A Ética Sexual no Budismo

Por

Ajaan Brahmavamso

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O Budismo significa muitas coisas para muitas pessoas. Para alguns, oferece conselhos sábios e compassivos sobre a forma de diminuir o sofrimento na moderna vida laica. Para outros, é o caminho para a Iluminação, que dá um fim a todo o sofrimento. O Budismo que conduz à iluminação é um tanto diferente, como será mostrado a seguir. O lugar da sexualidade no Budismo é expresso de maneira bastante clara no Primeiro Discurso do Buda, em que o Grande Mestre proclamou o famoso Caminho do Meio:

“'A pessoa não deve buscar os prazeres sensuais que são baixos, vulgares, grosseiros, ignóbeis e que não trazem benefício; e a pessoa não deve buscar a mortificação que é dolorosa, ignóbil e que não traz benefício.’ Assim foi dito. E com referência a que foi dito isso?"

"A busca do prazer, cuja satisfação está vinculada aos desejos sensuais - baixos, vulgares, grosseiros, ignóbeis e que não trazem benefício – é um estado atormentado pelo sofrimento, aflição, desespero e febre e é o caminho errado. Desengajar-se da busca do prazer, cuja satisfação está vinculada aos desejos sensuais - baixos, vulgares, grosseiros, ignóbeis e que não trazem benefício – é um estado sem sofrimento, aflição, desespero e febre e é o caminho correto."

"A busca da mortificação - dolorosa, ignóbil e que não traz benefício - é um estado atormentado pelo sofrimento, aflição, desespero e febre e é o caminho errado. Desengajar-se da busca da mortificação - dolorosa, ignóbil e que não traz benefício – é um estado sem sofrimento, aflição, desespero e febre e é o caminho correto."

"O Caminho do Meio descoberto pelo Tathagata evita ambos os extremos; proporcionando visão, proporcionando conhecimento, conduzindo à paz, ao conhecimento direto, à iluminação, a Nibbana."

Aranavibhanga Sutta

A declaração do Buda que a busca dos prazeres sensuais, que incluem o sexo, está fora do Caminho do Meio é reforçada muitas vezes no Sutta Pitaka. Por exemplo, no Latukikopama Sutta o Buda declara:

“Agora, Udayin, o prazer e a alegria que surge na dependência desses cinco elementos do prazer sensual é chamado de prazer sensual – um prazer baixo, um prazer grosseiro, um prazer ignóbil. Eu digo desse tipo de prazer que não deve ser buscado, não deve ser desenvolvido, não deve ser cultivado e que deve ser temido ... (enquanto que o prazer dos quatro jhanas) ... Isto é chamado de felicidade da renúncia, a felicidade do afastamento, a felicidade da paz, a felicidade da iluminação. Eu digo desse tipo de prazer que ele deve ser buscado, deve ser desenvolvido, deve ser cultivado e que não deve ser temido."

Mesmo na época do Buda, algumas pessoas confusas saíam dizendo que a prática sexual não era um obstáculo para a Iluminação. O Buda repreendeu fortemente essa idéia no bem conhecido Alagaddupama Sutta, comparando a compreensão errada dos ensinamentos a um homem que por estupidez agarra uma cobra venenosa pela cauda, e sofre de acordo:

"Homem tolo, em muitos discursos eu não declarei como as coisas obstrutivas são obstruções, e como elas são capazes de obstruir quem se ocupa com elas? Eu declarei que os prazeres sensuais proporcionam pouca gratificação, muito sofrimento, muito desespero e quanto perigo eles contêm. Com o símile do osso ... com o símile do pedaço de carne ... com o símile da tocha de capim ... com o símile da cova de carvão em brasa ... com o símile dos sonhos ... com o símile das mercadorias emprestadas ... com o símile da árvore carregada de frutos ... com o símile do matadouro ... com o símile da espada ... com o símile da cabeça da cobra, eu declarei que os prazeres sensuais proporcionam pouca gratificação, muito sofrimento e muito desespero e quanto perigo eles contêm. Mas você, homem tolo, nos deturpou com o seu entendimento incorreto, causou prejuízo para si mesmo e acumulou muito demérito; pois isto lhe causará dano e sofrimento por um longo tempo."

De fato, o Buda ensinou que as práticas sexuais não só estão fora do caminho do meio, mas também fazem parte do desejo (kama-tanha, o desejo pelo prazer sensual) descrito na Segunda Nobre Verdade como a causa do sofrimento, também são apegos (kama-upadana, o apego ao prazer sensual), são um obstáculo à meditação (kama-chanda, o primeiro dos cinco nivarana), são uma contaminação da mente (kilesa), são um grilhão impedindo a libertação (o quarto grilhão ou samyojana é kama-raga, cobiça) e não fazem parte do comportamento de um ser iluminado.

O Buda percebeu que tais ensinamentos dificilmente seriam recebidos com entusiasmo pela maioria das pessoas, pois logo após realizar a iluminação ele disse:

"Este Dhamma que eu alcancei é profundo, difícil de ver e difícil de compreender, pacífico e sublime, que não pode ser alcançado através do mero raciocínio, ele é sutil, para ser experimentado pelos sábios. Mas, esta população se delicia com a adesão, está excitada com a adesão, desfruta da adesão. É difícil para uma população como esta ver esta verdade, isto é, a condicionalidade isto/aquilo e a origem dependente. E também é difícil de ver esta verdade, isto é, o cessar de todas as formações, o abandono de todas aquisições, o fim do desejo, desapego, cessação, Nibbana."

Ariyapariyesana Sutta

Mas então, é melhor ser verdadeiro do que ser popular. O venerável Ajaan Chah, o mestre com o qual treinei por muitos anos, de modo semelhante ensinava que as práticas sexuais devem ser abandonadas se alguém aspira à Iluminação. Por exemplo, lembro-me de um ocidental que veio certa vez visitar Ajaan Chah dizendo que ele era sexualmente ativo, mas sem estar apegado ao sexo. Ajaan Chah ridicularizou completamente a declaração dele como algo impossível, dizendo algo assim: "Bah! Isso é como dizer que pode haver sal que não é salgado!"

Ajaan Chah ensinava a todos que o procuravam, monásticos e leigos, que o desejo sexual é kilesa (contaminação da mente), é um obstáculo para o sucesso na meditação e uma obstrução à iluminação. Ele ensinou que a atividade sexual deve ser abandonada se alguém quiser dar um fim ao sofrimento. Ele nunca falava em louvor de sexo. Ele só falava em louvor de abrir mão, abandonar.

 

 

Revisado: 20 Dezembro 2018

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