tendões...ossos desconectados espalhados
em todas as direções – aqui um osso da mão, ali um osso do pé, aqui um osso da
perna, ali um osso da coxa, aqui um osso da bacia, ali um osso da coluna
vertebral, aqui uma costela, ali um osso do peito, aqui um osso do braço, ali
um osso do ombro, aqui um osso do pescoço, ali um osso da mandíbula, aqui um
dente, ali um crânio - um Bhikkhu compara seu corpo com ele, portanto: ‘Este
corpo também tem a mesma natureza, se tornará igual, não está isento desse
destino.’ [19]
25. "...Assim
também é como um bhikkhu permanece contemplando o corpo como um corpo.
26-30." Novamente,
bhikkhus, como se ele visse um cadáver jogado num cemitério, os ossos brancos
desbotados, a cor de conchas...ossos amontoados, com mais de um ano ... ossos
apodrecidos e esfarelados convertidos em pó, um bhikkhu compara seu corpo com
ele, portanto: ‘ Este corpo também tem a mesma natureza, se tornará igual, não
está isento desse destino.’
(Insight)
31. "Dessa forma ele permanece contemplando
o corpo como um corpo internamente, ou ele permanece contemplando o corpo como um corpo externamente, ou ele permanece
contemplando o corpo como um corpo tanto interna como externamente. Ou então, ele permanece contemplando fenômenos
que surgem no corpo, ou ele permanece contemplando fenômenos que desaparecem no corpo, ou ele permanece contemplando ambos,
fenômenos que surgem e fenômenos que desaparecem no corpo. Ou então, a atenção plena ‘de que existe um corpo’ se estabelece
somente na medida necessária para o conhecimento e para a continuidade da atenção plena. E ele permanece independente,
sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim é como um Bhikkhu permanece contemplando o corpo no corpo.
(
Contemplação das Sensações )
32. " E como,
bhikkhus, um bhikkhu permanece contemplando sensações como sensações? [20] Aqui, sentindo uma
sensação prazerosa, um bhikkhu compreende: ‘Eu sinto uma sensação prazerosa’ [20a]; quando sente uma sensação dolorosa, ele
compreende: ‘Eu sinto uma sensação dolorosa’ [ 20b]; quando sente uma sensação nem prazerosa, nem dolorosa, ele
compreende: ‘Eu sinto uma sensação nem prazerosa, nem dolorosa’. [20c]
Quando sente uma sensação prazerosa mundana, ele compreende:
‘Eu sinto uma sensação prazerosa mundana’; quando sente uma sensação prazerosa
não mundana, ele compreende: ‘Eu sinto uma sensação prazerosa não mundana’;
quando sente uma sensação dolorosa mundana, ele compreende: ‘Eu sinto uma
sensação dolorosa mundana’; quando sente uma sensação dolorosa não mundana, ele
compreende: ‘Eu sinto uma sensação dolorosa não mundana’; quando sente uma
sensação nem prazerosa, nem dolorosa mundana, ele compreende: ‘Eu sinto uma
sensação nem prazerosa, nem dolorosa mundana’; quando sente uma sensação nem
prazerosa, nem dolorosa não mundana, ele compreende: ‘Eu sinto uma sensação nem
prazerosa, nem dolorosa não mundana’
(Insight)
33. " Dessa forma ele
permanece contemplando as sensações como sensações internamente ou ele
permanece contemplando as sensações como sensações externamente, [20d]
ou ele permanece contemplando as sensações como
sensações tanto interna como externamente. Ou então, ele permanece contemplando
fenômenos que surgem nas sensações, ou ele permanece contemplando fenômenos que
desaparecem nas sensações, ou ele permanece contemplando ambos fenômenos que
surgem e fenômenos que desaparecem nas sensações. [21] Ou então, a
atenção plena ‘de que existem sensações’ se estabelece somente na medida
necessária para o conhecimento e para a continuidade da atenção plena. E ele
permanece independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim é como
um bhikkhu permanece contemplando sensações como sensações.
( Contemplação da Mente )
34. " E como,
bhikkhus, um bhikkhu permanece contemplando a mente como mente? [22] Aqui um bhikkhu
compreende a mente afetada pelo desejo como mente afetada pelo desejo e a mente
não afetada pelo desejo como mente não afetada pelo desejo. Ele compreende a
mente afetada pela raiva como mente afetada pela raiva e a mente não afetada
pela raiva como mente não afetada pela raiva. Ele compreende a mente afetada
pela delusão como mente afetada pela delusão e a mente não afetada pela delusão
como mente não afetada pela delusão. Ele compreende a mente contraída como mente contraída e a mente distraída como
mente distraída. Ele compreende a mente transcendente como
mente transcendente e a mente não transcendente como mente não transcendente.
Ele compreende a mente superável como mente superável e a mente não superável
como mente não superável. Ele compreende a mente concentrada como mente
concentrada e a mente não concentrada como mente não concentrada. Ele
compreende a mente libertada como mente libertada e a mente não libertada como
mente não libertada. [23]
35. " Dessa forma ele
permanece contemplando a mente como mente internamente ou ele permanece
contemplando a mente como mente externamente, ou ele permanece contemplando a
mente como mente tanto interna como externamente. Ou então, ele permanece
contemplando fenômenos que surgem na mente, ou ele permanece contemplando
fenômenos que desaparecem na mente, ou ele permanece contemplando ambos, os
fenômenos que surgem como os fenômenos que desaparecem na mente.[24] Ou então, a
atenção plena ‘de que existe a mente’ se estabelece somente na medida
necessária para o conhecimento e para a continuidade da atenção plena. E ele
permanece independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim é como
um bhikkhu permanece contemplando a mente como mente.
( Contemplação dos Objetos
Mentais )
( 1. Os Cinco Obstáculos
)
36. "
E como, bhikkhus, um bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais como
objetos mentais? [25] Aqui um bhikkhu permanece contemplando os objetos
mentais como objetos mentais referentes aos cinco obstáculos. [26] E como um bhikkhu
permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais referentes aos
cinco obstáculos? Aqui, havendo nele desejo sensual, um bhikkhu compreende:
‘Existe em mim desejo sensual’; ou não havendo nele desejo sensual, ele
compreende: ‘Não existe em mim desejo sensual’; e ele também compreende como se
despertam os desejos sensuais que ainda não despertaram e como acontece o
abandono de desejos sensuais despertos e como acontece para que desejos
sensuais abandonados não despertem no futuro. [26a]
"Havendo
nele má vontade ... havendo nele preguiça e torpor ... havendo nele inquietação
e ansiedade ... havendo nele dúvida, um bhikkhu compreende: ‘ Existe dúvida em
mim’; ou não havendo dúvida nele, ele
compreende: ‘Não existe dúvida em mim’; e ele compreende como se desperta a
dúvida que ainda não se despertou e como acontece o abandono da dúvida desperta
e como acontece para que a dúvida abandonada não desperte no futuro.
(Insight)
37. " Dessa forma ele
permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais internamente ou
ele permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais
externamente, ou ele permanece contemplando os objetos mentais como objetos
mentais tanto interna como externamente. Ou então, ele permanece contemplando
fenômenos que surgem nos objetos mentais, ou ele permanece contemplando fenômenos
que desaparecem nos objetos mentais, ou ele permanece contemplando ambos, os
fenômenos que surgem como os fenômenos que desaparecem nos objetos mentais. Ou
então, a atenção plena ‘de que existem os objetos mentais ’ se estabelece
somente na medida necessária para o conhecimento e para a continuidade da
atenção plena. E ele permanece independente, sem nenhum apego a qualquer coisa
mundana. Assim é como um bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais como
objetos mentais.
( 2. Os Cinco Agregados
)
38. "Novamente,
bhikkhus, um bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais como objetos
mentais referentes aos cinco agregados influenciados pelo apego. [27] E como um bhikkhu
permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais referentes aos
cinco agregados influenciados pelo apego? Aqui um bhikkhu compreende: ‘Assim é
a forma material, essa é a sua origem, essa é a sua cessação; assim é a
sensação, essa é a sua origem, essa é a sua cessação; assim é a percepção, essa
é a sua origem, essa é a sua cessação; assim são as formações volitivas, essa é a sua
origem, essa é a sua cessação; assim é a consciência, essa é a sua origem,
essa é a sua cessação.’
39. " Dessa forma ele
permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais internamente,
externamente e tanto interna como externamente ... E ele permanece
independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim é como um
bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais em
termos dos cinco agregados do apego.
( 3. As Seis Bases )
40. " Novamente,
bhikkhus, um bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais como objetos
mentais referentes às seis bases internas e externas.[28] E como um bhikkhu
permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais referentes às
seis bases internas e externas? Aqui um bhikkhu compreende o olho, ele
compreende as formas e ele compreende o grilhão que surge na dependência de
ambos; ele também compreende como surge o grilhão que ainda não surgiu, como se
abandona o grilhão que já surgiu e como o grilhão abandonado não surgirá no
futuro.
" Ele compreende o
ouvido, ele compreende os sons ... ele compreende o nariz, ele compreende os
aromas ... ele compreende a língua, ele compreende os sabores ... ele
compreende o corpo, ele compreende os tangíveis ... ele compreende a mente, ele
compreende os objetos mentais e ele compreende o grilhão que surge na
dependência de ambos; ele também compreende como surge o grilhão que ainda não
surgiu, como se abandona o grilhão que já surgiu e como o grilhão abandonado
não surgirá no futuro.
41. " Dessa forma ele
permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais internamente,
externamente e tanto interna como externamente ... E ele permanece
independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim é como um
bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais
referentes as seis bases internas e externas.
( 4. Os Sete Fatores da
Iluminação )
42. "
Novamente, bhikkhus, um bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais como
objetos mentais referentes aos sete fatores da iluminação. [29] E como um bhikkhu
permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais referentes aos
sete fatores da iluminação? Aqui, estando presente nele o fator da iluminação
da atenção plena, um bhikkhu compreende: ‘O fator da iluminação da atenção
plena está em mim’; ou se o fator da iluminação da atenção plena não estiver
presente nele, ele compreende: ‘O fator da iluminação da atenção plena não está
em mim’; e ele também compreende como estimular o fator da iluminação da
atenção plena que não está estimulado e como o fator da iluminação da atenção
plena que está estimulado alcança a sua plenitude através do desenvolvimento.
" Estando presente
nele o fator da iluminação da investigação dos fenômenos [30] ... Estando
presente nele o fator da iluminação da energia ... Estando presente nele o
fator da iluminação do êxtase ... Estando presente nele o fator da iluminação
da tranqüilidade ... Estando presente nele o fator da iluminação da
concentração ... Estando presente nele o fator da iluminação da equanimidade,
um bhikkhu compreende: ‘O fator da iluminação da equanimidade está em mim’; ou se
o fator da iluminação da equanimidade não estiver presente nele, ele
compreende: ‘O fator da iluminação da equanimidade não está em mim’; e ele
também compreende como estimular o fator da iluminação da equanimidade que não
está estimulado e como o fator da iluminação da equanimidade que está
estimulado alcança a sua plenitude através do desenvolvimento. [31]
43. " Dessa
forma ele permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais
internamente, externamente e tanto interna como externamente ... E ele
permanece independente, sem nenhum apego a qualquer coisa mundana. Assim é como
um bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais em
relação aos sete fatores da iluminação.
( 5. As Quatro Nobres
Verdades )
44. "
Novamente, bhikkhus, um bhikkhu permanece contemplando os objetos mentais como
objetos mentais em relação às quatro nobres verdades. E como um bhikkhu
permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais em relação às
quatro nobres verdades? Aqui um bhikkhu compreende como na verdade é: ‘Isto é
sofrimento’; ele compreende como na verdade é: ‘Isto é a origem do sofrimento’;
ele compreende como na verdade é: ‘Esta é a cessação do sofrimento’; ele
compreende como na verdade é: ‘Este é o caminho que leva à cessação do
sofrimento.’ [32]
45. “E o que, amigos, é a nobre verdade do
sofrimento? O nascimento é sofrimento; o envelhecimento é sofrimento; a morte é
sofrimento; tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero são sofrimento; não
obter o que se deseja é sofrimento; em resumo, os cinco agregados influenciados
pelo apego são sofrimento.
“E
o que, amigos, é nascimento? O nascimento dos seres nas várias classes de
seres, o próximo nascimento, o estabelecimento [num ventre], a geração, a
manifestação dos agregados, a obtenção das bases para contato – a isto se
denomina nascimento.
“E
o que, amigos, é o envelhecimento? O envelhecimento dos seres nas várias
categorias de seres, a sua idade avançada, os dentes quebradiços, os cabelos
grisalhos, a pele enrugada, o declínio da vida, o enfraquecimento das
faculdades – a isto se denomina envelhecimento.
“E o que, amigos, é a
morte? O falecimento de seres nas várias categorias de seres, a sua morte, a
dissolução, o desaparecimento, o morrer, a finalização do tempo, a dissolução
dos agregados, o cadáver descartado – a isto de denomina morte.
“E o que, amigos, é a
tristeza? A tristeza, entristecimento, sofrimento, tristeza interior,
arrependimento interior, de alguém que sofreu alguma desgraça ou que está
afetado por alguma situação dolorosa – a isto se denomina tristeza.
“E o que, amigos, é a
lamentação? O pranto e o lamento, chorar e lamentar, o choro e a lamentação de
alguém que sofreu alguma desgraça ou que está afetado por alguma situação
dolorosa – a isto se denomina lamentação.
“E o que, amigos, é a dor?
Dor no corpo, desconforto corporal, a sensação dolorosa e desconfortável que
surge do contato corporal – a isto se denomina dor.
“E o que, amigos, é a
angústia? Dor mental, desconforto mental, a sensação dolorosa e desconfortável
que surge do contato mental – a isto se denomina angústia.
“E o que, amigos, é o
desespero? A confusão e o desespero, a tribulação e a desesperação de alguém
que sofreu alguma desgraça ou que está afetado por alguma situação dolorosa – a
isto se denomina desespero.
“E o que, amigos, é ‘não
obter o que se deseja é sofrimento’? Para os seres sujeitos ao nascimento surge
o desejo: ‘Ah, que nós não estivéssemos sujeitos ao nascimento! Que o
nascimento não viesse para nós!’ Mas isto não pode ser obtido pelo desejo e não
obter o que se deseja é sofrimento. Para os seres sujeitos ao
envelhecimento ... sujeitos à enfermidade ... sujeitos à morte ... sujeitos à tristeza,
lamentação, dor, angústia e desespero, surge o desejo: ‘Ah, que nós não
estivéssemos sujeitos à tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero! Que a
tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero não surjam para nós!’ Mas isto
não pode ser obtido pelo desejo e não obter o que se deseja é sofrimento.
“E o que, amigos são os
cinco agregados influenciados pelo apego que, em resumo, são sofrimento? Eles
são: o agregado da forma material influenciado pelo apego, o agregado da
sensação influenciado pelo apego, o agregado da percepção influenciado pelo
apego, o agregado das formações volitivas influenciado pelo apego e o agregado da
consciência influenciado pelo apego. Esses são os cinco agregados influenciados
pelo apego que, em resumo, são sofrimento. A isto se denomina a nobre verdade
do sofrimento.
46. “E o que, amigos, é a
nobre verdade da origem do sofrimento? É o desejo que conduz a uma renovada existência,
acompanhado pela cobiça e pelo prazer, buscando o prazer aqui e ali; isto é, o desejo pelos
prazeres sensuais, o desejo por ser/existir, o desejo por não ser/existir. [33]
“E onde
surge e se estabelece esse desejo? Qualquer coisa no mundo que seja cativante e
tentadora, nisso surge e se estabelece o desejo.
“E o que no mundo é cativante
e tentador? O olho no mundo é cativante e tentador. O ouvido ... O nariz ... A
língua ... O corpo ... A mente no mundo é cativante e tentadora, nisso surge e se estabelece o desejo. Formas,
sons, aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo são cativantes e
tentadores, nisso surge e se estabelece o desejo.
“Consciência no olho,
consciência no ouvido, consciência no nariz, consciência na língua, consciência
no corpo, consciência na mente no mundo é cativante e tentadora, nisso surge e se estabelece o desejo.
“Contato no olho, contato
no ouvido, contato no nariz, contato na língua, contato no corpo, contato na
mente no mundo é cativante e tentador, nisso surge e se estabelece o desejo.
“Sensação tendo como
condição o contato no olho, contato no ouvido, contato no nariz, contato na
língua, contato no corpo, contato na mente no mundo é cativante e
tentadora, nisso surge e se estabelece o
desejo.
“Percepção de formas, sons,
aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante e tentadora,
nisso surge e se estabelece o desejo.
“Intenção por formas, sons,
aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante e tentadora,
nisso surge e se estabelece o desejo.
“Desejo por formas, sons,
aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante e tentador,
nisso surge e se estabelece o desejo.
“Pensamento aplicado [34] às formas, sons,
aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante e
tentador, nisso surge e se estabelece o
desejo.
“Pensamento sustentado [35] nas formas, sons,
aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante e tentador,
nisso surge e se estabelece o desejo. A isto se denomina a nobre verdade da
origem do sofrimento.
47. “ E o que, amigos, é a
nobre verdade da cessação do sofrimento? É o desaparecimento e cessação sem deixar nenhum vestígio
daquele mesmo desejo, abrir mão, descartar, libertar-se, despegar desse mesmo desejo.
E como ocorre o abandono desse desejo, como ocorre a sua cessação? [35A]
“Qualquer coisa no mundo
que seja cativante e tentadora, nisso ocorre a cessação. E o que no mundo é cativante e tentador. O ouvido ...
O nariz ... A língua ... O corpo ... A mente no mundo é cativante e tentadora,
nisso surge e se estabelece o desejo. Formas, sons, aromas, sabores, tangíveis,
objetos mentais no mundo são cativantes e tentadores, nisso ocorre o abandono desse desejo, nisso
ocorre a sua cessação.
“Consciência no olho,
consciência no ouvido, consciência no nariz, consciência na língua, consciência
no corpo, consciência na mente no mundo é cativante e tentadora, nisso ocorre o abandono desse desejo, nisso
ocorre a sua cessação.
“Contato no olho, contato
no ouvido, contato no nariz, contato na língua, contato no corpo, contato na
mente no mundo é cativante e tentador, nisso ocorre o abandono desse desejo,
nisso ocorre a sua cessação.
“Sensação tendo como
condição o contato no olho, contato no ouvido, contato no nariz, contato na
língua, contato no corpo, do contato na mente no mundo é cativante e
tentadora, nisso ocorre o abandono desse
desejo, nisso ocorre a sua cessação.
“Percepção de formas, sons,
aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante e tentadora,
nisso ocorre o abandono desse desejo, nisso ocorre a sua cessação.
“Intenção por formas, sons,
aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante e tentador,
nisso ocorre o abandono desse desejo, nisso ocorre a sua cessação.
“Desejo por formas, sons,
aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante e tentador,
nisso ocorre o abandono desse desejo, nisso ocorre a sua cessação.
“Pensamento aplicado às
formas, sons, aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante
e tentador, nisso ocorre o abandono desse desejo, nisso ocorre a sua cessação.
“Pensamento sustentado nas
formas, sons, aromas, sabores, tangíveis, objetos mentais no mundo é cativante
e tentador, nisso ocorre o abandono desse desejo, nisso ocorre a sua cessação.
A isto se denomina a nobre verdade da cessação do sofrimento.
48. “ E o que, amigos, é a
nobre verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento? É justamente este
Nobre Caminho Óctuplo; isto é, entendimento correto, pensamento correto,
linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção
plena correta e concentração correta.
“E o que,
amigos, é entendimento correto? Entendimento do sofrimento, entendimento da
origem do sofrimento, entendimento da cessação do sofrimento e entendimento do
caminho que conduz à cessação do sofrimento – a isto se denomina entendimento
correto.
“E o que, amigos, é
pensamento correto? O pensamento da renúncia, o pensamento da não má vontade e
o pensamento da não crueldade – a isto se denomina pensamento correto.
“E o que, amigos, é linguagem correta?
Abster-se da linguagem mentirosa, abster-se da linguagem maliciosa, abster-se
da linguagem grosseira e abster-se de linguagem frívola – a isto se denomina
linguagem correta.
“E o que, amigos, é ação
correta? Abster-se de matar seres vivos, abster-se de tomar o que não seja dado
e abster-se de conduta imprópria com relação aos prazeres sensuais – a isto se
denomina ação correta.
“E o que, amigos, é modo de vida correto? Aqui
um nobre discípulo, tendo abandonado o modo de vida incorreto, ganha o seu pão
através do modo de vida correto – a isto se denomina modo de vida correto.
“E o que, amigos, é esforço correto? Aqui um
bhikkhu gera desejo para que não surjam estados ruins e prejudiciais que ainda
não surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se
esforça. Ele gera desejo de abandonar estados ruins e prejudiciais que já
surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se
esforça. Ele gera desejo para que surjam estados benéficos que ainda não surgiram
e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. Ele
gera desejo para a continuidade, o não desaparecimento, o fortalecimento, o
incremento e a realização através do desenvolvimento de estados benéficos que
já surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se
esforça. A isto se denomina esforço correto.
“E o que amigos, é atenção
plena correta? Aqui um bhikkhu permanece contemplando o corpo como um corpo,
ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a
cobiça e o desprazer pelo mundo. Ele permanece contemplando as sensações como
sensações, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado
de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. Ele permanece contemplando a mente
como mente, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado
de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. Ele permanece contemplando os
objetos mentais como objetos mentais, ardente, plenamente consciente e com
atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo. A isto
se denomina atenção plena correta.
“E o que, amigos, é
concentração correta? Aqui, um bhikkhu afastado dos prazeres sensuais, afastado das qualidades não hábeis, entra e permanece no primeiro jhana, que é caracterizado pelo pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e felicidade nascidos do afastamento. Abandonando o pensamento aplicado e sustentado, um bhikkhu entra e permanece no segundo jhana, que é caracterizado pela segurança interna e perfeita unicidade da mente, sem o pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e felicidade nascidos da concentração. Abandonando o êxtase, um bhikkhu entra e permanece no terceiro jhana que é caracterizado pela felicidade sem o êxtase, acompanhada pela atenção plena, plena consciência e equanimidade, acerca do qual os nobres declaram: ‘Ele permanece numa estada feliz, equânime e plenamente atento.’ Com o completo desaparecimento da felicidade, um bhikkhu entra e permanece no quarto jhana, que possui nem felicidade nem sofrimento, com a atenção plena e a equanimidade purificadas. A isto se denomina concentração
correta.
“A isto se denomina a nobre
verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento.
(Insight)
49. " Dessa forma ele
permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais internamente ou
ele permanece contemplando os objetos mentais como objetos mentais
externamente, ou ele permanece contemplando os objetos mentais como objetos
mentais tanto interna como externamente. Ou então, ele permanece contemplando
fenômenos que surgem nos objetos mentais, ou ele permanece contemplando
fenômenos que desaparecem nos objetos mentais, ou ele permanece contemplando
ambos, os fenômenos que surgem como os fenômenos que desaparecem nos objetos
mentais. Ou então, a atenção plena ‘de que existem os objetos mentais ’ se
estabelece somente na medida necessária para o conhecimento e para a
continuidade da atenção plena. E ele permanece independente, sem nenhum apego a
qualquer coisa mundana. Assim é como um bhikkhu permanece contemplando os
objetos mentais como objetos mentais em relação às Quatro Nobres Verdades.
( Conclusão )
50. " Bhikkhus,
qualquer um que desenvolver esses quatro fundamentos da atenção plena dessa
maneira durante sete anos, um de dois resultados pode ser esperado: ou o
conhecimento supremo aqui e agora, ou o ‘não-retorno’ [37] se ainda houver algum resíduo de apego.
" Sem falar em sete
anos, bhikkhus. Qualquer um que desenvolver esses quatro fundamentos da atenção
plena dessa maneira durante seis anos ... cinco anos ... quatro anos ... três
anos ... dois anos ... um ano, um de dois resultados pode ser esperado: ou o
conhecimento supremo aqui e agora, ou o ‘não-retorno’ se ainda houver algum
resíduo de apego.
" Sem falar em um ano,
bhikkhus. Qualquer um que desenvolver esses quatro fundamentos da atenção plena
dessa maneira durante sete meses ... seis meses ... cinco meses ... quatro
meses ... três meses ... dois meses ... um mês ... meio mês, um de dois
resultados pode ser esperado: ou o conhecimento supremo aqui e agora, ou o
‘não-retorno’ se ainda houver algum resíduo de apego.
" Sem falar em meio
mês, bhikkhus. Qualquer um que desenvolver esses quatro fundamentos da atenção
plena dessa maneira durante sete dias, um de dois resultados pode ser esperado:
ou o conhecimento supremo aqui e agora, ou o ‘não-retorno’ se ainda houver
algum resíduo de apego.
51. " Assim, foi em
referência a isto que foi dito: ‘ Bhikkhus, este é o caminho direto para a
purificação dos seres, para superar a tristeza e lamentação, para o
desaparecimento da dor e angústia, para alcançar o caminho verdadeiro, para a
realização de Nibbana - isto é, os quatro fundamentos da atenção plena’"
Isto foi o que o Abençoado
disse. Os bhikkhus ficaram satisfeitos e contentes com as palavras do
Abençoado.
Notas:
Veja o comentário de Ajaan Thanissaro.
[1] Este é
um dos suttas mais importantes no Cânone em Pali, contendo a explicação mais
completa do caminho mais direto para alcançar o objetivo Budista. Um sutta
praticamente idêntico é encontrado no MN 10, que no
entanto apresenta uma análise mais resumida das Quatro Nobres Verdades. [Retorna]
[2] Alguns
estudiosos afirmam que essa cidade se localizava nas proximidades de Deli. [Retorna]
[3] O
texto em Pali diz ekayano ayam bhikkhave maggo, praticamente todos
tradutores entendem que esta é uma declaração que sustenta que satipatthana
é um caminho único. Dessa forma ele o Venerável Soma diz: ‘’Este é o único
caminho (only way),’’ e o Venerável Nyanaponika: ‘’Este é o único caminho
(sole way).’’ O Bhikkhu Nãnamoli no entanto destaca que ekayana
magga no MN 12.37-42 tem o significado
contextual preciso de “ um caminho que leva a uma única direção”, assim, ele
também utilizou essa interpretação neste trecho. A expressão utilizada aqui, “o
caminho direto”, tem como objetivo preservar o mesmo significado utilizando uma
expressão mais resumida. MA explica ekayana magga como um só caminho,
não como um caminho dividido; como um caminho que cada um deve trilhar, sem um
companheiro; e como um caminho que leva a um objetivo somente, Nibbana. Embora o Cânone ou os Comentários
não suportem esta opinião, uma interpretação contemporânea seria que satipatthana é denominado ekayana magga,
o caminho direto, para distinguí-lo da prática meditativa que passa pelos jhanas ou brahmaviharas. [Retorna]
[3a] Domanassa,
que também pode ser interpretado como tristeza, desprazer; uma sensação de dor
mental. [Retorna]
[4] A
palavra satipatthana é um termo composto. A primeira parte, sati,
originalmente significava ‘memória’, porém nos textos Budistas em Pali o
significado mais freqüente é a qualidade da atenção dirigida ao momento
presente - daí o termo ‘atenção plena’. A segunda parte é explicada de duas
maneiras: ou como uma abreviação de upatthana, significando “preparando”
ou “estabelecendo” (a atenção plena ); ou como patthana, significando
“domínio” ou “fundamento” (novamente da atenção plena). Dessa forma os
quatro satipatthanas podem ser entendidos ou como as quatro formas de
estabelecer a atenção plena, ou como os quatro domínios da atenção plena, o que
será elaborado em mais detalhe no restante do sutta. A primeira interpretação
parece ser a derivação etimológica mais correta (confirmado pelo Sanskrito sm
tyupasthana), porém os Comentaristas em Pali, embora aceitando ambas as
interpretações, tiveram uma predileção pela última. [Retorna]
[5] MA
define que neste contexto, “bhikkhu” é um termo que indica a pessoa que se
dedica com seriedade à prática dos ensinamentos:
“Quem quer que empreenda esta prática…está incluído sob o termo ‘bhikkhu’”. [Retorna]
[6] A
repetição na frase “contemplando o corpo como um corpo” ( kaye kayanupassi ),
de acordo com MA, tem o propósito de determinar com precisão o objeto de
contemplação e isolá-lo de outros com os quais possa ser confundido. Assim, na
prática, o corpo deve ser observado como corpo e não as sensações, idéias ou
sentimentos ligados ao corpo. A frase também significa que o corpo deve ser
contemplado simplesmente como um corpo e não como um homem, uma mulher, um eu,
ou um ser humano. As mesmas considerações se aplicam às demais repetições no
caso dos outros três fundamentos da atenção plena.
Nett correlaciona a frase
“ardente (atapi), plenamente
consciente (sampajanna), e com
atenção plena (sati), tendo colocado
de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo, (vineyya
abhijjhadomanassa)”, com respectivamente as faculdades da energia (viriya), sabedoria (pañña), atenção plena (sati),
e concentração (samadhi).
O grau de concentração
necessário para a prática de satipatthana é um ponto controverso. MA diz que
“cobiça e desprazer” significam o desejo sensual e a má vontade que são os
principais obstáculos, descritos no verso 36, que precisam ser superados para
que a prática seja bem sucedida. Nett explica que deixar de lado a cobiça e
desprazer significa a faculdade da concentração. Com relação à integração da
concentração com satipatthana veja também o SN XLVII.4
e SN XLVII.10. Isto pode levar à conclusão que a
prática da concentração precede satipatthana. No entanto se esse fosse o caso,
as contemplações da mente e dos obstáculos não fariam sentido. A remoção da
cobiça e do desprazer também aparecem nos suttas como parte do treinamento
gradual de um bhikkhu no item da contenção dos sentidos (veja por exemplo o MN 39.8). Então o que parece mais provável é que o
pré-requisito para a prática de satipatthana seria a remoção da cobiça e
desprazer num grau semelhante à contenção dos sentidos, de modo a evitar que o
impacto sensorial provoque o surgimento da cobiça e desprazer o que irá impedir
manter a mente num estado de equilíbrio imparcial que é necessário para a
prática de satipatthana. Num estágio mais avançado da prática, no qual
satipatthana está bem estabelecido, (veja o MN 51.3, SN LII.9), pode ser entendido que a cobiça e o desprazer
são completamente removidos e a concentração estará bem estabelecida. [Retorna]
[7] A
estrutura deste sutta é relativamente simples. Em seguida ao preâmbulo, o corpo
do discurso se divide em quatro partes seguindo os quatro fundamentos da
atenção plena:
Contemplação do corpo, que compreende catorze
exercícios: atenção plena na respiração; contemplação das quatro
posturas; plena consciência; contemplação das coisas repulsivas no corpo;
contemplação dos elementos; e nove contemplações do
"cemitério" - refletindo sobre corpos em diferentes estados de
decomposição.
Contemplação das sensações, considerado como um
exercício.
Contemplação da mente, também um exercício.
Contemplação dos objetos mentais, que possui cinco subdivisões
- os cinco obstáculos; os cinco agregados; as seis bases dos sentidos; os
sete fatores de iluminação; e as Quatro Nobres Verdades.
Dessa forma ele o sutta
expõe no total vinte um exercícios de contemplação. Cada exercício por sua vez
possui dois aspectos: o exercício básico, explicado primeiro, e uma seção
complementar à respeito do insight (que é essencialmente a mesma para todos os
exercícios), que indica como a contemplação deve ser desenvolvida para
aprofundar o entendimento do fenômeno que está sendo investigado. Finalmente, o
sutta conclui com um comentário do próprio Buda em que ele assegura a
eficácia do método declarando que o fruto colhido da prática será o estado de arahant
ou de não retorno. [Retorna]
[7a] “À sua
frente,” parimukham, pode ser
entendido no sentido literal ou figurativo. Com o sentido literal, “à sua
frente indica” a área das narinas como sendo a mais apropriada para a atenção
na respiração. Com o sentido figurado, “à sua frente” pode ser compreendido
como o firme estabelecimento da atenção plena, colocando-a mentalmente “à
frente” de todo o restante, no sentido da compostura meditativa e atenção. [Retorna]
[7b] Veja o SN LIV.12 – nota 2. [Retorna]
[8] A
prática da atenção plena na respiração, (anapanasati), não envolve um
esforço deliberado para controlar a respiração, como no hatha yoga, mas um
esforço sustentado de manter a atenção na respiração enquanto ela se move para
dentro e para fora, no seu ritmo natural. A atenção plena é dirigida às narinas
ou ao lábio superior, aonde o impacto da respiração é sentido de maneira mais
distinta; a extensão da respiração é compreendida porém não conscientemente
controlada. O desenvolvimento completo deste método de meditação está exposto
no MN 118. Para uma coletânea dos textos acerca deste
assunto, veja Bhikkhu Nãnamoli - Mindfulness of Breathing. Veja também
Vsm VIII, 145-244. [Retorna]
[9] MA: a
frase “experienciando todo o corpo [da respiração]”, (sabba-kãyapatisamvedi),
siginifica que o meditador está consciente de cada inspiração e expiração
subdivididas em suas três fases de começo, meio e fim. [Retorna]
[10] A
“formação do corpo”, (kayasankhara), é definido no MN
44.13 como a inspiração e a expiração em si. Portanto, como explicado no
MA, com o desenvolvimento adequado desta prática, a respiração do meditador se
tornará cada vez mais calma, tranqüila e pacífica. [Retorna]
[11] MA: “Internamente”:
contemplando a respiração no seu próprio corpo. “Externamente”: contemplando a
respiração que ocorre no corpo de outra pessoa. “Internamente e externamente”:
contemplando a respiração no seu próprio corpo e no corpo de outra pessoa
alternadamente, sem interrupção da atenção. Uma explicação similar se aplica ao
refrão que segue a cada uma das demais seções, exceto que na contemplação das
sensações, mente e objetos mentais a contemplação externa, excetuando aqueles
que possuem poderes supra-humanos, terá de ser inferida. [Retorna]
[12] MA:
Os “fenômenos que surgem”, (samudayadhamma), são o surgimento a cada
momento de fenômenos materiais no corpo e as condições, (com base na origem
dependente), pelas quais surgiu o corpo, isto é, ignorância, desejo, kamma e
alimento. No caso da atenção plena na respiração, um fator adicional de
surgimento mencionado nos comentários é o aparelho fisiológico da respiração.
Os “fenômenos que desaparecem”, (vayadhamma), são a cessação dos fenômenos materiais no
corpo e das condições pelas quais surgiu o corpo. Veja também o SN
XXII.126. [Retorna]
[13] MA:
Com o propósito de um conhecimento, (ñana), e atenção cada vez mais
amplos e profundos. A palavra corpo, (kaya), ocorre com frequência neste
sutta e deve ser interpretada de acordo com o seu contexto. Neste caso trata-se
da seção da respiração. Portanto, a palavra corpo neste caso significa corpo da
respiração. [Retorna]
[14] O
entendimento das posturas do corpo, mencionado neste exercício, não se refere
ao nosso conhecimento ordinário das atividades do corpo, mas à atenção
minuciosa, constante e cuidadosa do corpo em qualquer posição, combinado com um
exame analítico com a intenção de dissipar a delusão de um eu como o agente do
movimento corporal. [Retorna]
[15] Sampajanna,
traduzido como plena consciência, mas também pode ser interpretado como plena ou clara compreensão ou
também poder ser interpretado como introspecção – o contínuo exame minucioso dos fenômenos mentais e corporais.
Os comentários analisam
quatro tipos: (1) plena consciência do propósito, discernir um propósito
benéfico na ação intencionada; (2) plena consciência da adequação dos meios
utilizados, discernir que os meios utilizados para alcançar os objetivos são
adequados; (3) plena consciência do
domínio, não abandonar o objeto da meditação durante a rotina diária; (4) plena
consciência como não delusão, discernir que as próprias ações são processos
condicionados desprovidos de um eu substancial. [Retorna]
[16] Em
obras em Pali posteriores o cérebro é adicionado a essa lista para formar as
trinta e duas partes. Os detalhes dessa prática meditativa são explicados no
Vsm VIII, 42-114. [Retorna]
[17]
Esses quatro elementos são explicados na tradição Budista como os atributos
primários da matéria - solidez, coesão, calor e distensão. A explicação
detalhada é encontrada no Vsm XI, 27-117. [Retorna]
[17a]
Cemitério neste caso se refere a um local onde os cadáveres são descartados,
sem que sejam enterrados ou cremados. [Retorna]
[18] A
frase “como se”, (seyyathapi), sugere que esta contemplação e as demais a
seguir, não necessitam tomar por base um corpo no estado de decomposição
descrito mas, que podem ser realizadas como um exercício da imaginação. “Este
corpo” se refere logicamente ao corpo do próprio meditador. [Retorna]
[19] Cada
um dos quatro tipos de corpos mencionados aqui e os três tipos abaixo, podem
ser tomados como uma contemplação separada e independente; ou todo o conjunto pode
ser usado progressivamente para imprimir na mente a idéia da impermanência e
insubstancialidade do corpo. [Retorna]
[20]
Sensações, (vedana), significam a qualidade emocional das
experiências, físicas e mentais, quer
sejam prazerosas, dolorosas ou nem prazerosas nem dolorosas. Exemplos de
sensações “mundanas” e “não mundanas” são encontrados no MN
137.9-15 sob o tópico dos seis tipos de alegria, tristeza e equanimidade
baseados respectivamente na vida leiga e na vida santa. [Retorna]
[20a]
Sukham vedanam: pode ser corporal ou mental. [Retorna]
[20b]
Dukkham vedanam: também pode ser corporal ou mental. [Retorna]
[20c]
Adukkhamasukham vedanam: apenas mental. [Retorna]
[20d] O
meditador infere, ou sabe por meio da telepatia, as sensações dos outros. [Retorna]
[21] Os
fenômenos que surgem e desaparecem nas sensações são os mesmos do corpo, (veja
nota 12), exceto que o alimento é substituído pelo contato já que contato é a
condição necessária para as sensações ( veja MN 9.42
). [Retorna]
[22] A
mente, (citta), como objeto de contemplação refere-se ao estado e nível
geral da mente. Já que a mente propriamente dita, em sua natureza,
é o simples conhecimento ou cognição de um objeto, a qualidade de um estado mental é determinada
pelos fatores mentais associados como desejo, raiva e delusão ou os seus
opostos como mencionado no sutta. [Retorna]
[23] Os
pares de exemplos de citta mencionados nesta passagem contrastam estados
mentais benéficos e prejudiciais ou desenvolvidos e não desenvolvidos. Todavia
uma exceção é o par “contraída” e “distraída”, em que ambos são prejudiciais, o
primeiro devido à preguiça e ao torpor e o último devido à inquietação e
ansiedade. MA explica que “mente transcendente” e “mente não superável”
refere-se à mente no estado meditativo dos jhanas e das realizações ou jhanas
imateriais; “mente não transcendente” e "mente superável” como a mente
relativa à esfera da mente sensorial; “mente libertada” deve ser entendida como
a mente que está parcialmente ou temporariamente livre das impurezas respectivamente
através do insight ou dos jhanas. Já que a prática de satipatthana se
refere à fase preliminar do caminho que tem por objetivo os caminhos
supramundanos da libertação, esta última categoria não deve ser entendida como
a mente libertada através do atingimento dos caminhos supramundanos. [Retorna]
[24] Os
fenômenos que surgem e desaparecem na mente são os mesmos do corpo (nota 12)
exceto que o alimento é substituído por mentalidade-materialidade (nome e forma), já que esta é
a condição necessária para a consciência ( veja DN 15.22).
[Retorna]
[25] A
palavra aqui interpretada como “objetos mentais” é a polimorfa dhamma. Neste
contexto dhamma pode ser entendido como todos os fenômenos classificados
sob as categorias do Dhamma, os ensinamentos do Buda acerca da realidade.
Esta contemplação atinge o seu clímax com a compreensão completa do ensinamento
que é o coração do Dhamma - as Quatro Nobres Verdades. [Retorna]
[26] Os
cinco obstáculos, (pancanivarana), são o pricipal impedimento interno
para o desenvolvimento da concentração e do insight. O desejo sensual surge ao
dar atenção sem sabedoria a objetos atraentes e é abandonado pela contemplação das coisas repulsivas (como no verso 10 e no verso 14-30); a má-vontade surge ao
dar atenção sem sabedoria a um objeto que causa aversão, e é abandonada com a meditação do amor-bondade;
preguiça e torpor surgem através da submissão ao tédio e à preguiça, e são
abandonados com o despertar da energia; inquietação e ansiedade surgem ao dar
atenção sem sabedoria a pensamentos perturbadores, e são abandonados com a
atenção com sabedoria para a tranqüilidade; a dúvida surge ao dar atenção sem
sabedoria a assuntos suspeitos e é abandonada através do estudo, investigação e
inquérito. Os obstáculos só serão totalmente erradicados com os caminhos
supramundanos.
[26a] DA
identifica seis métodos para eliminar a o desejo sensual: (1) refletir sobre um
objeto repulsivo (asubha); (2) desenvolver os jhanas visto que estes
suprimem os obstáculos entre os quais está o desejo sensual; (3) Guardar as
portas dos sentidos; (4) moderação ao comer; (5) o apoio de amigos admiráveis;
(6) conversação apropriada. [Retorna]
[27] Os
cinco agregados influenciados pelo apego, (panc’upadanakkhandha), são os
cinco grupos de fatores que compõem a identidade de um indivíduo. Os agregados
são analisados e explicados em relação à sua origem e desaparecimento no MN 109.9. [Retorna]
[28] As
bases internas são, como foi mostrado, as seis faculdades sensoriais; as bases
externas são os seus respectivos objetos. A cadeia que surge entre cada um dos
pares pode ser entendida como atração, (desejo), aversão, (raiva) e delusão
subjacente. [Retorna]
[29] A
maneira pela qual os sete fatores da iluminação se desdobram numa seqüência
progressiva é explicada no MN 118.29-40. Para uma
discussão mais detalhada veja Piyadassi Thera, The Seven Factors of
Enlightenment. [Retorna]
[30]
‘Investigação dos fenômenos’, (dhammavicaya), significa o escrutínio por
meio da atenção plena dos fenômenos físicos e mentais que se apresentam ao
meditador. [Retorna]
[31] Os
comentários explicam em detalhe as condições que conduzem à maturação dos
fatores da iluminação. Veja The Way of Mindfulness pag. 134-149. [Retorna]
[32] A
partir deste ponto o DN 22 faz uma análise detalhada das Quatro Nobres Verdades
que não consta do MN 10. No entanto, o detalhamento da
Nobre Verdade do sofrimento também pode ser encontrado no MN 141. [Retorna]
[33] O
detalhamento da Nobre Verdade da origem do sofrimento, (verso 47), bem como da
Nobre verdade da cessação do sofrimento, (verso 48), não constam do MN 141. [Retorna]
[34] Vitakka.
[Retorna]
[35] Vicara.
[Retorna]
[35A] Veja o SN LVI.11.[Retorna]
[36] Igual
ao MN 141. [Retorna]
[37] O conhecimento supremo, añña, é o conhecimento do arahant sobre a libertação final. Não retorno, (anagamita), é o estado de não retorno daquele que renasce num mundo superior, onde ele realiza o parinibbana sem jamais retornar para o mundo humano. [Retorna]
Revisado: 2 Abril 2014
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